Partido Comunista Portugu�s
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Ofertas públicas de aquisição - Intervenção de Honório Novo na AR
Quinta, 11 Maio 2006


Vantagens fiscais obtidas no contexto de ofertas públicas de aquisição 

Sr. Presidente,
Sr. Deputado Afonso Candal,
 Nos últimos dias tomámos conhecimento da publicação das perspectivas de desenvolvimento económico e da execução orçamental para Portugal de várias instituições. Há problemas, dizem elas, no cumprimento da contenção orçamental do défice deste ano. A resposta e comentário do Sr. Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças é uma só: se for preciso, vamos tomar medidas adicionais! Que medidas adicionais são estas, Sr. Deputado? A resposta também é uma só: conter despesas sociais, agravar a perda de poder de compra das classes trabalhadoras e retirar direitos! O Governo e os senhores, pelos vistos, não querem, corajosamente, olhar para o problema das receitas fiscais, não querem olhar para a coluna das receitas fiscais. Começo a ter dúvidas, Srs. Deputados. Mas, partindo do princípio de que o senhor ainda defende o princípio constitucional do englobamento de rendimentos,…(…)Ah! Já defendeu mais!Mas, como eu estava a dizer, partindo do princípio de que o senhor ainda defende o princípio constitucional do englobamento de rendimentos, a questão é esta e é simples: acha que as mais-valias bolsistas não são rendimentos, que não podem, nem devem, ser englobados? Pensa que não devem ser tributadas? Responda a esta pergunta. Sr. Deputado, por favor, não invoque as palavras do Deputado Lino de Carvalho em vão, porque, infelizmente, ele não está para se defender e para o desmentir. E sabe porquê, Sr. Deputado Afonso Candal? Primeiro, a Lei n.º 30-G/2000, de 29 de Dezembro, tributava todas as mais-valias bolsistas; segundo, os senhores  suspenderam e retiraram essa norma da lei; terceiro, o PCP, desde então, também pela mão do Sr. Deputado Lino de Carvalho, apresentou aqui propostas para reposição da tributação de mais-valias e que o senhor rejeitou. Portanto, Sr. Deputado Afonso Candal, isso fica-lhe mal, porque os senhores é quederam o dito por não dito. Peço-lhe, por favor, que não volte a fazer mais citações descontextualizadas.  (…)  Sr. Presidente,
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados:
 Diz o Bloco de Esquerda, na sua exposição de motivos, que as OPA são  procedimentos incontornáveis no mercado de capital, que espelham a evolução dos mercados especulativos e a estratégia de concentração de empresas. É bom, é certamente clarificador, abordar então esta realidade incontornável. Perceber se é ou não possível conformar esta realidade, se é ou não possível regulá-la, submetê-la aos interesses colectivos nacionais, à estratégia e às prioridades do desenvolvimento próprio do nosso país é certamente um imperativo e uma obrigação que no PCP valorizamos, sublinhamos e colocamos como primeira prioridade política na análise que fazemos do boom especulativo a que assistimos no mercado mobiliário. A verdade é que, mesmo antes dos benefícios fiscais, que estão à disposição de quem procede à OPA, que importa obviamente eliminar e a que o projecto de lei do Bloco de Esquerda procura dar resposta, é fundamental, antes disso, compreender e combater — também mas não só no plano legislativo — os objectivos e as consequências políticas, económicas e sociais que este tipo de operações visa alcançar. As OPA pretendem em muitos casos liquidar o papel do Estado em sectores estratégicos, criando as condições e o ambiente político propícios a que direitos especiais de decisão que o interesse público ainda detém em empresas fundamentais de serviço público sejam anulados. As OPA visam, assim, colocar certos sectores estratégicos nacionais na dependência completa e exclusiva de interesses privados, criando as condições accionistas para que, em fase ulterior, o controlo executivo e as orientações empresariais passem igualmente a ser comandadas por grupos internacionais. As OPA buscam desmembrar grupos empresariais fortes cujas orientações estratégicas ainda têm influência predominante do Estado, lesando directamente os trabalhadores e ameaçando os seus postos de trabalho, provocando danos irreparáveis nas potencialidades empresariais quanto à prestação de umserviço público de qualidade, universal e a preços baixos. Foi neste contexto e com estas características que se apresentou a OPA da Sonae de Belmiro de Azevedo sobre o Grupo da PT. Mas tanto esta como a OPA do BCP sobre o BPI mostram como as estratégias que presidem a estas OPA visam acelerar processos de concentração de capital, em notória e absoluta contradição com o tão propalado aumento da concorrência que enganosamente se dizia ser um dos principais objectivos das privatizações. Também no sector bancário a concentração de capital não se vai traduzir por melhores e mais aceitáveis serviços — bastando lembrar os altíssimos níveis de comissões e taxas que hoje são cobradas sem qualquer plafonamento, ou sublinhar as tentativas, ou mesmo concretização, de novas e diversificadas comissões, seja nas operações de multibanco ou na simples manutenção de contas bancárias com valores médios inferiores a um determinado valor. Também nas OPA do sector financeiro se anuncia o «emagrecimento dos custos com pessoal», isto é, se pré-anuncia o despedimento de milhares de pessoas atiradas para a rua do desemprego, «por obra e graça» das economias de escala que a concentração de capital exige e a competitividade permite. Entretanto, as falsidades que envolvem as OPA são diversas e procuram também distrair a opinião pública do essencial, tentando «vender» imagens delicodoces dos seus promotores e agentes, muitas vezes em articulação e com a colaboração de uma panóplia diligente de opinion-makers. Para além de inqualificáveis campanhas mediáticas de promoção pessoal, tenta fazerse passar para a opinião pública a ideia de que as OPA são o melhor sinal da revitalização da economia nacional. Esta é porventura a maior mistificação associada às OPA, mas que serve às mil maravilhas o Governo de José Sócrates apostado este, como está, em fomentar todas as operações de propaganda que ajudem a mistificar a estagnação ou o crescimento económico medíocre em que as suas obsessões orçamentais continuam a lançar o País, ou que o ajudem a esquecer números aterradores do desemprego a superarem, muito provavelmente, a média europeia. Com as OPA, Srs. Deputados, não há economia que se relance, pela singela razão de que, sejam quais forem os seus destinos, delas não sairá um único grama a mais de riqueza produzida. Sr. Presidente,
Srs. Deputados:
 É esta a realidade que tem de ser contornável em Portugal. É a economia de casino que importa combater em Portugal. São as prioridades próprias e o interesse colectivodo País que têm de ser salvaguardados. É o regabofe especulativo que tem de ser combatido e eliminado. O projecto de lei do BE centra atenções na componente fiscal associada às OPA, isto é, centra atenções no combate e na eliminação de vantagens fiscais que a lei permite obter no momento em que as  ofertas públicas de aquisição estão já a concretizar-se, com o seu cortejo de concentração de capital, de quebra de concorrência, de consequências perversas ao nível da degradação dos serviços e emprego. Este é certamente um objectivo defensável, que apoiamos e também defendemos porque é absolutamente inaceitável que, depois de tudo o que dissemos sobre as estratégias antinacionais das OPA, os seus promotores, ainda por cima, possam deduzir os empréstimos destinados a financiar as aquisições bolsistas nos lucros tributáveis das empresas que anunciam essas mesmas OPA. Como também certamente defendemos a intenção manifestada pelo Bloco de Esquerda de, a propósito das OPA, se repor a tributação fiscal de mais-valias resultantes da venda de acções, norma esta que, como já aqui foi recordado, existiu sob forma de lei, que nunca chegou a ser aplicada por suspensão determinada pelo então Ministro Pina Moura e que foi liminarmente revogada pela então Ministra Manuela Ferreira Leite. Esta sanha das sucessivas maiorias governamentais contra a tributação das mais-valias bolsistas fez também no passado recente que propostas de alteração apresentadas pelo PCP, ano após ano, em sede do debate orçamental, para repor exactamente a tributação que o BE vem agora apresentar no seuprojecto de lei, tenham sido rejeitadas pelo voto conjunto da direita de jure e da direita de facto representada pelo Governo do Eng.º Sócrates. Os objectivos de eliminação das duas vantagens fiscais que o BE pretende eliminar com o seu projecto de lei merecem o nosso acordo. Mas importa dizer que, no que respeita às OPA, consideramos ser necessário ir mais além do que abordar apenas as respectivas vantagens fiscais imorais e indevidas. Esperamos igualmente esse apoio para iniciativas que abordam as OPA de um outro ângulo e que, aliás, o Grupo Parlamentar do Partido Comunista já anunciou nas suas mais recentes jornadas parlamentares.  (…) Sr. Presidente,
Sr. Deputado António Pires de Lima,
 Começo exactamente pelo fim. Espero que, com os seus desejos de diminuição desta bancada, não se esteja a ver ao espelho e esteja aqui a ver o «táxi» em que vocês foram e a que, certamente, serão remetidos num próximo futuro por vontade do povo português… Mas devo reconhecer que o senhor tem completa razão quando diz que esta questão divide ideologicamente essa bancada, a direita, desta bancada à esquerda. A única questão que neste debate surpreende é que o Partido Socialista, que geograficamente está deste lado,se situe, em matéria de tributação e de justiça fiscal, exactamente ao vosso lado, aí, nessa direita deste Hemiciclo. Sr. Presidente,
Sr. Deputado António Pires de Lima,
 As ofertas públicas de aquisição são caracterizadamente e no fundamental actos — e isso é visível pelos exemplos que temos, que estão na calha, basta ver a catadupa de notícias sobre a matéria — que vão envolver, pelo menos, três ou quatro consequências: a diminuição da concorrência anunciada, a perda de milhares de postos de trabalho, a desarticulação empresarial de grupos potencialmente relevantes ao nível nacional e ao nível internacional, onde o Estado mantinha papel preponderante, e, naturalmente, propiciar a passagem para o controlo internacional de centros de decisão nacional. Nós, Sr. Deputado António Pires de Lima — fique tranquilo —, não estamos de acordo com isso. Eu sei que os senhores estão de acordo com isso, mas não contem connosco «para este peditório». Porventura, contem com o PS, pelos vistos, mas connosco não!! Pelo nosso lado, o que defendemos é um papel relevante e importante da participação do Estado na economia e uma estratégia de desenvolvimento português própria, que seja no interesse colectivo e não apenas no interesse de meia dúzia de grupos privados.