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"Espionagem e eleições" Ruben de Carvalho no "Diário de Notícias" |
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Sábado, 07 Agosto 2004 |
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Os últimos tempos têm colocado os serviços de informação e espionagem num inquietante centro das atenções políticas. A capacidade de obterem - e interpretarem capazmente - informações tem legitimamente sido posta em dúvida. No 11 de Setembro, sabe-se hoje que, mais que qualquer especial capacidade secretiva da Al-Qaeda, subestimaram dados e sua ponderação, concatenação, fiabilidade, exactidão. Se para a situação contribui a eficácia orgânica e estrutural (ou sua ausência), é indispensável ter em conta que é uma actividade inseparável de critérios políticos: os mesmos factos analisados à luz de um podem levar a conclusões exactas, à luz de outro exactamente oposto. A própria selecção das fontes igualmente disso depende e o caso do que parece ser o gigantesco embuste Al Chalabi é um excelente exemplo. Assim, a questão não é tanto se foram informações erradas da espionagem que enganaram a Casa Branca ou se foi a orientação política errada da Casa Branca que enganou a espionagem... Em segundo lugar, e mais inquietante, é a evidente e despudorada manipulação política de dados - ou pseudodados - dos serviços de informação para condicionar a opinião pública e a intervenção democrática. De Aznar e Atocha a Blair e os famosos «45 minutos», tudo se tem visto. O que, a meses das eleições norte-americanas, coloca sérias apreensões quanto às operações em curso da Administração Bush sobre «ameaças terroristas». |