Inicio
Intervenções e Artigos
Posições Políticas sobre IVG
PCP na AR sobre IVG
Tempos de Antena do PCP
Fotos da Campanha
Apelo do Comité Central do PCP
Questões Legais sobre Referendo
 Folheto IVG -2ª Fase
Folheto em PDF
Depoimentos em video



Início arrow Posições Políticas sobre IVG
Reunião do Grupo Confederal
Intervenção de Carlos Carvalhas,
Quarta, 08 Março 2000

(...)

Em nome do PCP, queria saudar-vos e desejar-vos um bom trabalho na reflexão comum e no aprofundamento dos temas, que fazem parte da ordem de trabalhos desta reunião do Grupo Confederal da Esquerda Unitária em Lisboa.

Realizando-se esta reunião neste dia 8 de Março, permitam-me que saúde de uma forma muito especial as mulheres aqui presentes e por seu intermédio as mulheres dos nossos respectivos países e a sua luta, que também é a nossa, contra as discriminações pela intervenção em igualdade.

Em Portugal, como na generalidade dos países da União Europeia, o que falta não é tanto o aperfeiçoamento da legislação existente ou a aprovação de tal ou tal nova lei, mas o cumprimento do acervo legislativo existente e uma política de efectiva justiça social.

Por isso mesmo, o PCP lançou há dias uma campanha pela "Tolerância Zero", que teve felizmente, boa cobertura nos órgãos da comunicação social, em relação ao incumprimento da legislação que visa promover a igualdade, campanha esta, que vai ser precedida pela distribuição de um documento específico em empresas com elevada mão de obra feminina, de várias iniciativas em relação à Inspecção Geral do Trabalho e com a apresentação de alguns projectos de lei na Assembleia da República. O nosso objectivo é o de reforçar direitos, dar a conhecê-los e travar um combate para que eles sejam exercidos na sociedade.

Temos também desafiado o Governo para que neste dia 8 de Março, dê o exemplo e que avance com uma campanha de "Tolerância Zero" e não se limite à retórica do costume e às palavras de circunstância que ficam sempre bem na celebração da efeméride. Até agora tanto a Ministra para a Igualdade como o Governo têm-se remetido a um prudente e significativo silêncio. É tempo de a Ministra sair do seu casulo e juntar-se a nós nesta campanha.

Como temos reafirmado, as mulheres não querem ver adiadas por mais tempo as medidas que ponham fim às discriminações, às desigualdades e à violência e há muito que reclamam o cumprimento e a fiscalização das leis que consagram os seus direitos.

Para nós a igualdade de oportunidades passa pelo pleno exercício do direito ao trabalho com direitos, com salário igual, pela formação e promoção profissionais, pelo efectivo cumprimento das leis que apoiam e reconhecem a função social da maternidade/paternidade, que assegurem o planeamento familiar e a educação sexual, que impeçam a utilização de imagens discriminatórias e ofensivas das mulheres, designadamente em matéria de publicidade e que combatam a violência.

Mas não haverá correspondência entre as boas palavras, a retórica de circunstância e a prática, quando as medidas de político colocam o lucro à frente do ser humano, quando se concentra a riqueza e se acentuam as desigualdades, quando o direito é letra morta é a igualdade apenas formal.

Pertencemos a uma União Europeia rica, que conta no seu seio com milhões de desempregados, milhões de pobres e com cada vez mais trabalhadoras e trabalhadores com um emprego precário, incerto, com direitos limitados e mal pago. Isto é uma vergonha para todos nós, uma vergonha para a Comissão e o Conselho da União Europeia e é neste caldo de cultura que medram os racismos, as xenofobias, os populismos e os ascensos da extrema direita. E as baixas de desemprego não podem ser obtidas através da precaridade, dos falsos empregos ou através das estatísticas criativas. O pleno emprego a sério é possível.

Em Portugal as mulheres constituem 63% dos trabalhadores que recebem o salário mínimo nacional, 60% dos trabalhadores não qualificados e 52,2 % dos trabalhadores com contrato precário e são ainda discriminados no salário.

O seu salário está 27 contos abaixo da média. Esta situação bem como o emprego sem direitos, o trabalho clandestino, à peça ou o incumprimento geral da legislação não é uma fatalidades. Como não é também uma fatalidade, a baixa participação da mulher na vida política.

Como é sabido o PCP e a CDU tanto nas eleições para o Parlamento Europeu, como nas eleições legislativas ultrapassou a percentagem das quotas que o Governo acenou às mulheres e na Assembleia da República conta também com a mais elevada percentagem de deputadas.

Há a questão das mentalidades, mas há também a atitude dos partidos e sua pedagogia, persistência ou hipocrisia e também a questão das políticas a nível governamental que contribuem para a sua alteração.

Por isso nós exigimos e lutamos por uma outra política que acabe com os privilégios à banca, que realize a reforma do sistema fiscal, que defenda e valorize a produção nacional, que avance com a redução do horário de trabalho e com melhores salários; uma política que promova o emprego com direitos e a formação profissional e a igualdade na progressão nas carreiras profissionais; uma política em que o Estado não se desresponsabilize das suas funções na saúde, no ensino, na habitação escolar e muito especialmente no pré-escolar.

Pela nossa parte continuamos empenhadamente o combate contra as discriminações, por melhores salários e pelo emprego com direitos, pela aplicação da lei que proteja as mulheres vítimas da violência e na aprovação do projecto de lei do PCP que prevê a passagem da violência doméstica a crime público; na reposição da idade da reforma das mulheres para os 62 anos, na intensificação de acções de informação sobre os direitos e na pedagogia pela igualdade.

É tempo de os governos passarem das palavras aos actos, da retórica à prática.

Por isso, pela nossa parte exigimos à Presidência Portuguesa da UE, não o ritual das visitas diplomáticas às diversas capitais europeias, não os retratos de família e o folclore das Conferências de Imprensa, não os planos sem conteúdo, não os discursos de belas palavras que servem para embalar belas promessas; mas sim, propostas concretas e medidas concretas e calendarizadas, que dêem corpo efectivo à criação de emprego com direitos, à justiça e à protecção social, que promovam a igualdade e o bem-estar das populações. (...)

Por último duas breves palavras: a primeira para sublinhar o papel atento e atempado do nosso Grupo na desencadeamento de iniciativas políticas visando o apoio às últimas cheias em Moçambique; a segunda para vos pedir que continuem a exigir que esse apoio continue e se intensifique.

O povo de Moçambique precisa dessa ajuda, precisa de recursos financeiros e de meios que como é sabido não faltam quando se trata de actos bélicos ou das chamadas intervenções militares humanitárias. (...)

 

Jornal «Avante!»
«O Militante»
Edições «Avante!»
Comunic, a rádio do PCP na Internet