Partido Comunista Portugu�s
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Situação política geral após um ano de Governo - Intervenção de Francisco Lopes na AR
Quarta, 10 Maio 2006

Interpelação n.º 4/X, sobre a situação política geral após um ano de Governo 

Sr. Presidente,
Srs. Deputados,
Srs. Membros do Governo:
  Um ano de Governo PS, suportado numa maioria absoluta, evidencia não apenas o prosseguimento da política de direita mas a sua acentuação e o seu aprofundamento. Os grupos económicos e financeiros aplaudem. O PSD e o CDS oscilam entre a grande satisfação interior, que resulta de verem a sua política aplicada com grande empenho e velocidade, pelo PS, e o desgosto de não serem eles próprios a fazê-lo. Após o primeiro ano de Governo PS, vemos os problemas nacionais agravados e o futuro de Portugal e do povo português mais comprometido. O aparelho produtivo tem vindo a ser fragilizado, desacelerou o crescimento da produção, o défice externo aumentou e, em relação à tão propalada questão do défice, apesar dos sacrifícios impostos aos portugueses, de 2004 para 2005 o défice público estrutural aumentou, tal como a dívida pública. Face a esta situação, o Governo desdobra-se em anúncios de protocolos, projectos e intenções de investimento mas que, em grande medida, são acções de propaganda para espalhar ilusões. O processo da chamada nova refinaria de Sines é disso exemplo: anunciada com pompa, quando esperávamos que a consistência do anúncio feito pelo Governo nos estivesse a permitir saber os ganhos para o País, a forma como estavam prevenidas as incidências ambientais, o número de postos de trabalho que iam ser, de facto, criados, a data de começo de construção e de início de funcionamento, eis que parece ir tudo por água abaixo. Assim, não! Assim, o País não vai lá! Onde o Governo concretiza é naquilo em que não o devia fazer, como é o caso do anunciado programa de privatizações. Trata-se de um programa que elimina o papel do Estado em empresas estratégicas e cria riscos do controlo destas pelo capital estrangeiro, ao mesmo tempo que subtrai do Orçamento do Estado a entrada de centenas de milhões de euros de lucros, que seriam muito importantes para a redução do défice e para o desenvolvimento económico e social. Sr. Presidente,
Srs. Deputados:
 

O Governo PS, em vez de promover o fortalecimento da democracia, assume uma postura arrogante, convive com a degradação das liberdades e direitos,  omeadamente nos locais de trabalho, com uma Inspecção-Geral do Trabalho insuficiente, um sistema de custas judiciárias e apoio judiciário que nega, na prática, o acesso dos trabalhadores à justiça, e anuncia alterações das leis eleitorais que, a concretizarem-se, serão profundamente empobrecedoras do regime democrático.

  O Governo PS, em vez de apostar nas potencialidades dos serviços públicos para promover o desenvolvimento equilibrado do País, optou por desencadear uma ofensiva sem precedentes contra as funções do Estado e da Administração Pública.  Uma ofensiva que redesenha o Estado ao sabor dos interesses dos grupos económicos e financeiros, desencadeando processos de privatização, abrindo novas áreas de negócio e libertando verbas para drenar ao seu serviço. Uma ofensiva que afecta gravemente as funções sociais do Estado, aumenta custos, degrada e encerra serviços (maternidades, valências hospitalares, centros de saúde, escolas, tribunais, entre outros), acelera o despovoamento e a desertificação de vastas zonas do País e agrava as assimetrias regionais. Uma ofensiva baseada na agressão ideológica e política aos estatutos, carreiras, vínculos, direitos, vencimentos e à própria dignidade profissional dos trabalhadores da Administração Pública. O Governo PS, em vez de promover a justiça social, contemporiza com a fragilização dos direitos dos trabalhadores, a caducidade da contratação colectiva e a violação da liberdade de negociação e de acção sindical. Nas chamadas alterações urgentes ao Código do Trabalho facilitou a vida às associações patronais e, adiando decisões, prolonga no tempo os efeitos da ameaça da caducidade e de outros aspectos negativos do Código. Quanto à segurança social, dramatiza a situação da sustentabilidade, procura fugir ao necessário alargamento das fontes de financiamento e vem promover um inaceitável processo que visa o aumento da idade da reforma para todos os trabalhadores, o aumento das suas contribuições e a redução do valor das pensões. No plano do emprego, apesar de tudo o que vem sendo dito, as notícias são igualmente más: o desemprego aumentou brutalmente, atingindo a maior taxa das últimas décadas, havendo o risco de continuar a subir e de ultrapassar, no próximo ano, a taxa média da União Europeia. São mais de 500 000 desempregados, incluindo jovens, nomeadamente jovens licenciados, e desempregados de longa duração, 58% dos quais não recebem subsídio de desemprego. Ao mesmo tempo, a qualidade do emprego desce e aumenta a precariedade que faz com que um em cada quatro trabalhadores tenha vínculo precário. Degradam-se também os rendimentos e as disponibilidades económicas dos trabalhadores por conta própria e dos pequenos e médios empresários — dos trabalhadores em geral —, atingidos pela contenção e restrição dos salários e remunerações, pela insuficiente actualização das prestações sociais, pelo agravamento dos impostos, pelo sobreendividamento das famílias e das empresas e pela subida do custo de vida, provocada pelo aumento dos preços de bens e serviços essenciais. No entanto, a par e como contraponto de tudo isto, verifica-se uma chocante subida das taxas de lucro das empresas, dos grandes grupos económicos, com as 20 empresas cotadas na bolsa a verem os seus lucros atingir, em 2005, cerca de 5000 milhões de euros, um aumento de 51% face a 2004. Pode dizer-se o que se quiser mas há muito que, em Portugal, a exploração, as injustiças e as desigualdades sociais não eram tão gritantes. Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Srs. Deputados:
 Este ano de Governo PS comprova que as estratégias definidas estão erradas e que as políticas praticadas são de sinal contrário às de que o País precisa.Quanto antes, Portugal precisa de mudar de rumo, para concretizar o projecto que a Constituição da República consagra, o projecto que a realidade nacional exige e que, cada vez mais, os trabalhadores e a população, defendendo e usando os seus direitos, afirmam por todo o País.