Na proposta de
resolução política em debate no XV Congresso, muitas são as
referências ao papel do nosso Partido na sociedade portuguesa e
à intervenção dos comunistas, mas há uma que percorre todo o
documento e que expressa bem a importância do nosso Partido para
os trabalhadores, para a democracia, para o povo português e
para Portugal.
É a afirmação de que o nosso Partido não só é um Partido
necessário como insubstituível.
No momento em que se desenvolvem teorias que proclamam o fim
das ideologias, que anunciam a morte do comunismo e que, no
contexto actual, não se justifica a existência de partidos
comunistas e que não faz sentido lutar pelo ideal de construir
uma sociedade mais justa e mais fraterna. No momento em que
alguns afirmam não haver alternativa ao capitalismo, nós comunistas
portugueses apresentamo-nos aqui no XV Congresso, reafirmando a
nossa identidade de comunistas, determinados em lutar pelo objectivo
do socialismo, confirmando a nossa natureza de classe, como Partido
da classe operária e de todos os trabalhadores e com uma ideologia
que desenvolvemos sem dogmas e de forma criativa, o marxismo-leninismo.
Somos um Partido que não capitulou perante as dificuldades,
que não se tornou inofensivo e dócil aos interesses do grande
capital como alguns desejariam e, mais do que nunca, estamos
determinados a lutar pelos nossos objectivos.
Mas camaradas, não basta afirmarmos o papel insubstituível
do nosso Partido. O quadro actual em que se trava a luta
política exige um PCP mais forte e mais interveniente.
O estudo do último balanço da situação orgânica do
Partido, realizado em Maio de 1996, apesar de se manterem
condições objectivas desfavoráveis diz-nos que o Partido soube
responder com determinação aos desafios colocados. É verdade
que com diferenças de região para região e de sector para
sector mas, globalmente, o balanço diz-nos que se fez um grande esforço
para concretizar as orientações do XIV Congresso e que a partir
de 1994 se verificou uma travagem na evolução negativa do
quadro orgânico, havendo mesmo algumas organizações regionais
que mostraram tendências de subida em alguns indicadores.
Relativamente ao número de membros do Partido que desceu
entre o XII Congresso e finais de 1994, está agora em fase de
estabilização, para o que tem contribuído muito o recrutamento
que se tem realizado nos últimos anos, continuando a colocar-se
como um objectivo central o necessário recrutamento de novos
membros para o PCP e JCP. Os resultados obtidos no recrutamento
em 1995, a campanha nacional de adesões ao PCP e o número
significativo de adesões à JCP, demonstram as potencialidades existentes
e que esta tarefa deve continuar a ser uma das nossas principais preocupações
a partir deste Congresso.
A nossa resposta à intensa luta ideológica que hoje travamos
e à diferença de meios dos que nela intervém, está no
aprofundamento da estruturação da organização, na melhor
ligação aos militantes do Partido e destes à sociedade, no
alargar e rejuvenescer as fileiras do Partido, numa melhor preparação
política e ideológica dos quadros, no aumento e
diversificação da intervenção do Partido.
No XIV Congresso a primeira prioridade estabelecida para o
reforço orgânico do Partido foi a do trabalho junto da classe
operária e dos trabalhadores em geral. Esta prioridade foi
confirmada em Novembro de 1994 na Conferência Nacional. Para
nós esta prioridade não é um chavão. Resulta da natureza de
classe do nosso Partido e tem em conta que é nos locais de
trabalho, no interior das empresas que se confrontam em primeiro
lugar o trabalho e o capital e que o resultado desse confronto entre
estas duas classes antagónicas determinará a evolução da transformação
da sociedade.
Assim colocamos ao XV Congresso a proposta de travarmos em
todo o Partido a batalha do reforço e valorização de todos os
organismos de base, destacando as células de empresa e outros
locais de trabalho.
Hoje, nas empresas, os trabalhadores são alvo de uma violenta
ofensiva contra direitos sociais, políticos e sindicais,
generaliza-se a precariedade do emprego, promove-se o
individualismo e o egoísmo, intensifica-se a pressão e a
chantagem.
São problemas e dificuldades que aumentam com a saída de
milhares de trabalhadores das empresas mas que não saem do
mercado de trabalho, com a chegada tardia às empresas de jovens
trabalhadores, que nos obrigam a avançar com um conjunto de
medidas diversificadas de acordo com as condições concretas de
cada empresa ou local de trabalho. São medidas de direcção, de
renovação da organização, de inserção orgânica dos
militantes, na política de quadros e no trabalho de informação
e propaganda dirigida aos trabalhadores.
Uma outra direcção central para o reforço orgânico do
Partido é elevar a militância e valorizar o papel do militante,
integrando e valorizando os seus conhecimentos e capacidades
individuais no trabalho colectivo no Partido.
Muitos são hoje os factores que influenciam a vida dos
portugueses e naturalmente a dos membros do Partido, os quais
condicionam a actividade política e partidária de muitos
camaradas. É por isso necessário dialogar com cada um deles,
homens e mulheres com disponibilidades, capacidades e
motivações diferentes, procurando a tarefa e o espaço próprio
de intervenção. É nesta diversidade que encontraremos o
denominador comum e a força para a intervenção colectiva. Como
se diz no proposta de Resolução Política, o Partido começa,
prolonga-se e realiza-se pelo militante na sua intervenção
social e política, institucional e de massas.
Ao criarmos condições para uma efectiva participação dos
membros do Partido, estamos não só a elevar a militância, como
estamos a reforçar e a desenvolver a democracia interna,
importante vector do reforço orgânico do Partido.
Aos membros do Partido devem ser dadas condições para que a
sua intervenção seja um contributo não só para a definição
das orientações através da sua contribuição individual, mas
também para participar na escolha e eleição dos organismos de
direcção a todos os níveis. É com preocupação que se
continua a constatar que um número significativo de organizações
não realizam com regularidade as suas assembleias de organização,
impedindo desta forma o exercício da crítica e da autocrítica bem
como da eleição do respectivo organismo dirigente. De acordo
com a proposta de Resolução Política caberá ao novo Comité
Central decidir sobre um conjunto de medidas no quadro das normas
estatutárias que regularizem esta situação.
São ainda vectores para o desenvolvimento da organização do
Partido: desenvolver uma mais eficaz comunicação do Partido com
a sociedade, fortalecer a capacidade financeira do Partido,
assegurar e desenvolver a dimensão nacional do projecto do
Partido.
Hoje são evidentes desenvolvimentos negativos na actividade
política decorrente de fenómenos conhecidos de corrupção,
tráfico de influências, politica-espectáculo, que levam à
perda de prestígio desta actividade e de quem nela intervém,
generalizando-se a tendência para se considerar que todos são
iguais.
Neste contexto, a forma do exercício democrático do poder
pelos comunistas, não pode nem deve estar desligado da
identidade e natureza de classe do nosso Partido. Seja no
Partido, nas organizações sociais, nas instituições ou nos
órgãos de soberania, a intervenção dos membros do Partido
não pode estar desligada de critérios fundamentais como são:
estar sempre e em primeiro lugar ao serviço do povo e do país;
não ser beneficiado nem prejudicado financeiramente; articular a
defesa das orientações do Partido com o respeito pela autonomia
das instituições; desenvolver a sua actividade com humildade e
seriedade.
Em qualquer lugar, o membro do Partido deve ser um exemplo de
prestígio e seriedade, marcando desta forma a diferença que o
separa dos outros.