Na sessão plenária de Estrasburgo foi votado o relatório sobre a
organização comum do mercado (OCM) do vinho, que contou com os votos
contra dos deputados do PCP ao PE, por incluir algumas das mais
gravosas propostas do texto inicial da Comissão Europeia e por não ter
em conta as principais propostas de alteração apresentadas no sentido
de melhorar esta importante OCM.
Nota do Gabinete de Imprensa dos deputados do PCP ao PE
Os deputados do PCP votaram contra o relatório Castiglione
sobre a Reforma da Organização Comum do Mercado do Vinho dado que as
alterações pontuais introduzidas não alteram significativamente os
aspectos mais importantes da má proposta da Comissão Europeia para o
sector. Assim:
- mantém a proposta de arranque de 200 mil hectares de vinha
e a proibição de novas plantações, com a consequentemente redução da
produção e do emprego envolvido, acentuando ainda mais a desertificação
de vastas zonas rurais;
- não rejeita a liberalização dos direitos de plantação após 2013,
embora solicite um estudo e uma apreciação dessa questão antes dessa
data;
- mantém a transferência da gestão e dos apoios do nível
comunitário para "envelopes nacionais" e a injusta distribuição
histórica dos mesmos (Regime de Pagamento Único), não corrigindo os
desequilíbrios no plano agrícola, ambiental e social entre
Estados-Membros e entre produtores, antes os acentuando;
- mantém a possibilidade de transferir direitos de plantação de
novas vinhas dentro da Comunidade, ou seja, a reboque da acentuação dos
défices produtivos entre Estados-membros permite-se que os grandes
países produtores e as suas grandes empresas possam fortalecer a sua
capacidade produtiva em detrimento de países como Portugal;
- apoia a adição de açúcar, admite a possibilidade de utilização de
levedura OGM, ainda que rotulada, e a possibilidade de reconhecer como
vinho produtos que o não são e que nada têm a ver com a herança
cultural da produção vitivinícola. E isto, não para satisfazer
consumidores ou produtores, mas para uma "orientação da produção para
produtos mais adaptados às necessidades do mercado";
Os deputados do PCP rejeitam ainda que o vinho seja instrumentalizado
pela União Europeia para, no âmbito das negociações da OMC, prosseguir
a política liberalizadora, utilizando-o como moeda de troca, com áreas
e sectores de maior rendibilidade para os grandes grupos económicos
europeus, designadamente nas áreas dos investimentos e serviços. A
redução das vinhas nos países da UE afectará principalmente as regiões
menos desenvolvidas, as explorações familiares e agricultores com
baixos rendimentos e mostra-se ineficaz em relação ao aumento das
importações de vinho.
Com esta proposta, estão em causa o património vitivinícola europeu e o
futuro de vastas regiões, quer das que constituem zonas de produção de
vinhos com denominação de origem ou indicação geográfica, quer das que
produzem bons vinhos de mesa, como é o caso de muitas regiões
portuguesas.
Os deputados do PCP lamentam que tenham sido rejeitadas algumas das
propostas que apresentaram, nomeadamente para retirar aspectos mais
negativos do relatório, e de outras onde se propunha:
- que os direitos de plantação se devem manter, com uma gestão
pública dos Estados-Membros e a sua atribuição prioritária às zonas
vinícolas;
- que o problema das vinhas ilegais deve ser combatido através do
arranque e de outras medidas a definir pelos Estados-Membros, atendendo
às suas especificidades;
- a definição de ajudas comunitárias à reestruturação da vinha, ao
controlo da produção e à promoção da qualidade, devendo estas ser
atribuídas mediante critérios regionalizados, com aplicação de uma
“modulação” e do seu “plafonamento”. Estas, devem ser atribuídas em
função das áreas e da capacidade financeira dos produtores ou empresas
que se candidatem, dando particular atenção às Adegas Cooperativas e
outras organizações de pequenos e médios vitivinicultores.
Agora cabe ao Conselho decidir. A Presidência Portuguesa do Conselho da
UE deve defender a vitivinicultura, rejeitar estas orientações
liberalizadoras e reorientar a política vitivinícola para corrigir os
desequilíbrios existentes. E o Governo português deve defender a
produção e o sector vinícola nacional, através da manutenção dos apoios
à reestruturação da vinha e dos direitos de plantação, dos apoios ao
controlo da produção e à manutenção da qualidade, dando particular
atenção à agricultura familiar e às organizações de pequenos produtores.
|