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"A vitória do povo"
Ilda Figueiredo no "Semanário"
Sexta, 27 Agosto 2004

Tive a sorte de viver na Venezuela a inesquecível jornada de luta, alegria e festa do referendo revogatório de 15 de Agosto. Quando, às três da manhã, acordámos com os toques de clarins que despertaram Caracas para a jornada que se ia viver, estava longe de imaginar que pelas sete da manhã ia encontrar a cidade na rua, disposta festiva e ordeiramente em filas de quilómetros, junto dos muitos centros de votação, situação que se manteve durante todo o dia, obrigando ao prolongamento sucessivo do encerramento das urnas até à meia-noite.

A festa prolongou-se durante a noite e foi particularmente intensa após o anúncio dos resultados provisórios pelo Presidente do Conselho Nacional Eleitoral. O povo da Venezuela tinha decidido, de uma forma clara e transparente, sem equívocos, dizer NÃO à revogação do mandato do Presidente Hugo Chavez Frias. Com quase 60% de votos e mais de cinco milhões de apoiantes, o Presidente Hugo Chavez reforçou em mais de um milhão e meio o número de votantes. Assim, o referendo, exigido pela oposição, culminou a série de derrotas que os golpistas tentaram desde a eleição de Hugo Chavez há quatro anos, reafirmando o forte apoio do povo às políticas do seu Governo, às reformas sociais em curso, sobretudo nos bairros e zonas pobres, onde vive a maioria da população.

A votação demonstrou também que o povo se interessa pela política quando esta dá resposta aos seus problemas, e é capaz de esperar pacientemente, durante horas, numa fila, para exercer o seu direito de voto porque sabia que estava em causa a defesa da sua dignidade conquistada com o governo de Hugo Chavez. Foi o apoio a um Governo que soube construir pontes de diálogo com o povo, que soube desenvolver uma efectiva participação popular através da criação das inúmeras comissões de bairro, de saúde, de educação, cultura e desporto, nos “Programas Bairros Adentro”, na entrega do título de propriedade dos terrenos onde construíram as suas habitações, abrindo caminho a programas de reabilitação urbanística e de infa-estruturas básicas, recorrendo à solidariedade de cerca de 12 mil médicos cubanos para trabalharem nas zonas onde os médicos venezuelanos se recusavam a ir, restituindo o sorriso ao povo e o sonho aos jovens. Apoio às medidas de incentivo à produção e comercialização, através da formação de cooperativas com desempregados que divulgam nas embalagens de arroz ou açúcar os artigos da Constituição que lhes restituiu a dignidade. Apoio à luta contra a ingerência estrangeira na política venezuelana.

Com esta votação massiva, a maior de sempre na própria história da Venezuela, a população pobre, explorada e esquecida durante dezenas de anos, mas que agora sente a sua dignidade respeitada, manifestou a sua oposição às políticas neoliberais que dividiram a sociedade e concentraram a riqueza num núcleo restrito de grupos económicos e numa elite de poder, apoiada na Administração Bush, que sonhava continuar a controlar o petróleo e outras riquezas da Venezuela.

A cegueira política dessa oligarquia, ainda forte na vida económica da Venezuela, também contribuiu para a sua própria derrota. A dita oposição democrática, que é uma aliança abrangendo uma vasta gama de sectores que vão desde os fascistas directamente envolvidos no golpe de Estado e na paralisação económica até sectores da social-democracia e algumas franjas mais ou menos trotsquistas, bem insistiu na cabala da fraude a que alguns papagaios tentaram dar cobertura nas primeiras horas. Mas a existência de mais de um milhão e meio de votos favoráveis à permanência de Chavez e a presença de um elevado e diversificado número de observadores estrangeiros rapidamente obrigaram o aliado americano Bush a recuar nas suas primeiras e primárias declarações. A necessidade de preservar a estabilidade no fornecimento do petróleo do seu quarto fornecedor, num momento de grande instabilidade provocada pela manutenção da ocupação do Iraque, obrigou a Administração Americana a prontamente reconhecer os resultados eleitorais e retirar o tapete à oposição para qualquer veleidade golpista pós-referendo na Venezuela.

Mas todos os que acompanhámos e vivemos aqueles momentos históricos, que vimos o incitamento ao ódio que sectores mais radicais da oposição continuaram a lançar mesmo depois da estrondosa derrota que sofreram, sabemos quão importante é manter uma solidariedade activa com o povo venezuelano e o governo de Hugo Chavez Frias.

A vitória de 15 de Agosto é a prova de que é possível construir uma alternativa ao neoliberalismo, apoiada na participação popular, tendo como objectivo principal a justiça social e o bem-estar da população, no respeito pelas liberdades e direitos humanos, e contra as ingerências estrangeiras do imperialismo. O sonho pode transformar-se em realidade. O povo da Venezuela está a demonstrá-lo.

 

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