Partido Comunista Português
Em defesa de uma produção de vinho e de um mundo rural sustentáveis
Terça, 11 Dezembro 2007
vinho.jpgNa sessão plenária de Estrasburgo foi votado o relatório sobre a organização comum do mercado (OCM) do vinho, que contou com os votos contra dos deputados do PCP ao PE, por incluir algumas das mais gravosas propostas do texto inicial da Comissão Europeia e por não ter em conta as principais propostas de alteração apresentadas no sentido de melhorar esta importante OCM.

 

Nota do Gabinete de Imprensa dos deputados do PCP ao PE

Os deputados do PCP votaram contra o relatório Castiglione sobre a Reforma da Organização Comum do Mercado do Vinho dado que as alterações pontuais introduzidas não alteram significativamente os aspectos mais importantes da má proposta da Comissão Europeia para o sector. Assim:

  • mantém a proposta de arranque  de 200 mil hectares de vinha e a proibição de novas plantações, com a consequentemente redução da produção e do emprego envolvido, acentuando ainda mais a desertificação de vastas zonas rurais;
  • não rejeita a liberalização dos direitos de plantação após 2013, embora solicite um estudo e uma apreciação dessa questão antes dessa data;
  • mantém a transferência da gestão e dos apoios do nível comunitário para "envelopes nacionais" e a injusta distribuição histórica dos mesmos (Regime de Pagamento Único), não corrigindo os desequilíbrios no plano agrícola, ambiental e social entre Estados-Membros e entre produtores, antes os acentuando;
  • mantém a possibilidade de transferir direitos de plantação de novas vinhas dentro da Comunidade, ou seja, a reboque da acentuação dos défices produtivos entre Estados-membros permite-se que os grandes países produtores e as suas grandes empresas possam fortalecer a sua capacidade produtiva em detrimento de países como Portugal;
  • apoia a adição de açúcar, admite a possibilidade de utilização de levedura OGM, ainda que rotulada, e a possibilidade de reconhecer como vinho produtos que o não são e que nada têm a ver com a herança cultural da produção vitivinícola. E isto, não para satisfazer consumidores ou produtores, mas para uma "orientação da produção para produtos mais adaptados às necessidades do mercado";


Os deputados do PCP rejeitam ainda que o vinho seja instrumentalizado pela União Europeia para, no âmbito das negociações da OMC, prosseguir a política liberalizadora, utilizando-o como moeda de troca, com áreas e sectores de maior rendibilidade para os grandes grupos económicos europeus, designadamente nas áreas dos investimentos e serviços. A redução das vinhas nos países da UE afectará principalmente as regiões menos desenvolvidas, as explorações familiares e agricultores com baixos rendimentos e mostra-se ineficaz em relação ao aumento das importações de vinho.

Com esta proposta, estão em causa o património vitivinícola europeu e o futuro de vastas regiões, quer das que constituem zonas de produção de vinhos com denominação de origem ou indicação geográfica, quer das que produzem bons vinhos de mesa, como é o caso de muitas regiões portuguesas.

Os deputados do PCP lamentam que tenham sido rejeitadas algumas das propostas que apresentaram, nomeadamente para retirar aspectos mais negativos do relatório, e de outras onde se propunha:

  • que os direitos de plantação se devem manter, com uma gestão pública dos Estados-Membros e a sua atribuição prioritária às zonas vinícolas;
  • que o problema das vinhas ilegais deve ser combatido através do arranque e de outras medidas a definir pelos Estados-Membros, atendendo às suas especificidades;
  • a definição de ajudas comunitárias à reestruturação da vinha, ao controlo da produção e à promoção da qualidade, devendo estas ser atribuídas mediante critérios regionalizados, com aplicação de uma “modulação” e do seu “plafonamento”. Estas, devem ser atribuídas em função das áreas e da capacidade financeira dos produtores ou empresas que se candidatem, dando particular atenção às Adegas Cooperativas e outras organizações de pequenos e médios vitivinicultores.
Agora cabe ao Conselho decidir. A Presidência Portuguesa do Conselho da UE deve defender a vitivinicultura, rejeitar estas orientações liberalizadoras e reorientar a política vitivinícola para corrigir os desequilíbrios existentes. E o Governo português deve defender a produção e o sector vinícola nacional, através da manutenção dos apoios à reestruturação da vinha e dos direitos de plantação, dos apoios ao controlo da produção e à manutenção da qualidade, dando particular atenção à agricultura familiar e às organizações de pequenos produtores.