Partido Comunista Portugu�s
  • Narrow screen resolution
  • Wide screen resolution
  • Auto width resolution
  • Increase font size
  • Decrease font size
  • Default font size
  • default color
  • red color
  • green color
�
�

Situação política geral após um ano de Governo - Intervenção de Bernardino Soares na AR
Quarta, 10 Maio 2006
Interpelação n.º 4/X, sobre a situação política geral após um ano de Governo

 

 

 Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Srs. Deputados,
 Penso que os traços fundamentais da política do Governo que estamos a discutir, de uma forma global, nesta interpelação estão bem visíveis nesta questão concreta das maternidades. Senão vejamos: uma política de ataque aos serviços públicos e de diminuição e concentração da resposta desses serviços; uma política que, com essa concentração, pretende abrir espaço a que interesses privados possam singrar à custa da falta de resposta pública, como o Sr. Ministro da Saúde admitiu no passado fim-de-semana; uma política que se destina à restrição de direitos, procurando diminuir à força a despesa pública, sem olhar às consequências que isso tem para as populações — e nesta questão das maternidades, isso está bem à vista! Está bem à vista, até, pelo desesperado e grave argumento que o Sr. Ministro da Saúde sempre utiliza: o de que não se responsabiliza pelas mortes que vierem a ocorrer. E eu pergunto-lhe se se responsabiliza por aquelas que já ocorreram ou por aquelas que, eventualmente, ocorram nos transportes entre as localidades que agora são servidas por unidades mais próximas e aquelas que, se for aplicada a decisão do Governo, estarão ao serviço das populações. Outro argumento decisivo: a questão dos 1500 partos. Não se sabe, no entanto, por que é que este critério, tão absoluto, tão importante nalguns dos casos que o Governo pretende encerrar — o único critério que não é cumprido —, não se aplica também, por exemplo, às maternidades privadas! Ou aí o Governo já não tem de zelar pela segurança das parturientes que aí estão? E não sabe o Governo que, em 2003, em França, ocorreu um processo de concentração de maternidades, mas que, curiosamente, num país com uma população muito maior, o critério era o de 1000 e não o de 1500 partos? Tal significa que esse não é um critério absoluto, é apenas um critério que tem de ser tido em conta em qualquer política nesta área. Além de que, nesta matéria, há vários estudos: os que entendem que as unidades pequenas aumentam os riscos e os que, pelo contrário, defendem que, havendo as condições de qualidade que são exigíveis em todas as unidades, esses riscos não aumentam. É o caso de um estudo feito na Austrália, que comprovou que a mortalidade é menor nas unidades de menor dimensão. Quanto à falta de recursos, basta ler as palavras proferidas hoje pelo representante da Ordem dos Médicos, que nos informa que há 12 anos que os sucessivos governos, do PS e do PSD, não colocam internos da especialidade de obstetrícia nestas maternidades que agora vão encerrar. Portanto, criaram as condições para que houvesse falta de pessoal e agora invocam a falta de pessoal para dizer que é preciso encerrar essas maternidades! Há uma enorme contradição entre o discurso de apoio à maternidade, que o Primeiro-Ministro aqui fez ainda há poucos dias, e a política concreta que diminui a resposta nessa área; há uma enorme contradição entre uma política que diz que quer qualidade, mas que só quer qualidade quando tal significa diminuir serviços públicos e afastá-los das populações. Afinal, este Governo quer ou não ficar conhecido como o verdadeiro exterminador implacável das maternidades e das unidades de saúde neste país?.