Armando Carvalho Membro do Comité Central e da Comissão
Nacional de Agricultura junto do CC
Camaradas
A agricultura portuguesa continua a viver uma profunda crise.
Na vitivinicultura, o espectro de falência financeira pesa sobre
viticultores e adegas cooperativas.
A produção de leite penalizada pela insuficiência
da quota nacional e as exigências ambientais nas principais bacias
leiteiras.
Falta de escoamento a preços compensadores para a batata, carne
de bovino, azeite, castanha e frutos secos. São as excessivas subidas
dos factores de produção.
O ano de 2003 ficou assinalado pelos maiores incêndios florestais
de que há memória — cerca de 500 mil hectares de área
ardida, 20 perdas humanas, mais de 5 mil agricultores atingidos, aldeias
devastadas pelas chamas, edifícios e patrimónios culturais
e animais destruídos e centenas de postos de trabalho liquidados.
Agora, a pretexto dos incêndios florestais, pretende-se responsabilizar
a pequena propriedade e os pequenos proprietários pelo abandono
das matas e esbulhar os Baldios aos Povos. E assim alijar e absolver as
responsabilidades da política agroflorestal de direita dos últimos
30 anos.
Depois de uma nova e desastrosa reforma da PAC o governo PSD/CDS decidiu
desligar ao máximo permitido as ajudas da produção,
mantendo as injustiças na atribuição das ajudas comunitárias.
Tal processo evidenciou, mais uma vez o seu descarado apoio aos grandes
proprietários e agricultores capitalistas do Sul do país.
As estatísticas dão conta de uma acentuada queda da população
agrícola familiar, 37% apenas numa década, de um recuo da
produção agropecuária, do aumento suicida do défice
agro-alimentar. Esta situação, está a levar a um
retrocesso e desaparecimento da agricultura em muitas regiões do
território e a um irreversível e acelerado declínio
do Mundo Rural.
O que nos acontece e acontece à agricultura portuguesa não
é obra do acaso ou da natureza. É o resultado de anos e
anos de erradas políticas agrícolas nacionais e comunitárias
dos governos do PS, PSD, com a colaboração do CDS-PP.
Camaradas:
Temos dito e escrito que outros caminhos são possíveis.
Temos afirmado, em sucessivos Congressos que não é irremediável
a morte da agricultura portuguesa. Não é de agora, mas de
sempre — o esforço, a reflexão colectiva e o contributo
que o PCP tem dado, quer no plano institucional, na AR e no PE, com a
presença solidária nas pequenas e grandes lutas do campesinato
que se tem desenvolvido de Norte a Sul do País.
Também contra a sentença de condenação à
morte proferida por sucessivos governos se tem levantado a agricultura
familiar portuguesa. Lutas dirigidas pela Confederação da
Agricultura Familiar, a CNA e as suas associações. Entre
centenas de pequenas e grandes acções e iniciativas destacam-se
a Manifestação dos Produtores de Leite, sobre a penalização
pela ultrapassagem da Quota Nacional, em 2002 no Porto; a Manifestação
Nacional em Lisboa, contra a reforma intercalar da PAC, em Novembro de
2003; as manifestação na Régua e em Lisboa, sobre
o Douro em 2003; as Concentrações anuais de Agricultores
na Abertura da AGROVOUGA em Aveiro.
Em 2003, na cidade de Coimbra, a CNA comemorou 25 anos, com a realização
do seu IV Congresso. Congresso da consagração política,
social e institucional de 25 anos de luta de uma Confederação
de classe, bem ancorada no mundo rural português. Foi também,
a afirmação da intensa actividade internacional, com a CPE/Confederação
Agrícola Europeia e a Via Campesina.
Com os camponeses de todo o mundo temos participado em batalhas pela
soberania e segurança alimentares dos povos, reclamando a saída
da agricultura da OMC. Por terra para os que a trabalham ou a querem trabalhar.
Pela defesa da biodiversidade e contra a expropriação dos
camponeses pelas transnacionais das biotecnologias, do que é um
inalienável património dos povos do planeta: as sementes.
Pela Paz e contra a fome no mundo.
VIVA O XVII CONGRESSO DO PCP!