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O GOVERNO TEM REPETIDAMENTE AFIRMADO A SUA PAIXÃO PELA EDUCAÇÃO, MAS A ANÁLISE
DA PROPOSTA DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 1998 VEM CONFIRMAR QUE A "PAIXÃO"
PRATICAMENTE SE EXTINGUIU ANTES DE TER PRODUZIDO RESULTADOS.
Embora o orçamento da Educação atinja 1000 milhões de contos em 1998, tal está
ainda longe do que o país e o nosso povo precisam.
Portugal é um país em que a despesa com a Educação permanece próxima de 5%
do PIB, valor que está claramente aquém do esforço necessário para vencer o
nosso atraso sobretudo se tivermos em conta a pequenez relativa do nosso produto
quando comparado com o dos países desenvolvidos.
Desde o inicio desta década, o orçamento do Ministério da Educação tem crescido
quase regularmente o modesto valor de 7% ao ano, em despesas tanto de funcionamento
como de investimento. Se há "paixão", não se dá por ela; não há diferença
objectiva entre este e o anterior governo.
Registam-se como intenções positivas a elevação em 60% do apoio à educação
pré-escolar e em 17% do apoio à acção social escolar. Trata-se porém de domínios
em que o nível de financiamento público anterior, tomado para a comparação,
é extraordinariamente baixo e o nosso atraso é escandaloso, e em que a capacidade
de execução do Estado ficou abaixo do programado para 1997: menos 0,8 milhões
e menos 1,1 milhões de contos, respectivamente! Ainda a propósito da acção social
escolar, não pode deixar de ser denunciado o nível miserabilista dos apoios
concedidos aos jovens e às suas famílias bem como o facto de o seu financiamento
manter, desde 1995, um crescimento anual de18% na componente funcionamento e
um decrescimento anual de 18% na componente investimento! Onde está a mudança?
Outro domínio que merece denuncia é a formação profissional. Anuncia-se um decréscimo
drástico de 55%, de 1997 para 1998, retomando-se o nível de apoio de 1995 !
A evocação do PRODEP em nota de pé de página constante da proposta de Orçamento
do Estado não altera e realidade (como se o PRODEP fosse apoio específico do
ensino profissional, que não é) e torna duvidosa a metodologia subjacente à
elaboração dos mapas cuja interpretação não é, de facto, transparente e cuja
comparação com os mapas de anos anteriores é, por essa razão, problemática.
Em relação ao Ensino Superior público, o seu financiamento tem tido um incremento
médio anual de 10%, na componente funcionamento, mas não tem tido qualquer crescimento,
na componente investimento, desde o início desta década, e assim vai continuar.
A situação é ainda mais negativa no domínio da acção social: o financiamento
do funcionamento continua a crescer 20% ao ano, mas o do investimento a decrescer
20% ao ano, desde 1995 ! Isto quando quase 50% dos estudantes do ensino superior
estão deslocados do distrito de origem e apenas 5% têm lugar em residências
de estudantes ! E, todavia, o número de vagas de acesso ao ensino superior público
oferecidas, continuando insuficientes, tem crescido 5% ao ano, desde o início
da década, e a correspondente população escolar tem aumentado 8,6% ao ano, desde
então. Apesar da estimativa do custo real do ensino avaliado com parâmetros
de qualidade (orçamento padrão) ter aumentado à taxa anual de 14,5% no período
1993/1998 a verdade é que as transferências efectivamente realizadas do Orçamento
do Estado para as Universidades públicas só cresceram à taxa anual de 5%, no
mesmo período, o que significa que o esforço do Estado tem ficado muito aquém
do necessário. O actual Governo não só tem continuado a política anterior, como
a está a agravar com a nova lei-quadro do financiamento do ensino superior.
Em relação à proposta para 1998 de orçamento de funcionamento para
as Universidades públicas o facto sem dúvida mais grave é que o seu montante,
determinado a partir da fórmula de financiamento estabelecida há vários
anos (que procura quantificar os custos reais do ensino em condições mínimas
de qualidade e estabelecer o esforço financeiro do Estado para o assegurar),
conduziu ao valor global de 114 milhões de contos, aos quais foram depois
incompreensivelmente retirados 10,3 milhões de contos (8,4 milhões de contos
correspondentes ao que o Ministério da Educação prevê que seja cobrado de propinas
e 1,9 milhões de um corte adicional aleatório).
Desta forma e contrariamente ao que havia sido repetidamente afirmado e prometido
pelo Governo aquando da discussão da "lei do financiamento", a verba
a cobrar das propinas não surge como aditiva em relação ao financiamento
do ensino superior público (com a função de investimento suplementar na sua
qualidade) mas pura e simplesmente como substitutiva do esforço do Estado,
como aliás se receava.
A evocação pelo Governo do atraso do nosso sistema de Ensino e Formação para
fundamentar a continuação do fluxo de fundos estruturais e de coesão da União
Europeia para Portugal, num futuro Quadro Comunitário de Apoio, tem pertinência
como argumento. Mas não tem credibilidade, quando está hoje patente a falta
de empenho que este Governo tem na afectação de recursos e na resolução dos
problemas da Educação. Repare-se que em Portugal, apenas 33% dos jovens obtêm
formação escolar a nível secundário ou superior. E que ainda apenas 7% da população
activa tem formação superior (contra 19% no conjunto da OCDE).
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