7 de Dezembro de 1996
Camaradas:
O nosso XV Congresso constitui uma sólida
afirmação do que o PCP é no presente e do
que se propõe ser no futuro.
Temos consciência de que a luta
dos trabalhadores e do povo de Portugal, a luta dos povos de todo
o mundo defrontam neste findar do século XX gravíssimos
problemas, uma situação complexa e um difícil
e acidentado caminho.
O nosso Congresso não traça
nem aponta porém uma visão pessimista do futuro.
Aponta confiante uma perspectiva e um caminho para ultrapassar
a situação actual.
O caminho é o da luta que
continua. E o nosso Partido, para corresponder às exigências
que a situação imediata e futura comporta, contrariando
pressões e desejos para deixar de ser o que é, confirma
e afirma, corajoso e confiante, a sua identidade comunista.
Objectivo central:
uma viragem democrática
Em Portugal a situação
que se atravessa não só é particularmente
grave como poderá ter desenvolvimentos ainda mais graves,
se o povo português não puser fim à política
de direita prosseguida pelo Governo do PS e não impedir
os novos atentados que PS e PSD em conjunto preparam contra o
povo, contra o país, contra a democracia, contra os interesses
nacionais.
Já ninguém contesta que
o voto no PS traduziu a esperança numa mudança.
O PS enganou o eleitorado e o eleitorado, que tinha tal esperança,
enganou-se ao votar PS.
Têm razão aqueles que dizem
que a política de direita com o Governo PS é ainda
mais perigosa do que a do Governo PSD com Cavaco. Primeiro pelo
facto de o PS se afirmar um partido de esquerda. Depois pelo «novo
estilo» do 1ºMinistro que sorridente e mediático
convida ao diálogo... embora tapando previamente os ouvidos.
PS e PSD oferecem o carnavalesco espectáculo
de exaltadas batalhas verbais, de desacordos, de ultimatos de
fim de semana com o dedo no gatilho de pistolas de alarme. Com
o estrondo mediático da farsa, procuram esconder a real
identidade das suas políticas e os entendimentos já
estabelecidos ou em vias de se estabelecerem.
Um e outro estão ao serviço
dos grandes grupos económicos. Um e outro defendem a liquidação
de direitos vitais dos trabalhadores. Um e outro fomentam a acumulação
de riqueza para uns e o alastramento do desemprego e da miséria.
Um e outro são responsáveis pela destruição
da nossa agricultura, da nossa indústria, das nossas pescas.
Um e outro defendem a irresponsável corrida para a Moeda
Única que, longe de evitar a marginalização
de Portugal, agravará ainda mais a posição
de Portugal como país periférico, marginalizado,
submetido e submisso às imposições da União
Europeia e dos Estados Unidos.
E, porque são cúmplices
na política, são também cúmplices
na protecção recíproca dos abusos, das ilegalidades,
da corrupção nas mais altas esferas do poder procurando
como se viu há pouco paralisar e desautorizar o Ministério
Público, os Tribunais, e a sua independência.
E um novo perigo aí está:
a «reforma do regime político» com a qual
PS e PSD visam institucionalizar, através da revisão
da Constituição e de leis eleitorais antidemocráticas,
a partilha do poder entre os dois partidos, num sistema de alternância
- ora um, ora outro, disputando o poder mas qualquer deles ao
serviço do grande capital.
Esta política não serve
nem o povo nem o país. A prosseguir conduzirá a
um verdadeiro desastre. É imperioso lutar para pôr-lhe
fim e assegurar um Novo Rumo para Portugal.
Os trabalhadores, o povo, a democracia,
Portugal precisam de um governo democrático com uma política
democrática, precisam de um governo patriótico que
- ao contrário do actual, que se põe de joelhos
ou de cócoras na União Europeia e nas relações
com os Estados Unidos - esteja de pé na cena internacional
defendendo com brio, dignidade e coragem os interesses portugueses.
Mentem os que propagandeiam que não
existe qualquer outra política capaz de resolver os problemas
do povo e do país.
Por muito que queiram impedir que o
povo a conheça, tal política existe. É
a política que o PCP propõe ao povo português
e da qual os documentos do nosso XV Congresso indicam as linhas
fundamentais.
A vida tem mostrado e sectores cada
vez mais amplos da população reconhecem que, mesmo
na oposição, o PCP é um partido insubstituível,
necessário, indispensável ao povo, à democracia,
a Portugal. E a vida tem mostrado mais. Tem mostrado ano após
ano com a crescente compreensão dos mais variados sectores
democráticos de que, sem o PCP, e muito menos contra o
PCP não é possível pôr fim à
política de direita e alcançar uma viragem democrática
na política nacional.
E cabe acrescentar ainda algumas palavras
sobre esta matéria.
Tal como nas autarquias, os comunistas
tem demonstrado a sua superior capacidade de dirigir o poder local,
tal como na Assembleia da República e no Parlamento Europeu,
os comunistas têm mostrado a sua competência para
apresentar soluções para os problemas, também
no que respeita ao governo, no dia em que o povo o quiser,
repito, no dia em que o povo o quiser, e esse dia chegará,
os comunistas estarão preparados e inteiramente capazes
de assumir as mais altas responsabilidades.
A luta - o caminho
Pergunta-se então: dado que os
dois partidos até hoje mais votados - PS e PSD - se identificam
e entendem na realização da política de direita,
não será ilusório pensar que é possível
a viragem democrática que o PCP defende?
A nossa resposta é clara: A
derrota da política de direita e uma viragem democrática
é não só necessária mas possível.
Recorde-se que também era opinião
muito generalizada não ser possível correr do Governo
o PSD e Cavaco Silva.
O nosso Partido confiou na luta, teve
papel determinante na grande movimentação de massas,
no isolamento social e político do governo, e finalmente
na sua derrota eleitoral.
Assim como foi possível com
a luta conduzir à derrota o governo do PSD, assim é
possível com a luta conduzir à derrota o governo
do PS.
Dadas as consequências desastrosas
da sua política, o governo do PS defrontará inevitavelmente
uma crescente vaga de luta popular, sofrerá a redução
da sua base de apoio social e político, ficará,
tal como o governo de Cavaco, cada vez mais isolado e acabará
finalmente por ser derrotado nas urnas... se o não for
antes.
Impulsionar, desenvolver, dinamizar
a luta com esse objectivo é
(como o nosso XV Congresso está a definir) a nossa tarefa
política central na actual situação.
Intensificar as iniciativas dos nossos
eleitos na Assembleia da República, nas Autarquias, no
Parlamento Europeu.
E (como direcção determinante)
promover a luta dos trabalhadores, dos agricultores, dos intelectuais
e quadros técnicos, dos pequenos e médios empresários,
dos reformados, dos deficientes, da juventude, das mulheres, dos
mais variados sectores sociais atingidos pela política
de direita. Contribuir para reforçar e dinamizar os movimentos
e organizações unitárias de massas com relevo
para o movimento sindical unitário. Reforçar e ampliar
os laços de cooperação e acção
com todos os sectores democráticos, nomeadamente com os
nossos companheiros da CDU, empenhados numa viragem democrática.
Nenhum outro partido respeita mais rigorosamente
a legalidade democrática seja nas instituições
seja nas mais diversas formas da luta popular.
E bem podem acusar de «subversivo»
ou de «agitação» o exercício de
liberdades e direitos de manifestação, de reunião,
de organização, de opinião. Bem pode esta
ou aquela autoridade pretender, como recentemente se viu em Lisboa,
impor a proibição de manifestações
de rua que, como se sabe, devem ser comunicadas, mas não
carecem de qualquer autorização.
Ninguém espere que o nosso Partido
peça autorização para exercer os direitos
e liberdades que a legalidade democrática lhe confere.
O nosso XV Congresso confirma que o nosso Partido não
aceita nem aceitará renunciar a tais direitos e liberdades,
a separar-se das massas, lembrando, que, numa democracia e no
futuro, «é o povo quem mais ordena».
Temos constantemente lutado no terreno
em que a direita nos quer fixar como terreno exclusivo do confronto
político. Terreno da mentira, da calúnia, de campanhas
obrigando constantemente a desmentidos e desviando as atenções
das realidades e consequências da política de direita.
Cada vez mais temos de obrigar a
direita a travar o confronto no nosso próprio terreno.
O terreno da verdade dos factos. Da explicação dos
fenómenos e atitudes. Do conhecimento e difusão
das reais situações. Dos interesses concretos dos
trabalhadores, do povo, do país. Das soluções
que propomos. Da ligação estreita e actuante com
as massas populares, com os seus interesses, problemas e aspirações.
No terreno escolhido pela direita
somos muitas vezes obrigados a uma posição defensiva.
No nosso terreno, passando à ofensiva e colocando a direita
em posições desfavoráveis, temos alcançado
e podemos continuar a alcançar êxitos consideráveis.
É um caminho que exige respostas
prontas. Com objectivos imediatos, a curto e a médio prazo.
Com direcções e dinâmicas variadas que comportam,
além dos seus objectivos específicos, a difícil
tarefa de transformar o apoio social e o apoio político
em apoio eleitoral.
Já no próximo ano teremos
as eleições autárquicas. Será
uma grande batalha. Os seus resultados terão profundas
repercussões na evolução ulterior da situação.
Travaremos essa batalha com a CDU, com os nossos companheiros
de sempre e certamante com muitos outros democratas que virão
connosco. Travaremos essa batalha com a nossa forma própria
de estar na sociedade: o falar sempre verdade ao povo, o prometer
para cumprir e cumprir o que promete.
Com esse objectivo concentramos forças,
energias, capacidades e recursos. Não apenas para manter
posições, mas para reforçá-las. Temos
força, influência e determinação bastantes
para consegui-lo.
O futuro: o socialismo
A tarefa política central na
situação presente é a luta por uma viragem
democrática. Mas o nosso horizonte e a nossa perspectiva
são mais largos. A luta por soluções a curto
e a médio prazo não contradiz antes é um
elemento constitutivo da luta por uma sociedade libertada da exploração
do homem pelo homem, das grandes desigualdades e injustiças
sociais, dos terríveis flagelos do capitalismo.
Combatemos as concepções,
campanhas, tendências e teorizações que visam
criar a ideia de que o capitalismo é um sistema superior
e final, de que a desagregação da URSS mostra o
fim de uma utopia e o fracasso e a inviabilidade do socialismo.
A realidade é outra.
A realidade mundial e a realidade nos
países capitalistas está mostrando que o capitalismo,
pela sua própria natureza exploradora, opressora e agressiva,
não só se mostra incapaz de resolver os mais graves
problemas da humanidade como os está a agravar, no quadro
das insanáveis contradições que se aprofundam
na crise geral do sistema.
É inevitável um recrudescimento
da luta dos trabalhadores, um novo ascenso de lutas revolucionárias,
novos movimentos de libertação social, política,
cultural e nacional, revigoramento do movimento comunista e revolucionário
mundial, novas revoluções socialistas, tendo como
objectivo fundamental a construção de uma sociedade
melhor, uma sociedade socialista.
Em todo o mundo, a luta por um tal objectivo
recebeu inspiração, força e confiança
na Revolução de Outubro de 1917 na Rússia,
cujas realizações, conquistas e experiências
e cuja influência no desenvolvimento e vitórias da
luta libertadora é incontestável. Continuamos a
considerar a Revolução de Outubro e a construção
do socialismo na União Soviética como fazendo parte
do património e experiência histórica de valor
universal.
Ao longo do século XX multiplicaram-se
revoluções socialistas e nacional-libertadoras.
As experiências diversificaram-se. Alcançaram-se
grandes vitórias e grandes conquistas para os trabalhadores
e para os povos. Ruíu o sistema colonial.
Mas o processo universal, que parecia
progressivo e imparável, sofreu também grandes derrotas
e foi obrigado a consideráveis recuos. Por um lado porque
o capitalismo mostrou potencialidades que haviam sido menosprezadas.
Por outro lado, porque se verificaram fenómenos e evoluções
em países socialistas, contrariando objectivos fundamentais
sempre proclamados pelos comunistas.
Aprendendo com a experiência o
nosso Partido definiu o seu próprio projecto de uma sociedade
socialista para Portugal cujas linhas gerais o nosso Congresso
confirma.
A nossa própria experiência
das conquistas de Abril mostra porém que, num processo
revolucionário, a intervenção determinante
e criativa das massas populares introduz elementos novos e correctores
do projecto inicial.
Seria absurdo pensar que para a superação
do sistema socio-económico do capitalismo existe um «modelo»
de processo revolucionário e um «modelo» de sociedade
socialista de aplicação e validade universal.
O capitalismo demorou séculos
a tornar-se um sistema mundial e teve pelo mundo as mais variadas
formas de economia mista e as mais variadas formas de regimes
político. É previsível (e as experiências
do século XX reforçam a previsão) que o socialismo
e o comunismo venham a ter um percurso histórico igualmente
irregular e desigual nos caminhos e nas soluções.
Esta visão da história
é a nosso ver necessária para a melhor compreensão
das experiências passadas e para o melhor ajuizar das experiências
presentes e das revoluções socialistas do futuro.
Um dos traços da situação
mundial presente é a violenta e brutal ofensiva do imperialismo
(intervenções militares, guerras declaradas e não
declaradas, bloqueios económicos, pressões diplomáticas,
estrangulamentos financeiros, acções de terrorismo
de Estado) para restabelecer e conseguir estabilizar a sua hegemonia
mundial e impedir o novo surto que consideramos inevitável
da luta revolucionária dos trabalhadores e do povos.
O imperialismo apoia ferozes ditaduras
e regimes autocráticos, tudo faz para sufocar e dividir
o movimento operário, liquidar os movimentos sindicais
de classe, dividir e abafar as forças progressistas, liquidar,
perverter ou reduzir a uma insignificante influência os
partidos comunistas, pondo fim, se pudessem, ao movimento comunista
internacional e a perspectiva do seu novo desenvolvimento com
outras forças revolucionárias.
E também, com carácter
estratégico tentar cercar, abafar, criar condições
para restaurar o capitalismo e impor o seu domínio em países
que (com soluções diversas) insistem em definir
como sua orientação e seu projecto a construção
de uma sociedade socialista.
Atinge um cinismo sem limites das forças
do imperialismo, que, ao mesmo tempo que apoiam os mais sanguinários
governos fascistas e autocráticos e que nos seus países
abafam as liberdades e a democracia e desrespeitam elementares
direitos humanos, invoquem a democracia e os direitos humanos
para desencadearem colossais campanhas e agressões contra
outros países.
O projecto e proposta do nosso Partido
de uma sociedade socialista para Portugal diferencia-se em muitos
aspectos da construção do socialismo proposto ou
em curso noutros países.
O nosso XV Congresso confirma
porém a nossa frontal recusa em participar nas campanhas
do imperialismo e a nossa determinação de aprofundar
e reforçar os laços de cooperação,
solidariedade recíproca e amizade, com os partidos comunistas
e revolucionários, com os trabalhadores e o movimento operário,
com as forças progressistas, com os partidos no poder que
insistem no seu objectivo de construir o socialismo nos seus países.
Eles aqui estão representados
no nosso Congresso, e aqui os saudamos fraternalmente, assim como
saudamos as 59 delegações de partidos comunistas,
de outros partidos revolucionários e progressistas, e de
organizações e movimentos sociais.
A situação mundial
impõe cada vez mais a compreensão, a solidariedade
recíproca, acções comuns ou convergentes
na luta contra o imperialismo.
O nosso XV Congresso confirma que
o PCP continuará a dar a sua contribuição
com estes tão imperiosos objectivos.
Renovação comunista
A renovação é um
processo contínuo da história de um Partido que,
como o nosso, tem 75 anos de existência e de luta. Deu passos
mais rápidos nos últimos três Congressos.
Dá novos passos neste nosso XVº.
Renovação é um
conceito muito vasto que envolve diversos aspectos.
Para o nosso Partido na hora presente
é antes de mais o rejuvenescimento. Das fileiras
e dos quadros.
É enriquecer os efectivos com
milhares de jovens que vêm ao Partido e à JCP-«juventude
do PC». É enriquecer o Partido com quadros jovens
que assumem novas responsabilidades em todos os níveis
da organização.
E é indispensável que
o reconhecimento dessas responsabilidades não seja apenas
formal mas seja o seu exercício efectivo, pois os quadros
jovens estão em plenas condições de assumi-las
e desempenhá-las.
É também ultrapassar discriminações
e preconceitos, e conseguir que cada vez mais mulheres venham
ao Partido e atribuir às mulheres maiores responsabilidades,
porque é preciso que se ganhe firme consciência de
que as mulheres são tão capazes como os homens de
assumir quaisquer responsabilidades e funções na
sociedade e no Partido.
Renovar não é substituir
por substituir. Não pode significar a adopção
de critérios rígidos que levem a soluções
não vantajosas para o Partido e injustas para quadros valiosos.
Exige que se precedam as decisões de consultas fraternas
dos próprios e dos camaradas que com eles trabalham. Que
o respeito político seja também respeito humano.
E que se seja mais pronto no reconhecimento de deficiências
e erros colectivos e individuais.
Renovação é também
por parte de quadros dirigentes mais idosos (e os seus nomes são
conhecidos e têm sido citados), após dezenas de anos
de provas exemplares de capacidade, coragem e heroísmo,
a compreensão da necessidade de dar lugar a quadros mais
jovens, com novas experiências e mais largo futuro, ao mesmo
tempo que eles próprios continuam e continuarão,
comunistas que são, a militar activamente. Sempre com o
Partido, sempre com os trabalhadores. Sempre com o povo a que
pertencem, com o qual sempre viveram e sempre lutaram e com o
qual viverão e lutarão até ao fim dos seus
dias.
Renovar
não é apenas rejuvenescer as fileiras e os quadros.
É também dar respostas novas às novas
situações, aos novos acontecimentos, é ter
em conta as mudanças, é proceder constantemente
à análise das realidades, é encontrar os
métodos e formas de organização, de comunicação,
de propaganda, de intervenção e de luta adequadas
às exigências de situações concretas.
Mas que se desiludam os que gostariam
que a renovação do PCP significasse uma mutação
da sua identidade.
A renovação no PCP
é uma renovação comunista. Dá-se não
para que o PCP deixe de ser o partido comunista que é,
mas para que o possa continuar a ser. Não apenas nos tempos
próximos, mas num mais largo futuro.
O grande colectivo partidário,
a elevada consciência de classe das organizações
e militantes, é a melhor garantia de que as conclusões,
as orientações, os princípios ideológicos,
as linhas de acção, os traços fundamentais
da identidade do Partido definidos neste XV Congresso serão
assegurados tanto na acção imediata como no futuro.
A identidade do PCP
Todos nos lembramos da peremptória
proclamação de Mário Soares, repetindo uma
consigna mundial dos ideólogos do capitalismo, segundo
a qual o comunismo tinha morrido e o PCP estava também
condenado à morte próxima. Todos nos lembramos das
pressões, das tentativas e ameaças de exclusão
institucional para que o PCP desistisse de ser comunista.
Afinal vê-se que ser comunista,
em vez de morte, dá vida. Que afinal o PCP está
vivo, forte e cheio de saúde. E que está unido em
contraste com outros partidos agitados por conflitos, rivalidades
e bagunças internas. Que está dinâmico
e ligado às massas. E que, desmentindo os bruxos da nossa
praça, em vez de diminuir está a aumentar a sua
força, a sua influência, o seu prestígio.
A que se deve essa realidade para a
qual não encontram explicação os que anunciavam
a morte próxima do PCP?
Deve-se, em medida decisiva, ao facto
de o PCP reafirmar e afirmar criativamente a sua identidade
comunista.
A definição da identidade
comunista que consta na proposta de Resolução Política
não é apenas um ponto entre dezenas de outros pontos
da Resolução. Não é uma definição
conjuntural. É uma definição essencial, fundamental,
determinante de todas as orientações e decisões
políticas, ideológicas, orgânicas, de quadros,
de distribuição de forças, de dinâmica
de acção, de ligação com o povo, de
alianças sociais e de unidade com outras forças
políticas.
Somos o partido da classe operária
e de todos os trabalhadores, porque no chamado «capitalismo
civilizado» a luta de classes continua e, apesar das alterações
da composição da classe operária e da própria
composição social da sociedade, a classe operária
e os trabalhadores continuam a ter necessidade de um partido independente
dos interesses, pressões e ideologia do grande capital.
Necessidade tanto maior quanto é certo que, partidos e
organizações corporativas, ideólogos e propagandistas
do grande capital, pressionam para que os trabalhadores desistam
de ter o seu partido e os seus sindicatos de classe e aceitem
transformar as suas organizações políticas
e profissionais (são os ideólogos do grande capital
que o dizem) em organizações de «cidadãos».
Nós, comunistas, defendemos os
direitos dos cidadãos. Mas, tendo em conta que vivemos
numa sociedade na qual há classes sociais que exploram
e classes sociais exploradas, que a luta de classes é uma
realidade objectiva e a política de classe do Governo outra
realidade objectiva, o PCP não é, por exemplo, o
defensor dos interesses dos cidadãos Espírito Santo,
Champalimaud e Mellos contra os cidadãos operários
e outros trabalhadores, mas o defensor dos cidadãos operários
e outros trabalhadores contra os seus exploradores - os cidadãos
Espírito Santo, Champalimaud, Mellos e outros que tais.
Somos um partido que, aprendendo com
a vida, com a experiência, com as vitórias e derrotas,
insiste no objectivo, que o caracteriza e distingue, de construção
em Portugal de uma sociedade socialista, o que exige combatermos
a ofensiva ideológica do capitalismo que pretende demonstrar
que o capitalismo se tornou um sistema civilizado superior e final.
Somos um partido portador de uma teoria
revolucionária que inspirou os comunistas e outras forças
revolucionárias ao longo do século XX, o marxismo-leninismo,
teoria que compreendemos como aquilo que é - dialéctica
e anti-dogmática - teoria que não só explica
o mundo como indica como transformá-lo, ao contrário
do chamado «pensamento único» e o chamado «fim
das ideologias» com que as forças do capital pretendem
impor a sua visão de classe e a sua ideologia.
Somos um partido com ímpar democracia
na vida interna, com os grandes valores do trabalho colectivo,
da direcção colectiva, da participação
efectiva dos militantes nas decisões e não a falsa
democracia de outros partidos em que, depois de uma luta de galos
pelo poder, o chefe é quem pensa, o chefe é quem
decide, o chefe é quem manda, e aos militantes resta o
papel passivo de apoiar ou não apoiar, de votar por ou
contra.
Democracia interna que significa serem
características da vida partidária os direitos dos
militantes de defender livremente as suas opiniões, de
criticarem, de serem consultados quando a consulta é obrigatória,
de serem respeitados, de não sofrerem injustiças
e imposições autoritárias.
Somos um partido simultaneamente patriótico,
defensor desde sempre dos interesses nacionais e da soberania
e independência nacionais, e um partido internacionalista,
que tem, como princípio e prática, a activa solidariedade
para com os trabalhadores, os povos em luta pelos seus justos
direitos, para com as forças políticas e sociais
em luta contra o imperialismo.
O PCP é um grande colectivo militante,
com vontade própria e poder de decisão. Tal como
este grande colectivo combateu no passado e combate hoje todas
as pressões, campanhas, para deixar de ser o que é
e quer ser, assim combaterá com a firmeza comunista, com
a convicção comunista, com a coragem comunista,
quaisquer novas pressões, ameaças e campanhas que
as forças do capital e seus partidos, propagandistas e
agentes continuarão certamente a desenvolver.
Aqui no nosso XV Congresso, brilha a
bandeira vermelha que, segundo a canção, já
na Idade Média era símbolo dos explorados em luta
contra os opressores. Brilham a foice e o martelo símbolo
histórico da aliança do proletariado com o campesinato.
Ouvimos a Internacional, símbolo da solidariedade
internacionalista dos comunistas e dos trabalhadores em geral.
Aqui no nosso XV Congresso está
presente, nos conceitos, nas orientações, nas decisões,
o património de luta e dos objectivos pelos quais os comunistas
lutaram ao longo dos 75 anos de luta do seu Partido.
Dando respostas novas com espírito
criativo antidogmático, às novas situações,
fenómenos, mudanças, exigências da vida, o
XV Congresso está confirmando e afirmando o PCP como
o partido revolucionário que sempre foi, como um grande,
fraterno e unido colectivo de homens, mulheres e jovens, livres
e participantes, empenhados na luta com os objectivos e ideais
comunistas pelos quais, como a vida confirma, vale a pena lutar.
Viva o XV Congresso do PCP!
Viva a Juventude Comunista Portuguesa!
Viva o Partido Comunista Português!
Porto, 7 de Dezembro de 1996