Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«O kennedismo socrático»

No concílio «Bloco Central & amigo» que televisivamente anima com José Magalhães e Lobo Xavier, Pacheco Pereira elaborou sobre a colagem do PS «socrático» (e eis um caricato resultado da fulanização da política...) a John Kennedy. Disse Pacheco Pereira que a aplicação da dualidade europeia esquerda-direita à política americana dá sempre disparate. É verdade.

Logo a seguir, porém, concluiu que considerar John Kennedy, «o homem da baía dos Porcos, da Guerra do Vietname, com ligações à máfia», de esquerda é de quem nada sabe de história.

Ora, o motivo por que a primeira afirmação é pertinente é que o paradigma esquerda-direita tem na Europa a funcionalidade de corresponder no essencial à realidade social e de classes europeia.

Mas a realidade social norte-americana é geneticamente diversa, os seus conflitos assumiram expressões políticas próprias. Exactamente por isso, é igualmente inexacto negar ao período Kennedy a presença de valores e protagonistas que na Europa se associam à esquerda.

A abolição da escravatura foi imposta nos EUA pelo grande capital industrial e a política que derrotou o nazismo foi protagonizada por um Roosevelt WASP e multimilionário.

O que há de indigente no socrático esforço é o não encontrar no nosso próprio universo de ideias e experiências um referente que corresponda clarificadoramente à sua política: o kennedismo é convenientemente mais distante e confuso...

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