No âmbito das comemorações aniversário do PCP, Jerónimo de Sousa participou num jantar no Funchal onde afirmou que «comemoramos 87
anos de existência do Partido Comunista Português num momento alto da sua
afirmação como a grande força nacional de oposição à política de direita e no
quadro de uma combativa e crescente luta de resistência dos trabalhadores e das
populações às medidas anti-populares e de retrocesso social do governo do PS de
José Sócrates.»
Extractos da Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP
no Jantar 87º Aniversário do PCP no Funchal
Comemoramos 87
anos de existência do Partido Comunista Português num momento alto da sua
afirmação como a grande força nacional de oposição à política de direita e no
quadro de uma combativa e crescente luta de resistência dos trabalhadores e das
populações às medidas anti-populares e de retrocesso social do governo do PS de
José Sócrates.
Celebramos 87
anos de vida do nosso Partido quando paira no ar e se sente um desejo de
futuro, um colectivo desejo de futuro de justiça, de fraternidade e de
progresso que anos consecutivos de política de direita têm impedido de
alcançar.
É isso que
sentimos quando vemos o vigor e determinação das lutas que se desenvolvem no
país, pelos trabalhadores nas empresas, nas praças das cidades e vilas, na
grandiosa Marcha da Indignação dos professores portugueses, na luta que ainda
decorre dos trabalhadores da administração pública, nas grandiosas manifestações
promovidas pela CGTP.
É esse desejo
de futuro que milhares e milhares de comunistas e amigos do Partido
transportavam orgulhosamente nas ruas de Lisboa, nessa empolgante e singular
Marcha da Liberdade e Democracia.
Cinquenta mil
homens, mulheres e jovens e muitas mil bandeiras vermelhas, símbolos do
trabalho, da solidariedade e da esperança que afirmavam bem alto a vitalidade e
a força presente de um Partido com História ao serviço dos trabalhadores, do
povo e do país e sua determinação na luta em defesa
dos ideais de Abril e dos direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores e
do povo, que todos os dias são postos em causa pela política de prepotência e
autoritarismo do Governo do PS/ Sócrates, mas também aqui na Madeira pela mão
do governo regional do PSD.
Fez esta
semana três anos da tomada de posse do Governo do PS de José Sócrates.
Três
inquietantes anos de governo com dolorosas consequências na vida dos
portugueses.
Três anos que
o governo se prepara para comemorar, enquanto o país protesta e mostra a sua
indignação e descontento em relação às suas principais políticas.
Três anos em
que a máquina de propaganda governativa quer com um inqualificável descaramento
transformar em anos de sucesso, manipulando e deturpando a realidade do país e
das reais consequências da sua política na vida dos portugueses.
Pintam o país
cor-de-rosa, pensando que pintando o país com as cores do sonho adormecem os
portugueses e iludem a amarga realidade dos que foram confrontados nestes três
anos com a mais violenta das ofensivas contra os mais elementares direitos
sociais dos portugueses e as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores.
Digam o que
disserem a vida dos portugueses, particularmente a vida dos trabalhadores, dos
reformados, dos pequenos agricultores, comerciantes e empresários está pior do
que estava quando em Março de 2005 o governo PS tomou posse.
Em relação ao
desemprego não há manipulação estatística que possa esconder o drama que
enfrentam centenas de milhares de portugueses.
Aqui na
Madeira os trabalhadores sabem bem o que significaram estes três anos de
governo do PS em matéria de emprego.
Não foi só no
Continente que o desemprego atingiu o mais alto dos valores dos últimos vinte
anos, também aqui na Madeira a taxa de desemprego é a mais alta de sempre, uma das mais altas taxas de desemprego da
Europa.
E não se diga
que o governo nada podia fazer. Podia. Este é o resultado das suas opções da
política restrição orçamental, da sua política de abandono do aparelho
produtivo nacional, da sua política económica que abdicou das tarefas da
promoção do desenvolvimento e do crescimento económico, sacrificados à
diminuição do défice das contas públicas.
Objectivo que
o governo agora transforma no "grande
feito" da sua governação, mas que efectivamente foi concretizado da pior
e mais injusta forma.
"Grande feito"
obtido com o exclusivo esforço dos salários dos trabalhadores, dos impostos
maioritariamente pagos por quem trabalha, do corte nos serviços públicos e do
investimento.
"Grande feito"
concretizado à custa de mais exploração do trabalho, mais injustiça social e do
fomento de mais desigualdades que se podiam evitar se a opção fosse, como
defendemos, pela via do crescimento económico.
Mas nesta como
noutras matérias, foi a opção de classe de um governo ao serviço do grande
capital e dos grandes interesses que falou mais alto.
Neste três
anos de governo não temos, porém, apenas mais desemprego, temos também pior
emprego, mais emprego precário e pior remunerado.
E essa é outra
realidade que o balanço do governo omite.
Uma realidade
que o actual governo de José Sócrates impulsionou como nenhum outro e que hoje
condena milhares de trabalhadores, particularmente jovens a uma vida instável,
insegura e sem perspectivas de futuro.
É assim por
todo o país, onde o trabalho precário abrange já 22,4% dos trabalhadores
assalariados.
É assim aqui
também na Madeira onde cresce cada vez mais o trabalho precário e sem direitos,
onde o trabalho a tempo parcial substitui crescentemente o trabalho a tempo
completo.
No "país das
maravilhas" de José Sócrates o que tem crescido de forma galopante é o número
de trabalhadores com contratos a prazo, mais 122 mil que há três anos atrás,
enquanto diminuíam os contratos sem termo.
Mudanças que
significam uma vida mais precária e mais dependente.
Uma vida mais
precária porque a precaridade do trabalho rápidamente se transforma na
precaridade da própria vida.
Uma vida mais
dependente porque a precaridade permanente, significa também trabalhar com um
salário cada vez mais desvalorizado.
O impacto das
mudanças que se estão a verificar na estrutura do mercado de trabalho é já
efectivamente sentido nos salários médios dos trabalhadores.
A crescente
precariedade levou já à desvalorização de cerca de um terço dos salários médios
dos trabalhadores com um contrato precário.
É a combinação
desta situação com o crescente desemprego que leva a que tenha duplicado em
2007 o número das famílias portuguesas sobreendividadas.
Este é outro
problema que não entra nos balanços de três anos de governo, quer do PS, quer
do PSD, passam por cima dele "como cão por vinha vindimada".
O problema da
erosão dos rendimentos do trabalho e das reformas que tem aqui na Madeira uma
maior expressão, já que os trabalhadores têm dos mais baixos salários do país,
é uma situação escandalosa, particularmente num país onde um quinto da
população detém 45% do rendimento nacional.
Erosão que se
acentuou com o escandaloso aumento dos preços dos bens e serviços essenciais
que nas Ilhas significam um ainda maior esforço das suas populações, já que, em
geral, se carrega aqui com um suplemento de aumento do custo desses bens.
Aumentos de
preços que crescem sem cessar, para garantir e reforçar os altos lucros das
grandes companhias e do grande capital financeiro.
É assim com os
combustíveis, com o gás, com os produtos alimentares, com o custo do crédito.
Aumentos que
são em geral escandalosos e abusivos.
Veja-se o que
se está a passar com a Banca. Lucros astronómicos de 7,9 milhões de euros dia
em 2007 e o que vimos esta semana no grande "Fórum da Banca"?
Os banqueiros
de braço dado com o presidente da entidade reguladora da actividade bancária -
o Banco de Portugal - a admitir não só a inevitabilidade do aumento dos custos
do crédito pela via do aumento das taxas de juro, mas também o aumento dos
spreads, ou seja da margem bruta do lucro dos bancos.
É o cartel a
funcionar não só com a conivência das autoridades de supervisão, mas também com
a complacência de um governo que poderia intervir na Caixa Geral de Depósitos,
mas que faz vista grossa ao assalto que se prepara à bolsa dos portugueses.
É a crise a
servir de pretexto para encher a bolsa aos mesmo de sempre, sob o olhar atento
e venerando do Estado dito regulador - dos lucros, naturalmente.
É por tudo
isto que os três anos de governo do PS têm sido anos
de acrescidas dificuldades e sacrifícios para a maioria dos portugueses e que
se acentuaram com o generalizado ataque ao património de direitos sociais dos
portugueses, nomeadamente nos domínios da educação e da segurança social, entre
outros.
Na
educação foi a prolongada ofensiva de matriz neoliberal contra a Escola Pública
de qualidade e inclusiva, contra a
profissão docente e os direitos dos professores e contra os princípios da autonomia e da gestão
democrática, insistindo numa estratégia de desresponsabilização do Estado nesta
área social fundamental e recuperando no essencial o projecto educativo da direita.
Ofensiva
que tem tido a resposta que conhecemos e que culminou no passado sábado na
Marcha da Indignação que juntou mais de 100.000 professores e educadores de todo
o país, incluindo da região autónoma da Madeira, que disseram muito claramente
que não aceitam um modelo de avaliação que mais não é do que uma barreira
administrativa à progressão na carreira.
Se o Governo
mantiver a mesma intransigência então o resultado será certamente uma grande
instabilidade nas escolas, com incidência particular no último período de aulas
com consequências negativas para os
alunos no processo ensino-aprendizagem.
É
por tudo isto que não há razões para
celebrar os anos de governo de José Sócrates, apenas razões para protestar e
lutar contra as suas políticas.
Razões acrescidas de
protesto e de luta quando se perspectiva, como pretende o governo do PS
concretizar, a breve prazo, a alteração para pior do Código de Trabalho.
Alteração que
irá agravar todos problemas com que o mundo do trabalho está já hoje
confrontado.
Todos os
dramas da precaridade, do desemprego, do trabalho sem direitos, conhecerão uma
nova e mais grave dimensão se governo conseguir concretizar o conjunto de
alterações que estão contidas no seu Livro Branco das Relações Laborais.
Neste tempo de
balanço aos três anos de governo é muito significativo que nenhum dos partidos
do "centrão" governativo se digne fazer
uma só referência ao brutal ataque que se prepara contra os direitos laborais
dos trabalhadores.
O mesmo
acontece com Alberto João Jardim sempre
tão lesto no comentário a certas medidas do governo da República, mas tão
silencioso e distraído quando se trata de medidas que visam acentuar a
exploração dos trabalhadores.
As
propostas de alteração do Código de Trabalho que estão em cima da mesa são
soluções inaceitáveis e de retrocesso social que vão destruir direitos
fundamentais dos trabalhadores.
Propostas
para facilitar e tornar mais baratos os despedimentos individuais sem justa
causa, para desregulamentar ainda mais
os horários de trabalho.
Propostas
de destruição da contratação colectiva, eliminando direitos por caducidade
forçada das convenções e de novas limitações e entraves ao exercício dos
direitos de reunião e de actividade sindical nas empresas para enfraquecer a
capacidade reivindicativa dos sindicatos.
Propostas
que têm a marca da injustiça e da desigualdade e que vão promover o livre
arbítrio patronal e degradar ainda mais
o mercado de trabalho com a imposição da lei do mais forte.
É perante estas propostas que atingem
todos os trabalhadores que o Comité
Central do nosso Partido decidiu na sua última reunião lançar a partir do mês de Março uma forte
acção denúncia dos propósitos do governo do PS,
integrada na campanha - «Basta de Injustiças! Mudar de política para uma
vida melhor».
Campanha que contará, estamos certos, com
o empenhamento militante de todos os comunistas e organizações.
As propostas do governo de alteração do
Código de Trabalho exigem a luta firme e decidida dos trabalhadores!
(...)
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