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O PCP
condena «as políticas de desmantelamento do sector eléctrico nacional, desde o
desmembramento e privatização da EDP até à liberalização do mercado da energia.
Têm sido mais de 20 anos com os sucessivos governos a afirmar e priorizar uma
política energética neoliberal, de subordinação à ordem europeia, com profunda
subestimação e subalternização dos interesses nacionais e da economia
portuguesa. Em nota do seu Gabinete de Imprensa, o PCP sublinha que «apoiará
uma linha de resistência à ofensiva em curso, onde se inscreve esta
liberalização do sector eléctrico, estará com os trabalhadores na defesa dos
seus direitos e postos de trabalho e apelará ao povo português para engrossar o
caudal de exigência que leve à construção de uma alternativa política e de
políticas alternativas para o sector eléctrico em Portugal».
1. O Partido Comunista Português tem condenado as políticas de
desmantelamento do sector eléctrico nacional, desde o desmembramento e
privatização da EDP até à liberalização do mercado da energia.
Têm sido mais de 20 anos com os sucessivos governos a afirmar e
priorizar uma política energética neoliberal, de subordinação à ordem
europeia, com profunda subestimação e subalternização dos interesses
nacionais e da economia portuguesa.
Uma tal política tem impedido um necessário e sério planeamento
estratégico ao serviço da economia nacional e do País e, ao contrário,
tem permitido que as empresas do sector energético se orientem e
desenvolvam prioridades e interesses de acordo com o grande capital
financeiro nacional e internacional.
2. Com uma tal política perdem todos: o povo, os consumidores, os
trabalhadores do sector, a economia nacional e, em particular, as
micro, pequenas e médias empresas e os sectores produtivos.
Com as privatizações e trocas de participações o Estado vem perdendo
capacidade de influenciar favoravelmente os interesses e a economia
nacionais, e progressivamente verifica-se uma baixa acentuada na
qualidade dos serviços prestados aos consumidores (as interrupções são
frequentes e as reposições cada vez mais demoradas).
As tarifas, particularmente as relacionadas com os consumidores
domésticos (cerca de 5 milhões e 800 mil) são já bastante elevadas,
suportando os custos das quatro reestruturações da EDP (milhares de
despedimentos encapotados), das indemnizações pela extinção dos Centros
de Aquisição de Energia (CAE), das rendas aos municípios pela concessão
da exploração, da remuneração dos terrenos dos centros produtores, dos
incentivos à produção de energias renováveis, da compra de licenças de
CO2 (Protocolo de Quioto). E, fundamentalmente, os elevadíssimos
dividendos que vêm sendo distribuídos aos accionistas da EDP. Só uma
política de vincado interesse nacional deverá contrariar as exigências
de um maior aumento.
Tudo isto são consequências dos processos de privatização e
liberalização, que culminaram agora em Agosto, com o anúncio da data do
início do mercado liberalizado para consumidores domésticos a 4 de
Setembro.
3. As empresas que se perfilam para concorrer neste novo espaço
económico, a Sodesa (Endesa/Sonae), a Iberdrola, a Union Fenosa e a
italiana Enel – assim acabando o monopólio (público) da EDP –, aguardam
que a entidade reguladora (ERSE) crie condições que favoreçam as suas
estratégias, nomeadamente determinando um forte aumento dos preços nas
tarifas da electricidade para os próximos anos. O que desmontará todas
as afirmações governamentais de que o MIBEL (Mercado Ibérico de Energia
Eléctrica) e a liberalização do mercado da energia trariam a redução
dos respectivos preços. Tem sido referido, sem desmentido oficial, um
aumento das tarifas domésticas entre 15% e 17% para 2007!
É inaceitável que seja o povo português a pagar os custos desta
política desastrosa para a economia nacional. A aparente vantagem de
qualquer consumidor poder escolher um fornecedor diferente
(«comercializador») terá como contrapartida um forte aumento do preço
da energia eléctrica.
4. Os preços das tarifas aumentam… e os lucros da EDP, depois de
grandes lucros em anos anteriores, foram os mais elevados de sempre no
ano de 2005 (1 073 milhões de euros), confirmando-se no 1º trimestre de
2006 essa tendência. A EDP, e outras grandes empresas fornecedoras de
bens essenciais, acompanham assim os grandes lucros da banca
portuguesa, dando uma forte contribuição para o agravamento das
condições de vida do povo e o alargamento do fosso entre ricos e pobres.
5. A rede continua em degradação acelerada; não se vislumbram
investimentos que retirem as preocupações sobre a sua eficácia. Fácil
se torna admitir que um maior e mais profundo número de avarias se
verificará; os «apagões» serão cada vez mais «naturais».
6. A redução de trabalhadores é quase uma obsessão. As relações
laborais na EDP deterioram-se quer ao nível das condições de trabalho,
onde o aumento exagerado dos ritmos de trabalho coloca muitas vezes em
causa a segurança pessoal e dos equipamentos, quer ao nível do ataque
aos direitos laborais consagrados na contratação colectiva, quer na
continuada perda do poder de compra. De 1988 a 2003 foram eliminados 14
mil postos de trabalho, e neste mesmo período a percentagem entre os
custos de pessoal e o total dos custos baixou de 13,9% para 8,4%.
7. As experiências em países da União Europeia em matéria de
liberalização do mercado da energia são elucidativas. Na verdade, ao
fim de alguns anos de mercado liberalizado, os resultados ficaram aquém
das expectativas criadas para «vender» a liberalização. Por um lado não
é significativo o aumento de consumidores que mudaram de empresa
fornecedora de energia, e por outro houve concentração de empresas de
energia, reduzindo a concorrência no sector, contrariando o que diziam
ser os objectivos da liberalização. Isto é, continuaram a haver
empresas monopolistas, só que em vez de monopólios públicos
responsabilizados perante o Estado e os cidadãos, temos hoje monopólios
privados ao serviço dos lucros do grande capital. Mas o mais
significativo é que os preços começaram a subir de forma desenfreada,
tendo havido na Inglaterra, para os consumidores domésticos, aumentos
nas tarifas na ordem dos 40%.
8. O Partido Comunista Português continuará a sua luta por caminhos alternativos a esta liberalizante política energética.
O PCP considera a energia um factor de produção central da vida do
País, incompatível com uma política energética que mais parece um
pacote de negócios e investimentos privados avulsos. Considera a
energia um bem público essencial e estratégico. O que exige,
nomeadamente, o comando público da política energética, a defesa de
fortes posições do Estado nas principais empresas energéticas e o
relançamento e actualização do Plano Energético Nacional.
9. O PCP está contra os processos de privatização anunciados, apoiará
uma linha de resistência à ofensiva em curso, onde se inscreve esta
liberalização do sector eléctrico, estará com os trabalhadores na
defesa dos seus direitos e postos de trabalho e apelará ao povo
português para engrossar o caudal de exigência que leve à construção de
uma alternativa política e de políticas alternativas para o sector
eléctrico em Portugal.
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