«O Militante» Nº 227 de Março/Abril de 1997 - Os favores do Governo vão para os poderosos
Na abertura refere-se o facto de o Primeiro-Ministro falar
muito da preocupação social que o anima embora toda a sua
orientação política - e económica e social também, claro -,
mostrar bem a sua subordinação aos interesses dos grandes
capitalistas. Embora muita gente ainda espere que o PS cumpra as
promessas que fez e passe a ter uma política diferente, a
verdade é que vai crescendo o número de independentes e mesmo
de membros do próprio PS que protestam contra as posições de
direita defendidas pelo Governo de Guterres.
O próprio director do Diário de Notícias, Bettencourt Resendes, a propósito da situação vivida pelos habitantes do Reguengo do Alviela, quando das grandes chuvadas de Dezembro, se refere às promessas que, no ano passado, este Governo fez e não cumpriu e comenta que esses portugueses merecem tanta ou mais consideração do que os poderosos a quem o Governo do engenheiro António Guterres tem dado tantos sinais de boa vontade (DN, 24/12/96).
Dias depois, também no editorial do DN (5/1/97), António Ribeiro Ferreira, comentando o tratamento dado por António Guterres e a Comissão Permanente do PS ao euro-deputado socialista António Campos, conclui: (...) o mais importante para alguns distintos socialistas, não é a transparência na gestão dos dinheiros públicos. O grave é que alguém os denuncie. Este discurso não é novo. Esteve no poder dez anos. Parecia morto e bem enterrado. Puro engano.
Parece que, até nisto, as semelhanças são grandes. É natural.
E ainda um comentário de Victor Cunha Rego (DN, 6/2/97) dirigido à consciência dos membros do PS:
«Jorge Sampaio sabe muito bem o que anda a fazer. Quem não sabe são os «socialistas», que, por inexperiência ou ignorância, acreditam estar a passar-se algo mais do que a grande reforma do capitalismo em que Portugal, bem-comportado, também se empenhou. Nem sequer vêem que nunca se ganhou tanto dinheiro nem nunca ele se concentrou nas mãos de tão poucos - e com menos esforço dos que, no salazarismo, garantiram concentrações semelhantes.»