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1. O Ministério da Educação tem rodeado
de acentuado secretismo a preparação da proposta de Orçamento do Estado para
o próximo ano, em flagrante contraste com as "fugas de informação"
de alguns dados parciais susceptíveis de criar uma imagem favorável na opinião
pública.
Este comportamento, bem como as informações obtidas através dos
estabelecimentos do ensino superior nada condizentes com o tom oficial "cor de
rosa", impõem a revelação das reais opções do Governo e a viva chamada de
atenção da opinião pública para elas.
2. Em termos globais caracterizam a proposta
de Orçamento para o Ensino Superior os seguintes dados:
- O montante do orçamento de funcionamento proposto para 1998 para
as universidades e politécnicos públicos ascende a 131,8 milhões de contos, o que
representa um incremento de apenas 4.2% em relação a 1997, claramente inferior aos
efeitos conjugados da inflação e do aumento do número de vagas de acesso (que atingiu
perto de 11%).
Quanto aos fundos do PRODEP / Fundo Social Europeu, incluídos no
orçamento de funcionamento para 1998 eles excedem em 851,7 mil contos o montante
orçamentado no presente ano.
- Se se isolar o orçamento de funcionamento proposto só
para as universidades públicas esta situação ainda é mais expressiva, pois o
Ministério da Educação propõe uma verba de 103,6 milhões de contos, ou seja , um
incremento de apenas de 3,1 milhões de contos apesar da inflação e do crescimento do
sistema.
- Em relação a esta proposta de orçamento de funcionamento para as
universidades públicas o facto sem dúvida mais grave é que o seu montante,
determinado a partir da fórmula de financiamento existente há vários anos (que
procura quantificar os custos reais do ensino em condições mínimas de qualidade e
estabelecer o esforço financeiro do Estado para o assegurar), conduziu ao valor global
de 114 milhões de contos, aos quais foram depois incompreensivelmente retirados 10,3
milhões de contos (8,4 milhões de contos correspondentes ao que o Ministério da
Educação prevê que seja cobrado de propinas e 1,9 milhões de um corte adicional
aleatório).
Desta forma e contrariamente ao que havia sido repetidamente
afirmado e prometido pelo Governo aquando da discussão da "lei do
financiamento", a verba a cobrar das propinas não surge como aditiva em
relação ao financiamento do ensino superior público (com a função de investimento
suplementar na sua qualidade) mas pura e simplesmente como substitutiva do esforço
do Estado, como aliás se receava.
- Quanto à acção social escolar no ensino superior público,
a proposta de orçamento para o próximo ano regista um aumento de apenas 3,1 milhões de
contos - demasiado escasso se se tiver em conta o universo de 210 mil alunos de
bacharelato e de licenciatura e sobretudo o nível miserabilista a que a acção social
escolar tem continuado a ser prestada. É por isso que no novo regulamento de atribuição
de bolsas, conforme foi divulgado pela comunicação social, para um aluno receber uma
bolsa de 51.400$00 por mês a sua família deve ter um rendimento não superior a 14
contos per capita !... E para um rendimento mensal familiar per capita de 50 contos, a
bolsa de estudo do aluno não excede os três contos novecentos e cinquenta escudos por
mês, que nem sequer chega para pagar as propinas que o Governo quis impor...
- A situação é ainda gravosa em outros pontos específicos, como é
o caso da contribuição do PRODEP / Fundo Social Europeu para as despesas do orçamento
de funcionamento. O facto de ter registado um novo crescimento relativo, virá tornar
ainda mais pesada e aleatória a gestão corrente das escolas, dado o carácter
problemático deste financiamento, a incerteza quanto à elegibilidade das despesas e os
atrasos dos pagamentos.
3. A Comissão Nacional do Ensino
Superior do PCP considera que o Orçamento do Ensino Superior para 1998 constitui
uma questão de incontornável e decisiva importância, na perspectiva da criação
de condições para a resolução de muitos dos problemas que atingem este sector
educativo.
É particularmente inadmissível que o Governo desrespeite, uma vez
mais, a fórmula de financiamento existente e pretenda utilizar a verba a cobrar das
propinas como substitutiva do financiamento público. Outros argumentos que não houvesse
- como há - para demonstrar o carácter injusto, iníquo e inadequado da "lei das
propinas" aprovada por iniciativa do Governo, bastaria este procedimento para
esclarecer o verdadeiro propósito de desresponsabilização do Estado em relação ao
ensino público e para evidenciar a necessidade da revogação desse diploma.
É indispensável que o Ministério da Educação torne públicos,
com verdade e transparência, todos os elementos relativos à sua proposta de Orçamento
para 1998 e esclareça os critérios que estiveram na base da sua elaboração.
Importa também que o Ministério da Educação preste pública
explicação ao país da baixíssima execução financeira das despesas de investimento
cobertas pelo PRODEP/FEDER, relativas à construção de infraestruturas do ensino
superior e à remodelação das já existentes, que constitui como se sabe uma questão de
crucial importância para muitas escolas e para a expansão do sistema. Recorde-se que
durante o ano de 1996 a execução financeira já tinha sido apenas de 47.5% do montante
programado para aquele ano. E que em relação ao presente ano de 1997 foi oficialmente
reconhecido e adjectivado como de "alarmante", o escandaloso facto de no fim de
Setembro, para uma execução anual prevista de 21.4 milhões de contos só ter sido
contabilizada uma despesa de 4,7 milhões de contos (21.9% de execução ).
Em torno dos problemas da execução financeira do PRODEP 2 e da proposta
de Orçamento para 1998 e da necessidade da sua superação, é urgente que
se desenvolva um amplo e participado debate público, em que participem nomeadamente
todas as escolas do ensino superior e as suas estruturas democráticas, os estudantes,
os docentes e os não docentes, e as suas organizações representativas.
A Comissão Nacional do Ensino Superior do PCP procurará contribuir também
activamente para esse indispensável esclarecimento e debate. E anuncia desde
já a realização no dia 18 de Outubro, sábado, às 14.30 horas, no Centro Vitória
em Lisboa de um debate público sob a designação Ensino Superior: a crise
que segue dentro de momentos.
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