Jerónimo de Sousa evocou em Baleizão a memória de Catarina Eufémia e homenageou também todas as gerações de homens e mulheres do Alentejo que lutaram pelo pão e pela liberdade, chamando ainda a atenção para o ataque aos direitos de quem trabalha e para a situação dos reformados e dos trabalhadores, cujos baixos salários são duplamente penalizados por grande parte dos seus rendimentos serem gastos na alimentação e na casa, onde os exagerados aumentos destes últimos tempos pesam mais.
Excertos da intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP
na Homenagem a Catarina Eufémia
(...)
Homenageamos Catarina Eufémia, mulher de coragem, lutadora, comunista
que tombou assassinada pelos esbirros convocados por um agrário mas a mando da
ditadura fascista.
Há quem
afirme que é uma evocação deslocada no tempo e que não se justifica. E, no
entanto, esta homenagem sentida é não só justa como actual.
Porque
honramos e não esquecemos os nossos lutadores que tombaram no combate contra o
fascismo. Porque, num tempo em que se quer reescrever a história, branquear o
regime fascista e usurpar a memória, evocar Catarina Eufémia é evocar a luta do
PCP que lutou todo o tempo que foi preciso para derrotar a iníqua ditadura e
alcançar a liberdade e a democracia até chegar a revolução vitoriosa do 25 de
Abril.
Catarina
Eufémia tombou quando lutava por melhores salários à frente das operárias
agrícolas baleisoeiras. O seu exemplo deu força a milhares de operários
agrícolas que nos campos do Alentejo e Ribatejo arrancaram a pulso a jornada
das 40 horas arrostando com a violenta repressão do regime fascista.
Na cintura
industrial de Lisboa e Setúbal, e em vários pontos do país, a classe operária,
num poderoso movimento grevista e reivindicativo, conquistava o direito à
contratação colectiva.
Direitos
que a Revolução de Abril consagrou e alargou à saúde, à segurança social, à
proibição dos despedimentos sem justa causa.
Sabíamos e
sabemos que os direitos e conquistas não são perenes nem adquiridos para todo o
sempre, na medida em que as classes dominantes, o capital, nunca se conforma
com as parcelas do domínio perdido.
E, eis que,
pela mão de um governo do PS, em nome da competitividade e da modernidade,
submetendo-se ao poder económico, propõe-se eliminar precisamente o direito a
melhores salários, à jornada de trabalho contratualizada, à contratação
colectiva, a proibição dos despedimentos sem justa causa.
"Moderno"
dizem eles! Quando afinal o que propõem é o velho e recorrente caderno de
encargos do grande patronato, visando aumentar a exploração dos trabalhadores,
embaratecer a mão de obra e amassar mais lucro ao lucro.
O que
propõem é rasgar mais uma página da Constituição que de forma inequívoca fez a
opção de estar do lado dos direitos dos trabalhadores e não dos interesses e da
ganância do poder económico.
No
permanente e sempre actual confronto de classes nós sabemos que foi pela luta
que os direitos foram conquistados. É pela luta que eles podem ser defendidos e
consolidados.
É daqui
desta tribuna, desta terra de Catarina, que apelo à participação na
manifestação do dia 5 de Junho, convocada e organizada pela Central Sindical
dos trabalhadores portugueses, a CGTP - Intersindical Nacional.
Nestes
tempos em que a ofensiva fustiga duramente os trabalhadores, os reformados, a
juventude, as classes e camadas não monopolistas, tempo de desemprego, de
injustiças e desigualdades, evoquemos o exemplo de Catarina, lembremos esses
milhares de operários agrícolas alentejanos que lutaram incansavelmente, por
vezes sacrificando a vida, quantas vezes interrogando-se se valia a pena travar
o combate.
Sabemos que
valeu a pena! Sabemos que vale a pena!
Que melhor
homenagem podemos fazer a Catarina Eufémia que prosseguir com determinação,
esperança e confiança essa mesma luta que, incorporando o objectivo de uma vida
melhor, são passos na caminhada para derrotar esta política de retrocesso e
encetar um outro rumo na vida política nacional que conte com os trabalhadores,
conte com o PCP.
(...)
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