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Por uma grande campanha política de massa
(pela liberdade, pelo fim da guerra colonial,
por uma vida melhor) (*)
Comunicado do Comité Central
do Partido Comunista Português
Julho de 1973
Numa situação internacional que evolui
rapidamente a favor das forças do socialismo e da paz, a situação política portuguesa
caracteriza-se, no momento actual, pelo aprofundamento da crise do regime fascista e por
um novo fluxo da luta popular.
Existem perspectivas para o desenvolvimento
e o sucesso da luta por objectivos concretos imediatos da classe operária, da juventude,
do movimento democrático, das massas populares.
As «eleições» para a Assembleia
Nacional do mês de Outubro contribuem para criar uma conjuntura favorável a uma grande
campanha política de massas, à conquista de novas posições para o prosseguimento
ulterior do combate.
Com uma orientação justa, um tenaz
trabalho de organização, um amplo trabalho de massas, um firme espírito unitário,
podem ser alcançados, num futuro próximo, sérios êxitos na luta contra a ditadura
fascista, contra a guerra colonial, pela liberdade.
I — Viragem na situação
internacional
No ano em curso registaram-se
acontecimentos de extraordinária importância na vida internacional. O fim da guerra
do Vietname culmina com uma vitória sobre a agressão da mais poderosa potência
imperialista o combate heróico do povo vietnamita, que teve sempre a seu lado a URSS e os
países socialistas, o movimento comunista e operário, todas as forças
anti-imperialistas e progressistas. O PCP uma vez mais realça a lição revolucionária e
o alcance histórico da luta e da vitória do povo do Vietname.
A crise geral do capitalismo, os sucessos
dos países socialistas, do movimento operário internacional e do movimento de
libertação nacional, determinaram uma mudança favorável da correlação mundial de
forças, possibilitaram o desanuviamento e a viragem na situação internacional. A
consequente política de paz da URSS e da comunidade socialista interveio como factor
determinante dessa evolução. Deram-se passos decisivos para que, nas relações entre os
Estados de regime social diferente, se passe da época da guerra fria a uma época
marcada pela coexistência pacífica. Esta evolução representa uma importante
derrota da estratégia agressiva do imperialismo, uma grande vitória da URSS, da
comunidade socialista e das forças anti-imperialistas em geral, e cria condições
favoráveis à luta dos trabalhadores e dos povos pela democracia, a independência
nacional, a paz e o socialismo.
1. Progressos das forças
anti-imperialistas
A URSS e outros países socialistas,
com as suas realizações históricas, constituem uma força determinante da evolução da
sociedade e indicam o caminho do socialismo aos trabalhadores de todo o mundo. Em 1973, a
produção industrial conjunta dos países socialistas do CAME (Conselho de Ajuda Mútua
Económica) ultrapassou 8 vezes o nível de 1950; nos países capitalistas desenvolvidos
apenas triplicou. Nos países socialistas melhora continuamente o nível de vida da
população; nos países capitalistas aumenta o desemprego e intensifica-se a exploração
dos trabalhadores. Nos países socialistas, os preços mantêm grande estabilidade; nos
países capitalistas sobem constantemente os preços, aumenta a inflação, agrava-se a
crise monetária. Na comunidade socialista reforça-se a cooperação fraternal; no mundo
capitalista agudizam-se as contradições, a concorrência, a rivalidade monetária e a
guerra comercial.
As vitórias políticas e diplomáticas da
RD Alemã, de Cuba e da RPD da Coreia, são sérias derrotas para o imperialismo e
traduzem o reforço do campo socialista na arena mundial.
A classe operária dos países capitalistas
faz frente com vigor à exploração e à política dos monopólios. Em 1972 contaram-se
cerca de 50 milhões de grevistas nos países desenvolvidos. Muitos partidos comunistas
registam grandes progressos. No Chile, o governo de União Popular faz frente com sucesso
às conspirações da reacção e do imperialismo. Na RF Alemã, Itália, França, Japão,
Argentina, Austrália, Nova Zelândia e muitos outros países, as forças reaccionárias
sofrem sérias derrotas ou acusam acentuado recuo.
O movimento de libertação nacional,
ainda que num processo de desenvolvimento irregular, acusa também novos progressos. Os
governos do Peru e do Panamá prosseguem corajosamente a sua política anti-imperialista.
O Bangladesh consolida a sua independência. Em alguns países árabes (Síria, Iémene do
Sul, Argélia, Iraque), na Somália e noutros países novas medidas positivas são levadas
a cabo. Avança a luta de libertação dos povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
No mundo capitalista agudizam-se as
contradições económicas e os diferendos políticos, quer no interior das grandes
potências e entre elas quer entre elas e os países menos desenvolvidos. O capitalismo
monopolista de Estado, a internacionalização do capital, a sua integração económica e
política, são impotentes para eliminar os males crónicos do sistema e, entrelaçando
ainda mais as suas contradições económicas, sociais e políticas, aprofundam a crise
geral do capitalismo.
A decidida defesa das conquistas
socialistas na Checoslováquia, em 1968, com a derrota das forças anti-socialistas e dos
planos do imperialismo, foi também factor importante para a ulterior modificação da
correlação de forças a favor do socialismo e para o actual desanuviamento.
Às causas profundas da viragem na
situação internacional junta-se, como factor decisivo, a consequente política de
coexistência pacífica prosseguida ao longo dos anos pela União Soviética.
2. O desanuviamento internacional e a
segurança europeia
As viagens de L. I. Brejnev à RF
Alemã, aos Estados Unidos e à França e os acordos concluídos constituem elementos
decisivos e estabeleceram sérias bases para a viragem que se verifica na situação
internacional.
Na sequência dos tratados e acordos
bilaterais firmados pela URSS, a Polónia, a RD Alemã e a Checoslováquia com a RF
Alemã, que reconhecem a inviolabilidade das fronteiras saídas da segunda guerra mundial,
os progressos do desanuviamento na Europa concretizam-se na Conferência pela
Segurança e a Cooperação, cuja realização, depois de ter sido entravada e
sabotada durante anos pelo imperialismo e violentamente hostilizada pelo governo de
Marcelo Caetano, representa uma grande vitória da URSS, dos países socialistas, das
forças anti-imperialistas e pacíficas.
O PCP apoiou a iniciativa da Conferência
e, desde a primeira hora, defendeu a necessidade de obrigar o governo a rever a sua
posição negativa. A participação do governo português na Conferência é um sucesso
das forças do socialismo, da democracia e da paz. Será outro êxito que se veja obrigado
a subscrever acordos que contrariam a sua política e interesses.
É lamentável que numa tal situação os
dirigentes chineses, numa intensa actividade política e diplomática, ataquem aqueles
tratados, incitem a reivindicações territoriais na Europa, defendam o Mercado Comum e o
bloco da OTAN, a presença de tropas americanas na Europa, denigram a Conferência de
Segurança. Estas posições e actividades contrariam os interesses da classe operária,
dos povos e das forças progressistas da Europa e do mundo.
A natureza do imperialismo não se
modifica. Não desapareceram focos de guerra, de agressão, de tensão e conflitos. No
Vietname do Sul, os Estados Unidos e os fantoches de Saigão procuram sabotar os Acordos
de Paris. No Laos e Cambodja persistem dificuldades. No Médio Oriente, os agressores
israelitas, apoiados pelo imperialismo norte-americano, insistem na política de
anexação de territórios árabes. Em África, os fascistas portugueses continuam três
guerras coloniais. Os Estados Unidos esforçam-se por remodelar a OTAN, adaptando-a à
nova situação. É indispensável continuar o combate contra a política agressiva do
imperialismo e para que sejam respeitados os legítimos direitos e aspirações dos povos
à liberdade e à independência. É indispensável continuar o combate ao racismo,
colonialismo e neocolonialismo. Na Europa existem três ditaduras fascistas. A luta pela
Paz e a cooperação na Europa é inseparável da luta pela democracia.
A coexistência pacífica, entendimentos de
paz e cooperação entre Estados, não significam qualquer compromisso relativo ao statu
quo político. Enquanto os países da OTAN continuam a ajudar o fascismo e o
colonialismo, os países socialistas, guiados pelos princípios do internacionalismo
proletário, são e serão sempre solidários para com a luta dos trabalhadores e dos
povos. A nova situação internacional cria condições mais favoráveis para o
desenvolvimento do processo revolucionário à escala mundial e dentro de cada país.
3. Evolução favorável para a luta do
povo português
O desanuviamento internacional e os
progressos da segurança na Europa são favoráveis para o desenvolvimento da luta do povo
português contra a ditadura fascista, a guerra colonial e o colonialismo.
Em primeiro lugar, a nova situação
conduzirá a um reforço considerável, absoluto e relativo, da URSS e da comunidade
socialista, o que é de importância vital para a luta da classe operária e dos povos
de todo o mundo.
Em segundo lugar, o fim da «guerra fria»
e o desanuviamento retiram aos fascistas e colonialistas portugueses alguns dos
principais argumentos para pedir e receber a ajuda dos países imperialistas,
designadamente da OTAN. Uma política internacional do imperialismo com o pretexto duma
pretensa «ameaça de agressão soviética» facilitou sempre a ajuda a um regime que põe
os territórios de Portugal e aqueles que domina nas colónias portuguesas ao dispor das
forças agressivas do imperialismo. No quadro do desanuviamento e da cooperação europeia
para que se caminha, o governo terá cada vez mais dificuldades em aparecer com uma face
caracterizadamente fascista e colonialista.
Em terceiro lugar, as guerras contra os
povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique aparecerão com mais evidência na arena
internacional como focos que urge extinguir. Os países imperialistas, que têm
ajudado o governo português, terão mais dificuldade em continuar a fazê-lo.
Em quarto lugar, o desenvolvimento das
relações entre os países capitalistas e os países socialistas europeus, que terá
inevitavelmente incidências na política externa do governo português, cria
circunstâncias mais propícias para que o povo português quebre o isolamento em
que o fascismo o tem mantido em relação à URSS, ao longo de quase meio século, e
depois em relação aos outros países socialistas, e para que se crie um clima
desfavorável às campanhas anticomunistas.
Finalmente, criar-se-ão condições para o
desenvolvimento da solidariedade internacional para com a luta do povo português e dos
povos das colónias portugueses, que já se acentuou no ano decorrido.
Em Maio de 1972, o CC do PCP salientava que
«a evolução internacional tende a reduzir os apoios internacionais do regime fascista e
a alargar e a reforçar a solidariedade internacional para com o povo português» (*).
Esta apreciação é comprovada pelos factos.
(*) Ver Avante!, ano 42, série VI,
n.o 422 (Especial), Junho de 1972. Cf. Documentos do Comité Central do Partido
Comunista Português (1965-1974), Edições «Avante!», Lisboa, 1975, p. 312. (N.
Ed.)
II — O fascismo debate-se na própria
crise
O regime fascista não consegue superar as
dificuldades e contradições em que se debate. A sua política regista sucessivos
fracassos. O aprofundamento da crise do regime manifesta-se no agravamento da situação
económica, nos ásperos conflitos entre os vários grupos monopolistas, no crescente
isolamento interno ilustrado por divergências e divisões, no seu isolamento
internacional, no amadurecimento das condições que porão na ordem do dia o fim da
guerra colonial e uma solução política do problema, nas concessões e readaptações da
sua política às quais se vê obrigado por factores internos e externos.
A crise do regime enfraquece-o
consideravelmente e reduz a sua capacidade não só para resolver os próprios problemas
como para fazer frente ao descontentamento e à luta do povo português. Assediado por
todo o lado pelas dificuldades, na busca de soluções, o regime intensifica por um lado a
repressão e é obrigado por outro lado em muitos casos a manobrar, a ceder, a procurar
soluções de compromisso.
O enfraquecimento do regime abre novas
perspectivas de desenvolvimento ao movimento popular e democrático.
1. Agravamento da situação económica
A situação económica nacional tem-se
agravado e tenderá a agravar-se. Afrouxa o ritmo de desenvolvimento. Baixa a
produção agrícola, arrastando-se a sua crise. Crescem os défices do comércio externo
(23 milhões de contos em 1972). A inflação atinge o ritmo mais alto da Europa.
Acentua-se o atraso da economia portuguesa em relação aos outros países europeus. Os
lucros monopolistas aumentam, ao mesmo tempo que piora a situação das massas
trabalhadoras, levando mais de um milhão de operários e camponeses a emigrar em 10 anos.
Confirma-se cada dia a incapacidade dos
monopólios e do regime fascista de promover o aproveitamento dos recursos nacionais para
o melhoramento das condições de vida do povo português.
Fracassou a «política de
desenvolvimento» apregoada por Marcelo Caetano e pelos seus tecnocratas da primeira hora,
que acabaram por ser demitidos. Fracassou a política de «reconversão agrária».
Fracassou o «Estado Social» caetanista. O desenvolvimento económico esbarra com a
dominação monopolista, com limitações do mercado interno resultantes da exploração e
da miséria das massas, com a submissão ao imperialismo estrangeiro. A situação
degrada-se pelas múltiplas incidências e o elevado custo das guerras coloniais, que
absorvem dois quintos dos recursos do Estado. O processo de integração europeia e
acordos com o Mercado Comum, dado o atraso da economia portuguesa, criam
dificuldades suplementares.
Os monopólios e o seu governo fascista procuram
sair das contradições e dificuldades (aumentar os lucros, apressar a acumulação,
aumentar os investimentos, pagar a guerra, ganhar capacidade competitiva nos mercados
internacionais) à custa do povo e dos interesses nacionais.
1. Intensifica-se ainda mais a exploração
da classe operária e de todos os
assalariados
Proibindo durante dois anos, num período
de rápido surto inflacionista, modificações nas tabelas salariais dos CCT, o governo
forçou um brutal congelamento de salários, a diminuição dos salários reais. Com a
cumplicidade do governo, o patronato viola cláusulas dos CCT, paga menos que o
estabelecido nos contratos, baixa arbitrariamente de categoria profissional muitos
trabalhadores, dificulta promoções, lança uma ofensiva contra regalias já
conquistadas. Aumenta a semana de trabalho, a efectiva jornada de trabalho e as horas
extraordinárias, impõe horários desvantajosos, ritmos cada vez mais elevados, exige
altas «produtividades», alarga o sistema de empreitadas, multiplica multas e castigos.
Para responder às exigências do patronato, o governo alterou a classificação do
trabalho nocturno e tornou obrigatório por decreto as horas extraordinárias. Encerram-se
fábricas, aumenta o desemprego, despedem-se trabalhadores quando se aproximam da idade do
serviço militar ou da reforma, bem como por motivos arbitrários. Intensifica-se a
exploração do trabalho feminino e continua a exploração do trabalho infantil. Aumenta
a superexploração de trabalhadores africanos, particularmente de Cabo Verde, trazidos
para Portugal.
2. Apressa-se a ruína do campesinato
A política de «reconversão agrária» a
nova «Lei da Vinha» (em projecto), a intensa campanha por uma «nova dimensão» das
explorações agrícolas, a «agricultura de grupo», a política de pagamento de baixos
preços ao pequeno produtor, a intervenção dos Grémios, Juntas e Federações, o
sistema de monopólios de mercado, a política de crédito e a política fiscal —
visam apressar a liquidação das pequenas explorações, a concentração agrária, o
domínio dos campos pelo grande capital, isto é, uma agricultura completamente submetida
aos interesses monopolistas.
A corrupção e parasitismo dos organismos
corporativos, especulações com produtos agrícolas, a degradação das zonas rurais,
aceleram também a ruína e agravamento das condições de vida dos camponeses.
3. Aumentam os impostos segundo um sistema
fiscal degressivo, que poupa os grandes e estrangula os pequenos
Os impostos passam de 17 milhões de contos
em 1969 para cerca de 30 milhões em 1972. Nos onze primeiros meses de 1972, os impostos
indirectos (que mais afectam a população) atingiram 16,4 milhões de contos, mais 2,7
milhões que o total de 1971. O imposto profissional decuplicou de 1960 para 1970.
Entretanto, multiplicam-se as isenções, perdões e vantagens fiscais aos grandes grupos
monopolistas.
4. Agrava-se a inflação
Nas raízes do rápido surto inflacionista
estão, como causas gerais, as insuficiências da produção nacional, a ganância dos
monopólios procurando com o aumento dos preços anular no imediato quaisquer aumentos de
salários e obter lucros extraordinários, o domínio absoluto da política financeira
pela Banca que lhe permite aumentar os meios de pagamento visando exclusivamente os seus
interesses. Como causas particulares, nas condições da atrasada e dependente economia
portuguesa, as remessas de emigrantes e o turismo. Como causa específica, a guerra
colonial, que tende a converter-se num factor central. A vertiginosa subida dos preços,
particularmente sensível nos produtos alimentares, rendas de casa e transportes, recai
sobre a grande massa da população trabalhadora, significando um sério agravamento das
suas condições de vida.
5. Apressa-se a centralização e a
concentração, consideradas como direcção prioritária da política económica
O governo estimula a liquidação das
pequenas empresas e todas as formas de centralização, isentando de impostos, dando
subsídios, créditos e prémios, lançando a campanha dos «agrupamentos complementares
de empresas» e das «sociedades gestoras de carteiras de títulos». Nos últimos anos
fundiram-se bancos, foram absorvidos outros, o mesmo sucedendo com numerosas empresas de
todos os ramos, inclusivamente de grande dimensão (seguros, navegação, transportes
rodoviários, metalomecânica, química, vidros, automóveis, têxteis, moagem, conservas,
pescas, turismo, espectáculos, comércio). Multiplicam-se os casos de integração
vertical.
6. A economia portuguesa é submetida de
forma crescente ao imperialismo estrangeiro
Os grupos monopolistas ligam-se cada vez
mais estreitamente aos monopólios internacionais. O governo abre as portas ao capital
estrangeiro, oferecendo mão-de-obra a baixo preço e todas as facilidades para a
exportação dos lucros. Desde a formação do governo de Marcelo Caetano, os capitais
estrangeiros investidos anualmente em Portugal quadruplicaram, tomando posição dominante
em muitos sectores-chave da economia nacional. O governo e os grupos monopolistas aceitam
uma divisão internacional
do trabalho em que a economia portuguesa se torna completamente subsidiária e dependente
dos grandes monopólios internacionais.
Assim, à custa das dificuldades e da
miséria das massas e da limitação da independência nacional, os monopólios
engrandecem, apoderam-se duma parte cada vez mais considerável dos recursos do País,
fortalecem o seu reinado absoluto e despótico de exploração sobre toda a população
portuguesa.
[7.] A acumulação capitalista aumenta
apressadamente
Burlando os pequenos accionistas atraídos
pela demagogia da «democratização do capital», um número cada vez maior de sociedades
anónimas recusa-se a distribuir dividendos (60% em 1955, 80% em 1970) e, com a vaga de
especulação na Bolsa do início deste ano, os índices de cotações dos títulos
subiram em 5 meses tanto como nos últimos 7 anos. Aumentar o capital, alargar os
investimentos, apossar-se de novos ramos, é a consigna dos monopólios. De 1971 para
1972, 10 bancos aumentaram o seu capital de 3,3 para 5,9 milhões de contos e 183
sociedades de 6 para 11 milhões de contos.
Agrava-se cada vez mais a asfixia de toda a
economia portuguesa por uma dúzia de grandes grupos monopolistas, seis dos quais, só por
si, controlam mais de metade do capital de todas as sociedades portuguesas.
Esta evolução apressa-se com a
passagem do capitalismo monopolista para o capitalismo monopolista de Estado.
2. Capitalismo monopolista de Estado
O Estado fascista tem sido sempre um
instrumento do grande capital. Interveio para apressar a acumulação, a centralização e
a concentração. Interveio com auxílios financeiros, política corporativa e social,
fixação de preços de monopólio, distribuição de mercados, política fiscal, para
apressar a formação e engrandecimento do capital financeiro e a criação de grandes
grupos monopolistas dominando toda a economina nacional.
Este processo facilitou a passagem a uma
nova fase do desenvolvimento do capitalismo em que o Estado intervém em todos os aspectos
da vida económica, funde o seu poder com o poder dos monopólios já dominantes, põe ao
seu serviço todos os recursos e meios do Estado, constituindo com eles um «mecanismo
único». É o capitalismo monopolista de Estado.
A passagem a esta nova fase tem causas
objectivas no desenvolvimento do capitalismo: necessidade imperiosa de grandes
investimentos; dificuldade e mesmo impossibilidade de realização da mais-valia sem
intervenção do Estado; necessidade de os monopólios se libertarem de sectores não
rentáveis, mas necessários ao desenvolvimento geral, etc. Os factores políticos podem
apressar ou retardar este processo. Em Portugal, tal como a existência da ditadura
fascista teve um importante papel no apressamento da centralização e concentração de
capitais e na formação e domínio dos grandes grupos monopolistas, assim o tem também
no apressamento da fusão do Estado com os monopólios.
O Estado concentra nas suas mãos uma parte
cada vez mais elevada do produto nacional: 14% em 1950, 21% em 1971. Com os organismos de
administração local e a Previdência, o total arrecadado subiu, em 1971, a 59 milhões
de contos, ou seja, mais de um terço do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto, de 1950
para 1970, o PIB aumentou 4,7 vezes, os impostos aumentaram 6,3 vezes. Aos grupos
monopolistas são concedidos privilégios, vantagens, isenções fiscais, subvenções,
financiamentos e créditos. O aumento do consumo público indica a crescente importância
absoluta e relativa do mercado privilegiado, que o Estado assegura aos monopólios. As
despesas do Estado correspondem a um quinto do PIB, pesando de forma especial as despesas
de guerra, que passaram de 5 milhões de contos em 1961 para 17 milhões em 1972. O Estado
intervém assim para uma profunda redistribuição da mais-valia em benefício dos
monopólios.
O Estado chama ainda a si sectores não
rentáveis e infra-estruturas, alarga o sector da propriedade do Estado, aumenta, sem
contrapartida, as participações no capital das grandes companhias em dificuldades ou em
fase de arranque, dá apoio técnico e forma os quadros das empresas, fixa condições de
exploração dos trabalhadores, elabora a «planificação» monopolista através dos
«Planos de Fomento».
A «Lei de Fomento Industrial» de
1972 indica as grandes linhas gerais da intervenção, ajuda e apoio do Estado, da
formação do «aparelho único» do Estado e dos monopólios.
O capitalismo monopolista de Estado acentua
a contradição entre os interesses dos monopólios e os de todas as restantes classes e
camadas da população. Tende a isolar cada vez mais socialmente o regime fascista.
Acentua a natureza social antimonopolista da unidade democrática e popular.
3. Amadurecem as condições para o fim da
guerra colonial
Fechando os olhos às mudanças na
correlação mundial de forças, às realidades históricas e à irreversibilidade do
processo de descolonização, o governo tem procurado estrangular com a repressão, o
terror e a guerra a justa luta pela independência dos povos de Angola, Guiné-Bissau e
Moçambique. Doze anos de guerra mostraram o erro de cálculo colossal dos fascistas e
colonialistas.
O governo altera e faz mudanças de
fachada. Anuncia medidas demagógicas, como a mascarada de «eleições» para Assembleias
Legislativas. Pensa numa nova linha de defesa do colonialismo. Mas a direcção
principal da sua política continua a ser a guerra. Os fascistas cometeram e cometem
crimes hediondos contra os povos africanos: a guerra com todos os seus horrores, o napalm,
os desfolhantes, o extermínio de populações indefesas, torturas bárbaras,
organização de vis assassinatos de dirigentes (Mondlane em 1969, Amílcar Cabral em
1973), o confinamento de populações inteiras em campos de concentração. A guerra é
também um crime contra o povo português: sacrifício da vida de milhares de jovens,
milhares de mutilados, incapacitados, traumatizados e corrompidos, privações materiais e
sofrimentos morais da população, o país sofrendo em todos os aspectos as consequências
negativas desse empreendimento, a submissão crescente ao imperialismo como preço pela
ajuda recebida. Tudo isto não tem qualquer sentido nacional. Serve apenas para prolongar
a rapina das riquezas e a exploração do trabalho dos povos africanos, para aumentar os
lucros dos monopólios portugueses e estrangeiros. Mas não conseguiu nem conseguirá
sufocar a luta de libertação.
Os povos de Angola, Guiné-Bissau e
Moçambique, tendo à sua frente os seus partidos revolucionários (MPLA, PAIGC e
FRELIMO), alcançam novos grandes êxitos e reforçam a sua capacidade militar
testemunhada pela intensificação das acções ofensivas contra as tropas e
aquartelamentos colonialistas, pela abertura da frente de Manica e Sofala em Moçambique,
pelos sucessos da defesa antiaérea do PAIGC, pelo recrudescimento da actividade militar
do MPLA no Norte de Angola. Alarga-se e intensifica-se a luta do povo português contra a
guerra colonial e o colonialismo. As despesas de guerra agravam a situação das massas e
a tensão social e entravam os investimentos, que são entretanto essenciais para o
desenvolvimento do próprio capitalismo português. Reforça-se a solidariedade da URSS,
de outros países socialistas, do movimento comunista e das forças progressivas aos
movimentos de libertação e alarga-se a condenação internacional do colonialismo
português.
A convergência de todos estes factores faz
amadurecer as condições que colocarão na ordem do dia o fim da guerra colonial e uma
solução política do problema.
O PCP proclama e os factos comprovarão:
aproxima-se o dia em que o governo, se antes não for derrubado, depois de ter acusado de
«traição nacional» os que exigem o fim da guerra, negociações, o reconhecimento do
direito dos povos à independência, será ele próprio forçado a procurar uma solução
política, que se esforçará que seja demagógica e neocolonialista, mas será o toque de
finados do colonialismo português.
O movimento anticolonialista pode ter
confiança: o futuro, e não muito distante, confirmará na prática a justeza das suas
posições. A luta de libertação só terminará com a independência dos povos
respectivos.
4. Crescente isolamento interno
O crescente isolamento do regime é
determinado por causas objectivas: desenvolvimento do capitalismo monopolista, que atinge
classes e camadas cada vez mais amplas da população; agudização das contradições e
conflitos de interesses dos vários grupos e camadas da burguesia dominante; múltiplas
incidências económicas da guerra colonial, que os fascistas prolongam sem qualquer
perspectiva de sucesso.
No plano político, falhou a manobra
caetanista para alargar a base de apoio do regime. O fascismo pagou, com o agravamento de
conflitos e dissidências internas, o colaboracionismo, mais ou menos condicionado e
temporário, de elementos marginais. Com a sua manobra, Marcelo Caetano pretendia reduzir
a base da Oposição e socavar a sua unidade. A manobra voltou-se contra o próprio
fascismo. Enquanto a Oposição se alarga a novas camadas e sectores e reforça a sua
unidade, reduz-se a base de apoio do regime, corroído por conflitos e divergências.
Expressões deste fenómeno e estreitamente
ligados, dois factos de particular importância são de sublinhar:
O primeiro: A criação, no campo do
próprio regime, de uma corrente política discordante e diferenciada, que se polariza em
torno de uma plataforma efectivamente liberalizante.
Dando a este acontecimento novo a real
importância que tem, impõe-se lutar contra quaisquer apreciações e ilusões
oportunistas acerca do seu significado e do seu papel. Esta nova corrente situa-se ainda
no campo do regime e pode ser ainda reassimilada por este. É também de notar que, em vez
de uma aproximação com a Oposição democrática, começa intrigando contra esta,
servindo assim os desígnios fascistas.
O interesse da Oposição é agravar os
conflitos e divisões no campo fascista, arrancar esta nova tendência à sua órbita e
atrair à cooperação com o movimento democrático e à luta pelos objectivos
fundamentais do movimento democrático aqueles que de facto e sinceramente estejam
decididos a lutar por eles.
O segundo: A evolução da posição da
Igreja nos últimos tempos, sob pressão da amplitude do movimento popular, da
opinião católica nacional, da política do Vaticano. Embora com tradicionais posições
reaccionárias e anticomunistas e muitas limitações e hesitações, a Igreja começa a
«marcar distâncias» em relação ao fascismo e à guerra colonial. A Nota do
Patriarcado de 11 de Janeiro sobre o protesto da Capela do Rato, no essencial, encoraja os
católicos à discordância contra a guerra colonial. A Carta Pastoral do Episcopado de 4
de Maio, embora repita Salazar nos princípios que considera insusceptíveis de
discussão, pronuncia-se contra o sistema político da ditadura fascista.
Há, sem dúvida, nestas novas posições
um esforço para limitar e controlar o movimento de católicos progressistas, incluindo
numerosos sacerdotes, e para evitar a crescente contestação e isolamento da hierarquia.
O seu significado essencial é, porém, uma deslocação da política da Igreja, um
princípio de distanciamento em relação ao fascismo e ao colonialismo. Objectivamente,
esta evolução anima os católicos à luta pela liberdade e contra a guerra colonial.
As novas posições da Igreja exigem que,
por um lado, se desmascarem todas as formas (que se mantêm) do seu colaboracionismo
político; exigem, por outro lado, que se procure estimular o aprofundamento de
dificuldades e, se possível, o aparecimento de uma brecha entre a Igreja e o regime.
A redução da base de apoio e o crescente
isolamento do regime, as suas dificuldades e divergências internas, constituem um dos
principais elementos da sua crise. A acção política da Oposição não pode perder de
vista a acentuação deste processo.
5. Isolamento internacional
As votações na ONU, e a representação
em organismos desta de representantes dos movimentos de libertação das colónias
portuguesas, a expulsão dos fascistas de organizações internacionais, a sua
condenação não apenas pelas forças progressistas, mas também por um número cada vez
mais elevado de governos, indicam o crescente isolamento internacional do regime
fascista e colonialista português. O regime continua, é certo, a receber apoio e
auxílio dos grandes países imperialistas e particularmente da OTAN, sem os quais não
só não poderia prosseguir três guerras coloniais em África como não poderia, por
longo tempo, manter a opressão do povo português. Continua a ter relações
diplomáticas com praticamente todos os países capitalistas. Não há, porém, que
confundir isolamento internacional com corte ou inexistência de relações diplomáticas.
Isolamento internacional é o isolamento duma política e não a inexistência de
relações diplomáticas dum Estado. A manobra demagógica e a «ofensiva diplomática»
de Marcelo Caetano não conseguiram iludir a opinião pública internacional nem alargar
as bases de apoio externo do regime.
Viagens de Marcelo Caetano ao estrangeiro,
do ditador brasileiro e do marido grego da rainha de Inglaterra a Portugal não alteram a
situação. As comemorações da Aliança Luso-Britânica, ao invés do que pretendia
Marcelo Caetano, provocaram em Inglaterra um amplo movimento hostil ao regime português,
abrangendo mesmo círculos em geral indiferentes à luta do povo português e dos povos
coloniais.
A evolução da situação internacional
exerce pressão sobre o governo, obrigando-o, desde já, a fazer concessões e
readaptações. Depois de hostilizar longos anos o projecto da Conferência sobre a
Segurança e Cooperação na Europa, o governo acabou por ser obrigado a participar nela.
Depois de considerar como crime as relações com os países socialistas, o governo vê-se
obrigado a ensaiar uma «abertura a leste».
A evolução da situação internacional, e
particularmente o desanuviamento na Europa, deve ser amplamente aproveitada para acentuar
o isolamento externo do regime, para que se multipliquem sobre ele as pressões externas,
para que se intensifiquem as acções de solidariedade internacional para com o povo
português e os povos das colónias portuguesas.
A este respeito têm particular
importância as relações com os países socialistas. As forças democráticas
devem tomar as mais variadas iniciativas para promoverem, na actual conjuntura, o
desenvolvimento de relações culturais, turísticas e desportivas com os países
socialistas, exigirem do governo o fim definitivo da sua política externa dos tempos da
«guerra fria» e uma política externa de relações com todos os países, incluindo com
os países socialistas.
As forças antifascistas portuguesas não
devem recear o alargamento, para que se caminha inevitavelmente, de relações de diverso
tipo de Portugal com os Estados socialistas. Esse alargamento constituirá uma vitória
real das forças do socialismo e da paz. Mostrará o fracasso da política externa
anticomunista do governo e um êxito da posição do PCP e outras forças democráticas no
sentido duma mudança da política externa. Ele contribuirá para quebrar a barreira ainda
existente entre o nosso povo e os países socialistas. Não diminuirá em nada o
isolamento político do fascismo e do colonialismo. Diminuirá sim, o isolamento do nosso
povo. Será altamente favorável à luta do povo português contra o fascismo e o
colonialismo.
6. Repressão e demagogia
O recente Congresso da ANP evidenciou a
mediocridade e o esgotamento político dos círculos dirigentes. Os fascistas tomam
consciência da amplitude do descontentamento e das posições alcançadas nos últimos
anos pela Oposição. Cada vez mais isolado, o governo só com a violência consegue impor
a sua política antipopular e antinacional.
A repressão tem três objectivos
principais:
O primeiro, é cortar o passo ao
desenvolvimento da organização e da luta popular através de proibições cada vez
mais severas e da intervenção directa das forças repressivas. Nas empresas, nos
sindicatos, no movimento democrático, nas escolas, nas cooperativas, em todos os aspectos
da vida nacional, sucedem-se decretos e decisões antiliberalizantes. O governo procura
manifestamente retomar posições e abafar os movimentos que se criaram. Se o Congresso de
Aveiro foi autorizado quando o governo supôs que seria uma iniciativa sem projecção nas
massas, logo criou toda a espécie de dificuldades e desencadeou a repressão quando se
apercebeu de que se tratava duma grande realização política.
O segundo objectivo é fazer recuar e
intimidar os activistas e as massas, destruir iniciativas, desarticular os quadros,
através duma aparatosa vigilância e insistentes e amplas medidas de intimidação,
provocação e repressão.
No mês de Abril, são presas muitas
centenas de pessoas. A polícia dispara contra os estudantes de Lisboa, ferindo alguns,
faz violentas cargas contra os estudantes do Porto e de Coimbra. A manifestação em
Aveiro, no dia 8 de Abril, é brutalmente reprimida e são espancados selvaticamente
muitas dezenas de pessoas na Baixa de Lisboa no dia 1.o de Maio. Forças repressivas são
lançadas contra os camponeses, que defendem as suas vinhas e os seus baldios. Centenas de
trabalhadores (como nos STCP do Porto e na APDL) são chamados à PIDE-DGS. Numerosos
trabalhadores cabo-verdianos são presos. As forças repressivas são enquadradas por
aqueles que se destacam na guerra colonial pela sua bestialidade. Instaura-se um sistema
de multas por motivos políticos. Criam-se nas escolas, fábricas e outros locais de
trabalho, destacamentos de polícia de choque privativa: os «gorilas». O «Congresso dos
Antigos Combatentes do Ultramar» procura lançar uma organização paramilitar em
complemento da falhada Legião.
O terceiro objectivo é atingir e
enfraquecer o PCP, descobrindo e prendendo os seus militantes, particularmente os
clandestinos. A transmissão ou publicação na TV e na Imprensa de fotografias de
destacados dirigentes clandestinos do PCP, os stops (nos quais, só em 1972, foram
fiscalizadas 1 200 000 viaturas), as rusgas, as identificações e prisões em massa, as
selváticas torturas aos presos — visam esse objectivo.
Com a continuação do fluxo da luta
popular, irá acentuar-se ainda mais a repressão. Há que se preparar para ela, combatê-la
firmemente, mobilizar as massas em protestos, multiplicar as acções de solidariedade
em caso de repressão, fortalecer a solidariedade recíproca entre todas as regiões e
entre todos os sectores de luta.
A repressão, arma principal do fascismo,
não lhe basta porém. O governo continuará a recorrer a declarações, medidas e
manobras demagógicas.
Mostram-no claramente a propaganda feita ao
aumento dos vencimentos do funcionalismo, que entretanto ficam ainda abaixo do que eram
há três anos, dado o aumento do custo de vida, o anúncio de «grandes obras», como as
auto-estradas e o complexo de Sines, destinadas afinal ao reforço das posições dos
monopólios portugueses e estrangeiros. Mostra-o também a demagogia de Marcelo Caetano em
afirmações como a de que ninguém mais do que o seu governo deseja a garantia das
liberdades e direitos.
Há que desmascarar prontamente as
declarações e medidas demagógicas e voltá-las contra o governo. As forças
antifascistas portuguesas têm tido uma rica experiência neste combate e estão em
condições de alcançar novos sucessos.
Até hoje, nem com a demagogia, nem com a
repressão, o fascismo conseguiu paralisar e abafar a luta. Tão-pouco o conseguirá no
futuro.
III — Ascenso da luta popular
Os factos confirmam o «fluxo irregular,
mas seguro, da luta popular». Alarga-se a luta reivindicativa. Os trabalhadores
recorrem com mais frequência a greves e paralisações. Resistindo à repressão
fascista, o movimento sindical alcança novos sucessos. A juventude trabalhadora intervêm
cada vez mais activamente nos vários sectores de luta e multiplica as suas próprias
iniciativas. Os estudantes travam grandes lutas. Nas forças armadas acentuam-se as
manifestações de descontentamento. O movimento das mulheres dá passos em frente.
Registam-se novas acções em defesa dos seus interesses.
No ascenso geral da luta popular nos
últimos meses destacam-se dois acontecimentos maiores: o salto qualitativo na luta
contra a guerra colonial, que se está transformando num grande movimento nacional; e o
rápido avanço do movimento democrático, comprovando a justeza duma linha unitária de
massas.
1. Novo arranque do movimento democrático
Na sequência da actividade anterior, o
movimento democrático deu nos últimos tempos grandes passos para o seu reforço
orgânico e o desenvolvimento de um trabalho de massas e prepara, com boas perspectivas,
uma grande campanha política em torno das «eleições» fascistas para a Assembleia
Nacional.
O reforço e a reanimação das estruturas
traduziu-se em numerosas, repetidas e amplas reuniões e assembleias, no alargamento e
renovação de comissões, na constituição de organismos responsáveis nos vários
distritos, na multiplicação do número de activistas. O Plenário da CDE de Lisboa de 14
de Janeiro, em que participaram 400 democratas, os Plenários realizados no Porto, e
vários outros Plenários, reuniões distritais e amplos encontros noutros distritos,
deram novo impulso ao movimento. O Encontro Nacional da Oposição de 4 de Março, com
delegados de 10 distritos, representou importante papel para o progresso da organização
e do trabalho de massas, para a coordenação à escala do país, para a unidade em
torno duma justa plataforma, que o Encontro aprovou.
A Campanha de Recenseamento
(distribuição de centenas de milhares de exemplares de documentos, afixação de
cartazes, caravanas automóvel com realização de assembleias-relâmpago, abertura de
postos) constituiu uma valiosa acção de propaganda e uma importante iniciativa para a
dinamização da movimentação de massas.
O Congresso de Aveiro foi um grande
acontecimento na vida política nacional. Constituiu uma magnifica vitória das forças
democráticas e uma afirmação da sua amplitude, maturidade política e influência. Deu
uma nova confirmação da justa política de unidade e de trabalho de massas. Revelou a
revitalização do movimento, o melhoramento da composição social das suas estruturas
com a intervenção mais ampla de trabalhadores, a larga adesão da juventude, o triunfo
dos métodos democráticos. Demonstrou uma vez mais que, quando o movimento democrático
se liga verdadeiramente ao povo, ganha ampla adesão e está em condições de levar por
diante grandes iniciativas.
Foi o trabalho de organização e de massas
a base do êxito do Congresso de Aveiro. Os que descriam da política unitária e
desdenhavam das possibilidades legais de acção foram ultrapassados pelos acontecimentos.
Alguns verbalistas pseudo-revolucionários, que fazem coro com os fascistas nos insultos
ao Congresso, exibem apenas impotência e despeito.
A formação de uma ampla Comissão
Nacional com mais de 500 membros; a elaboração colectiva de cerca de metade das 200
teses apresentadas, na qual intervieram milhares de democratas (trabalhadores,
intelectuais, jovens, mulheres); a participação de milhares de delegados apesar do corte
das vias de acesso à cidade; o apoio e ajuda da população de Aveiro aos congressistas e
durante a manifestação (o dia 8 de Abril) — demonstram o rápido aumento do número
de activistas e a forte implantação e influência popular do movimento unitário. A
plataforma política inserta na «Declaração Final» (luta pelo fim da guerra colonial,
contra o poder absoluto do capital monopolista e pelas liberdades democráticas)
corresponde às aspirações e objectivos do povo português no momento actual. Apesar de
arbitrariamente proibida e ferozmente reprimida, a manifestação de rua do dia 8 de
Abril, em que milhares de democratas, erguendo cartazes, exigiram o fim da guerra
colonial, as liberdades, a dissolução da PIDE, foi nova expressão de combatividade.
A luta contra a repressão nas suas
várias formas acompanhando o ascenso da luta política de massas, adquire redobrada
importância na actual conjuntura. Intensifica-se a movimentação com objectivos
concretos (campanha pela Amnistia, pela cessação das torturas, pela assistência dos
advogados durante os interrogatórios, pelo tratamento adequado a presos doentes). A
campanha Natal-Ano Novo pela libertação dos presos e pela Amnistia (abaixo-assinado com
12 000 assinaturas, telegramas, protestos) foi um êxito. A CNSPP continua a sua
actividade autónoma, sendo de notar a participação crescente de comissões regionais na
acção prática. Novos sectores tomam posição contra os aspectos mais odiosos da
repressão fascista. O funeral do camarada Guilherme da Costa Carvalho deu ocasião para
uma manifestação contra a repressão fascista. São de salientar também as numerosas e
valiosas iniciativas de solidariedade dos emigrados portugueses residentes em vários
países, com particular relevo para os de França e Bélgica.
Num momento em que o governo multiplica as
medidas repressivas e as ameaças contra o movimento democrático, o movimento sindical, o
movimento juvenil, procurando impedir as suas actividades, a luta contra a repressão
em cada sector e em todos eles, a solidariedade recíproca, são, em si, condições para
o desenvolvimento da actividade nas suas várias frentes. Foi particularmente oportuna
a «Declaração do Encontro Nacional da Oposição Democrática» de 27 de Maio,
proclamando a determinação do movimento não se deixar intimidar e fazendo um apelo para
o reforço da organização e a intensificação das suas diversas acções.
Significativos nos progressos gerais são
também outros movimentos autónomos, com a Comissão pela Segurança Europeia
(documentos, artigos e palestras de informação e esclarecimento, participação regular
em iniciativas internacionais) e o movimento de solidariedade ao Vietname, que
tinha atingido já considerável amplitude na altura da conclusão dos Acordos de Paris.
Os recentes êxitos do movimento
democrático indicam que este está em condições, se mantiver uma firme orientação
unitária e de massas, de alcançar novos e grandes progressos no ano em curso.
2. A luta contra a guerra colonial ganha
amplas massas
O traço mais característico e positivo
do desenvolvimento da luta contra a guerra colonial nos últimos tempos é a realização
na prática do que, em Maio de 1972, o CC do PCP indicava como tarefa: «A transformação
do amplo movimento de opinião já existente num dinâmico movimento de protesto
popular, expressando-se em variadas formas de acção de massas [...].» (*)
(*) Ver Avante!, ano 42, série VI,
n.o 422 (Especial), Junho de 1972. Cf. Documentos Políticos do Comité Central do
Partido Comunista Português (1965-1974), Edições «Avante!», Lisboa, 1975, p. 330.
(N. Ed.)
O protesto contra a guerra colonial parte
de praticamente todas as estruturas e sectores da luta popular, com relevo para a classe
operária, o movimento democrático, a juventude trabalhadora e estudantil, os militares e
as mulheres. O Encontro Nacional da Oposição de 4 de Março e o Congresso de Aveiro
tomaram firmemente posição. O assassinato de Amílcar Cabral deu lugar a uma vaga
de protestos, subscritos ou aprovados por numerosos sectores, estruturas, assembleias.
Têm lugar manifestações de rua com cartazes, como na manifestação de Abril em
Aveiro e de 16 de Maio em Lisboa. O protesto na Capela do Rato, realizado por
católicos, teve um amplo, directo e aberto apoio do movimento democrático. Pelo 4 de
Fevereiro, 1500 estudantes de Lisboa reunidos aprovam uma moção, o mesmo sucedendo
noutras grandes assembleias e reuniões convocadas por motivos muito diversos. Não há
praticamente luta importante por qualquer objectivo em que não apareça, associada duma
ou doutra forma, a luta contra a guerra colonial.
Vencendo as interdições e a repressão
fascistas, arrancando as mordaças, a luta contra a guerra colonial força ousadamente o
seu caminho para a luz do dia. Abre-se, com as formas de acção já em curso, uma nova
fase na luta contra a guerra colonial e o colonialismo. Trata-se de um dos
acontecimentos mais importantes dos últimos anos na cena política portuguesa.
Deve ser feito um sério esforço para que
a luta se alargue e intensifique nesta direcção de importância capital.
Esse desenvolvimento encontra e encontrará
uma obstinada e violenta resistência do governo fascista, que continuará a querer
impedir as expressões legais da luta e reconduzir ao silêncio a Oposição. É
indispensável grande sensibilidade ante a conjuntura e em cada situação. É necessário
isolar e bater tanto o oportunismo de direita (que, além de aflorações
neocolonialistas, pretende que os democratas aceitem o colete-de-forças fascista na
questão colonial), como o oportunismo de «esquerda» (que, pressionando no sentido duma
radicalização da linguagem em estruturas legais e semilegais, pretende ilegalizar
completamente o movimento e reconduzi-lo, no fim de contas, ao mesmo colete-de-forças
fascista). Uma linha ao mesmo tempo firme, corajosa, maleável e adaptada às
circunstâncias, é indispensável para o alargamento e intensificação das acções
de massas contra a guerra colonial.
A luta contra a guerra colonial
desenvolve-se ainda noutras importantes direcções: campanha de agitação clandestina
constante e activa; deserções e recusas a prestar o serviço militar; descontentamento e
resistência nas forças armadas; acções dirigidas directamente contra o aparelho
militar colonialista, com relevo para as acções realizadas pela ARA.
Nas forças armadas, apesar da
intensificação da vigilância e da repressão, da espionagem, dos sistemas de escuta,
das buscas, dos castigos, processos e prisões, desenvolve-se a resistência e as lutas de
soldados, sargentos e oficiais. A agitação (inscrições, tarjetas,
distribuição da IRFA e do Alerta Camarada, etc.) é constante. Em muitas
unidades, realizam-se, com diversos pretextos, reuniões em que se discutem os
problemas e se cantam canções revolucionárias. Sucedem-se levantamentos de rancho,
seja como forma de luta contra a má alimentação, seja como protesto contra
arbitrariedades e abusos. A resistência à repressão militar adquire formas
variadas de solidariedade e de protesto. O afrouxamento da disciplina militar
fascista expressa-se no desrespeito colectivo por oficiais, recusas a exercícios,
não submissão a formaturas, pequenas manifestações gritando consignas
revolucionárias. Do ambiente existente são índices o movimento de oficiais contra a
busca feita pela PIDE-DGS a casa de um colega, exigindo, com 150 assinaturas, uma
assembleia geral no Clube Naval, e o pedido feito por cadetes da Escola Naval ao
comandante para irem assistir ao Congresso de Aveiro. As recusas colectivas a prestar
juramento prosseguem, como em Infantaria 7 de Leiria (1400 soldados), na EPI de Mafra
(90%), em Infantaria 5 das Caldas da Rainha, na Reserva Naval. Nas tropas em África
cresce também o descontentamento, de que é exemplo a recente recusa de aviadores na
Guiné de voarem em certas zonas.
Todas estas acções indicam que um dos
pilares do regime, o seu instrumento de guerra, está a ser corroído, como resultado da
crise do fascismo, da luta do povo português e dos povos das colónias portuguesas.
O governo não está em condições de
impedir que seja cada vez mais a ampla e enérgica a condenação da sua política de
guerra. Com o «Congresso dos Antigos Combatentes do Ultramar» os fascistas pretendiam
reacender o patrioteirismo colonialista. O fracasso foi completo. As divergências e
conflitos que gerou no campo do próprio fascismo, os protestos que provocou, incluindo o
de 400 oficiais, mostram que a guerra se está tornando o ponto mais fraco do regime.
O fim da guerra colonial tornou-se um dos
objectivos centrais da classe operária, da juventude, dos soldados e jovens oficiais, das
massas populares, das forças democráticas. É necessário intensificar a luta em todas
as direcções apontadas. O governo fascista acabará por ser forçado a rever a sua
política, ou poderá acabar por ser arrastado com o seu fracasso.
3. Luta reivindicativa nas empresas
Nos últimos anos, a diminuição dos
salários reais provocada pela inflação, a intervenção do Estado fascista reprimindo a
acção sindical, congelando disposições salariais dos contratos colectivos, fazendo
arrastar as negociações dos sindicatos com o patronato e anulando cláusulas favoráveis
aos trabalhadores já estabelecidos pelas comissões arbitrais tenderam a deslocar
novamente para as empresas (salvo algumas classes profissionais) o eixo da luta
reivindicativa, que em anos anteriores se havia deslocado para os sindicatos.
Caracterizam esta evolução o alargamento
da luta a novas empresas, a insistência da luta em centenas delas e o recurso cada vez
mais frequente a paralisações e greves.
Recorrem à greve os trabalhadores
da MAGUE e CIMA, de Alhandra, GIALCO do Porto (com manifestações de rua), Abelheira, do
Tojal (com ocupação de fábrica), SIPE, de Carcavelos (de braços caídos), MOVITEJO, de
Alverca (às horas extraordinárias), assim como os pescadores do arrasto da Costa Norte e
Figueira da Foz (22 dias), das traineiras da sardinha de Matosinhos (72 dias) e de
Portimão, as conserveiras de Setúbal, os camponeses de Alpiarça. Recorrem a paralisações
os trabalhadores da SEPSA, do Porto, da CIMA, da OLIVA, MESSA, FIRESTONE (Alcochete), GIL
(A. dos Vinhos), PROMETALIS (Porto), CEL-CAT, CABOS D’ÁVILA, SOPREM (Pampilhosa),
GRUNDIG (Trofa), RABOR, CUF e TRANSUL (Margem Sul do Tejo), Diário Popular e muitos
outros.
Os trabalhadores utilizam formas muito
diversas de luta. Na Foz-Nave, da Figueira da Foz, como lhes quisessem retirar a semana
inglesa, faltam em massa ao trabalho no sábado à tarde. Fazem cera na
FLANDRIA de Águeda. Manifestam-se na rua os operários da GIALCO e os bancários
de Lisboa e do Porto. Exigem o feriado no 1.o de Maio em numerosas empresas.
Em muitos casos, as lutas têm terminado
pela vitória. Conquistaram melhores salários, a semana de 45 horas e diversas
reivindicações, entre outros, além dos trabalhadores de empresas e classes acima
indicadas, os trabalhadores da SOREFAME, ROBBIALAC, SODA-PÓVOA, Sociedade Central de
Cervejas, COMETNA, Moagens Associadas, APDL, OLAIO, TREFILARIA, indústrias de automóvel
de Setúbal, etc.
Apesar do alargamento e dos êxitos da luta
reivindicativa nas empresas, esta está longe de corresponder à situação. Verificam-se debilidades
que urge encarar de frente.
Para a intensificação da luta urge
organizá-la melhor nas empresas através de Comissões de Unidade, legais ou
semilegais, que assegurem uma direcção firme e esclarecida, particularmente nos momentos
mais críticos, de forma a que não se repitam os casos em que, depois de lutas
magníficas e por vezes à beira da vitória, os operários se deixam enganar por
processos e manobras do patronato e do governo. Urge fazer um esforço para coordenar
as lutas das empresas do mesmo ramo, região ou localidade e para intensificar a
solidariedade proletária. Urge vulgarizar na classe operária as experiências da luta
nas empresas.
Para o desenvolvimento de toda a luta
popular é essencial que a luta nas empresas se alargue ainda mais, se reforce, se
unifique, alcance mais rapidamente a satisfação das reivindicações e venha a ter
expressão em grandes lutas operárias, que forcem o patronato e o governo a aceder às
reclamações dos trabalhadores pelo aumento de salários, pela redução da jornada de
trabalho, contra as horas extraordinárias, contra a intensificação dos ritmos de
produção, pelas férias pagas, pelo 13.o mês, pelo feriado no 1.o de Maio, contra o
não cumprimento por parte do patronato do estipulado nos CCT, etc.
A luta nas empresas é a principal frente
de luta reivindicativa dos trabalhadores. Tornando inquebrantável a sua unidade, formando
comissões, utilizando variadas formas de luta — reclamações, abaixo-assinados,
concentrações, «cera», paralisações, greves, manifestações e desfiles na rua
—, os trabalhadores podem alcançar grandes vitórias na luta contra a
exploração patronal e fascista.
4. O movimento sindical
Constitui um grande êxito dos
trabalhadores portugueses e um brilhante resultado da sua combatividade e do seu espírito
criador terem formado, na base da actividade nos sindicatos fascistas, um movimento
sindical independente, que se opõe, através dum amplo trabalho de massas, à orgânica
corporativa do Estado e que, fazendo frente à repressão, luta firmemente pelos direitos
sindicais dos trabalhadores.
Ante a criação, o desenvolvimento e os
grandes êxitos do movimento, o governo de Marcelo Caetano, depois da breve demagogia de
1968 acerca de uma «nova política sindical», desencadeou a repressão.
O governo fabrica apressadamente novos
decretos, quando a legislação existente não lhe dá suficiente cobertura para fazer
face às acções dos trabalhadores. Cria toda a espécie de obstáculos à
realização de eleições nos sindicatos, instituindo o controlo prévio dos
candidatos, exigindo a estes numerosa documentação que as autoridades depois não passam
nos prazos necessários, adiando assembleias, impugnando listas e eleições, suspendendo
e demitindo direcções, nomeando Comissões Administrativas e «curadores» por tempo
indefinido, protegendo as direcções de rafeiros do patronato e do governo. Tenta
amordaçar a voz do movimento instituindo a censura prévia aos boletins sindicais e pondo
grandes restrições à publicação na imprensa de notícias sobre a vida sindical.
Procura intimidar os militantes sindicais, perseguindo, prendendo, fazendo despedir
das fábricas, declarando ilegais as reuniões intersindicais.
O governo não consegue porém alcançar os
seus objectivos. Fazendo tenazmente frente à repressão, o movimento sindical
prossegue com sucesso a sua actividade.
Em eleições sindicais, registam-se novos
êxitos assentes numa ampla mobilização de massas (lanifícios, caixeiros e
bancários de Lisboa, metalúrgicos e bancários do Porto). Têm lugar grandes
assembleias para tratar os problemas da classe (metalúrgicos, motoristas, caixeiros,
bancários, químicos, electricistas, têxteis, etc.). Em numerosos sindicatos, os
trabalhadores lutam pelas suas reivindicações e alcançam importantes êxitos. Comissões
Sindicais, Comissões Pró-Sindicato e Grupos de Trabalho desenvolvem uma importante
actividade de massas e são reconhecidas pelas classes respectivas como dirigentes da luta
sindical. Continua a desenvolver-se a cooperação intersindical. A reclamação, da
iniciativa de diversos sindicatos, contra o Decreto 196-72, que congelou os salários por
dois anos, recolheu já mais de 10 000 assinaturas.
São de combater certas tendências para a
ilegalização, a politização ostensiva e o radicalismo de linguagem na actividade
sindical, tendências que são, de facto, liquidacionistas do movimento.
O movimento sindical é uma séria
realização dos trabalhadores portugueses. Encerra uma riquíssima e original
experiência de aproveitamento de formas legais de organização e acção nas condições
da ditadura fascista.
Aproveitando a conjuntura favorável,
seguindo uma linha justa, resistindo firmemente à repressão, organizando a solidariedade
aos activistas vítimas da repressão patronal fascista, reforçando incansavelmente a
unidade da classe operária, fazendo participar largas massas na luta, o movimento
sindical pode alcançar sérios êxitos na consolidação da sua posição
independente e na defesa dos interesses dos trabalhadores.
5. A juventude nas primeiras filas
A juventude trabalhadora é cruelmente
atingida pela guerra colonial, pela política de exploração dos monopólios, pela
inexistência das liberdades, pelo domínio do imperialismo estrangeiro.
A guerra colonial está no centro das
preocupações da juventude. O dilema da forçada participação numa guerra injusta
ou da deserção com todas as suas consequências, os problemas de emprego em idade
pré-militar, a incerteza no futuro, a desorganização da vida familiar, as ulteriores
dificuldades de readaptação à vida normal, são das mais fortes causas do
descontentamento juvenil.
A intensificação da exploração
capitalista atinge com particular relevo a juventude trabalhadora. A desenfreada
exploração do trabalho juvenil, a quem por trabalho igual é pago um salário mais
baixo, as dificuldades no estudo, a exploração particularmente desumana de mão-de-obra
juvenil feminina em indústrias (electrónica e confecções) de monopólios
internacionais, são, entre outros, exemplos desse facto.
A inexistência de liberdades e a
repressão atingem com redobrada intensidade os jovens trabalhadores. São-lhes
negados os mais elementares direitos de organização, incluindo os sindicais, são
reprimidas ferozmente quaisquer acções colectivas, mesmo de confraternização, de
convívio, ou simples realizações culturais.
Opondo-se corajosamente à repressão
fascista, a juventude aparece na vanguarda das mais diversas frentes de luta. São
jovens grande parte dos activistas. Na agitação, na organização, nas manifestações,
a juventude aparece sempre nas primeiras filas.
A juventude trabalhadora resiste contra
a guerra colonial. Nas fábricas, nos campos, nos quartéis, nas ruas, organizando
protestos e acções de resistência, fazendo intensa agitação, desertando, resistindo
às ordens fascistas, os jovens trabalhadores manifestam-se corajosamente contra a guerra
colonial. A juventude trabalhadora desenvolve regularmente em algumas regiões do país
iniciativas cada vez mais amplas e frequentes. É realizada uma actividade juvenil no
movimento democrático, nos sindicatos, nas empresas. Têm lugar convívios, sessões
culturais, debates, a que é dado um conteúdo progressista. O 28 de Março, Dia da
Juventude, bem como a preparação do X Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes,
são assinalados por diversas iniciativas. Os jovens exigem o voto aos 18 anos e direitos
sindicais.
Existe já em marcha um movimento da
juventude trabalhadora, caracterizado por objectivos comuns à escala do País, por
formas de organização extremamente maleáveis, pela ampla utilização de formas legais
e semilegais de acção. Vive-se uma fase de gestação dum amplo movimento juvenil de
massas.
As principais debilidades são ainda a
insuficiente organização da vanguarda revolucionária da juventude, a débil
organização nas empresas, a carência de uma propaganda e agitação política para a
juventude.
Nos meses mais próximos abrem-se amplas
perspectivas de desenvolvimento ao movimento da juventude trabalhadora se, de acordo com a
direcção principal da luta popular, se orientar para objectivos e lutas apropriadas à
conjuntura, para formas de organização, acção e propaganda legais e semilegais.
O movimento dos estudantes continua sendo
um vigoroso movimento de massas, tendo como principal base as associações legais e como
vanguarda revolucionária a União dos Estudantes Comunistas (UEC).
No último ano lectivo, com medidas
drásticas, o governo tentou abafar o movimento. Nunca a repressão fascista nas
escolas atingiu tão grande violência. Ela foi desde a dissolução a tiro de reuniões,
passando pela criação e as agressões duma polícia escolar interna («gorilas»), até
à incorporação compulsiva nas forças armadas, a constantes ataques por forças de
choque, etc.
A repressão não alcançou, porém, os
seus objectivos e provocou uma firme resistência e poderosas acções de massas. A
intervenção a tiro, de 3 de Maio em Lisboa, deu lugar a grandes greves e
manifestações. Os «gorilas» foram suspensos em algumas escolas. Pode dizer-se que toda
a movimentação estudantil tem lugar em constante luta contra a repressão, que constitui
uma das principais direcções do movimento.
Outras numerosas e importantes lutas
tiveram lugar: eleições de direcções nas AAEE com vitória de listas unitárias
e defesa das AAEE contra as tentativas de liquidação pelo fascismo; reuniões gerais
de alunos, assembleias e greves na luta pedagógica; acções contra a guerra
colonial (manifestações, moções aprovadas em grandes assembleias); acções de solidariedade
ao povo do Vietname; diversas iniciativas de carácter cultural e progressista.
São de salientar os progressos da acção
nas escolas industriais e liceus (concentrações, assembleias, boicote a aulas,
etc.).
O movimento estudantil desenvolveu-se em
árdua luta contra os verbalistas, cuja acção divisionista, irresponsável, e em muitos
casos provocatória, encontra cada vez mais a firme oposição das massas estudantis.
O movimento associativo continua a
caracterizar-se por uma grande instabilidade de posições. Os estudantes aprenderam já a
mobilizar-se massivamente, a lançar o ataque, a responder à repressão, a retomar a
iniciativa, a renovar o combate depois do insucesso. Aprendendo também a melhor defender,
a melhor utilizar cada posição que conquista, o movimento associativo tem todas as
condições para alcançar maiores êxitos no futuro.
No período de luta popular previsível nos
meses próximos, os estudantes podem ter uma positiva intervenção, cooperando
estreitamente com a Oposição Democrática, numa linha unitária de massas.
6. Outras frentes de luta
Como o PCP já tem salientado, o
desenvolvimento da luta popular tem apresentado, entre as suas características, a
participação de classes e camadas da população abrangendo a generalidade dos sectores
antimonopolistas e o progresso em várias frentes com grande variedade de objectivos.
Os camponeses defendem firmemente,
embora ainda em regiões limitadas, os seus interesses vitais. São de destacar: a
continuação da luta pelos baldios, que em Préstimo regista uma vitória, obrigando os
Serviços Florestais a devolver as matas; a luta por indemnizações dos prejuízos
resultantes dos incêndios e contra as manobras dos monopólios da celulose para se
aproveitarem da situação; a luta contra o corte das videiras americanas e contra o
projecto da nova «lei da vinha»; as acções contra as taxas exigidas pelos organismos
corporativos. Em alguns casos os camponeses conquistaram Juntas de Freguesia, as quais
posteriormente apoiaram a sua luta.
O jornal A Terra tem sido um valioso
instrumento da movimentação camponesa.
Os intelectuais continuam a ter
destacado papel em todos os sectores do movimento democrático e respectivas estruturas.
Tal como, nas actuais condições políticas, organizar é uma forma essencial da luta
pelo direito de organização, assim também romper as interdições fascistas e informar
e divulgar ideias é uma forma essencial da luta pela liberdade de expressão do
pensamento de informação, de imprensa. É de salientar a corajosa, tenaz e ampla acção
de jornalistas, ensaístas e escritores. A criação da Associação Portuguesa de
Escritores e a eleição dos seus corpos gerentes, em Junho, constitui um êxito
significativo. Em relação aos grandes problemas internacionais e estabelecimento de
relações de amizade e intercâmbio com outros povos, têm particular relevo as
iniciativas e actividade sobre a Segurança Europeia e as visitas de estudo que se têm
realizado à União Soviética. Apesar do seu grande esforço de corrupção, o fascismo
tem contra si os intelectuais portugueses, que lutam firmemente pela cultura, pela
liberdade, pela paz, pela amizade dos povos.
As lutas por interesses profissionais
específicos são também um importante aspecto da luta dos intelectuais contra a
política fascista. Prossegue o largo movimento dos professores do ensino secundário
e as lutas dos médicos, designadamente dos estagiários, com relevo para as amplas
reuniões, concentrações e greves que tiveram lugar no Porto.
O Movimento Democrático de Mulheres,
contrariando as ideias desorganizadoras de certos «contestatários», dá valiosos
passos. A realização de amplas reuniões e encontros interdistritais e nacionais,
diversas iniciativas nacionais relativas ao recenseamento, ao 8 de Março, ao Congresso de
Aveiro, de homenagem a Catarina Eufémia, o abaixo-assinado contra a guerra colonial,
documentos, inquéritos, convívios, recolha de fundos, um número considerável de
activistas, atestam a dinâmica do movimento e as suas potencialidades.
Tendo em conta que as mulheres têm papel
destacado na luta reivindicativa da classe operária, assim como no movimento
democrático, na luta contra a repressão e pela Amnistia, no movimento estudantil, nas
acções da juventude trabalhadora e noutros sectores, conclui-se pela perspectiva
favorável do movimento democrático das mulheres portuguesas.
Nas cooperativas, o movimento
afrouxou depois da brutal, ilegal e arbitrária intervenção repressiva, que culminou com
o encerramento de 9 cooperativas. Mas o movimento cooperativista continua, os democratas
têm nele profunda influência e, encontrando formas maleáveis apropriadas, existem
condições para reforçar o movimento e alcançar novas posições.
Os comerciantes, gravemente
atingidos e ameaçados na sua própria existência pela expansão de supermercados e
grandes armazéns dos grupos monopolistas, em grande medida ligados ao capital
estrangeiro, desenvolvem acções de resistência.
Na luta pelos interesses das
populações (sanidade, poluição, água, electricidade, transportes, habitação,
mercados, etc.), têm lugar numerosas e valiosas acções por todo o País. Realizam-se
diligências, abaixo-assinados, manifestações. Desenvolve-se uma campanha popular contra
o aumento das rendas de casa em Lisboa e no Porto, que conquista uma primeira vitória
quando força a Assembleia Nacional fascista a adiar a aprovação da lei. Na Apúlia,
1000 sargaceiros destroem e danificam vedações e casas de burgueses construídas em
terras que lhes foram usurpadas. Na linha da CP de V. Franca, indignados com o mau
serviço e o preço dos bilhetes, os passageiros bloqueiam a passagem dos revisores e
ninguém paga bilhetes. São de citar iniciativas do movimento democrático como a da CDE
de Loures sobre o incêndio do Casal do Marco e da Comissão Democrática do Barreiro
contra a poluição.
A diversidade social e de objectivos e a
amplitude das várias frentes da luta popular evidenciam o seu carácter antimonopolista.
A luta contra o regime constitui já hoje, no conjunto, um grande movimento nacional de
massas. A tarefa é convertê-lo numa única torrente revolucionária.
7. Para uma única torrente
Em Março último, o PCP, analisando a
evolução da situação económica e política, concluiu pela «possibilidade real, para
a classe operária, as forças democráticas, as massas populares, de empreenderem uma
grande ofensiva» (*).
(*) Ver Avante!, ano 43, série VI,
n.o 452, Abril de 1973. Cf. Documentos Políticos do Comité Central do Partido
Comunista Português (1965-1974), Edições «Avante!», Lisboa, 1975, p. 361. (N.
Ed.)
Uma nova grande ofensiva significa, antes
de tudo, o desenvolvimento das acções parciais com objectivos concretos imediatos,
nas várias frentes da luta popular: nas empresas, nos sindicatos, nos campos, portos
e aldeias, nas forças armadas, nas diversas estruturas da juventude trabalhadora, nas
associações de estudantes e colectividades, no movimento democrático e suas estruturas
autónomas.
A luta pelo aumento de salários e outras
reivindicações da classe operária; a luta contra a carestia de vida; a luta contra as
torturas da PIDE-DGS, pela assistência dos advogados aos interrogatórios e pela
libertação dos presos políticos; a luta por eleições nos sindicatos e pelo respeito
da vontade e da gestão dos trabalhadores; a luta pelo respeito da vontade e da gestão
dos estudantes nas AAEE; a luta contra a má alimentação, arbitrariedades e castigos nas
forças armadas — devem intensificar-se e podem alcançar muitos dos seus objectivos.
Constitui um fenómeno positivo do
desenvolvimento da luta popular a superação duma fase em que cada sector
(empresas, sindicatos, juventude trabalhadora, estudantes, mulheres, movimento
democrático, etc.) vivia como que num compartimento estanque, quase completamente à
parte dos restantes, para uma situação em que são cada vez mais frequentes as
manifestações recíprocas de solidariedade e a intervenção simultânea de diversos
sectores numa mesma iniciativa.
São significativos a este respeito a
jornada do 1.o de Maio, a campanha do recenseamento, o Congresso de Aveiro, a luta contra
a guerra colonial e os movimentos de solidariedade para com os trabalhadores da Abelheira
e os pescadores de Matosinhos. É de trabalhar para a acentuação dessa tendência, nunca
perdendo porém de vista as características específicas de cada sector e as suas tarefas
e formas próprias de organização e de acção; só poderiam prejudicar o progresso da
luta de cada sector e da luta popular em geral acções que não tenham em conta esta
situação, assim como tendências dirigistas ou paternalistas dum sector para com outro.
Para o desencadeamento de uma nova grande
ofensiva, um sério esforço deve ser feito para aproveitar a conjuntura favorável e dar
em todos os sectores um rápido impulso à luta por objectivos concretos imediatos.
Nas condições presentes, a intensificação
das lutas em cada um e em todos os sectores, convergindo numa única torrente de combate,
é essencial para criar a dinâmica necessária a uma grande ofensiva.
As possibilidades de intensificar a acção
política, abertas pela realização de «eleições» fascistas para a Assembleia
Nacional, não devem levar a menosprezar os outros sectores de actividade, mas sim a
intensificar a actividade em todos eles. O desenvolvimento da luta política de massas
facilita, estimula e impulsiona a luta reivindicativa nas empresas, o movimento sindical,
juvenil e das mulheres, a luta nos campos, portos e quartéis, toda a luta popular pelos
mais diversos objectivos. Da mesma forma, o avanço nas várias frentes de luta será
de uma extraordinária importância para o desenvolvimento da luta política, para o
desencadeamento de uma grande campanha política de massas por ocasião das «eleições»
fascistas para a Assembleia Nacional.
IV — Por uma grande campanha política
de massas
Os factos mostram que o governo prepara
nova mascarada «eleitoral». Proibiu e reprimiu a campanha de recenseamento, encerrando
postos, declarando o carácter «subversivo» das Comissões de Recenseamento, ameaçando
e intimidando. Anuncia o propósito de exclusão de candidaturas. Leva presentemente a
cabo cortes em massa de nomes nos cadernos eleitorais. Apesar disso, o movimento
democrático prepara-se para «concorrer às eleições». Essa atitude corresponde aos
interesses do desenvolvimento da luta popular. É possível, nessa base, realizar uma
grande campanha política de massas, de que o movimento democrático sairá
consideravelmente reforçado para prosseguir a luta para além das «eleições».
1. Reclamações na conjuntura actual
Desmascarando todas as formas de repressão
do movimento democrático e popular, a falsificação do recenseamento, os evidentes
propósitos do governo de organizar nova mascarada «eleitoral», o movimento democrático
tem de insistir em algumas importantes reivindicações relacionadas com a
apresentação de candidatos:
1 — Liberdade de organização do
movimento democrático: abertura de sedes e postos, realização livre de reuniões de
trabalho em todos os escalões, ausência de qualquer repressão contra dirigentes e
activistas.
2 — Liberdade de reunião e de
propaganda: edição e distribuição de materiais, realização de pequenas e grandes
assembleias sem intromissão das forças repressivas, utilização dos meios de
informação de massas (imprensa, rádio e televisão) e de lugares públicos e edifícios
do Estado, municípios e colectividades.
3 — Revisão dos cadernos eleitorais e
fiscalização das «eleições»: rápido fornecimento de cópias dos cadernos,
garantia do direito de reclamação, participação de delegados da Oposição em todas as
fases do acto «eleitoral».
Votar ou não votar, depende de muitas
circunstâncias. Votar, em si, não é eleitoralismo, e não votar pode sê-lo.
Se o governo insiste em pretender impedir a
actividade do movimento democrático, em reprimir as reclamações populares, em preparar
sem escrúpulos mais uma mascarada, não será de esperar que as forças antifascistas
venham em tais condições a decidir ir às urnas. É cedo porém para tomar qualquer
decisão a esse respeito. A decisão terá de ser determinada oportunamente segundo os
resultados da luta alcançados e pela definição das vantagens ou desvantagens políticas
para o prosseguimento da luta de massas, o que só numa fase mais adiantada se pode
correctamente avaliar.
Tendo o movimento resolvido apresentar
candidatos, é fundamental avançar desde já reclamações democráticas e procurar pela
luta alcançar o máximo de concessões. Marcelo Caetano, no seu discurso de 24 de
Junho, começou a campanha fascista. O movimento democrático deve também, sem perda de
tempo, começar a sua.
2. Por candidaturas unitárias expressão
do movimento
democrático de massas
Se os democratas tiram ensinamentos da luta
«eleitoral» em anos anteriores, os fascistas também as tiram. São pois, de esperar,
tanto uma maior repressão como novas manobras fascistas para limitarem ao máximo a
utilização do período «eleitoral» pela Oposição.
O PCP tem advertido para a eventualidade de
apresentação de candidatos oportunistas, aos quais o governo possa dar possibilidades
preferenciais de actuação, ou mesmo reconhecer como «única Oposição», recusando à
Oposição Democrática (com a acusação de ser «subversiva», «comunista» ou
«antinacional») a possibilidade de apresentar candidatos e desenvolver uma campanha.
Em «eleições» anteriores,
designadamente nas de 1969, esse esquema falhou, fundamentalmente pela força do movimento
democrático e o espírito unitário nele prevalecente. Novamente, o governo parece
tentado a repetir a manobra e novamente alguns oportunistas (agora outros) parecem
tentados a embarcar nela, com a esperança de que, impedida a Oposição de apresentar
candidatos, possam aparecer na acção «eleitoral» como «única Oposição possível»
e ocupar assim o espaço vazio deixado pelo movimento democrático. A concretizar-se
qualquer tentativa nesse sentido, por muito incipiente que seja, deverá ser prontamente
desmascarada e combatida.
Não é também de excluir que alguns
verbalistas, isolados das massas e tendo falhado nos esforços de imporem ao movimento
democrático a sua hegemonia e consignas e processos demagógicos, queiram marcar uma
presença «independente», atacando a Oposição e tentando apresentar-se como verdadeira
«esquerda» de «opção socialista», como a «alternativa revolucionária» para a
actual situação política.
O PCP defende a apresentação de
candidaturas unitárias, gozando da confiança das estruturas democráticas. As
candidaturas devem assegurar a defesa dos objectivos do movimento democrático, repetidas
vezes afirmados, e duma acção unitária de massas, antes, durante e depois das
«eleições».
É de trabalhar para que em cada distrito
haja apenas uma lista de candidatos da Oposição. Mas, à vontade de unidade, de
entendimento, de candidaturas únicas, não podem ser sacrificados os objectivos e as
características do movimento democrático. Se alguns sectores, para participarem em
listas unitárias e únicas, pusessem exigências que colidissem com a orientação do
movimento, este não deveria hesitar: deveria apresentar candidaturas unitárias e ir para
a frente com o apoio das massas democráticas, mesmo que quaisquer divisionistas dessem o
mau passo de apresentar os seus próprios candidatos.
O movimento democrático de carácter
unitário é forte bastante e tem suficiente apoio para prosseguir a sua política
própria e independente e não fazer concessões em questões essenciais.
3. Pelo reforço da unidade
A ampla unidade alcançada no movimento
democrático constitui um extraordinário êxito e um factor do reforço da sua
influência e capacidade de mobilização de massas.
O trabalho comum já realizado mostra que a
grande massa dos democratas estão de acordo, no fundamental, quanto aos objectivos da
luta contra o regime e quanto às formas de organização e acção.
Existem, entretanto, obstáculos e perigos
de ordem diversa.
Em primeiro lugar, o fascismo intriga,
ameaça, faz promessas, com o objectivo de dividir o movimento democrático e criar uma
Oposição dócil e colaboracionista. A manobra, que toma vulto em torno da «SEDES»
e do jornal Expresso acerca duma pretensa «Terceira Força», na qual estaria a
solução do problema político nacional, que contesta a Oposição Democrática e tenta
ocupar o seu lugar e obter do governo facilidades preferenciais, só serve e só pode
servir os interesses do regime fascista.
Em segundo lugar, dentro do próprio
movimento democrático existem sectores que se dizem pela unidade, mas não participam nas
iniciativas unitárias e não respeitam as decisões de Plenários e Comissões
Distritais, quando não coincidem com os seus pontos de vista.
Finalmente, elementos divisionistas e
desagregadores, nas zonas marginais da Oposição e do regime, continuam levando a
cabo, contra a Oposição, uma constante campanha de desinformação e calúnias que, por
vezes, assume o carácter de provocação política. Tal o caso da propaganda de «A
Voz da Liberdade», do grupo de aventureiros sem escrúpulos instalados em Argel, nos
quais lamentavelmente, um país que tão heroicamente alcançou a independência nacional
e mantém uma posição anti-imperialista continua a dar apoio e ajuda na sua luta contra
o PCP e as forças antifascistas e anticolonialista de Portugal. Tal também o caso de
outros grupelhos («maoístas», «trotskistas», etc.), cuja acção se resume,
praticamente, à propaganda de intrigas e calúnia, em alguns casos com a benévola
permissão interessada da Censura fascista e da própria polícia.
A propaganda e as manobras divisionistas,
seja do fascismo, seja de oportunistas de diversos quadrantes, têm um traço comum: o seu
carácter anticomunista, o terem como alvo o isolamento do PCP, força política
motora da luta popular e da unidade de todas as forças antifascistas. Os factos têm
mostrado que tais tentativas estão condenadas ao fracasso. O PCP não só não foi
isolado, como pretendiam Marcelo Caetano e os oportunistas, como reforçou a sua ligação
com as massas e a acção comum com as forças democráticas de todas as tendências. No
movimento antifascista português, quem pretender isolar o PCP acabará por ficar
isolado.
A defesa e o reforço da unidade continuam
a exigir não uma posição defensiva, mas um firme e constante combate ao oportunismo de
direita e de esquerda, aos divisionistas, desagregadores e sabotadores da acção
política de massas, o seu isolamento, o desmascaramento de cada uma das suas
provocações políticas.
Unidade implica pluralidade de opiniões e
debate. Exige ao mesmo tempo a acção comum dentro do que for decidido pelo movimento.
Unidade com todos os que queiram lutar em comum contra o inimigo fascista e o mostram nos
próprios actos. Combate aos que pretendam deliberadamente conduzir um trabalho
parasitário e de sapa no movimento democrático, sabotar a sua acção, enfraquecê-lo e
dividi-lo.
O PCP defende consequentemente uma
política de unidade sem discriminações. Unidade da classe operária e das
massas em luta, em defesa dos seus interesses imediatos. Unidade entre todas as correntes
antifascistas. Unidade no movimento democrático, no movimento sindical, no movimento da
juventude trabalhadora e dos estudantes, no movimento das mulheres. Unidade no trabalho de
organização e acção voltado para a movimentação das massas populares. Unidade na
luta por objectivos fundamentais do povo português na actualidade: as liberdades
democráticas, o fim das guerras coloniais com o reconhecimento do direito dos povos de
Angola, Guiné-Bissau e Moçambique à independência.
4. Pelo reforço da organização
Os progressos da organização do movimento
democrático são importantes, mas insuficientes.
É necessário, por um lado, ter em
conta as particularidades e problemas específicos de cada sector, não pretendendo
uma uniformização artificial e mecânica das formas e métodos de organização. É
necessário, por outro lado, combater a estreiteza regional e desenvolver o esforço de
organização dentro de algumas linhas gerais que traduzam a experiência comum de
todo o movimento.
Primeira: Atrair o maior número
possível de democratas às formas diversas e maleáveis de organização (grandes
comissões plenárias, assembleias funcionando como organismos, etc.), tornando o
movimento democrático um amplo movimento organizado com profundas raízes no povo
português.
Segunda: Reforçar consideravelmente a
base do movimento, o seu trabalho, a sua intervenção nas decisões capitais e nas
iniciativas, acentuando as características democráticas da vida interna de todo o
movimento. A força do movimento reside em parte decisiva na força da sua base organizada
e na ligação desta com as amplas massas.
Terceira: Reforçar o trabalho, a
autoridade, a pronta capacidade de decisão dos organismos de direcção e coordenação,
constituídos pelas formas e métodos que cada distrito resolve adoptar, mas procurando-se
em toda a parte o aumento da representação nas comissões superiores das comissões de
trabalhadores, jovens, mulheres e outras.
Quarta: Reforçar a coordenação à
escala nacional, na qual os Encontros Nacionais têm desempenhado e devem
continuar a desempenhar decisivo papel. São de evitar quaisquer tentativas centralistas
que não corresponderiam à situação, procurando entretanto instrumentos maleáveis de
carácter técnico, que permitam maior rapidez e eficácia na coordenação nacional.
Nos problemas de organização
manifestam-se algumas tendências negativas. Tendências dirigistas tanto de
alguns democratas, que não têm em conta as diversidades regionais, como de pessoas
nostálgicas do tempo em que as estruturas dirigentes do movimento democrático eram
formadas só por personalidades. Tendências demagógicas que se manifestam, no
plano da orientação, na tentativa de levar certas Comissões Distritais a adoptarem
«princípios orgânicos» anarquizantes, que impeçam uma direcção operativa, paralisem
e desagreguem o movimento; e se manifestam na actividade de sapa de alguns que, formando
comissões-fantasma, constituindo pequenos feudos, lisongeando «as bases», pretendem
abrir caminho, numa conjuntura passageira, para se anicharem na «cúpula», onde seriam
dirigistas intolerantes e sectários, desprezando completamente as opiniões e as
decisões das «bases». É necessário combater, isolar e vencer semelhantes tendências.
A conjuntura actual, salvo acontecimentos
imprevisíveis, pode permitir grande reforço da organização do movimento
democrático, essencial para que esteja em condições de dirigir o movimento popular,
defender-se da repressão, assegurar a sua continuidade.
5. Uma batalha pela legalidade
Na situação concreta existente em
Portugal, o direito de organização conquista-se, antes de mais organizando. Para o
movimento democrático é também uma das direcções fundamentais da luta pelo direito de
organização a luta por uma actividade legal permanente das estruturas democráticas
de carácter unitário.
Constitui uma grande vitória das forças
antifascistas, e não uma dádiva ou concessão do fascismo, o terem criado, fazendo
constantemente frente à repressão, um amplo movimento unitário, com formas de
organização e acção semilegais permanentes, e que têm conseguido impor, em alguns
períodos ou momentos, o reconhecimento temporário tácito da sua existência legal, como
sucedeu em períodos de «eleições» fascistas, no recente Congresso de Aveiro e noutras
ocasiões e iniciativas. Esta implantação aberta na vida política portuguesa tem
contribuído para o aprofundamento da crise do regime e tem aberto e continua abrindo
amplas possibilidades de esclarecimento, organização e movimentação das massas na luta
contra a ditadura fascista e pela conquista da liberdade.
A resistência às formas legais e
semilegais de organização e acção do movimento democrático provém, além dos
fascistas, de verbalistas pseudo-revolucionários isolados das massas, que sonham sabotar
e liquidar, se possível, o movimento nas suas formas actuais. O menos que se pode dizer
é que servem objectivamente o fascismo, o qual lhes dá, em troca, facilidades
relativamente largas para a sua propaganda desagregadora.
Fazendo firmemente frente à repressão,
continuando a recusar-se a aceitar a ilegalização do movimento (que o governo repetidas
vezes tem declarado), desmascarando as acusações de «legalismo» e «eleitoralismo» e
outras formas de intriga, provocação e chantagem política de sectores marginais — o
movimento democrático não só tem de lutar para consolidar as suas posições legais e
semilegais, como deve reforçar e ampliar a sua acção para a conquista, pelo menos de
facto, da possibilidade de organização e propaganda legais, a título permanente.
Trata-se de uma reivindicação parcial
que, no processo específico de desenvolvimento do movimento democrático português, se
insere na luta pelo direito de organização, pelas liberdades democráticas. As
«eleições» fascistas oferecem condições favoráveis para dar novos passos nesta
batalha e devem ser amplamente aproveitadas com tal objectivo concreto.
6. Por uma grande campanha política de
massas
Apresentando candidatos, a Oposição deve
ter como objectivo principal desenvolver uma grande campanha política de massas,
em torno dos objectivos fundamentais do movimento democrático, reafirmados no
Encontro Nacional de 4 de Março e na Declaração Final do Congresso de Aveiro:
1. A luta pelas liberdades democráticas
fundamentais: de organização dos partidos políticos, de reunião, sindical, de
imprensa, assim como o direito à greve;
2. A luta contra a repressão: pela
dissolução da PIDE-DGS, contra a tortura, pela Amnistia, pela libertação de todos os
presos políticos, pelo regresso do exilados;
3. A luta contra a guerra colonial:
exigindo o fim imediato e a abertura de negociações com os movimentos de libertação de
Angola, Guiné-Bissau e Moçambique;
4. A luta contra o congelamento dos
salários, a carestia de vida e o peso dos impostos;
5. A luta contra o domínio dos monopólios
e contra a submissão ao imperialismo.
Outros objectivos se podem ainda inserir na
campanha, como uma política externa de amizade com todos os povos e a intensificação
de relações com os países socialistas.
Mesmo que forçado a aceitar a
apresentação de candidatos da Oposição, o governo tudo fará para impedir o
desenvolvimento duma grande campanha. Levantará toda a espécie de entraves. Procurará
proibir, como em 1969, que se discuta a questão colonial. Apreenderá materiais.
Utilizará largamente a intimidação e a repressão.
É inevitável o aparecimento de
oportunistas de direita a aconselhar que só se faça o que o governo expressamente
autorize; e de oportunistas de «esquerda» a pretender forçar o movimento, ou mesmo
quaisquer estruturas isoladas onde se tenham infiltrado, a tomar em nome do movimento
(como já têm feito) posições ultra-radicais, que dêem pretexto à repressão e à
ilegalização completa, o que é a sua finalidade.
Estas pressões far-se-ão sentir
particularmente em relação ao problema colonial. As forças democráticas, as massas
populares, puseram definitivamente fim ao «tabu» que o governo durante anos impôs.
Arrancaram a mordaça e trouxeram corajosamente a questão da guerra ao primeiro plano da
política portuguesa. Essa aquisição deve ser firmemente defendida, não cedendo nem à
repressão, nem às pressões de oportunistas de direita, nem ao aventureirismo e
verbalismo ultra-radical de esquerdistas irresponsáveis. A luta contra a guerra
colonial e por negociações com os legítimos representantes dos povos de Angola,
Guiné-Bissau e Moçambique deverá ser um dos pontos centrais da política de massas.
Se o movimento se mantiver firme nas suas
posições e na defesa dos seus objectivos, resistindo à pressão dos elementos
oportunistas; se fizer frente com coragem à repressão; se estiver vigilante em relação
a provocações políticas montadas seja pelo governo, seja por elementos desagregadores;
se se voltar decididamente para as massas — está em condições de realizar uma
muito grande campanha e fazer participar nela muitas centenas de milhares de portugueses.
7. Conquistar posições para prosseguir a
luta
Nas condições existentes, as
«eleições» fascistas, se convenientemente aproveitadas, possibilitam que se discuta o
poder, não que se conquiste. Só ilusões eleitoralistas poderiam fazer acreditar na
possibilidade de esperar uma «vitória eleitoral». A perspectiva imediata, que determina
a apresentação de candidatos, nem é «vencer as eleições» nem «preparar a
insurreição». O objectivo e a perspectiva são conduzir uma grande campanha política e
conquistar posições para prosseguir posteriormente a luta.
A lição de 1969 não deve ser esquecida.
Certas ilusões e a falta de uma perspectiva para além das «eleições» estão na
origem de uma quebra brusca da actividade democrática nos meses que se seguiram. Para que
isto não suceda de novo é essencial que, concentrando forças e esforços nas tarefas da
campanha, o movimento democrático encare a batalha «eleitoral» como um passo para
prosseguir depois a luta em melhores condições — com estruturas reforçadas,
com milhares de novos activistas, com mais larga influência e apoio de massas.
Aproveitando a conjuntura criada pelas
«eleições» fascistas, salvo acontecimentos imprevisíveis, a direcção principal
da organização e actividade do movimento antifascista nos meses mais próximos deverá
ser a utilização de formas legais e semilegais. No período considerado, esta direcção
da actividade revolucionária deve ser aproveitada na máxima profundidade para reforçar
a organização e a unidade popular, desenvolver amplas acções, alcançar objectivos
concretos, conquistar novas posições, levar a cabo uma ampla campanha política de
massas.
Numa tal conjuntura e particularmente em
determinados momentos, certas acções armadas não seriam favoráveis ao desenvolvimento
geral da luta popular, antes poderiam criar-lhes grandes dificuldades. O PCP aprova a
decisão da ARA de suspender temporariamente certo tipo de acções, continuando
entretanto a reforçar a sua organização, as suas bases e a sua capacidade ofensiva.
A ARA mostra assim o seu alto sentido de responsabilidade ante o movimento popular e
antifascista português, de que faz parte.
Neste período de luta é necessária
grande vigilância em relação a quaisquer provocações de pseudo-revolucionários que
possam pretender sabotar o desenvolvimento do movimento democrático nas suas formas
actuais, acusadas de «legalismo» e «eleitoralismo».
O movimento operário e antifascista tem
mostrado grande capacidade na utilização e associação de formas legais, semilegais e
ilegais de organização e actividade. Menor tem sido a sua capacidade para passar de umas
formas a outras, de atender às suas influências recíprocas, de estabelecer direcções
principais de acção num período dado, de concentrar nelas as energias. Também a este
respeito o progresso é de sublinhar.
As tarefas imediatas determinadas pela
conjuntura não indicam uma mudança de perspectiva geral de desenvolvimento da acção
revolucionária. A ditadura fascista continua. Mantém-se a natureza centralizada e
militarista do Estado. O governo continua a privar o povo das mais elementares liberdades
e a responder com a violência às mais modestas reclamações. Prosseguem três guerras
coloniais. As camadas governantes declaram o propósito de continuar a impor pela força a
sua política. Seria iludir-se e iludir o povo português afirmar que, em tais
condições, para pôr fim à ditadura e conquistar a liberdade, se pode prever uma via
que não seja a insurreição popular. Mas só irresponsáveis podem pretender que, na
actual situação, a acção armada é a direcção principal. Nos tempos mais próximos,
reforçando sempre e incansavelmente o trabalho de organização e agitação
clandestinas, que são e continuarão sendo essenciais enquanto não existirem liberdades
democráticas, devem concentrar-se esforços no desenvolvimento de formas de organização
e propaganda legais e semilegais.
Criar um grande exército político
estreitamente ligado na luta quotidiana às massas populares; reforçar a unidade em
todos os sectores de luta e o sentimento de fraternidade de combate nos activistas de
combate nos activistas e nas massas; fazer convergir e unificar numa mesma torrente, em
que participem centenas de milhar de portugueses, as lutas que se desenvolvem nos mais
variados sectores e com os mais variados objectivos concretos e imediatos; desencadear
em torno das «eleições» fascistas uma grande campanha política de massas — tais
são as tarefas no futuro próximo imediato.
Serão as massas populares que, pelas suas
próprias mãos, decidirão do seu futuro. Trazer as massas à luta, dar-lhes
consciência da sua força e do seu papel, convencê-las, pela experiência de cada dia e
em torno de objectivos concretos de que a vitória está ao seu alcance, eis a missão das
organizações e activistas de vanguarda no momento político actual.
V — O partido comunista na vanguarda
da luta
O Partido Comunista Português, partido da
classe operária, desempenha um decisivo papel no desenvolvimento da luta popular contra a
ditadura fascista, contra a guerra colonial e o colonialismo, pela conquista da liberdade
e da verdadeira independência nacional, pela paz e o socialismo.
Ao longo de mais de 50 anos de actividade,
dos quais 47 de rigorosa clandestinidade, o PCP forjou-se através de provas e
sacrifícios de muitos milhares de militantes. O PCP tem numerosos quadros com muitos anos
de luta, quadros que consagraram a sua vida à actividade revolucionária. Reforça cada
dia os seus efectivos com jovens militantes, que vêm, numerosos, às suas fileiras.
Possui uma organização experimentada, que a repressão consegue por vezes atingir, mas
nunca destruir. Edita uma imprensa clandestina, com relevo para o Avante!, que, sem
interrupção, se publica há 32 anos. Conta com o apoio da classe operária e de amplas
massas e goza de um prestígio sem paralelo. É o grande animador e dinamizador da luta
popular e da unidade das forças antifascistas.
Quem quer que tome o PCP como alvo dos seus
ataques colabora com os fascistas no combate à principal força revolucionária do nosso
país. O anticomunismo é incompatível com a luta pela liberdade, com a luta pelo
reconhecimento do direito à independência dos povos de Angola, Guiné-Bissau e
Moçambique. No quadro das forças políticas portuguesas, não é possível o
desenvolvimento da luta popular contra o fascismo e o colonialismo sem o PCP e muito menos
contra o PCP.
O reforço da defesa, da organização, da
actividade do PCP é essencial para o desenvolvimento do processo revolucionário.
Corresponde aos interesses vitais dos trabalhadores e de todo o movimento antifascista e
anticolonialista. Trabalhando tenazmente para o reforço do Partido, os comunistas têm em
vista servir a causa da classe operária e das massas trabalhadoras, a causa do povo e da
nação portuguesa.
A defesa do Partido não pode ser
descurada em nenhum aspecto e em nenhum momento. O aparelho repressivo tudo faz para
atingir o Partido. Nos meses próximos intensificará os esforços nesse sentido, porque
sabe bem o papel que o Partido representa no desenvolvimento da luta popular.
Encabeçando com decisão a ampla
movimentação de massas, os militantes têm de cuidar incessantemente da sua defesa e da
defesa das suas organizações. As tarefas políticas que se colocam no momento actual
exigem uma compreensão dos perigos reais, a rápida superação de deficiências que se
registem no trabalho conspirativo (encontros, ligações, deslocações, transportes de
materiais, apontamentos), uma redobrada vigilância contra a provocação.
A defesa do Partido não é um freio à
actividade de massas, mas uma condição indispensável para que esta possa ser
desenvolvida. Defender o Partido significa, em larga medida, assegurar o desenvolvimento
da luta popular.
A organização do Partido é um
elemento decisivo da sua força, da sua influência e da sua capacidade para dirigir a
luta. O alargamento da influência e do trabalho de massas do Partido tem de ser
acompanhado pelo recrutamento de novos membros e pela estruturação, tendo como
preocupação central um amplo recrutamento na classe operária e a organização de novas
células de empresa.
A classe operária é a única classe em
condições de dar ao movimento antifascista o impulso e a perspectiva que o transformem
num irresistível movimento nacional de massas, que conduza à liquidação do fascismo e
a transformações revolucionárias da sociedade portuguesa. A organização do Partido
nas empresas é essencial para que tais tarefas possam ser cumpridas.
No actual fluxo da luta popular, a
organização do Partido pode e deve alcançar acentuados progressos, que são do
interesse não apenas do Partido e da classe operária, mas de todo o movimento
antifascista.
O trabalho ideológico é
indispensável para a justa orientação da luta popular. É necessário responder à
intensa acção ideológica do fascismo e à desinformação e teorizações do
oportunismo de todos os matizes. Impõe-se uma análise e uma pronta explicação dos
novos acontecimentos e uma ligação mais estreita da luta ideológica com a acção
revolucionária, as experiências de ordem prática e as lutas quotidianas.
A batalha ideológica que o Partido trava
tem em vista informar com verdade e esclarecer os activistas e as massas, subtrair uns e
outras à influência ideológica do inimigo e do oportunismo, convencer da justa
apreciação que o Partido faz dos acontecimentos, da sua justa orientação, das suas
palavras de ordem.
Em toda a parte, em todas as frentes de
luta, os comunistas trabalham infatigavelmente para a unidade dos trabalhadores, para a
unidade das massas em luta, para a unidade das forças antifascistas. Onde quer que se
encontrem, os comunistas, ligados às massas, devem tomar corajosamente a iniciativa e a
vanguarda.
Os comunistas não poupam esforços nem
sacrifícios para estarem à altura das suas responsabilidades, para corresponderem ao que
deles esperam a classe operária, as massas trabalhadoras, a juventude, o movimento
antifascista.
Com confiança e audácia, firmes e unidos,
avante na luta em todas as frentes. Avante por uma grande campanha política de massas.
Avante pela liberdade, pelo fim da guerra colonial, por uma vida melhor.
(*) In Avante!, ano 43, série VI,
n.o 456, Agosto de 1973. (N. Ed.)
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