A toxicodependência,
os problemas da droga invadiram o nosso quotidiano e constituem
um autêntico flagelo em Portugal e no mundo.
No nosso país segundo várias estimativas e como refere a
proposta de Resolução Política, o número de toxicodependentes
atinge já os cento e vinte mil.
Proliferam os hipermercados da droga, cresce o tráfico e a
criminalidade que lhe está associada, as prisões enchem-se de
toxicodependentes, desenvolvem-se as doenças e sucedem-se as
mortes por causas ligadas à droga. É um problema dramático que
toca todo o país, das pequenas aldeias ás grandes cidades,
factor de degradação física, psíquica e moral de tantas
pessoas, particularmente jovens, causa de sofrimento de milhares de
famílias e motivo de preocupação para um número cada vez
maior de portugueses.
A toxicodependência tem causas complexas influenciadas, pelas fragilidades
do indivíduo, mas, acima de tudo pela relação deste com a sociedade,
constituindo assim um sintoma de profundos problemas sociais e
uma acusação indisfarçável a uma sociedade cada vez mais desumanizada
e que tudo sacrifica à cega lógica do lucro.
Mas, as proporções que atingiu a toxicodependência são
também uma acusação à organização social que tolera o
colossal negócio da droga (seja este ilegal ou legal), que é no
mundo do fim do século XX uma fonte inesgotável de lucro que
faz deste sórdido comércio, baseado numa dependência brutal
que se desenvolve à custa da degradação da saúde e da vida de
milhões de seres humanos, o maior ou um dos maiores negócios do planeta,
envolvendo quantias calculadas em mais de cento e dez mil milhões
de contos anuais. E não se trata de um negócio dos chamados cartéis
marginais, pois os seus principais beneficiários são os grandes bancos
multinacionais, para quem passam gigantescas somas, esbatendo a fronteira
entre o legal e o ilegal e fazendo do dinheiro da droga uma base de
poder económico e de domínio político. Esta é uma realidade comprovada
por muitos exemplos de que ressalta a notícia sobre a distribuição
e venda de droga pelo FBI e a CIA em bairros pobres de cidades
americanas com o objectivo de neutralizar movimentos sociais e a utilização
desse dinheiro para o financiamento dos «contras» da Nicarágua.
Está assim à vista que o tráfico de droga e o branqueamento de capitais
que lhe está associado, é cada vez mais uma componente de grande
peso na economia capitalista global e por isso, independentemente do
discurso moralista que fazem, uma prática tolerada e estimulada
pelos poderes económicos e políticos dominantes à escala
mundial.
Os gravíssimos problemas e dramas humanos gerados impõem uma
acção decidida para a prevenção da toxicodependência e o
combate ao tráfico de droga.
As orientações políticas gerais assumidas por sucessivos
governos, acentuaram as vulnerabilidades sociais que conduzem à
toxicodependência e não foram tomadas medidas capazes de fazer
face à situação. Falhou a prevenção, continua a faltar uma
efectiva rede publica de atendimento, não foram dadas
oportunidades de tratamento a muitos toxicodependentes empurrados
para estruturas privadas, a custos proibitivos e na maior parte dos
casos sem condições, criando uma nova área de negócio. Da
actuação do governo PS, esboroadas as expectativas que muitos
alimentaram com a proclamação da droga como inimigo publico
número um, à parte uma ou outra medida tímida, o que ressalta
é o prosseguimento das políticas e da desresponsabilização do
Estado nesta área que vem da década negra dos governos do PSD.
Temos consciência das dificuldades de um combate eficaz à toxicodependência
no quadro da sociedade capitalista, mas pensamos que é possível
fazer muito para diminuir a dimensão do problema da toxicodependência.
É por isso que o PCP se bate pela adopção de uma nova
política, por uma estratégia coerente na prevenção da
toxicodependência, pela criação de uma rede publica nacional
gratuita, de atendimento, tratamento e reinserção social que
permita a cada toxicodependente uma vaga disponível no momento
em que se quer tratar, pela consideração do toxicodependente como
um doente, não o sujeitando por simples consumo a penas de
prisão que nada resolvem, por medidas que confiram nova
eficácia ao combate ao tráfico e ao branqueamento de dinheiro.
A complexidade dos fenómenos da toxicodependência, implica a disponibilidade
para discutir e considerar sem preconceitos as formas e os caminhos
mais eficazes desde que contribuam para evitar que as pessoas caiam
na dependência da droga que liquida a sua personalidade, condiciona
tragicamente a sua vida e não raras vezes as conduz à morte.
O caminho não é a resignação ou o baixar de braços.
Àqueles que falam de luta perdida contra a droga, dizemos que
não se pode classificar como perdida uma luta que não foi
travada de forma coerente, integrada e determinada.
Por isso é necessário prosseguir e vamos prosseguir a
acção do nosso Partido e de cada uma das suas organizações.
Por isso é necessário intervir e vamos intervir para
intensificar a iniciativa e a acção esclarecida das
populações para ir mais longe na prevenção da toxicodependência.
Somos um partido que sente a exploração, os traumas e as
injustiças da sociedade em que vivemos, que não se conforma com
eles, que não tem como horizonte a perspectiva do Homem como ser
alienado, diminuído, vencido, subjugado ou destruído pela
droga.
Somos um partido que protagoniza e afirma com convicção uma perspectiva
de confiança no futuro: a solução dos problemas do dia a dia, a
superação das contradições e injustiças da sociedade em que
vivemos não está no mundo de ilusões e dependência que as
drogas representam, mas sim nos grandes valores da vida, na luta
persistente contra as injustiças sociais, no empenhamento
revolucionário pela transformação do mundo, por uma sociedade
livre de todas as formas de exploração e opressão.