Rui Fernandes, Membro do Secretariado do Comité Central do PCP
Há quatro anos dissémos que “a ausência de
uma visão nacional para o problema das Forças Armadas Portuguesas
tem conduzido a um permanente e contraditório processo de reestruturação,
redimensionamento e reequipamento (...)”.
Pois bem, a política de Defesa Nacional seguida nestes últimos
quatro anos insere-se no quadro das orientações da política
mais geral, de penhora de valores inalienáveis como a independência
e a soberania nacionais, espartilhando a actuação de Portugal,
nomeadamente a sua intervenção a favor do reforço
dos mecanismos internacionais de segurança colectiva e pondo em
causa a manutenção da reserva mínima de soberania
que lhe permita a sua afirmação como País soberano.
Com efeito, a maioria PSD/PP não só prosseguiu as linhas
essenciais da política do PS, inseridas no projecto de militarização
da União Europeia, cuja denominada “constituição”
europeia bem exprime, e de um cada vez maior envolvimento das nossas tropas
em missões no exterior, como no Afeganistão, Iraque ou Kosovo
e, a inserção em forças multinacionais, cuja acção,
nalguns casos, viola o direito internacional, como fez da subserviência
aos EUA e à NATO a sua principal orientação estratégia,
em confronto com os interesses nacionais.
Continuamos pois, sem uma visão nacional, enquadrada nos constrangimentos
económico-financeiros que vivemos, capaz de conduzir um processo
de modernização coerente, desde o enquadramento conceptual
ao estatutário e regulamentar, da reorganização operacional
e da racionalização do dispositivo militar às políticas
de pessoal, como as relacionadas com as carreiras e efectivos, salários
e formação profissional. Eis, algumas das razões
que estão na origem do mal-estar de largos sectores das Forças
Armadas, e do seu consequente protesto e acção reivindicativa,
que a demagogia do ministro Portas não consegue esconder.
Pela nossa parte, continuámos a chamar à atenção
para a violação por parte do Governo da doutrina constitucional,
com a passividade e nalguns casos cumplicidade de órgãos
de soberania com especiais responsabilidades nesta matéria, alertando
para o facto de o Governo estar nos conceitos e na prática a implementar
uma doutrina de segurança nacional, de que é exemplo não
só a troca de papéis entre a GNR, desempenhando missões
militares no Iraque e as Forças Armadas, empenhadas na vigilância
florestal em território nacional, como toda a concepção
que envolve a reestruturação dos serviços de informações.
A realidade é que da parte do Governo a acção vai
no sentido de prosseguir na implementação de um modelo padronizado
pelos conceitos NATO, ou seja, dos Estados-Unidos e no qual se inserem
as tão faladas Centrais – de compras, de informações
e outras.
A realidade é que aquilo que está a ser implementado são
umas FFAA sem qualquer autonomia, concretizando aquilo para o qual há
muito o Partido alertou, quando disse que o objectivo era, transformar
as Forças Armadas em Força Armada para cumprimento de missões
externas.
Continuámos a criticar, camaradas, a profissionalização
das Forças Armadas, entre outras razões porque não
há uma previsão completa dos seus efeitos, incluindo no
plano financeiro, e uma definição clara da resposta a dar
aos problemas emergentes.
Continuámos a denunciar uma política de reequipamento militar
subordinada ao poderoso complexo militar-industrial norte-americano, em
que a palavra de ordem parece ser “o que é bom para a Lockeed
é bom para Portugal”, e sem uma visão estratégica
nacional que privilegie as necessidades do País, em áreas
como a busca e salvamento. E sejamos claros: não é a assinatura
de contratos que acelera a construção dos meios, mas as
dotações financeiras.
Camaradas, nestes quatro anos também avançámos propostas
com a preocupação de dar resposta às justas reivindicações
existentes no seio dos militares, expressa em várias iniciativas
promovidas por oficiais e sargentos.
Apresentámos também um projecto de Grandes Opções
para a Defesa Nacional com o objectivo de garantir uma estratégia
assente no primado da defesa dos interesses nacionais, assumindo que Portugal
tem interesses próprios a defender.
Um projecto com a preocupação de desenvolver uma consciência
nacional em torno dos novos problemas que envolvem a Defesa Nacional e
com uma visão estratégica para as Forças Armadas
de forma a poderem cumprir as missões constitucionais que lhe estão
atribuídas.
Os militares portugueses já viveram durante décadas a dura,
frustrante e triste experiência de uma doutrina militar que não
correspondia aos interesses de Portugal e do povo português.
Neste ano em se comemoram os 30 anos da Revolução de Abril,
reafirmamos o nosso empenho em prosseguir a luta com vista à concretização
de uma política de defesa nacional que corresponda aos interesses
de Portugal, galvanize os militares, envolva os portugueses.
Viva os 30 anos da Revolução de Abril!
Viva o 17º Congresso do Partido!