Avanteatro
Do melhor em cena
(Programação)
Presente na Festa desde a primeira
edição, em 1976, o teatro ganhou um espaço próprio em 1986. Este ficou a
chamar-se Avanteatro e tem procurado mostrar o que de melhor se faz em Portugal
ao nível das artes de palco.
É feito um especial esforço para
divulgar os actores, os directores e as companhias que trabalham fora das
grandes áreas urbanas.
Este ano, o Avanteatro acolhe o Grupo
de Teatro «Ágil», que traz «O Velho da Horta», de Gil Vicente; o «Peripécia
Teatro» apresenta «Ibérica, A Louca História de uma Península»; do teatro de
rua para a Festa, a Cooperativa PIA traz «Hacker».
À cena do Avanteatro sobe «Felizmente
há Luar», de Luís de Sttau Monteiro, interpretada pelo grupo «A Barraca».
Especialmente para o público infantil,
o «Teatro Extremo» estreia «Maçãs Vermelhas». «Hansel e Gretel» é o título do
espectáculo de marionetas de mesa, que Ângela Ribeiro e Isabel Silva
apresentam.
Mantendo a tradição de incluir outros
géneros, embora com menos peso na programação do que as artes cénicas, o
Avanteatro programou para este ano um espectáculo de dança («Ponto de Fuga», da
responsabilidade de Rita Judas) e dois títulos de cinema documental («Os
Lisboetas», de Sérgio Tréfaut, e «Natureza Morta», de Susana de Sousa Dias).
O bar do Avanteatro será um local com
animação própria. Neste «café-concerto» poderá ouvir-se o jazz do Quarteto de
Maria João Ramos, as «Canções de Victor Jara»,
por Celeste Amorim, André Santos e Nuno Tavares, a música tradicional
portuguesa dos «Roncos do Diabo».
Lopes-Graça faz cem anos
Sob a direcção do maestro François
Robert, o Coro da Universidade de Lisboa interpreta, domingo à noite, as «17
Brasileiras», de Fernando Lopes-Graça. Este será um momento de homenagem do
Avanteatro ao genial compositor, nos cem anos do seu nascimento. O espectáculo
foi apresentado com sucesso no Fórum Romeu Correia, em Almada, no quadro das
celebrações do 25 de Abril.
A homenagem a Lopes-Graça, figura de vulto
na cultura portuguesa, militante comunista e firme combatente antifascista,
ocorre em vários outros espaços da Festa, como o Palco 25 de Abril e o Pavilhão
Central.
Artur Ramos
Será prestada homenagem a Artur Ramos,
destacado nome do teatro, do cinema e da televisão e um militante comunista
firme e empenhado, falecido no início deste ano. A evocação será feita com uma
exposição fotográfica, na entrada do Avanteatro.
O teatro na resistência
«Felizmente há Luar»
Por ter escrito a peça Felizmente há
Luar, em 1961, Luís de Sttau Monteiro foi preso pelo fascismo. O livro foi
proibido pela censura, tal como tantos outros, e foi igualmente interditada a
sua apresentação em palco. Só depois da revolução de Abril, numa encenação do
autor, a peça foi representada no Teatro Nacional D. Maria II, no ano de 1978.
No Avanteatro, é «A Barraca» que a vai
interpretar, numa encenação de Hélder Costa, que inclui Maria do Céu Guerra, no
corpo de actores e actrizes.
A história passa-se em torno da
tentativa frustrada de revolta liberal, em 1817, após a qual o Marechal inglês
Beresford, «aliado» de Portugal contra a ocupação francesa e Comandante em
Chefe do exército português, julgou e condenou à morte Gomes Freire de Andrade
e outros 11 sentenciados. A execução destes ocorreu no Campo Santana (actual
Campo dos Mártires da Pátria, em Outubro de 1817) e ter-se-á prolongado pela
noite. A frase macabra «felizmente há luar» teria sido pronunciada por Miguel
Pereira Forjaz, primo de Gomes Freire de Andrade.
A peça desenrola-se em dois actos e
contempla dois tempos históricos: o tempo dos acontecimentos que descreve e o
tempo em que foi escrita. Assim, acabou por constituir uma denúncia da ditadura
fascista e da vida em Portugal nos anos 60.
Amigos apesar da guerra
«Maçãs Vermelhas»
Para o público maior de seis anos, o
«Teatro Extremo» estreia no Avanteatro a sua 33.ª criação, intitulada «Maçãs
Vermelhas».
Este espectáculo de teatro procura
levantar questões que visam sensibilizar as crianças e contribuir para o
desenvolvimento de atitudes e valores humanistas, designadamente em torno dos
Direitos Universais das Crianças e do Homem, da igualdade de oportunidades, da
amizade, da falta de sentido das guerras, da crueldade que comete quem
aprisiona e limita o ser humano.
A sinopse divulgada pelo grupo adianta
que Salim e Ariel são duas crianças de dois diferentes povos, que disputam o
mesmo território. Estas crianças tudo vão fazer para continuarem amigos, apesar
dos seus povos viverem em guerra e de até os seus próprios pais não concordarem
com a sua amizade.
O autor é Luís Matilla e a encenação é
de Fernando Jorge Lopes.
Programação do Avanteatro
Sexta - feira, dia 1 de Setembro
21.30 h. – Teatro - «Ibérica – a Louca
História de uma península», Peripécia Teatro
22.30 h. – Teatro de Rua - «HACKER»
Cooperativa de teatro PIA, CRL
00.00 h. – Teatro «O Velho da Horta»,
Grupo de Teatro Ágil
00.45 h. Jazz – Quarteto Maria João Matos
Sábado, dia 2 de Setembro
11.00 h. – Teatro Infantil - «Hansel e
Gretel» Marionetas de Mesa – Ângela Ribeiro e Isabel Silva
15.00 h. – Cinema documental - «Os
Lisboetas» Sérgio Trefaut
20.30 h. – Dança - «Ponto de Fuga»,
Rita Judas, bailarina e coreógrafa
21.45 h. – Teatro de Rua - «Hacker»,
Cooperativa de teatro PIA, CRL
23.00 h. – Teatro «Felizmente há Luar»
A Barraca
00.45 h. – Canções e Música Popular
«Canções de Vitor Jara», Celeste Amorim, André Santos, Nuno Tavares (piano)
Domingo dia 3 de Setembro
11.00 h. – Teatro Infantil - «Maçãs
Vermelhas», Teatro Extremo
15.00 h. – Cinema Documental «Natureza
Morta», Susana Sousa Dias
20.30 h. – Homenagem a Lopes Graça «17
canções tradicionais brasileiras de Lopes Graça», Coro de Câmara da
Universidade de Lisboa, direcção Maestro José Robert21.30 h. – Música tradicional
portuguesa «Roncos do Diabo»
Sérgio Tréfaut e Susana Sousa Dias
Cinema Documental
Quase meio século separam os temas
centrais dos filmes apresentados na Festa, ligando-os contudo à realidade do
nosso País e à sua história.
«Lisboetas» de Sérgio Tréfaut
debruça-se sobre essa realidade que tão profundamente transformou a capital do
País: país de onde tradicionalmente saíam emigrantes, Portugal acolheu na
última década quase um milhão de imigrantes de origens as mais variadas, da
China ao Paquistão, da Ucrânia à Nigéria. Depois de um primeiro trabalho sobre
o tema, Sérgio Tréfaut lançou-se a um trabalho de maior fôlego, produzindo um
impressionante retrato da cidade que interpela o espectador ao ponto de
sentirmos que muitas vezes os estrangeiros acabamos por ser nós próprios.
«Natureza Morta», de Susana Sousa
Dias, é um pungente depoimento sobre a repressão fascista sugerido à jovem
realizadora pela contemplação dos álbuns de fotografias das fichas policias dos
milhares e milhares de portugueses que passaram pelas prisões políticas do salazarismo.
Não assumindo uma estrutura narrativa,
o documentário ganha um dos seus maiores impactos com o tratamento sonoro, onde
se destaca a especial eficácia das gravações da época utilizadas, lado a lado
com um universo de inesperada riqueza emotiva.
|