Intervenção produzida no Encerramento dos trabalhos do XV Congresso do PCP
Camaradas e amigos:
O nosso Congresso está a chegar ao fim.
Creio que em síntese poderemos dizer
que o que reuniu estes homens, mulheres e jovens, o que os convocou
de todas as regiões do país, o que os levou depois
de meses de preparação a intervir aqui no Porto,
é a sua generosa entrega às grandes causas do povo,
da justiça e do progresso da Pátria portuguesa.
Nestes três dias o que esteve no centro das preocupações
dos delegados foi, no essencial, o procurar dar resposta a duas
grandes questões:
A primeira,
com que medidas, com que propostas, com que projecto e com que
intervenção política se pode promover o desenvolvimento,
o emprego, melhorar a vida dos portugueses e das portuguesas,
dos trabalhadores e das trabalhadoras.
A segunda,como
nos devemos organizar melhor e como vamos reforçar o Partido
nos seus diversos campos e aspectos para que o país tenha
uma nova política.
Estas foram duas das grandes preocupações
que foram objecto das intervenções e das propostas
dos delegados.
De facto neste Congresso estiveram presentes
com seriedade os problemas da vida real e não as politiquices,
as aspirações de justiça e não as
lutas de galos, a sinceridade das propostas e não as rábulas
e os factos teatrais para projecção mediática.
Aqui estiveram presentes as questões
do desemprego, dos salários, das reformas, da saúde,
do ensino, da habitação, da toxicodependência
e da segurança das populações e não
a política espectáculo e os jogos de espelho e de
sombras. Os problemas da agricultura, das pescas, da indústria,
do ambiente, da ciência e da cultura, da integração
europeia e não a intriga, o individualismo egoísta,
a superficialidade mundana ou a oposição formal.
Aqui esteve a voz do povo, a vida dos trabalhadores,
a voz da juventude e a solidariedade com os trabalhadores em luta,
com os trabalhadores têxteis, que saudamos pelo êxito
da sua greve.
Aqui tiveram lugar os apelos à participação
e intervenção dos cidadãos. Aqui esteve a
preocupação pelo aprofundamento da democracia política,
económica, social e cultural, pelo futuro do nosso país,
pela defesa da soberania e da independência nacional.
Aqui esteve presente a amizade entre os povos,
o respeito pelas diferenças, as preocupações
pela paz e a solidariedade internacionalista.
Aqui esteve o grande Partido da esquerda que
levanta bem alto os valores da esquerda, os valores de Abril e
que tem por horizonte o socialismo e o comunismo. Um Partido que
critica e constrói, um Partido que tem um grande projecto
para Portugal.
Um Partido que sai mais unido no pensamento
e portanto, também na acção. Unido na audácia,
na determinação e na combatividade para obter os
avanços que a defesa dos interesses populares inegavelmente
reclamam.
Um Partido que está seguro do papel
que desempenha na sociedade portuguesa mas por isso mesmo, tudo
fazendo para unir esforços, vontades, capacidades e valores
democráticos que fazem a riqueza de um projecto político
que esteja à altura dos desafios com que Portugal e os
portugueses estão confrontados à beira do século
XXI.
Um Partido que se renova e se reforça,
orgulhoso do que vale, mas por isso mesmo distante de qualquer
atitude de arrogância ou de jactância.
Um Partido que reafirma a sua identidade e
que por isso mesmo aberto à vida e às mutações,
busca e buscará revolucionariamente as respostas que as
situações exigem.
O reforço do PCP e a construção
de uma alternativa, como se afirma na Resolução
Política, e importa sublinhá-lo, implica um persistente
e audacioso trabalho na sua ligação cada vez mais
profunda com as massas populares, na sua organização,
iniciativa e a acção políticas, na sua intervenção
institucional, na dinamização de um amplo movimento
de debate, reflexão, diálogo e acção
comum com correntes e sectores democráticos, com organizações
e movimentos sociais, com todos os cidadãos que reconhecem
ser indispensável a construção na sociedade
portuguesa de uma alternativa à política de direita.
Implica a dinamização da CDU, importante espaço
de diálogo e de intervenção; uma persistente,
ampla e qualificada comunicação do PCP com a sociedade
e a constante e confiante afirmação, em todos os
planos da intervenção do Partido, das suas organizações
e militantes, do valor próprio das medidas propostas e
do valioso projecto do Partido Comunista Português.
Camaradas:
O nosso Partido tem uma longa, heróica
e incomparável história, tem uma acção,
uma presença e um papel singulares na sociedade portuguesa
ao longo de 75 anos deste nosso século, tem um património
de ideais, de luta, de sacrifício, de abnegação,
de reflexão e de intervenção, que estruturam
de forma indelével a sua identidade, a sua fisionomia e
o seu projecto democrático e revolucionário.
Toda a riqueza da história, da vida
e da luta do nosso Partido nunca caberá nas análises
e evocações - passadas, presentes e futuras - que
lhe sejam dedicadas, por mais inspiradas que sejam.
Além do mais, porque a história,
a vida e a luta do nosso Partido, integrando naturalmente grandes
ideias, valores e experiências em que todos nos reconhecemos,
não podem deixar de integrar também esse mundo dificilmente
reproduzível dos sentimentos, da sensibilidade, do olhar
e do imaginário, próprios de cada homem e cada mulher
que ajudou, ajuda e ajudará a construir essa história,
essa vida e essa luta e que viveu, vive e viverá este grande
e apaixonante empreendimento humano que é o PCP.
Sem os comunistas, sem os homens e mulheres
concretos, que em cada época integram as fileiras do Partido
e com o seu pensamento, trabalho e esforço asseguram a
sua vida e a sua luta, até o mais brilhante património
acabaria por ficar como uma recordação certamente
inesquecível mas terrivelmente próxima de uma atormentada
saudade.
Mas também seria um absurdo directamente
conducente à ineficácia e à derrota que os
comunistas que em cada época fazem o seu Partido, se esquecessem
de que aquilo que cada um de nós é hoje não
pode ser separável da história, da luta e do património
acumulado do Partido ou perdessem de vista que não há
nenhuma contradição entre querermos soberanamente
deixar a nossa própria marca e assumir plenamente as nossas
responsabilidades no percurso do nosso Partido e sabermos ao mesmo
tempo, que o Partido começou e viveu muito antes de nós
e continuará e viverá muito depois de nós.
O maior dever de cada um e de todos nós,
o maior dever dos comunistas de hoje é sem dúvida
o de darem o melhor da sua capacidade, das suas energias, da sua
reflexão e do empenhamento para, com confiança,
prosseguirem renovadamente a luta pelas grandes e nobres causas
que são a razão de ser do nosso Partido.
Mas a maior grandeza talvez possa estar em,
sem nenhum apagamento do nosso papel e das nossas responsabilidades,
sempre encontramos razões de confiança e de estímulo
no esforço das gerações de comunistas que
nos precederam e de, vendo mais longe, que as nossas responsabilidades
actuais e vendo mais longe, que as nossas próprias vidas,
confiarmos, confiarmos sincera e verdadeiramente, nas novas gerações
de comunistas que, depois de nós farão singrar a
vida, a luta e o projecto do PCP através do século
XXI.
Camaradas:
Elegemos um novo Comité Central e uma
nova Direcção, em que se procurou o rejuvenescimento,
a renovação e uma maior participação
das mulheres.
Creio que esta é uma direcção
necessária.
O rejuvenescimento e a renovação
tendo em conta o fluir das novas realidades prosseguirá,
com respeito pela nossa identidade, para que o Partido avance
e se reforce.
Na base das orientações definidas
por todos, o nosso Partido sai deste Congresso com direcções
seguras, unido, combativo e confiante.
E com os trabalhadores, o povo e a juventude
prosseguirá a luta pela defesa do aparelho produtivo nacional,
pelo emprego com direitos, pela segurança social, pelos
salários e reformas condignas.
Prosseguirá a luta contra a acentuação
das desigualdades e as exclusões sociais.
Prosseguirá a luta contra a desresponsabilização
do Estado na saúde, no ensino e na habitação.
Prosseguirá a luta com a juventude,
com a JCP, a juventude do PCP, por um ensino de qualidade, pelas
saídas profissionais, por um futuro de esperança
e de progresso.
Prosseguirá a luta com as mulheres pela
sua intervenção em igualdade e tudo faremos para
que sejam aprovadas as alterações à lei sobre
a interrupção voluntária da gravidez. Continuaremos
firmemente a dizer não à hipocrisia.
Ao contrário de outros não meteremos
o socialismo na gaveta, não meteremos o referendo sobre
a moeda única na gaveta, não meteremos a lei das
40 horas na gaveta, nunca meteremos as promessas na gaveta.
Nós não temos um discurso em
função das plateias. Dizemos a verdade ao povo e
ao país e honramos os nossos compromissos.
Mas será de estranhar, camaradas, que
um partido mesmo com o protector nome de socialista que venera
os critérios de Maastricht, a bolsa e as oligarquias se
desloque a Nova Iorque à Cimeira da Internacional Socialista
acompanhado não com sindicalistas ou membros das associações
de trabalhadores mas na companhia dos grandes senhores da banca
e da finança?
Será de estranhar assim que um partido
mesmo com o protector nome de socialista elabore um Orçamento
de Estado que tem os protestos dos trabalhadores da Função
Pública, dos reformados, dos agricultores, dos estudantes
e professores, dos pequeno comerciantes e empresários e
que tenha o elogio dos expoentes do grande capital.
Não. Não é de estranhar
e por isso este governo e esta política terá o nosso
claro e firme combate nas instituições e fora delas.
Uma política de direita, um Orçamento
de Estado estruturalmente de direita só poderá ser
realizado por um partido da direita, os tais que são designados
como os protagonistas do PS. Magnífico protagonismo!
Creio que vós estais de acordo que o
PCP nunca tenha tais protagonismos e que rejeite sempre tais elogios,
honrarias ou lisonjas.
Firmes nas nossas convicções
e no nosso ideário nunca fecharemos nem nunca nos deixaremos
enclausurar por aqueles que nos silenciam, deturpam ou caluniam
porque temos as raízes no povo e nas suas aspirações
mais profundas porque estaremos sempre abertos para a reflexão
critica e para o estímulo que podemos encontrar no diálogo
e no debate com concepções e pontos de vista diferentes.
Este é o Partido que não vira
as costas perante as dificuldades, mas que com energia e empenho
estará sempre presente na defesa dos humilhados, dos ofendidos
e dos explorados.
Este grande colectivo é um grande colectivo
de homens, mulheres e jovens que têm a coragem de enfrentar
as dificuldades, a vontade de dar testemunho, de construir e rasgar
novos horizontes de esperança e de mudança, de transformação
e de progresso.
Estamos voltados para a frente e para o futuro,
para avançarmos e aumentarmos a nossa influência.
Estamos hoje como estivemos ontem e como estaremos amanhã,
ao serviço do povo e do país, com determinação,
serenidade e confiança, porque esta é a razão
de ser do Partido da esperança e da verdade, o Partido
Comunista Português.
Nós homens, mulheres e jovens do século
XX à beira do século XXI, abnegados defensores da
liberdade, fundadores do regime democrático, empenhados
nas causas mais generosas, sabemos que vale a pena lutar, em defesa
de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais solidária,
sabemos que vale a pena lutar por um projecto humanista de transformação
social, pelo socialismo, pelo povo, por Portugal.
Viva o XV Congresso!
Viva a Juventude Comunista Portuguesa!
Viva o Partido Comunista Português!