Dentro de poucos dias
vai ser comemorado o 20º Aniversário das primeiras eleições
para o poder local realizadas em liberdade depois do 25 de Abril.
São 20 anos de obra gigantesca, para a qual contribuiu poderosamente
a luta e do PCP, da CDU e das outras coligações a que pertenceu.
Já antes as comissões administrativas realizaram uma obra muito
importante, claramente ligada a uma larga intervenção popular.
A própria actividade de eleitos de outros partidos foi
influenciada pelas experiências e realizações dos eleitos
comunistas e dos seus aliados.
Ao longo dos anos o Poder Local viu melhorado o seu estatuto
legal e financeiro através de grandes lutas. Mas também foram
constantes os ataques com vista a sobrecarregá-lo com encargos,
asfixiá-lo financeiramente e estrangular a sua autonomia. Houve
batalhas ganhas, houve batalhas perdidas, mas o fundamental
resistiu. Mas há grandes lutas em perspectiva, em matérias como
a regionalização democrática, o estatuto das autarquias e a
forma de eleição das câmaras e o regime de finanças locais.
Nas novas condições criadas, as eleições autárquicas a
realizar no segundo semestre de 1997 constituem uma batalha de
grande importância, quer para prosseguir a obra no poder local,
quer pela influência política geral dos resultados eleitorais
É uma batalha que vai empenhar totalmente os outros partidos e
os poderosos meios de que dispõem.
É óbvio que o PCP e a CDU vão disputar as próximas
eleições autárquicas num quadro difícil. É o caso da
constante discriminação do PCP e da diferença de recursos
financeiros dos partidos nas campanhas (por exemplo, enquanto a
CDU gastou 180 mil contos nas últimas legislativas, as despesas
declaradas oficialmente pelo PSD e pelo PS foram respectivamente
de 832 e 540 mil contos).
Por outro lado, já começou a manipulação do aparelho de
Estado pelo PS, desde os membros do governo até figuras que
deveriam estar em vias de extinção como é o caso dos
governadores civis, tudo num quadro de arrogância e
agressividade. A declaração do Governador Civil de Setúbal, no
edifício do próprio Governo Civil, segundo a qual o seu
objectivo seria ganhar todas as câmaras do distrito é um
exemplo desta situação (actualmente dos 13 municípios do
distrito 12 têm maioria da CDU). Os sacos azuis da proposta de
Lei do Orçamento de Estado são outro bom exemplo. Por sua vez,
o PSD prepara um grande investimento político e financeiro, que
pretende transformar em vingança da derrota sofrida em 1 de
Outubro e num passo para o Governo do país e numerosas
autarquias que perdeu em 1993.
Nestas condições, o PCP não poderia deixar de prestar uma
grande atenção a esta batalha política. Além do mais, está
em causa a possibilidade de prosseguir uma importante obra em
numerosas autarquias e intervir em minoria com uma actividade que
se tem revelado importante para as populações e para o combate
a irregularidades.
Os objectivos eleitorais, definidos na proposta de resolução
apresentada ao Congresso do PCP, serão: apresentar candidaturas
a todos os órgãos municipais e ao maior número possível de
freguesias; confirmar e reforçar as posições do PCP e da CDU
nos municípios e freguesias onde são maioritários; conquistar
a presidência em novos municípios e freguesias; ampliar as
posições que detêm em minoria e obter mandatos em autarquias onde
hoje não dispõem deles.
A concepção destas eleições como batalha de todo o Partido
envolve medidas especificamente eleitorais, como medidas de
direcção, quadros, planificação, envolvimento de
organização partidária, bem como o prosseguimento do trabalho
ao nível das autarquias e a sua correspondente valorização.
A afirmação da CDU como espaço democrático de
intervenção e participação, aberto à contribuição de
milhares de cidadãos independentes, disponíveis para trabalhar
no interesse das populações e das respectivas freguesias, vilas
e cidades, constitui um objectivo da maior actualidade. Assim,
importa que, para além da ID e do PEV, continuem a encontrar
lugar nela independentes dispostos a contribuir para o progresso
e para a gestão democrática e participada das autarquias. A do actual
governo do PS abrirá certamente um campo de aproximação de numerosos
democratas. Por isso, importa assegurar o trabalho de dinamização
e alargamento de apoios à CDU e o lançamento a prazo de um amplo
movimento de juventude CDU.
Esta é uma via que deve ser claramente preferida a outra que
a revisão da Constituição e a legislação já aprovada na
generalidade poderá abrir, como a possibilidade de os Grupos de
Cidadãos Eleitores concorrerem às eleições municipais. A
experiência existente com listas deste tipo para freguesias
mostrou, regra geral, que este não foi um caminho eficaz, em muitos
casos, para desenvolver a influência e o trabalho do PCP nas autarquias.
O PCP prepara-se, como regra, para concorrer em todo o país
no quadro da CDU. A única excepção deverá ser o concelho de
Lisboa, onde será certamente assegurada a continuidade da
positiva experiência das coligações «Por Lisboa» e «Com
Lisboa», na qual o PCP intervém com a sua identidade própria,
com um largo trabalho e uma importante ligação às populações.
Os importantes pelouros dos cinco vereadores da CDU, o trabalho
da Assembleia Municipal e das 52 das 53 freguesias em que a coligação
é maioritária, bem como o conjunto da obra da coligação, deverão
ser prosseguidas, em vez de entregar a cidade a uma gestão ruinosa
e ao serviço do capital finandeiro e imobiliário, que deixaria traços
que seriam difíceis de apagar.
No âmbito da actividade de preparação das próximas
eleições, merece particular atenção a elaboração das listas
procurando garantir uma renovação com quadros prestigiados.
Haverá também que aproveitar o prestígio e experiência de
eleitos que continuam a ter uma importante contribuição a dar,
preparando ao mesmo tempo o futuro. Há ainda que iniciar o
debate com vista à elaboração dos programas para o próximo mandato,
tendo em conta os novos problemas que estão colocados às autarquias
e procurando a mais larga participação possível. Nestes programas
teremos que conjugar a intervenção nos campos tradicionais com
novas questões e problemas que se colocam ao Poder Local.
Importa conjugar a valorização do trabalho dos eleitos e das
autarquias de maioria CDU com a abertura à crítica com vista à
permanente melhoria. É da maior importância também valorizar a
intervenção em minoria. Só a atenção à opinião de cada um
com vista à melhoria do trabalho de todos pode permitir corrigir
os defeitos e prosseguir e melhorar a obra realizada, na base da
honestidade, do trabalho e da competência.
A luta geral do Partido, a obra realizada e a afirmação do
projecto CDU constituem argumentos que permitem enfrentar as
eleições, com consciência das dificuldades, mas também das
possibilidades de as ultrapassar com êxito.
A obra realizada, o projecto autárquico do PCP, o prestígio
conquistado, a identificação com as aspirações populares,
tornam possível a realização destes objectivos. Muito irá
depender de circunstâncias objectivas. Mas irá depender também
do empenhamento dos militantes do Partido e activistas da CDU.