Há quatro anos, a
frente de luta do PE deu conta de dificuldades e de esperança e
confiança. Sobrevivia a certidões de óbito, resistia à lenta erosão
dum Grupo político.
Quatro anos passaram. Nas eleições de 1994, a coragem da
autocrítica leva a dizer que, por pouca mobilização, perdemos
uma oportunidade de reforçar significativamente uma frente de
luta. Face ao novo Parlamento saído das eleições, o Partido
teve lucidez e força para contribuir decisivamente para um Grupo
que triplicou membros e componentes nacionais e deixou de ser o
mais pequeno dos pequenos grupos para se tornar interlocutor que
não se pode menosprezar.
Há quatro anos, Maastricht atropelava tudo e todos rumo à
moeda única para as transnacionais, com um banco central e uma
política monetária sob o jugo do marco alemão. Resolvidos com
truques jurídicos acidentes de percurso por povos terem
descoberto poder ser mais que meros homologadores de decisões de
executivos, o caminho para a UEM parecia técnico e fácil.
Quatro anos passados, a realidade mostrou-se bem diferente. Os
critérios de convergência nominal, arbitrários pretextos para
impor objectivos transnacionais, arautos da sadia contenção dos
défices financeiros para justificar a demissão dos Estados da
regulação das economias nacionais e de deveres de
solidariedade, esses célebres critérios de convergência desconvergiram.
Porque a realidade não se meteu no fato talhado em Maastricht e
as manipulações estatísticas e contabilistas não escondem que nada
correu como posto no papel.
Nem por isso são menores as consequências sociais. O
desemprego subiu aos 20 milhões, a pobreza e a exclusão sociais
são o retrato a preto e branco que contrasta as fotos coloridas
e sorridentes de Conselhos Europeus que se dizem preocupados mas
reforçam as políticas que motivam as hipócritas
preocupações.
É certo que o capital circula libertinamente, especulando dos
câmbios para a Bolsa, deslocalizando-se para onde mais possa
explorar a força de trabalho, de Setúbal para arredores de
Varsóvia ou para extremos orientes, por cá flexibilizando,
precarizando, desprotegendo. Evidente é que nada se reduziu à
técnica, que há batalhas políticas e, sobretudo, que crescem
lutas sociais.
Decorre, agora, a CIG para rever Maastricht. Decretada a UEM, procura-se
avançar para a União Política, escolhendo palavras, fugindo a chamar
federalismo ao que federalismo é, pondo em causa fundos e coesão,
intentando alargar segundo conveniências e não interesse dos povos.
Mas os povos estão atentos e capazes de recusar propaganda e de buscar
informação. É nosso dever ajudarmo-nos na tarefa de puxar o
rabo ao gato escondido e impedir que vá para longe e para outros
o direito nosso a decidir o nosso destino.
Como portugueses e comunistas, somos frente de luta do
Partido, do nosso povo, no PE. Nas sedes deste temos sido, e
continuaremos, a voz que defende a agricultura e a pesca, lembra
a indústria, recusa a destruição dos serviços públicos. Em
permanente contacto e coordenação com quem, no Ribatejo e pelas
Beiras, cria o tomate, a vinha, o azeite e tudo o mais, de Viana
a Vila Real luta contra o abandono para outros de tanto mar nosso
e peixe, no Ave e na Covilhã sobrevive com a têxtil, no
Alentejo resiste e não desiste do Alqueva, em Trás-os-Montes
conclama as potencialidades da região, nos Açores e Madeira,
denuncia e ataca a pobreza, nas áreas metropolitanas e em todo o
lado, combate o que estraga o ambiente natural e social.
As características da frente aproxima-nos dos emigrantes,
põe-nos na primeira linha da solidariedade com Timor, com os
povos a que nos ligam tantos laços culturais e afectivos, com os
povos agredidos por não desistirem da sua opção socialista,
merecendo referência especial o povo de Cuba. E não esquecemos
a solidariedade sem endereço, de classe, urgente num mundo em
que o capitalismo junta a OMC ao FMI e ao Banco Mundial para mais
o ocupar e pisar.
Frente de trabalho e de luta cada vez mais influindo o
quotidiano, e podendo reflecti-lo, somos Partido pela
vinculação à luta de massas, o que exige mais informação,
maior empenho e melhor coordenação de todo o Partido. Como há
quatro anos, as dificuldades são muitas, mas não falta esperança
e confiança e multiplicar-se-ão se, assumindo a Resolução Política
esses maior empenho, melhor coordenação e mais informação mútua,
for essa a nossa prática colectiva.