Intervenção de Vasco Cardoso, Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, XIX Congresso do PCP

A luta política e ideológica, a propaganda e a informação do Partido

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Camaradas e amigos

Com o agravamento da crise do capitalismo, com o aprofundamento do processo de integração capitalista na União europeia, com o efeito cumulativo de mais de três décadas de política de direita, com a concretização do Pacto de Agressão, assistimos nos últimos anos à mais poderosa, à mais articulada, à mais perigosa, à mais sofisticada ofensiva ideológica desde os tempos do fascismo.

Explorando em profundidade as novas e espectaculares condições e meios de influência propiciados pelos avanços tecnológicos, particularmente nos meios de comunicação de massas, o grande capital, mais do que em qualquer outro momento, colocou no terreno, e ao seu serviço, um poderosíssimo arsenal que diariamente bombardeia aqueles que sendo vítimas da sua exploração, são a verdadeira e a única fonte dos seus incomensuráveis lucros – os trabalhadores e o povo português.

É ao serviço desta ofensiva, no quadro de uma série interminável de eixos e temas de diversão e mistificação ideológica, que assistimos diariamente a uma avassaladora corrente de argumentos destinada a instalar a ideia das inevitabilidades, a ampliar sentimentos de resignação, impotência e aceitação do rumo de injustiças.

Decretam a inutilidade da acção colectiva e da luta organizada e consequente e proclamam o carácter ilusório dos processos de transformação social.

Instituem um pretenso «interesse nacional» ao qual todos se deveriam sentir vinculados para aceitarem passivamente os sacrifícios de uma austeridade sem fim.

Promovem apelos a «patrióticos» sacrifícios que a todos seriam exigíveis, para esconder a deliberada transferência em curso dos rendimentos dos trabalhadores e de camadas anti-monopolistas para os bolsos do capital.

Sentenciam a obrigação de honrar compromissos com quem dizem que nos «ajudou», iludindo o carácter predador e o saque de recursos nacionais financeiros e patrimoniais que, por via de privatizações, por via dos juros e de cedências várias estão a ser canalizadas para o grande capital estrangeiro.

Fazem a pedagogia da crítica aos políticos e à política em geral, para esconder deliberadamente a natureza de classe da política de direita que empurra o país para o desastre, mas também, e sobretudo, para ocultar o facto de que, os verdadeiros e decisivos mandantes da vida política do país, chamam-se Belmiro de Azevedo, Ricardo Salgado, Américo Amorim, ou Alexandre Soares dos Santos, esses sim, são aqueles que comem à conta da crescente pobreza do povo português.

Favorecem a ideia de que afinal os direitos e conquistas alcançados com a luta, mais não são do que privilégios e regalias corporativas, deste ou daquele sector, animando divisões entre os que têm emprego e os trabalhadores desempregados, entre os trabalhadores do sector público e do sector privado, entre as que têm vínculos efectivos ou são vítimas de trabalho precário, iludindo assim os objectivos centrais de uma política que, nivelando todos por baixo, engorda cada vez mais aqueles que se encontram lá bem em cima.

Intensificam a apologia de um Estado despido da sua natureza de classe, como sendo a raiz de todos os males, a quem é preciso «cortar gorduras», ou seja cortar direitos e apoios essenciais à vida das populações, escondendo que o «estado mínimo» que apregoam é, no fundo, um estado máximo ao serviço do capital monopolista.

Difundem o mito de que o país, de que os trabalhadores e o povo, viveram e vivem acima das suas possibilidades, para iludir que na base de uma gigantesca dívida pública estão, não os salários, as reformas, os apoios sociais, o direito à saúde, ou à educação, mas os buracos do BPN, as famosas PPP`s, os biliões de euros entregues à banca ou os muitos milhões oferecidos à mesa dos paraísos fiscais como acontece há mais de 20 anos no off-shore da Madeira.

Estes são eixos de uma matriz mais larga que, no quadro do agravamento da crise do capitalismo, procura fazer crer que não só não existe caminho alternativo, como enfraquecer nos trabalhadores e nos povos a perspectiva da possibilidade, necessidade e urgência do progresso social e do socialismo como alternativa e forma mais avançada de organização da sociedade.

Propagandeando as supostas virtudes do sistema capitalista, decretando o fim da história e da luta de classes, promovendo o individualismo e o egoísmo na vida social, branqueando a história ao sabor das suas conveniências, criminalizando as experiências de edificação de uma sociedade nova, justificando todas as guerras e agressões ditas humanitárias, o processo de intoxicação, manipulação de consciências, uniformização de pensamento à escala planetária, tem no anti-comunismo militante a sua principal doutrina, fonte de inspiração onde a esmagadora maioria dos politólogos, comentadores e analistas vão beber aquilo que fielmente regurgitam.

Dessa impiedosa e brutal campanha anti-comunista, não falamos com a mágoa das vítimas, mas sobretudo com o orgulho dos resistentes e combatentes, contra infames calúnias e ataques, contra grotescas deturpações do nosso ideal, valores e projecto, contra operações de intriga visando a divisão e desorientação, contra os muros de silêncio e as sistemáticas deturpações de que o nosso Partido é alvo.

Sim, camaradas. Manda a lucidez que não ignoremos os efeitos desta ofensiva e que se medem em rendições, perdas de confiança e de perspectivas. Mas o que é de assinalar camaradas não é facto de muitos dos que são vítimas da exploração e das injustiças assimilarem e repetirem aquilo que mais serve os exploradores. O que é notável camaradas, é que, apesar de dominarem e deterem a generalidade da comunicação social, de controlarem o aparelho de Estado, de possuírem os meios de produção, ser cada vez maior a consciência de muitos de que é na luta dos trabalhadores e do povo, de que é rompendo com aqueles – PS, PSD e CDS – que nos conduziram à actual situação, que é neste partido, no Partido Comunista Português, que reside a mais sólida e convicta perspectiva de esperança numa vida melhor, num país mais justo, num Portugal com futuro.

Camaradas

É neste quadro que todo o colectivo partidário é chamado a assumir as suas responsabilidades nesta cada vez mais intensa batalha ideológica.

Para esclarecer sobre a natureza do capitalismo; para combater a exploração e a desmontagem do processo da sua concretização e agravamento; para lutar contra a ideologia reaccionária e fascista; a xenofobia e o racismo para desmontar novas e velhas concepções social-democratas; para valorizar a luta, os seus resultados e a organização como elemento fundamental; para derrotar a política de direita e abrir caminho a um governo e a uma política patriótica e de esquerda; para afirmar o projecto do PCP da democracia avançada, e do socialismo, precisamos de intensificar ainda mais a nossa intervenção quotidiana, precisamos de planear objectivos e acções, utilizando plenamente os vários meios disponíveis.

Há que potenciar de forma integrada a imprensa partidária, o Avante! e O Militante, a actividade editorial, a acção geral de informação e propaganda, o trabalho do Partido com os órgãos de comunicação social, mas também a vasta acção político-cultural de que é expressão maior a nossa Festa do «Avante!».

É preciso fortalecer a capacidade de elaboração de conteúdos, reforçar os vários instrumentos de intervenção na sua diversidade, intensificar o recurso amplo dos meios electrónicos do mais diverso tipo, multiplicar o contacto directo pessoal, tarefa aliás, que é levada a cabo por muitos milhares de membros do Partido e cuja importância é cada vez melhor compreendida entre nós.

Inseparável das exigentes tarefas que se colocam ao reforço da organização partidária, todos e cada um dos meios de que dispomos – do «Avante!» ao «Militante», dos cartazes de rua aos folhetos nacionais e locais, do sítio do PCP na Internet, ao contacto diário que promovemos à porta das empresas – todos e cada um, repito, devem ser valorizados e enriquecidos com a experiência e conhecimento próprios das organizações, e assumidos como instrumentos de relevada importância da ligação do Partido às massas, visando o esclarecimento e mobilização para a luta, perspectivando a tomada de consciência de muitos, dos muitos homens, mulheres e jovens, que podem e devem tornar-se militantes comunistas.

Esta é uma luta difícil, seguramente, mas se adoptássemos o princípio de só travar lutas fáceis, de só lutar quando temos a vitória previamente assegurada e ao virar da esquina, então deixaríamos de lutar e estaríamos irremediavelmente vencidos.

Não é para travar lutas fáceis que estamos aqui reunidos. É para travar todas as lutas que forem necessárias, pela liberdade, pela democracia, pelo socialismo.

Viva o XIX Congresso do PCP!
Viva a JCP!
Viva o Partido Comunista Português!

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