A Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana aprovou um relatório
sobre Pobreza e Exclusão Social nestas duas áreas geográficas, da
autoria da deputada do PCP, Ilda Figueiredo, e de uma deputada chilena
eleita no Parlatino. Este relatório faz uma síntese dos números da
pobreza, apontando causas e realidades, e aponta um conjunto de
propostas com vista a combater o flagelo da injusta repartição da
riqueza e da exclusão social.
Nota do Gabinete de Imprensa dos Deputados do PCP ao PE
No
âmbito da realização da segunda sessão plenária da Assembleia
Parlamentar Euro - Latino-americana (EUROLAT), realizada em Lima
(Peru), na última semana, foi aprovado o relatório da deputada do PCP
no Parlamento Europeu, Ilda Figueiredo, e da deputada chilena Amelia
Herrera (Parlatino) sobre "Pobreza e Exclusão Social" na União Europeia
e na América Latina e Caribe (UE - ALC).
A realização desta sessão da EUROLAT teve como pano de fundo a Cimeira
de Chefes de Estado UE - ALC, que terá lugar na próxima semana, também
em Lima, e em cuja agenda se inclui, entre outras coisas, o combate à
pobreza e exclusão social.
No relatório recorda-se que cerca de 194 milhões de habitantes da
América Latina e Caribe vivem abaixo do limiar da pobreza, ou seja, com
menos do que o necessário para satisfazer as suas necessidades
essenciais, e que cerca de 78 milhões de pessoas vivem em
circunstâncias idênticas na UE.
São os mais pobres quem sofre com a injusta repartição da riqueza, quem
tem mais dificuldades em encontrar um emprego com direitos e aceder aos
recursos naturais (água, terra e energia), aos serviços de base
(cuidados médicos, saúde e educação), a produtos essenciais (alimentos
e medicinas) e à habitação.
Esta situação afecta, em particular, as mulheres, também vítimas da
violência, da propagação de doenças, da falta de educação e formação
(incluindo educação sexual) para poder desfrutar plenamente da saúde e
de todos os direitos, designadamente em matéria de reprodução e
sexualidade.
Registe-se que o relatório foi aprovado pela generalidade dos deputados
da América Latina e Caribe, mas, a nível dos deputados da União
Europeia, teve a oposição dos deputados do PPE, que tentaram impedir a
aprovação das propostas de Ilda Figueiredo que defendem os direitos
sexuais e reprodutivos das mulheres e políticas redistributivas de
combate à pobreza, designadamente a garantia de rendimentos mínimos, de
salários mínimos dignos, para evitar o fenómeno dos trabalhadores
pobres, e a garantia de acesso universal a serviços públicos em áreas
fundamentais.
Das propostas aprovadas, destaca-se:
- a necessidade de se proceder a reformas tributárias para
assegurar com suficiência, equilíbrio e eficiência a redistribuição dos
recursos, sublinhando que os salários mínimos legais constituem um
mecanismo essencial da política de redistribuição do rendimento, que
garanta um nível mínimo de salário e de rendimento, contribuindo para a
luta contra as desigualdades salariais e de rendimento, contra o
fenómeno dos “trabalhadores pobres” e contra a pobreza;
- a necessidade de avançar com um progressivo desenvolvimento de
sistemas de protecção social de cobertura universal e que seja
garantido o acesso global a uma educação de qualidade e à saúde com o
objectivo de lutar contra a pobreza e as desigualdades, sublinhando a
importância de que todos os países contem com uma segurança social de
qualidade, pública e universal;
- a defesa do reforço e do desenvolvimento dos serviços públicos,
incluindo da água, insistindo também na necessidade de políticas de
inserção, com o fim de por termo aos grandes flagelos relacionados com
a pobreza;
- a importância de que se reveste o acesso à terra, na medida em
que a principal causa da pobreza rural está ligada à propriedade da
terra, insistindo na necessidade de, no âmbito dos acordos
comerciais em curso entre a UE e a América Latina e ao nível
internacional da OMC, se garantir a prioridade da produção de alimentos
e a segurança alimenta, se defender o direito dos pequenos e médios
agricultores a produzir com preços justos;
- a necessidade de apoiar e valorizar os sectores produtivos da
economia para a criação de riqueza e trabalho e de apoiar as pequenas e
médias empresas;
- a defesa de uma política de integração regional que respeite a
soberania nacional e a igualdade entre Estados e se apoie numa política
social ambiciosa promovendo um rumo que contemple as necessidades de
desenvolvimento de cada país, em particular os menos desenvolvidos,
favorecendo uma convergência real entre os países da UE e os países da
América Latina e Caribe;
- a defesa e a prática de políticas públicas que garantam a criação
de condições, de infra-estruturas, de equipamentos e de serviços
públicos que garantam o acesso de todos à educação sexual e ao
planeamento familiar, que respeitem os direitos sexuais e reprodutivos
das mulheres, incluindo o controlo da sua própria fertilidade, que
apoiem a maternidade e a paternidade, para que as mulheres possam
planear a sua família e o resto das suas vidas, propiciando todas as
condições para uma sua maior participação em igualdade na sociedade e
combatendo a violência contra as mulheres.
Agora é necessário passar do papel a acções concretas!
Agora é preciso que a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo UE-ALC,
na próxima semana, apresente propostas concretas que tenham em conta as
recomendações aprovadas. É preciso que, no respeito pela soberania e
pelos direitos e interesses de cada país e de cada povo, sejam tidas em
conta as suas necessidades e projectos de desenvolvimento próprios e
que as relações económicas e sociais se baseiem na complementaridade, e
não em "Acordos de Livre Comércio", dado que estes acentuariam ainda
mais as desigualdades na distribuição da riqueza e as situações de
pobreza e exclusão social.
|