(...)
Há uma outra mistificação
que é de uma grande desonestidade intelectual e que é utilizada todos os dias
pelos protagonistas do «Não». É a tentativa de fazer crer que o «Sim» no
referendo, ou uma lei de despenalização ficariam responsáveis pelo que chamam
de “atentado e crime à vida”, que ficaria responsável pelo que chamam a
“eliminação do ser humano”
Mas não é verdade que o aborto
clandestino ou o desmancho, como se dizia antigamente, aí está na nossa
sociedade desde os tempos mais remotos e que não vai ser inventado por nenhuma
lei?
Não é verdade que uma lei
de despenalização não obrigará ninguém a abortar!
O «Não» o que diz no fundo,
é que se o aborto continuar a ser clandestino tudo bem, já não há “peso na
consciência”, já não há questões de vida, já não há problemas éticos.
(...)
É do mais elementar bom
senso perceber que será sempre um progresso a transferência para a esfera da
legalidade, da segurança e da assistência médica. E quando se fala nos direitos
da criança não se pode esquecer o direito a ser desejado no quadro de uma
maternidade consciente e responsável.
Alguns dizem que deve haver
penalização, mas as mulheres não devem ser presas, não se dando conta que tão
grave como a prisão é a humilhação de qualquer mulher que recorre ao aborto
clandestino estar sujeita a investigações, a ver devassada a sua vida
privada e a julgamentos tal como vimos
no passado recente. Outros defendem que a pena de prisão deve ser substituída
por serviço feito à comunidade. Sempre a culpabilização da mulher. É uma
posição cínica. A mulher expiava a sua culpa com um serviço à comunidade. A
culpabilização das mulheres que abortaram é inaceitável. É uma espécie de auto
de fé medieval sem fogueirinha! (...)
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