Ilda Figueiredo e Pedro Guerreiro, deputados ao PE abordaram em conferência de imprensa temas da política comunitária que estão na ordem do dia, nomeadamente o Tratado de Lisboa, os debates na Comissão de Assuntos Constitucionais e suas implicações na alteração das legislações eleitorais e na composição do Parlamento Europeu.
Conferência de Imprensa dos deputados do PCP no PE
Com esta conferência de imprensa queremos abordar temas da política
comunitária que estão na ordem do dia e dar-vos conta de alguns
aspectos do nosso trabalho no Parlamento Europeu, designadamente em
áreas onde fomos responsáveis pela elaboração de relatórios e pareceres
ou onde apresentámos propostas de resolução.
Em primeiro lugar, começamos pelo chamado Tratado de Lisboa, assinado
pelos 27 Estados-Membros da União Europeia no dia 13 de Dezembro
passado, cujo processo de ratificação está a decorrer, tendo sido
ratificado, até ao momento, por sete países (Hungria, Eslovénia, Malta,
Roménia, França, Bulgária e Polónia), sempre pela via parlamentar.
Apenas a República da Irlanda, por impositivo constitucional, vai
realizar um referendo, em 12 de Junho.
Este tratado, que retoma a rejeitada “constituição europeia”,
representa um acto de desprezo pela opinião dos cidadãos, desde logo,
da França e da Holanda, onde os povos recusaram tal projecto. Mas
também do povo português. É que, em Portugal, como é sabido, PS e PSD
tinham prometido um referendo na campanha eleitoral, e até alteraram a
Constituição da República Portuguesa para que tal fosse possível.
Agora, não deixam que o povo português dê a sua opinião sobre o
tratado. O que, só por si, demonstra o medo que têm da posição que os
cidadãos poderiam assumir se conhecessem devidamente o que se pretende
com mais este importante salto na integração europeia. Não querem
correr riscos de novas rejeições.
É tal a sua pressa que, mesmo sem estar ratificado o novo tratado pelos
27 Estados-Membros, na Comissão de Assuntos Constitucionais já decorrem
debates insólitos sobre as eleições para o Parlamento Europeu, sobre
possíveis implicações na alteração das futuras legislações eleitorais e
sobre novas alterações da composição do Parlamento Europeu – habitantes
ou cidadãos –, na sequência do protesto da Itália, por ocasião da CIG
de Lisboa, acerca do número de lugares no PE após 2009, e que lhe
garantiu mais um deputado. Isto constitui, além do mais, um atentado à
soberania de cada Estado.
É particularmente grave a tentativa de pressionar alterações da
legislação eleitoral de cada Estado-Membro, tendo por base o hipotético
futuro tratado, cuja ratificação ainda decorre. Este debate demonstra
também a desvalorização do papel dos Parlamentos Nacionais. É um
exemplo do aprofundamento do federalismo que pretendem, à custa da
soberania dos Estados e do empobrecimento da democracia.
Num dos documentos que está em debate na Comissão dos Assuntos
Constitucionais do Parlamento Europeu, o relator admite a revisão dos
diferentes sistemas eleitorais actuais visando, designadamente:
- Tornar obrigatória a criação de circunscrições territoriais nos Estados-membros mais populosos:
- Criar um sistema de listas transnacionais para uma parte dos lugares;
- Dar aos candidatos a possibilidade de se apresentarem em mais do que
uma circunscrição, ou em mais do que um Estado, nas mesmas eleições;
- Reduzir o calendário eleitoral.
Assim, à perda das presidências rotativas, do comissário permanente, de
dois deputados portugueses, de menos competências na gestão dos seus
próprios recursos, de maiores obrigações, dependências e ingerências no
plano militar e da política externa, somam-se novas ingerências no
plano interno, que podem ir até ao próprio sistema eleitoral. O que só
pode merecer a nossa mais forte indignação.
Um segundo aspecto, que também queremos sublinhar, é o que se passa com
as recentes decisões do Tribunal de Justiça Europeu, colocando
sistematicamente em causa os direitos laborais, decidindo na exclusiva
defesa da “liberdade de estabelecimento” ou do princípio do país de
origem, tornando claro que o que pretendem é o reforço do
neoliberalismo e a legalização do dumping social, da concorrência entre
trabalhadores, para pôr em causa os direitos conquistados ao longo de
dezenas de anos de lutas, incluindo sobre contratação colectiva. Aos
casos da Laval e da Viking Line soma-se, agora, o caso Ruffert. Não há
Europa social que resista a tais deliberações, demonstrando que, mesmo
os recuos conseguidos com a famigerada directiva Bolkestein, de pouco
valeram, como então alertámos.
A recente revisão da dita estratégia de Lisboa, incluindo a
flexigurança e novas liberalizações, enquadradas com este novo tratado
e com as recentes interpretações do Tribunal de Justiça Europeu,
demonstram bem o sentido do caminho desta integração capitalista,
federalista e militarista da União Europeia.
No próximo dia 18 de Abril, iremos realizar um debate, aqui em Lisboa,
com a participação e apoio do nosso Grupo da Esquerda Unitária
Europeia/Esquerda Verde Nórdica, exactamente sobre estes temas, para
alertarmos para as consequências do que se está a passar e
demonstrarmos que é possível uma outra Europa e uma outra estratégia de
solidariedade, assente no princípio de Estados soberanos e iguais em
direitos, que aprofunde a democracia, rejeite a transferência de
competências e a alienação de instrumentos fundamentais para o
desenvolvimento do País, que tenha como objectivo a melhoria das
condições de vida dos trabalhadores e das populações, o progresso
económico, social e cultural, a justiça e a inclusão social, promovendo
as potencialidades de cada país, os serviços públicos, o emprego com
direitos, a cooperação e solidariedade com todos os povos do mundo.
Em terceiro lugar, queremos prestar algumas contas de uma intervenção
permanente ao serviço de Portugal, dos trabalhadores, das populações,
na defesa de uma outra Europa.
No cumprimento dos compromissos eleitorais assumidos, ao longo desta
legislatura, que começou em Julho de 2004 e termina em Junho de 2009,
temos desenvolvido uma intensa e diversificada actividade parlamentar,
seja nas Comissões e Delegações Parlamentares de que somos membros,
seja no Plenário, através, de centenas de intervenções e perguntas,
dezenas de propostas de resolução, de diversos relatórios e pareceres,
sempre com uma ligação permanente aos problemas e aspirações dos
trabalhadores e das populações e à realidade do País, tendo já
realizado mais de 450 visitas, dezenas de encontros e de reuniões e
participado em muito debates e colóquios sobre os mais variados temas,
do Algarve a Trás-os-Montes, do interior ao litoral e às Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira.
Igualmente, como membros do Grupo Confederal da Esquerda Unitária
Europeia/ Esquerda Verde Nórdica, onde participamos na respectiva
direcção, temos mantido uma permanente solidariedade internacionalista
com todos os povos e contra a política de ingerência e de construção e
desenvolvimento de blocos político-militares para domínio regional ou
mundial.
Em anexo, juntamos alguns exemplos dessa actividade.
Relatórios e Pareceres apresentados pelos deputados do PCP
Ilda Figueiredo
Relatório sobre o papel das mulheres na indústria
Relatório sobre a situação social na União Europeia
Relatório sobre segurança e saúde no trabalho
Relatórios sobre a proposta de decisão do Conselho que altera a Decisão
90/424/CEE relativa a determinadas despesas no domínio veterinário
(dois)
Parecer sobre a igualdade entre homens e mulheres na União Europeia em 2007
Parecer sobre a análise da realidade social
Parecer sobre um enquadramento político para reforçar a indústria
transformadora da UE - Rumo a uma abordagem mais integrada da política
industrial
Parecer sobre a deslocalização no contexto do desenvolvimento regional
Parecer sobre a proposta de decisão do Parlamento Europeu e do Conselho
que estabelece um Programa Comunitário para o Emprego e a Solidariedade
Social – PROGRESS
Parecer sobre os desafios políticos e os recursos orçamentais da União Alargada 2007-2013
Parecer sobre o impacto da política de coesão na integração de comunidades e grupos vulneráveis.
Pedro Guerreiro
Relatório sobre a organização comum de mercado no sector dos produtos da pesca e da aquicultura
Relatório sobre a melhoria da situação económica no sector das pescas
Relatório sobre o Acordo entre a Comunidade Económica Europeia e o
Governo da República de Angola relativo à pesca ao largo de Angola
Relatório sobre o Acordo de cooperação em matéria de pesca marítima
entre a Comunidade Europeia e a República Islâmica da Mauritânia
Parecer sobre uma política marítima integrada para a União Europeia - Pescas
Parecer sobre uma estratégia para as Regiões Ultraperiféricas: Progressos Alcançados e Perspectivas Futuras - Pescas
Parecer sobre o Quarto Relatório sobre a Coesão Económica e Social - Pescas
Parecer sobre o regime de compensação dos custos suplementares ligados
ao escoamento de determinados produtos da pesca dos Açores, da Madeira,
das ilhas Canárias e dos departamentos franceses da Guiana e da Reunião
Parecer sobre o sector das bananas nas Regiões Ultraperiféricas – Política Regional
Parecer sobre o futuro dos têxteis e do vestuário após 2005 – Política Regional.
Exemplos de propostas de Resolução subscritas por Deputados do PCP:
- sobre a contribuição para o Conselho da Primavera de 2008 no que respeita à Estratégia de Lisboa
- sobre Timor-Leste
- sobre têxteis e vestuário
- sobre a subida dos preços dos géneros alimentícios e a protecção dos consumidores
- sobre o cancro da mama na União Europeia alargada
- sobre os incêndios florestais
- sobre os incêndios florestais e as inundações em 2006, na Europa
- sobre as consequências económicas e sociais da reestruturação de empresas na Europa
- sobre deficiência e desenvolvimento
- sobre a Décima Primeira Conferência das Partes na Convenção de Montreal sobre as Alterações Climáticas
- sobre a protecção jurídica das invenções biotecnológicas
- sobre o acordo vitivinícola entre a União Europeia e os Estados Unidos
- sobre o petróleo
- sobre a situação na Bolívia, no Líbano, etc
- sobre a situação dos romanichéis ( Roma) na União Europeia
- sobre a seca em Portugal
- sobre o Dia Mundial da SIDA
- sobre o encerramento de empresas após a concessão de ajuda financeira pela União Europeia
- sobre a suspensão e revogação do Pacto de Estabilidade e Crescimento
Em colaboração com o Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde
Nórdica, realizámos em Portugal algumas importantes iniciativas, de que
se destacam:
- 17 de Março de 2005 - Cinco anos de Estratégia de Lisboa: balanço, experiências e alternativa, Lisboa
- 17 de Junho de 2005 - Investir na educação sexual, despenalizar o aborto, promover os direitos sexuais e reprodutivos, Lisboa
- 23 de Setembro de 2005 - A importância do NÃO ao Tratado Constitucional, Lisboa
- 10 de Novembro de 2005 - Aborto clandestino: "beco sem saída"? Por uma nova lei até ao final do ano, Porto
- 12 de Maio de 2006 - Situação actual da UE e perspectivas futuras, Setúbal
- 18 e 19 de Setembro de 2006 - Reunião da direcção do Grupo, Porto
- 12 de Novembro de 2006 - EURO: Cinco anos depois, Lisboa
- 8 de Junho de 2007 - O Pacto de Estabilidade e Crescimento e suas consequências, Porto
- 28 e 29 de Setembro de 2007 - Conferência Europeia dos Movimentos da Paz (CPPC), Lisboa
- 15 a 18 de Outubro de 2007 - Jornadas de Estudo do Grupo, Lisboa
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