Partido Comunista Português
Orçamento Comunitário para 2006 ao encontro da Presidência Britânica
Nota de Imprensa dos deputados do PCP ao PE
Sexta, 09 Dezembro 2005

Na próxima sessão plenária do Parlamento Europeu, que decorrerá em Estrasburgo, de 12 a 15 de Dezembro, será votado o Orçamento comunitário para 2006, cujo compromisso aponta para um tecto de 1,01% do Rendimento Nacional Bruto (RNB) Comunitário (em pagamentos), quando o Quadro financeiro para 2000-2006, decidido em 1999, previa 1,08% do RNB Comunitário.

Saliente-se que o tecto do Orçamento para 2006, agora proposto, se situa abaixo das propostas do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia para o Quadro financeiro 2007-2013, que são, respectivamente, 1,07% e 1,14% do RNB comunitário. Nesse quadro, por exemplo, para 2007, o PE propõe 1,06% e a Comissão 1,15% do RNB comunitário.

Culmina, assim, um processo que, acentuado nos últimos três anos, teve como objectivo a diminuição efectiva e progressiva do orçamento comunitário, procurando fixá-lo à volta de 1% (no qual os Fundos Estruturais representam apenas 0,36 a 0,37% do RNB comunitário ).

É um processo que, objectivamente, vai ao encontro das exigências dos países economicamente mais desenvolvidos da União Europeia (os signatários da denominada "carta dos seis": Alemanha, França, Grã-Bretanha, Holanda, Suécia e Áustria) que querem limitar o próximo Quadro financeiro 2007-2013 a 1% do RNB comunitário, sendo os Fundos Estruturais a variável de ajustamento, com consequências negativas na política de "coesão" e para países como Portugal.

Sublinhe-se que as inaceitáveis propostas para o Quadro financeiro 2007-2013, tanto da Presidência luxemburguesa (que aponta um tecto médio de cerca de 1,00% do RNB comunitário, com 0,37% para os Fundos Estruturais, ou seja, um corte de cerca de 38 mil milhões de Euros face à proposta da Comissão), como da Presidência britânica (que aponta um tecto médio de 0,98%, começando com 2007 em 1.05%, sendo 0,36% para os Fundos Estruturais, ou seja, um corte de cerca de 10 mil milhões de Euros face à proposta "Luxemburguesa") não são mais que a imposição e transposição prática dos interesses dos países economicamente mais poderosos da UE à custa dos restantes.

Foi tendo em conta a evolução negativa do quadro negocial que os deputados do PCP ao PE apresentaram uma Moção de rejeição do Orçamento comunitário para 2005, tendo expressado, então, a sua profunda discordância com a estratégia orçamental seguida pela maioria do Parlamento Europeu, onde se incluem os deputados do PS, PSD e CDS-PP.

Como alertámos anteriormente, esta é uma má estratégia negocial, nomeadamente num contexto em que era premente reforçar a coesão económica e social, promover um quadro macro-económico que promovesse o desenvolvimento económico sustentável e o emprego e onde seria necessário dar resposta aos persistentes altos níveis de desemprego, pobreza, exclusão social e desigualdades na repartição de rendimento na UE.

A aceitação do compromisso do Orçamento comunitário para 2006, proposto pelo PE e pelo Conselho, é um erro estratégico. Deste modo, os deputados do PCP ao PE rejeitam esta proposta, assim como a lógica que lhe está subjacente, quando o mesmo antecede o debate sobre o Quadro financeiro para 2007-2013 agendado para o próximo Conselho Europeu de 15 e 16 de Dezembro.

Os "ricos" procuram impor a sua vontade

Os deputados do PCP ao PE reafirmam, uma vez mais, que a proposta da Comissão para o Quadro financeiro 2007-2013 (face à qual a Presidência luxemburguesa e britânica propõem, respectivamente, cortes de cerca de 157 e de 178 mil milhões de euros) era já manifestamente insuficiente para dar resposta aos desafios colocados após o alargamento da União Europeia, com o respectivo aumento das disparidades económicas e sociais. A proposta da Comissão Europeia propunha um tecto para o orçamento comunitário de 1,14% do RNB e de 0,41% para os Fundos Estruturais.

Já em 1999, aquando da aprovação da "Agenda 2000" (Quadro financeiro 2000-2006), os deputados do PCP ao PE alertaram para o perigo do Governo PS estar a hipotecar o futuro da política de "coesão" ao aceitar o alargamento a países com um desenvolvimento económico inferior à média comunitária, sem um reforço proporcional do orçamento comunitário, ao contrário do que se verificou em anteriores alargamentos.

Registe-se, ainda, que todas as propostas de Quadro Financeiro para 2007-2013 assumem como suas as prioridades da chamada "constituição europeia", apesar desta ter sido rejeitada.

Ao mesmo tempo que se impõem restrições ao orçamento comunitário, são reforçadas novas prioridades como a militarização da UE, a chamada segurança interna e o controlo da imigração, as políticas de concorrência, o que tenderá a canalizar meios financeiros para as prioridades dos países economicamente mais desenvolvidos. Tudo em detrimento das necessidades da "coesão", sociais, ambientais e de ajuda ao desenvolvimento. O que é inaceitável.

Quando se "apregoa" a ideia de uma UE "coesa" e "social", verificamos, na realidade, o aprofundamento de uma UE dominada pelos interesses dos países economicamente mais desenvolvidos e dos seus grupos económico-financeiros, à custa da acentuação das disparidades.

Aliás, tanto na proposta "Britânica", como na "Luxemburguesa", são propostos cortes nas verbas dos Fundos Estruturais, nas verbas para o desenvolvimento rural, nas verbas para a pesca ou para as questões sociais.

Em contrapartida, é dada prioridade à concretização de objectivos da denominada "Estratégia de Lisboa", como o financiamento de infra-estruturas promotoras de processos de liberalização e concentração capitalista ao nível da UE, de iniciativas do capital privado (por financiamento directo ou através das denominadas "parcerias público-privadas"), ou dos ditos "centros de excelência" existentes nos países economicamente mais desenvolvidos, subordinando as políticas comunitárias, nomeadamente os Fundos Estruturais, à dita "competitividade" - ou seja, à concorrência -, subalternizando e secundarizando a "coesão económica e social".

Aumentam, igualmente, as verbas para a denominada estratégia de "informação" - ou melhor, de propaganda - sobre a União Europeia, para a política externa e segurança comum e para a política de justiça e assuntos internos, com uma vertente atentatória da soberania, militarista e securitária, procurando concretizar os objectivos consagrados no projecto da dita "constituição europeia", apesar deste ter sido rejeitado.

A proposta da Presidência britânica mais não faz que procurar colocar o compromisso ainda a um nível mais baixo, acentuando a clivagem entre os denominados "ricos" e os restantes países. São particularmente preocupantes as propostas que avançam para as regras de execução dos fundos estruturais (colocando limitações à execução adequada dos fundos), para a reforma do sistema de recursos próprios (em benefício dos países economicamente mais poderosos) ou para uma revisão intermédia (que pode abrir a porta a mais cortes nos Fundos Estruturais), pelas consequências que poderão ter para Portugal.

Em conclusão, nas propostas actuais, Portugal perde sempre, num momento em que a riqueza do País regrediu face à UE (medida em PIB por habitante) e está ao nível de 1991.

De recuo em recuo

Neste quadro, a aceitação em sede do Conselho, pelo Governo português, do actual tecto de 1,01% do RNB comunitário para o Orçamento comunitário para 2006 significa que este, mais uma vez, partilha e assume a responsabilidade por uma política orçamental comunitária que já prevê a inaceitável redução (de mais de 10%) nas transferências comunitárias para Portugal entre 2007-2013, redução que tende a agravar-se se a lógica da proposta da Presidência britânica se vier a impor.

O que se espera e exige do Governo português é que assuma a defesa intransigente dos interesse nacionais e a denominada "coesão económica e social", aliás, inscrita nos Tratados, tendo nomeadamente em conta a situação económica e social do país, onde a recessão económica, a divergência com a União Europeia, o aumento do desemprego e das desigualdades, são tónicas dominantes, em resultado das políticas de direita realizadas a nível nacional, sempre apoiadas pelas políticas e orientações da UE.

Os deputados do PCP ao PE rejeitam uma lógica que, de recuo em recuo, vai transformando cada derrota numa mistificada "vitória", com o pretexto de que pode ser sempre pior.

O que se exige

Neste contexto, os deputados do PCP ao PE reafirmam as suas propostas, designadamente:

  • Assegurar um orçamento comunitário que, com base em contribuições nacionais de acordo com a riqueza relativa de cada país (a partir do seu RNB), tenha um papel redistributivo e assuma como prioridade a implementação de políticas que promovam uma real aproximação dos níveis de desenvolvimento económico dos diversos países e a efectiva melhoria das condições de vida dos trabalhadores e das populações;
  • A criação de um programa específico para a modernização da economia portuguesa no quadro do alargamento, à semelhança do que aconteceu com a Grécia, aquando da adesão de Portugal e Espanha, em 1986;
  • A compensação integral das regiões que sofrerão o denominado efeito estatístico, como acontece com o Algarve;
  • Uma profunda modificação da Política Agrícola Comum, não orientada para a exportação, mas, pelo contrário, para a salvaguarda do direito de cada país a assegurar a sua soberania e segurança alimentares, introduzindo-se a modulação e o plafonamento das ajudas agrícolas, garantindo uma justa redistribuição das ajudas agrícolas entre agricultores, produções e países, garantindo maiores transferências para Portugal, que é um dos países que menos recebe da Política Agrícola Comum;
  • O fim da condicionalidade do Fundo de Coesão ao Pacto de Estabilidade e a não aplicação da regra N+2 (regra que prevê o corte de verbas no prazo de 2 anos caso estas não tenham sido executadas) a este Fundo e aos Fundos estruturais.
  • A garantia de um quadro financeiro com duração de 7 anos.