As questões relacionadas com os mercados financeiros e as dificuldades que actualmente se colocam estiveram em debate na sessão plenária do Parlamento Europeu.
Intervenção de Ilda Figueiredo no PE
Este debate decorre num momento de crise generalizada sobretudo nos mercados financeiros, o que é resultado da financeirização crescente da economia, da especulação desenfreada, da multiplicação de instrumentos e produtos financeiros, sempre na busca de cada vez maiores ganhos especulativos.
É mais uma das facetas da crise do capitalismo. Era claro há muito que mais uma bolha financeira estava aí. E que um dia iria rebentar. Não apenas nos EUA, mas também na União Europeia.
Este é, igualmente, o resultado das medidas e das políticas neoliberais que apoiaram o desejo dos investidores de obter lucros cada vez mais elevados, que incentivaram a falta de transparência, que criaram e permitiram a manutenção dos paraísos fiscais onde se alojam e branqueiam também os capitais da economia subterrânea, dos negócios da guerra, do tráfico de seres humanos e da droga.
Agora, os dinheiros públicos que faltaram para a política social, para combater a pobreza e a exclusão social, para evitar a morte de milhões de pessoas, incluindo crianças, vítimas da fome e da falta de cuidados básicos de saúde, agora, repito, os dinheiros públicos estão a ser usados para evitar falências e prejuízos maiores dos grupos financeiros. Os lucros e ganhos foram privados e apenas de um pequeno grupo de pessoas (investidores e administradores de ordenados chorudos). Mas quem vai sofrer as consequências são sempre os mesmos: os trabalhadores que vão para o desemprego, as populações que têm de pagar juros mais elevados, incluindo aqui, na União Europeia, sobretudo nos países de economias mais débeis.
Veja-se o caso de Portugal, onde predominam baixos salários e reformas de miséria, onde a pobreza e o desemprego são dos mais elevados da União Europeia. Como as famílias têm uma das mais elevadas taxas de endividamento, a rondar os 120% do PIB, e as micro e PME dependem bastante do crédito bancário, o aumento das taxas de juro que esta situação está a provocar assume particular gravidade.
Assim, algumas medidas se impõem no imediato, a começar pelo fim dos paraísos fiscais e da confidencialidade, sem o que não pode haver transparência. Mas do que aqui foi referido, designadamente pelo Senhor Comissário McCreevey, não se pode concluir que esse seja o caminho, o que é inadmissível.
Nesta situação critica impõe-se também que se ponha fim à falsa autonomia do BCE, para garantir uma alteração dos objectivos da política monetária e financeira, e que se tomem medidas de fundo que combatam a especulação bolsista. É essencial que a prioridade seja o apoio à criação de emprego com direitos, à produção, à resolução da pobreza, melhorando o poder de compra dos trabalhadores e dos pensionistas, apoiando serviços públicos de qualidade.
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