Sérgio Teixeira Membro da Comissão Política do Comité
Central do PCP
Nos quatro anos que nos separam do XVI Congresso, os trabalhadores e
as massas populares tiveram de fazer frente a uma vasta ofensiva desencadeada
contra os seus direitos, condições de vida e conquistas
democráticas, primeiro pelo governo do PS/Guterres, depois pelos
governos da coligação PSD/PP.
Contra a política de direita desenvolveu-se uma ampla, corajosa
e confiante resistência, traduzida em milhares de pequenas e grandes
acções de massas, na qual mais uma vez a classe operária
e os trabalhadores se confirmaram e afirmaram como a força impulsionadora
e mais combativa e consequente da frente social de luta contra a política
de direita.
Confirmou-se igualmente que este papel é inseparável da
existência, no plano social de uma forte e prestigiada organização
sindical de classe, que é a CGTP-IN e no plano político,
de um forte e combativo partido da classe operária, que é
o PCP que pela sua natureza de classe assume a luta intransigente pela
defesa dos interesses dos trabalhadores.
A existência de um movimento sindical de classe bem como do partido
da classe operária correspondem às exigências do desenvolvimento
da organização e de luta dos trabalhadores contra o capital.
Não podemos no entanto ignorar que o movimento operário
e sindical apesar de toda a sua vitalidade, enfrentam problemas e dificuldades
diversas.
A coligação PSD/PP, chegada ao poder, dando continuidade
e aprofundando as políticas de direita fixam como objectivo, liquidar
conquistas históricas dos trabalhadores portugueses, objectivo
que não é dissociável da ofensiva mais vasta para
satisfazer os interesses e exigências dos grandes grupos económicos
e financeiros nacionais e mundiais.
O desenvolvimento do capitalismo contemporâneo com o processo de
globalização capitalista tem vindo a desenvolver esforços
no sentido da criação de um mercado de trabalho mundial
assente na homogeneização das forças de exploração
onde a desregulamentação generalizada das relações
de trabalho e a intensificação da exploração
tem como objectivo essencial usurpar e eliminar direitos históricos
conquistados por diversas gerações de trabalhadores.
Temos consciência das adversidades e dificuldades que nos esperam,
com a ofensiva neoliberal em curso, nomeadamente a privatização
de serviços públicos que a pretexto das “dinâmicas
empresariais” se pretende privatizar e desarticular os vínculos
do emprego; liquidar o carácter público do sistema de segurança
social e substituí-lo pelo assistencialismo e caridade; o ataque
contra os aumentos de salários; o encerramento de empresas, as
rescisões e os despedimentos; os salários em atraso; o criminoso
“pacote laboral” procurando liquidar direitos colectivos como
a contratação colectiva; aumentar a exploração
e assim, implementar o poder discricionário das entidades patronais
e fazer capitular as organizações dos trabalhadores.
Ao afirmarmos existirem ameaças sérias para os direitos
e as conquistas sociais dos trabalhadores, a par da tentativa de descaracterização
da natureza e autonomia das suas organizações de classe
não ignoramos, nem subestimamos a importância da luta reivindicativa
dos trabalhadores por objectivos concretos e imediatos articulada com
a luta por interesses mais gerais que quanto mais forte e organizada for
a luta dos trabalhadores, mais possibilidades terá de sucesso e
contribui para uma mudança de rumo na vida política. Ao
contrário dos que afirmavam ser possível civilizar o capitalismo,
a vida está a demonstrar que, pela sua natureza, nunca o capitalismo
se conformará com as parcelas de domínio perdido por resultado
da luta e das conquistas dos trabalhadores.
Nos últimos dois anos assistimos a um enorme caudal de luta e
contestação à política de direita, luta que
tendo como eixo e motor os trabalhadores atravessou praticamente todos
os sectores da sociedade portuguesa.
Infelizmente, a longa e combativa luta dos trabalhadores e das massas
para pôr cobro ao governo PSD/PP, foi frustrada pelo Presidente
da República Jorge Sampaio, com todas as consequências que
estão à vista.
Da Tribuna deste Congresso não podemos deixar de saudar todos
aqueles que apesar das enormes dificuldades não se deixam vencer
pela ideia da incapacidade e do fatalismo e lutam, em condições
difíceis, pela dignidade do trabalho e pela justiça social,
contribuindo assim para que os efeitos desta política de direita
não seja ainda mais gravosa.
A última Greve Geral foi um momento alto deste grandioso movimento
de luta e resistência à política de direita, as recentes
acções do 10 de Novembro retomam com muita força
a dinâmica de luta persistente e sem tréguas a este governo
e à sua política.
A CGTP-IN através da sua capacidade de convergência unitária,
alicerçada na sua natureza e princípios tendo como objectivo
fundamental a acção, a intervenção, organização
e luta sindical a partir das empresas e dos locais de trabalho, a par
de uma cada vez maior intervenção sobre os problemas do
País, tem reforçado o seu papel e influência junto
dos trabalhadores e na sociedade portuguesa, com novas filiações
de sindicatos.
Os processos de reestruturação das empresas e sectores,
a prolongada ofensiva do capital e da direita, confrontam hoje os trabalhadores
e o Movimento Sindical com problemas e situações de grande
complexidade política, social, sindical e ideológica.
Mas é também com base nos seus princípios unitários,
democráticos, de autonomia, de massas e de classe, que o Movimento
Sindical deve procurar intervir, agir, reivindicar e organizar a partir
das empresas e locais de trabalho, na ligação aos trabalhadores,
aos seus problemas interesses e direitos, que encontrará o caminho
mais sólido para as respostas à complexidade das novas realidades,
mutações e alterações em curso.
Por isso é cada vez mais necessário um Movimento Sindical
Unitário mais forte, mais coeso, que através da sua intervenção,
organização e luta alargue a sua influência junto
dos trabalhadores defendendo os seus interesses, como a melhor resposta
a todos aqueles que a pretexto da “ineficácia da luta do
Movimento Operário e Sindical”, o “esbatimento da luta
de classes” e os chamados “movimentos alternativos”,
procuram acima de tudo enfraquecer e reduzir a influência do Movimento
Sindical e também do PCP.
Não é por isso de estranhar o surgimento de pressões
e sensibilidades político-ideológicas que visam transpor
para o seio do movimento sindical, formas de funcionamento e composição
da estrutura de direcção aos diversos níveis, nomeadamente
através da ”parlamentarização” e transposição
partidária que levariam ao desvirtuamento das suas características
fundamentais, pressões estas que encontraram por parte dos trabalhadores
uma enorme consciência de classe e sentimentos unitários
visíveis no debate e nas decisões democráticas do
X congresso da CGTP-IN.
A luta por melhores salários e melhores horários: pelo
emprego qualificado e com direitos, a defesa e efectivação
da contratação colectiva são prioridades da acção
sindical. A defesa da Segurança Social Pública e Universal,
do Serviço Nacional de Saúde, do Ensino Público e
Funções sociais do Estado integram os objectivos da luta
sindical.
Por vontade expressa dos trabalhadores, a acção, o empenhamento
generoso e combativo de milhares de militantes comunistas em conjugação
com outros activistas sindicais com ou sem partido e outras sensibilidades
político-ideológicas e religiosas, determinam as características
e natureza da CGTP-IN e são indissociáveis da força
influência e prestígio do movimento sindical unitário.
A classe operária e os trabalhadores portugueses podem contar
com o contributo dos comunistas no reforço, intervenção
e luta do movimento sindical e podem também contar com o partido
que os defende, o Partido Comunista Português.