Quando, depois de
receberem milhões de contos de fundos públicos, a Grundig
pretende despedir 700 trabalhadores, a Riopele 94, a Renault 110 e
o Grupo de Jardim Gonçalves 2 mil!
Quando, para o desendividamento de milhares de explorações
agrícolas, há 500 mil contos e para meia dúzia de
latifundiários 60 milhões de contos!
Quando empresas públicas rentáveis, contribuintes líquidas
dos cofres do Estado, são privatizadas e cada privatização é
uma operação sob suspeita!
Quando o aclamado espírito empresarial e a livre iniciativa
privada são graúdos e chorudos subsídios do tal Estado que
não devia intervir na economia: 332 milhões de contos do
primeiro PEDIP, mais 300 milhões de contos de isenções
fiscais, só em dois orçamentos PS, mais uns milhões para a
internacionalização das empresas, mais …!
Quando, mesmo os capitalistas estrangeiros, os tais que
moldados pelo espírito da Reforma protestante, gostam do risco,
não arriscam, a não ser quando o Estado disponibiliza gordas
maquias: Auto Europa, 100 milhões; Siemens, 44 milhões; General
Motors, 16,3 milhões; Texas Samsung, 8 milhões; etc., etc....!
Quando se fazem orçamentos de «rigor com consciência
social» e o primeiro-ministro clama pela «moderação
salarial» e dá mais uns tostões aos reformados, enquanto em
1995 os lucros da banca cresceram 15% e os lucros das empresas
não bancárias cotadas na Bolsa de Lisboa progrediram 64%!
Quando negócios e política estabelecem ligações escusas e
promíscuas, como a divulgada relação entre 100, actuais ou
antigos, ministros, secretários de Estado, deputados e outros
ocupantes das cadeiras do poder, do PS, PSD e CDS, e cargos nos
conselhos de administração e funções de consultadoria dos
principais grupos e empresas.
Quando, como diz alguém da insuspeita Universidade Católica,
os capitais portugueses «votam pelo menos de três maneiras.
Votam nas urnas (...). Votam quando financiam os partidos
políticos. E votam quando, usando mecanismos de porta
giratória, admitem como quadros ou contratam como consultores
ex-governantes, nas empresas que compraram» nas privatizações!
Quando tudo isto aconteceu e acontece, então camaradas,
podemos afirmar que estamos no reino do rei capital, onde manda a
taxa de lucro e a rentabilidade financeira. Para maior glória e
proventos da grande burguesia e da oligarquia financeira.
A este reino do grande capital chamamos nas Teses Capitalismo Monopolista
de Estado.
Uma rede socioeconómica complexa, onde todas as instâncias
convergem nos objectivos da maximização da taxa de lucro. Rede
que anima uma dinâmica implacável de centralização e
concentração do capital. Dinâmica apenas perturbada pela
resistência das classes exploradas. Rede em que o Estado
financia, legisla, reprime, governa, ao serviço dessa
centralização e concentração de capitais.
Houve camaradas que questionaram a utilização do conceito
Capitalismo Monopolista de Estado. Com a consideração do
conceito não se adequar, a Estados, espaços e grupos
económicos que se «transnacionalizaram». Argumento para se
avançar no estudo sobre o que é o capitalismo hoje em Portugal.
É para pôr o telhado e fazer os acabamentos no edifício do
Capitalismo Monopolista de Estado construído pelo cavaquismo
(mas para o qual já o PS tinha aberto os alicerces em 1976 e
oferecido cimento com as revisões da Constituição) que o
Governo PS fala de reformas estruturais.
É com um espírito de bom discípulo do neoliberalismo que
António Guterres avança com as suas reformas.
As privatizações em que a dimensão do crime
económico só tem paralelo no tamanho da mentira dos prejuízos
causados pelas nacionalizações. Balanço oficial dos custos das
nacionalizações: 900 milhões de contos. Inferior ao valor da
EDP avaliada em 1400 milhões contos!
O desenvolvimento de grupos económicos monopolistas na
voz do sr. primeiro-ministro «os elementos racionalizadores das
transformações económicas do País. (Mas que grande
racionalizador eu sou, grita Champalimaud: 17 milhões ontem na
privatização da Mundial Confiança, menos 17 milhões hoje,
oferta da Cimpor e do BPSM, igual a ZERO!
Uma economia aberta e todo o gás às exportações, o
que significa prosseguir a destruição do tecido produtivo e a
interdição da autocentragem do crescimento económico no País.
A privatização das funções sociais do Estado
abrindo espaço para que o grande capital transforme esses
serviços essenciais em novas fontes de lucro.
A reforma da legislação laboral, destinada a eliminar
a rigidez excessiva (dizem eles) do mercado da força de
trabalho.
A União Económica e Monetária e a Moeda Única, que
vai significar a continuação do encerramento de empresas e
perda de postos de trabalho, a contenção salarial, a redução
das verbas para o social.
A reforma do sistema político e a concertação
estratégica. A reforma do sistema eleitoral que
institucionalize uma bipolarização partidária que permita um
sono sossegado ao grande capital. «Concertação estratégica» para
garantir lutas de classe «domesticadas».
Esta política desindustrializou e desindustrializa o País,
faz e fez falir milhares de pequenas e médias empresas,
precipitou a agricultura numa das suas maiores crises de sempre,
liquidou praticamente o sector das pescas.
Esta política agravou vulnerabilidades e défices,
agroalimentar, tecnológico, energético. Agudizou a dependência
e periferização da economia portuguesa. 38% das 500 maiores
empresas industriais portuguesas são controladas por capitais
estrangeiros. A finança estrangeira domina 36% do capital da
banca portuguesa.
O grande capital procura convencer-nos que a situação
económica do País é assim, e que não pode ser de outro modo.
Duas teses centrais são desenvolvidas:
A «expulsão» do social da economia, com a concomitante
«naturalização» desta.
A tese da «unicidade estratégica» ou da imperativa ditadura
dos mercados financeiros internacionais!
E as duas expulsam logicamente a política e dispensam a
democracia.
Na primeira tese procura inculcar-se a ideia de que não há
nada a fazer com o «sistema económico». Ele existe para
produzir lucros e acumular capital. Essas questões do
desemprego, da segurança e saúde, são problemas sociais que
têm resposta ao nível da «medicina» social: salários
mínimos, sopa dos pobres, bancos alimentares, mercado social de emprego...
O social é a ambulância que se envia aos mortos e feridos da competitividade.
Sobre a outra tese temos a versão do Presidente do Grupo
Parlamentar CDU no Bundestag: «A política deve ser orientada em
função da realidade supranacional. As expectativas dos mercados
financeiros internacionais são uma expressão dessa realidade». Logo:
a política deve ser orientada em função das expectativas dos
mercados financeiros internacionais e não das expectativas dos
cidadãos!
Ou, como diz o ex-ministro das Finanças do Bloco Central:
«Não está em causa o princípio democrático da escolha dos
governantes: cada eleitorado continua a ser livre para escolher
quem ocupa o poder». Mas «O exercício da soberania deixou de
ser um produto da vontade política (...)». Isto é, o eleitorado
escolhe quem ocupa o poder, os mercados financeiros ditam o que
faz o poder!
Se conjugarmos estas duas teses com as consequências da UEM,
em que Portugal transfere a sua soberania orçamental, fiscal, e
a própria política salarial, para o Banco Central Europeu,
resta perguntar, o que fica para o Governo?
Não há soluções que respondam aos inalienáveis direitos
das velhas, novas e futuras gerações de portugueses
compatíveis com o actual sistema socioeconómico. Sistema que
fará crescer a ideia de que ele é, o único sistema possível.
Que sempre armadilhará ideologicamente as forças sociais e
políticas de esquerda, colocando-as entre o presente que ele representa
e o caos.
Nós, comunistas, começamos por repudiar tal dilema.
No quadro da Democracia Avançada é possível um
desenvolvimento económico assente numa economia mista, moderna e
dinâmica, ao serviço do povo e do País.
E dizemos que não só é possível como necessário,
inadiável, caminhar nessa direcção.
Com um Estado que não renuncia ao seu poder de intervenção
na direcção e regulação do sistema económico.
Com um «mercado», lugar de circulação de mercadorias e
capitais, mas não dispondo do papel de regulador exclusivo da
actividade económica.
Com um forte crescimento económico, o que exige uma ruptura
com as orientações de Maastricht e dos mercados financeiros.
Propomos uma nova política económica:
- onde o emprego e o progresso social sejam os objectivos
do desenvolvimento;
- onde seja primeira prioridade a defesa do sistema
produtivo;
- onde o sector empresarial e os grandes serviços
públicos sejam colocados ao serviço dos portugueses;
- onde se busque o crescimento harmonioso com a
correcção dos desequilíbrios regionais e a defesa do
ambiente.