Rui Namorado Rosa, Membro da Direcção do Sector Intelectual
de Lisboa e da Direcção da Organização Regional
de Lisboa do PCP
A esfera da cultura compreende questões com enorme importância
estratégica para o projecto político, democrático
e nacional, não separáveis do contexto europeu e mundial.
Não obstante a sua longa história como país soberano,
Portugal encontra-se mal colocado, no quadro dos países desenvolvidos,
quanto aos seus níveis de instrução, qualificação,
criação científica, artística e literária
e de fruição cultural. Esta é uma outra face da mesma
realidade, a saber, o relativamente baixo nível de desenvolvimento
económico do país e de condições de vida e
de trabalho dos Portugueses.
Quanto à Educação, a política em curso confirma
as grandes orientações capitalistas para formações
redutoras de oportunidades de vocação e de latitude de competências;
para medidas desestruturantes do ensino formal; para a debilitação
do ensino público e a facilitação da ofensiva privatizadora.
A qualificação escolar tende a perder o seu pleno reconhecimento
para dar lugar à dita “certificação”
de aprendizagens, assim facilitando a contratualização ad
hoc dos trabalhadores.
A deficiente oferta de ensino obrigatório, a dificuldade de acesso
ao ensino superior e as elevadas taxas de abandono a todos vários
níveis, comprovam as orientações dos governos da
burguesia face ao Ensino Público, que caracterizam a sua opção
de classe, desastrosa para o povo Português. A relativa escassez
de trabalhadores qualificados não se deve à falta de jovens
com capacidades e vocações, antes à vantagem económica
que o capitalismo extrai de formar recursos humanos ao mais baixo custo
possível, o que conduz à reprodução de elites
a partir das elites, e não à elevação cultural
das camadas populares.
O trabalho de investigação científica e tecnológica
encontra enormes dificuldades de realização e avanço,
num país em que o seu atraso é enorme no panorama Europeu.
Conquanto a quantidade e diversidade de formações científicas
e técnicas tenham avançado rapidamente ao longo de mais
de uma década, com o apoio de fundos comunitários, o avanço
em meios de trabalho ficou muito aquém do necessário e,
ainda mais grave, as condições de trabalho, quer em termos
orgânicos quer em termos materiais quer em oportunidades profissionais,
regrediram globalmente. Trata-se de uma situação desastrosa
para as instituições científicas e para os seus trabalhadores
que encontram enormes dificuldades para realizar trabalho que seria essencial
para a capacitação científica e técnica do
país, o progresso da funcionalidade da administração
pública e a modernização das actividades produtivas.
Na vertente do apoio aos bens e iniciativas culturais, o discurso governamental
é o da descentralização e defesa do património.
A sua prática é a de liquidação de iniciativas
e de grupos culturais independentes; de transferência de encargos
e responsabilidades para as autarquias; de alienação das
suas próprias responsabilidades e imposição de orientações
cerceadoras da diversidade cultural.
A democratização cultural, em termos de acesso à
fruição como à criação, significa a
formação e democratização da estrutura social
dos públicos e dos agentes culturais, bem como a promoção
ampla de valores culturais democráticos, humanistas e críticos.
O dito mercado cultural, numa sociedade de classes e propriedade privada
dos bens de produção, é não apenas mais um
sector da economia capitalista, como também um meio de reprodução
quase automática, mas subtilmente manejada, dos valores da classe
dominante.
A evolução da situação dos intelectuais é
caracterizada pelo aumento do seu peso e importância enquanto grupo
social, atravessando importantes áreas — cultura, artes,
património, educação, investigação,
tecnologia — e envolvendo um vasto conjunto de profissões.
Apresentando particularidades conformes à sua intervenção
específica, a situação dos intelectuais apresenta
todavia algumas características que são comuns a outras
camadas sociais e profissionais e que em certas actividades os aproximam
do proletariado.
Aos trabalhadores intelectuais colocam-se tarefas políticas insubstituíveis:
O reforço da organização e da unidade na luta pelos
seus direitos, no contexto alargado de convergência de reivindicações
e de objectivos de luta de todos os trabalhadores; a afirmação
do papel fundamental da cultura para a solução dos problemas
e para o progresso do país; a valorização da internacionalização
das relações culturais em todos os domínios, em termos
de igualdade e de cooperação, combatendo o colonialismo
e visando o enriquecimento cultural, a solidariedade internacionalista
e o convívio pacífico entre os povos; a contribuição
para a análise e denúncia das políticas capitalistas
e para a luta por um projecto nacional de democracia política,
económica, social e cultural.