Vasco Cardoso,
da Comissão Política do PCP, declarou, em Conferência de Imprensa, a propósito
da «recente divulgação por parte do INE dos números relativos à evolução do
emprego e do desemprego no nosso país confirmam as profundas preocupações que o
PCP tem vindo a manifestar a este respeito. Portugal está hoje confrontado com
duas realidades: o crescimento do desemprego e da precariedade». Vasco
Cardoso adiantou ainda que o «PCP reafirma o seu empenho na
luta contra o desemprego e a precariedade nas relações de trabalho, que só
avançará com uma ruptura com a política de direita do Governo PS e a
concretização de uma política alternativa, democrática e de esquerda ao serviço
dos trabalhadores, do Povo e do país.
Desemprego e precariedade: duas realidades em crescimento
Conferência de Imprensa do PCP com Vasco Cardoso, da Comissão Política
A recente
divulgação por parte do Instituto Nacional de Estatística - INE dos números
relativos à evolução do emprego e do desemprego no nosso país confirmam as
profundas preocupações que o PCP tem vindo a manifestar a este respeito. Portugal está hoje confrontado com duas realidades: o
crescimento do desemprego e da precariedade.
Desemprego -
problema que se agrava em todas as suas dimensões
Ao
contrário do que o Governo PS pretendeu, com a manipulação dos dados agora
divulgados, a verdade é que os números que o INE divulgou demonstram de uma forma
cabal uma subida e não uma descida dos valores do desemprego em Portugal.
A taxa de desemprego em sentido restrito atingiu no final
do 2º trimestre de 2007: 7,9%, o que corresponde a 440 500
trabalhadores no desemprego. Este é o valor mais elevado
registado no segundo trimestre do ano, desde que o INE iniciou a actual série
de Inquéritos ao Emprego em 1998.
O número de
desempregados subiu 8,6% em relação ao trimestre homólogo do ano anterior (+ 34 900 trabalhadores no desemprego).
A redução da taxa de desemprego em relação ao trimestre
anterior, não só é resultante do seu carácter sazonal, como não desmente o
aumento do desemprego. De facto os números do INE revelam que o desemprego no
2º trimestre é, em regra, inferior ao do 1º trimestre (desde que existe a
actual série de Inquéritos ao Emprego -1998 - só em 2002 e 2004 esta situação
não se verificou), e a evolução entre estes dois trimestres traduz um
agravamento comparativamente a 2006.
A Comissão Política do Comité Central do PCP
regista com preocupação o facto de que, caso se verifique um crescimento do
desemprego em termos homólogos nos 3º e 4º trimestres do ano - o que é provável
tendo em conta as variações homólogas já verificadas durante os primeiros dois
trimestres deste ano - no final de 2007 poderemos estar a caminhar para o mais elevado
nível de desemprego jamais registado em Portugal.
Mas a verdadeira dimensão do desemprego no
nosso país só pode ser compreendida se ao número de desempregados em sentido
restrito, que o INE revelou, acrescentarmos os inactivos disponíveis para trabalhar (80 300) e o subemprego visível (68 100), o que corresponde ao
valor do desemprego em sentido lato, isto é, 588 900 trabalhadores e 10,4% de desemprego.
A Comissão Política do Comité Central do PCP
chama ainda a atenção para os seguintes factos:
-
O aumento do desemprego atinge
esmagadoramente as mulheres e por esta razão a
taxa de desemprego das mulheres está nos 9,4%. Dos 34 900 trabalhadores a
mais desempregados entre o 2º trimestre de 2006 e o 2º trimestre de 2007, verifica-se que 32 700 trabalhadores são
mulheres.
-
A taxa de desemprego dos jovens (15-24 anos) atingiu o
valor de 15,3%, quase o dobro da média nacional.
-
O desemprego dos trabalhadores licenciados
subiu 25,1% de um ano para o outro. Existem hoje 50
800 trabalhadores licenciados no desemprego, mais 10 200 do que no 2º trimestre do ano passado.
-
Cerca de metade do desemprego é de longa duração. No final do 2º trimestre de 2007 tínhamos
221 mil trabalhadores que procuram emprego há menos de 12 meses e 216 400
trabalhadores que procuram emprego há mais de 1 ano.
-
A evolução do emprego
acompanha o modelo de desenvolvimento económico cujo perfil é de emprego pouco
qualificado. As únicas profissões
que no último ano viram a população empregada aumentar foram o "pessoal dos serviços e
vendedores" (mais 16 700 pessoas) e os trabalhadores não qualificados (50 mil
trabalhadores). Em contrapartida reduziu-se o número de quadros superiores (- 48
300), o de trabalhadores intelectuais (-11 400), o de técnicos e profissionais
de nível intermédio (- 8 600) e o de operários, artífices e
trabalhadores similares (-17 600).
-
Em vez da prometida criação de 150 000
postos de trabalho assumida pelo PS durante as últimas
eleições legislativas, o que se verifica é que o número de desempregados
cresceu desde a tomada de posse do governo, de 399 300 para os actuais 440 500.
Estes dados confirmam o carácter estrutural do problema do desemprego em Portugal e as responsabilidades do Governo PS no seu agravamento. Situação
tão mais preocupante quanto o aumento do desemprego tem sido acompanhado pela
regressão dos níveis de protecção social existentes, como se comprova pelas
alterações introduzidas no último ano, quer no acesso, quer no valor do
subsídio de desemprego.
A situação de desemprego a que o país chegou
tem consequências extraordinariamente negativas no desenvolvimento e
dinamização do mercado e consumo interno, nas despesas e receitas da segurança
social, nos níveis salariais praticados e nos direitos dos trabalhadores.
Mas o problema do
desemprego é bem mais dramático do que aquilo que os números, por si só, já
revelam. O aumento do desemprego é sinónimo de dificuldades económicas
para centenas de milhar de famílias, de dificuldades no acesso a bens e
serviços essenciais, de novas vagas de emigração, de degradação das condições
de vida, de endividamento e de situações de pobreza, miséria e exclusão social.
Governo PS: campeão da precariedade
Os dados do INE revelam também uma nova realidade que se
aprofunda com este Governo: a maior liquidação de sempre de postos de trabalho
efectivos e a promoção do emprego precário como regra.
Entre o 2º trimestre de 2006 e o 2º
trimestre de 2007, os trabalhadores com contratos a prazo são agora mais 77 800
do que o ano passado, atingindo o valor mais elevado
de sempre: 863 700 trabalhadores (22,2% do total de trabalhadores por conta de
outrem). Também a população empregada a tempo parcial aumentou em 40 800, atingindo já os 630 200 empregados.
Como resultado do aumento da precariedade
verificou-se agora a liquidação, em apenas um ano, de 77 600 contratos de trabalho sem termo. Na prática são agora postos de trabalho permanentes ocupados por
trabalhadores contratados a prazo, com falsos recibos verdes, em trabalho
temporário, ou em bolsas de formação e investigação.
Se adicionarmos ao número de trabalhadores
por conta de outrem com contrato precário (863 700), o número de trabalhadores
por conta própria como isolados - chamados falsos recibos verdes (379 135) - concluímos que 1 242 835 trabalhadores têm
hoje um vínculo precário, isto é, 1 em cada 4
trabalhadores é precário.
Num momento em que o Governo PS prepara um
violentíssimo ataque aos direitos dos trabalhadores por via de alterações à legislação laboral - invocando
que o "mercado de trabalho precisa de ser mais flexível" - facilmente se
comprova que o que está em causa não é a flexibilidade das relações laborais,
mas sim, a desregulamentação completa das relações de trabalho em benefício do
Capital.
O escândalo dos lucros dos grandes grupos
económicos
O
aumento do desemprego e da precariedade com as consequências que daí derivam no
plano salarial, associados a uma política de favorecimento dos grandes grupos
económicos, estão na base do verdadeiro escândalo que representam os lucros do
grande capital no nosso país.
Os
lucros dos cinco maiores grupos bancários em conjunto com a GALP, PT, EDP e
SONAE somaram mais de 5,3 mil milhões de euros em 2006.
A
remuneração média de cada membro de conselho de administração das empresas
cotadas na bolsa representa 31,5 mil euros/mês e uma grande parte destes
administradores foram aumentados sessenta vezes mais que um trabalhador comum.
As
fortunas dos 100 mais ricos de Portugal aumentaram 35,8% em apenas um ano,
atingindo o valor de 34 mil milhões de euros, o que daria para pagar um salário
mensal de 500 euros a um milhão de trabalhadores durante 5 anos. O mais rico
entre os ricos (Belmiro de Azevedo), em apenas um ano praticamente duplicou a
sua fortuna passando de 1 779 milhões, para 2 989 milhões de euros.
É
preciso outro rumo para o país!
O PCP
reafirma o seu empenho na luta contra o desemprego e a precariedade nas
relações de trabalho, que só avançará com uma ruptura com a política de direita
do Governo PS e a concretização de uma política alternativa, democrática e de
esquerda ao serviço dos trabalhadores, do Povo e do país.
Portugal
precisa
de um forte investimento público e não de sucessivos cortes em cega obediência
ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, de apostar no aparelho produtivo e no
desenvolvimento da produção nacional e não na financeirização da economia e das
actividades especulativas, de apoiar as pequenas e médias empresas e o
desenvolvimento regional, de melhorar de forma efectiva a qualificação e a
formação profissional, de formas eficazes no combate à precariedade aplicando o
princípio de que a um posto de trabalho permanente corresponde um contrato
efectivo de trabalho.
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