Embora não disponhamos ainda de informações detalhadas
sobre os trabalhos do 3º Congresso da Oposição Democrática que acaba de ter lugar,
podemos desde já afirmar que a sua realização constituiu uma grande vitória das
forças democráticas e uma fase muito importante da luta contra o fascismo.
Pelo grande número de democratas participantes nas
estruturas do Congresso, cuja Comissão Nacional era composta por mais de 500 membros,
representantes de todos os distritos do país; pelo número de teses apresentadas (quase
200), muitas delas colectivas, versando os mais diversos e importantes problemas da vida e
da luta do nosso povo, nomeadamente os problemas dos trabalhadores, da juventude, da
mulher, da intelectualidade, das liberdades democráticas, da guerra colonial, sindicais,
do ensino e da cultura, etc., etc., teses em cuja elaboração participaram milhares de
pessoas; pelo número de democratas mobilizados para estudarem e debaterem esses
problemas; pelo número de congressistas, que se contam por milhares e ainda pelos muitos
milhares de democratas que apesar de todas as dificuldades criadas pelo fascismo
conseguiram deslocar-se a Aveiro para participarem nos actos públicos do Congresso, à
última hora proibidos, pode dizer-se que o 3º Congresso da Oposição Democrática
representou uma grande manifestação e uma grande jornada de massas.
A realização do Congresso foi, como afirmaram vários
congressistas, uma conquista da Oposição Democrática e não uma concessão do regime.
Aliás o fascismo, não se sentindo em condições de impedir a efectivação do
Congresso, fez tudo quanto pôde para a dificultar e lhe reduzir o âmbito. As
dificuldades postas à sua divulgação e propaganda e à sua preparação e
organização; a proibição da romagem ao túmulo de Mário Sacramento e a proibição de
todos os actos públicos, acompanhado das ameaças do costume para tentar criar um clima
de medo; o encerramento do parque de campismo para impedir o acampamento aí de milhares
de pessoas que pretendiam assistir à última fase do Congresso; a ocupação do parque da
cidade pelas forças policiais para impedir a realização do grande piquenique de
confraternização; a intercepção pelas forças da GNR e PSP de todas as vias de acesso
à cidade, impedindo o direito de circulação e a chegada dos muitos milhares de
democratas de todos os pontos do país que pretendiam associar-se à manifestações do
Congresso, de tudo o fascismo jogou a mão para reduzir a amplitude e limitar a
participação popular nesta grande realização antifascista que foi o 3º Congresso da
Oposição Democrática.
Apesar de todas estas medidas, o fascismo não conseguiu
quebrar o entusiasmo popular nem impedir a entrada na cidade de vários milhares de
democratas que deixaram os transportes a quilómetros e quilómetros de distância e
conseguiram iludir a vigilância policial para se associarem aos últimos actos do
Congresso, incluindo a romagem a Mário Sacramento, violentamente reprimida pelas forças
policiais.
Embora não disponhamos ainda os elementos que nos permitam
fazer a devida apreciação do Congresso, as amplas discussões realizadas à volta dos
seus temas por muitos milhares de democratas, discussões que incidiram sobre os mais
candentes problemas da vida nacional, representou uma grande contribuição para a
definição de objectivos e métodos de acção do movimento unitário e foi um importante
passo para a dinamização da actividade das forças democráticas. O Congresso abriu
novas perspectivas de acção antifascista, criando condições para uma mais ampla e
combativa unidade no desenvolvimento de uma larga frente de luta contra o fascismo, contra
a guerra colonial, pelas liberdades democráticas.
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