Partido Comunista Portugu�s
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Jerónimo de Sousa na Assembleia da ORL
Sábado, 18 Novembro 2006
Foto: Jerónimo de SousaNo encerramento da VI Assembleia da Organização Regional de Lisboa do PCP, Jerónimo de Sousa criticou a «acção governativa cuja característica essencial é a sua profunda identificação, pela natureza e conteúdo da sua política, com os principais objectivos do grande capital e de confluência em áreas fundamentais com os partidos da direita» e que se tem traduzido numa ofensiva alargada a todos os sectores da vida nacional e a todas as funções do Estado. Ofensiva que, como afirmou o Secretário-geral do PCP, «tem como suporte o apoio dos mais poderosos círculos do bloco central de interesses, assente numa efectiva aliança e concertada acção entre o PS e a direita com o cada vez mais claro patrocínio da Presidência da República que se encobre por de detrás  do chamado “compromisso estratégico”. Quem tinha dúvidas acerca do significado e da verdadeira natureza do “compromisso estratégico” que une o governo do PS à direita, tem na entrevista do Presidente da República desta semana à SIC a completa clarificação».
Assembleia da Organização Regional de Lisboa
Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

 
Saúdo todos os camaradas e amigos, delegados e convidados que, com a sua participação, intervenção e presença, contribuíram para o êxito dos trabalhos da VI Assembleia da Organização Regional de Lisboa do PCP. Êxito que será tanto mais realizado se formos capazes de concretizar no quotidiano da nossa acção e da nossa luta as decisões e orientações colectivamente assumidas.

Temos assistido neste último ano e meio que o PS leva de governo a uma grave ofensiva de contornos cada vez mais preocupantes, contra os direitos e interesses dos trabalhadores e contra as conquistas sociais do nosso povo.

Ofensiva que tem encontrado a resistência na valorosa luta dos trabalhadores e de amplos sectores do nosso povo, como esteve bem patente nessa grande manifestação do passado dia 12 de Outubro aqui em Lisboa, uma das maiores manifestações que se realizaram nos últimos anos.

Manifestação que foi uma empolgante demonstração de descontentamento e de indignação face a um Governo e a uma política que definiu como principais, quando não únicos adversários os trabalhadores e os seus interesses, os reformados, os pequenos e médios empresários, as mais diversas camadas população.
Grande jornada de protesto que destruí as idílicas encenações dos fazedores de opinião pagos a preço de ouro para apresentarem um país conformado e resignado às teses da inevitabilidade das políticas de regressão social do governo do PS. 

Renunciando a promessas que lhe deram os votos para a maioria absoluta, temos assistido a uma acção governativa cuja característica essencial é a sua profunda identificação, pela natureza e conteúdo da sua política, com os principais objectivos do grande capital e de confluência em áreas fundamentais com os partidos da direita e as suas propostas com o objectivo de garantir o desmantelamento da administração pública, reduzir e alienar as funções económicas e sociais do Estado, num ataque sem precedentes contra os serviços públicos e aprofundar a exploração dos trabalhadores com a negação dos seus direitos sociais.

Acção que se traduz numa ofensiva que se tem vindo a alargar a todos os sectores da vida nacional e a todas as funções do Estado, particularmente as sociais como a saúde, a educação, a segurança social e que assume cada vez mais o carácter de ofensiva global contra o projecto e as características fundamentais do regime constitucional de Abril. 



Ofensiva que tem como suporte o apoio dos mais poderosos círculos do bloco central de interesses, assente numa efectiva aliança e concertada acção entre o PS e a direita com o cada vez mais claro patrocínio da Presidência da República que se encobre por de detrás  do chamado “compromisso estratégico”.

Quem tinha dúvidas acerca do significado e da verdadeira natureza do “compromisso estratégico” que une o governo do PS à direita, tem na entrevista do Presidente da República desta semana à SIC a completa clarificação.

Pode José Sócrates afirmar que o seu governo é de esquerda e a sua política é de esquerda, mas é preciso também explicar porque é que as suas políticas têm, não apenas a anuência, mas o declarado apoio e incentivo do mais destacado líder da direita dos últimos anos que, durante os dez anos que esteve à frente do governo do país protagonizou uma das maiores ofensivas contra os direitos dos trabalhadores, deu rosto ao mais grave desrespeito pelos valores e princípios básicos do regime democrático e que a partir do seu governo mais se empenhou no processo de reconstituição das grandes fortunas. 

Pode José Sócrates continuar a repetir até à exaustão que o seu governo é de esquerda e a sua política é de esquerda, mas precisa de explicar o que quer dizer o Presidente da República quando afirma “ se saísse o que se diz nas nossas reuniões, o Presidente da República teria um grande protagonismo”.

Pode José Sócrates continuar a repetir e o Congresso do PS reafirmar que o seu governo é de esquerda e a sua política é de esquerda, mas precisa de explicar porque é que as bandeiras da direita contra a Administração Pública e os seus trabalhadores, contra os serviços públicos na saúde, na educação, na segurança social são também as bandeiras do seu governo.

Pode José Sócrates continuar a dizer e a redizer que é de esquerda o seu governo e a sua política, mas precisa de explicar e de explicar bem porque é que fazem suas as orientações neoliberais e monetaristas que estão subjacentes à aplicação fundamentalista do “Pacto de Estabilidade e Crescimento”, nomeadamente com a imposição da obsessiva ditadura do défice que é pretexto para o mais brutal ataque aos salários, ás reformas e às funções sociais do Estado e aos direitos laborais e sociais dos trabalhadores e das outras populares e fonte de elevado desemprego.

Pode José Sócrates e o seu governo afirmarem juntos e em coro que a sua política é de esquerda, mas será de esquerda um Orçamento do Estado que vem agravar e penalizar ainda mais os rendimentos do trabalho e das reformas? Desde logo aos trabalhadores da Administração Pública, vitimas de uma inqualificável campanha do Governo do PS, aos quais pelo sétimo ano consecutivo se impõe a diminuição dos salários reais, em cima do ataque às carreiras, ao agravamento das condições de aposentação e do valor das reformas, do aumento dos descontos para a ADSE. 

Mais um Orçamento que aumenta e alarga a carga fiscal, penalizando agora também os reformados, não apenas os mais ricos, mas as reformas acima dos 485 euros, mas também parte das pessoas com deficiência. 
Não! Este não é um Orçamento determinado por uma política de esquerda e muito menos um orçamento que se diz ser “socialista”, mas sim mais um Orçamento de regressão social que agrava a injusta distribuição do rendimento nacional pela tripla via da penalização salarial, do aumento da carga fiscal do trabalho e do agravamento dos custos dos bens e serviços essenciais das populações.
Este é mais um orçamento em que todos perdem. Todos menos a banca e o grande capital económico e financeiro. Mais um ano de garantidos benefícios fiscais e mais um ano de pagamento do IRC a preço de saldo, com as baixas taxas efectivas de IRC que só no presente ano garantiram 1500 milhões de euros não pagos. Mais um Orçamento que lhes oferece mais um apetecível novo pacote de privatizações do capital da TAP, da ANA, da REN, da EDP, dando um novo golpe no património público e um novo rombo nas receitas fiscais.
Esta é que é a realidade da proposta de Orçamento do governo do PS e não a das medidas anunciadas com grande espalhafato contra a banca, mas sem nenhuma expressão concreta no Orçamento.

Grandes e pequenos arrufos que são, como já alguém disse, a “cereja que faltava em cima do bolo da propaganda do governo do PS”. A cortina de fumo para manter intocáveis os privilégios da banca e do grande capital e dar ares de esquerda à acção do governo.

O Primeiro-ministro anunciou, com o ar grave dos grandes momentos, várias medidas para por fim aos privilégios fiscais da banca, mas apenas “arrombou portas abertas”, com medidas que já hoje vigoram na lei sem qualquer consequência prática, mas também sem enunciação concreta na proposta do Orçamento.

Mas com tanto empenhamento para acabar com o oásis fiscal da banca, ainda não compreendemos porque é que o governo e a maioria do PS não aceitaram a nossa proposta de inclusão de uma norma travão, para impedir que a banca ou as grandes empresas paguem menos de 20% IRC e também porque é que em vez de cortar os benefícios fiscais os aumentou. 

Mas este Orçamento é também mais um Orçamento que abdicando de uma decisiva e necessária estratégia de crescimento e desenvolvimento económico, põe em causa a recuperação económica, com o reforço das opções restritivas no plano do investimento público, e vai contribuir para a manutenção de uma situação marcada pela estagnação económica, por um elevado desemprego e uma crescente precariedade das relações laborais, pelos baixos salários e pela destruição de sectores produtivos.
Redução do investimento com consequências também na vida das populações e no desenvolvimento regional com os brutais cortes do investimento do PIDDAC, que no distrito de Lisboa significará uma redução de cerca de 35%, e que se traduzirá em novas reduções do investimento público em equipamentos sociais e em infra-estruturas de desenvolvimento, mas também mais dificuldades para o desenvolvimento das actividades produtivas.

Situação esta, que tem no distrito de Lisboa uma crescente e preocupante expressão, como muito bem se torna evidente no projecto de Resolução política da nossa VI Assembleia Regional. Quando se impunha mais investimento, particularmente para conter a destruição do aparelho produtivo e promover a fixação e criação de novos projectos, aí temos mais um orçamento restritivo, tal como o do presente ano de 2006. É bom lembrar que entre 2002 e 2006 Lisboa teve uma quebra de investimento público de 58%.
Situação que se agravará com esta revisão da Lei das Finanças Locais imposta pelo governo do PS. Esta é outra preocupante situação que vai ter consequências no desenvolvimento dos concelhos e freguesias e na satisfação das necessidades das populações.

O governo do PS, nesta matéria, utiliza a mais descarada demagogia. Ao contrário do que afirma o governo, a sua proposta de diminuição de receitas não atinge apenas alguns municípios, poucos, mas sim a sua larga maioria quando a Lei, depois de 2009, entrar em aplicação integral.
Não é contra os municípios que o Governo do PS age quando reduz receitas ou impede o acesso ao crédito do Poder Local, são as populações e as suas aspirações a uma vida melhor que ficam adiadas.

Com o objectivo de atenuar as medidas gravosas em vários domínios, garantir mais justiça social e uma mais adequada distribuição das receitas do Estado pelo conjunto do país, o Grupo Parlamentar do PCP apresentou já um primeiro conjunto de 30 propostas de alteração ao Orçamento do Estado. Propostas que vão no sentido do aumento das transferências para as autarquias. Medidas que impeçam também o sufoco e o estrangulamento das Universidades e Institutos Politécnicos. Propostas de alteração em relação ao IRS, com a garantia da actualização dos escalões de acordo com a real taxa de inflação. Propostas de medidas que obrigam a banca ao pagamento de uma maior taxa efectivado IRC e para testar também as verdadeiras intenções deste governo, apresentámos uma proposta para a reintrodução da tributação de mais-valias bolsistas prevista na Lei.    

É cada vez mais notório que, com o governo do PS de José Sócrates, permanece essa inquietante tendência para assentar sobre os ombros das populações todo o peso de uma política que se revela desastrosa para o seu bem-estar e para o desenvolvimento do país.
Veja-se o escândalo das anunciadas medidas na Saúde. Medidas todas elas que vão ter um forte impacto no acesso das populações aos serviços de saúde e que nos colocou a exigência do desenvolvimento de uma campanha nacional em defesa do SNS.
Os últimos acontecimentos e o anúncio das novas medidas, nas quais se incluem também as propostas do Orçamento para 2007, evidenciam que estamos perante toda uma operação de paulatina preparação da privatização dos serviços de saúde em larga escala.

Falamos não apenas destas últimas medidas que anunciam o encerramento a partir do próximo ano de várias urgências hospitalares.
Falamos também do que se passa com as parcerias público/privado para a construção de novos hospitais e com o desenvolvimento na área dos cuidados de saúde primários das Unidades de Saúde Familiar privadas, que têm o  claro propósito de colocar os recursos públicos e o direito à saúde dos portugueses nas mãos da acumulação privada e a  generalização do princípio, também na saúde,  do utilizador/pagador.

Não é por acaso que se acumulam medidas do Governo do PS que objectivamente vão criar cada mais dificuldade no acesso aos cuidados de saúde dos portugueses, como é o corte generalizado na comparticipação dos medicamentos e, agora também a introdução a criação de novas taxas ditas moderadoras para cirurgias e para internamentos e o aumento das já existentes.
Medidas para forçar o encaminhamento dos doentes para as clínicas privadas, tal como acontece quando, apesar dos pomposos programas anunciados, se mantém uma escandalosa lista de espera em cirurgia de 230 000 doentes.

Em relação ao custo de vida é inadmissível o que se passa ao nível da política de rendimentos e preços. Portugal é hoje o país da zona euro que mais viu aumentar os custos dos transportes. O que se passou com as tarifas da electricidade é outro escândalo, com os aumentos já previstos para os próximos anos. Situação que vai tornar insuportável a factura da luz dos portugueses para garantir ao grande capital accionista avultados lucros, superiores certamente aos mais de mil milhões de euros da EDP do ano passado. Agora são também o aumento das rendas e o constante aumento das taxas de juro que estão a tornar insuportável o fardo do custo de vida para a generalidade dos portugueses, particularmente dos que vivem de um simples salário ou reforma, ou para os muitos milhares que não conseguem sequer obter um rendimento superior ao salário mínimo nacional.
Salário mínimo que é necessário valorizar com a reposição do seu poder aquisitivo perdido nestes últimos anos. Valorização e reposição que os trabalhadores reclamam e que o PCP apresentou na Assembleia da República com uma proposta de aumento do salário mínimo para 410 euros já em 2007.
Esta é uma questão da maior importância e, por isso, aqui declaramos que o PCP se baterá pela actualização do salário mínimo e aqui afirmamos com a nossa confiança na luta dos trabalhadores, com a força que a luta está a ter, acabará por obrigar o governo a aumentá-lo.

Também na educação depois de tanto enlevo pela formação integral dos portugueses, o governo prepara-se para acabar com o programa de comparticipações nos investimentos para a construção da rede da educação pré-escolar e o que se propõe no Orçamento do Estado são brutais cortes do investimento no ensino superior. Cortes que se traduzem num dos maiores cortes de sempre. Cortes nas transferências para funcionamento, no PIDDAC para investimento em equipamentos e aumento de novos encargos. Medidas para pressionar o aumento das propinas, dos custos das refeições dos alunos e conter os apoios à Acção Social.

A ofensiva de cariz neoliberal, sustentada numa profunda limitação das funções sociais do Estado, corresponde na área da educação ao objectivo proclamado na cimeira de Lisboa de transformar a União Europeia até 2010 na “economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo” e que se tem vindo a traduzir numa reestruturação dos sistemas educativos europeus, colocando-os sob a alçada e controle do grande capital.
O resultado desta ofensiva, ao contrário do que a propaganda do governo afirma, não é a valorização da escola pública nem das formações, mas um obstáculo à efectiva igualdade de oportunidades, nomeadamente no acesso e sucesso escolares. A concretização da tese do mercado como principal factor de desenvolvimento das sociedades é, neste caso particular da educação, o grande obstáculo ao acesso de uma parte significativa de portugueses ao conhecimento.

É neste contexto que avaliamos a ofensiva contra os professores e a desvalorização da carreira docente, que visa não apenas retirar direitos e regalias mas, sobretudo, criar as condições para que os professores se transformem num instrumento para a formatação dos futuros homens e mulheres de amanhã, procurando perpetuar no tempo a ideologia dominante.
A luta que os professores têm desenvolvido é determinante não apenas para parar a ofensiva contra os seus direitos e pela dignificação da carreira docente, mas também na perspectiva de contribuir para uma escola que tenha o objectivo da formação integral dos alunos, preparando-os para uma intervenção consciente na sociedade portuguesa, com sentido de transformação e justiça social, nos planos político, social, económico e cultural.
  
No ensino superior, independentemente da bondade do discurso dos que vêem no chamado “Processo de Bolonha” a resposta para as dificuldades que se vive no Ensino Superior em Portugal, está mais claro do que nunca que estamos perante um processo que visa uma profunda transformação do nosso ensino superior, ajustando-o aos novos interesses do grande capital industrial e financeiro. Desta forma não vamos ter mais conhecimento, mais investigação e mais inovação ao contrário do que o governo PS afirma.

Na próxima semana estarão em debate na Assembleia da República as propostas de Lei de Bases da Segurança Social, as nossas propostas, as dos outros partidos e a proposta do Governo do PS que resultou de um pretenso consenso em sede de Concertação Social.

Temos na campanha nacional que desenvolvemos por todo o país chamado à atenção para a natureza das propostas do PS e dos partidos da direita e dado a conhecer as nossas propostas. 

Em relação às propostas do PS e do seu governo que têm o consenso, esse sim real, das grandes confederações patronais, temos vindo a afirmar sem ter presente a sua versão definitiva que elas significariam um violento ataque às reformas e às pensões, ao subsídio de desemprego e à generalidade das prestações sociais e abriam as portas ao aumento da idade da reforma com a cínica e retorcida solução da redução dos rendimentos para pressionar o prolongamento do tempo de trabalho.

A proposta da lei de bases definitiva do governo do PS confirma todas as nossas preocupações e denuncias e acrescenta outras.
Na verdade, afirmando o princípio do primado público o governo do PS converge com a direita no objectivo de associar responsabilidades públicas e privadas na realização dos objectivos do Sistema de Segurança Social à custa da transformação do Sistema Público num sistema residual. 

Com esta proposta de Lei de Bases o governo do PS e sua maioria  tem como objectivo estratégico o enfraquecimento do sistema público, reduzido à garantia de “direitos mínimos” aos que se encontram abaixo da linha de pobreza que terá que ser comprovada e tendo como base uma concepção caritativa e assistencialista, ao mesmo tempo que secundariza o papel do sistema previdencial  e reduz os direitos dos trabalhadores e das suas famílias.

É, sem dúvida, uma nova fase no processo de contra-reforma do sistema público da segurança social que foi iniciado com as medidas de redução de direitos dos trabalhadores da administração pública no âmbito da protecção social e da sua idade de reforma e com as alterações verificadas ao subsídio de desemprego.

A concepção política e ideológica que emerge desta proposta de Lei de Bases e as traves mestras da sua arquitectura não só estão em clara convergência com os objectivos pretendidos, quer pelo PSD de Marques Mendes quer pela Lei de Bases de Bagão Félix, como retoma o objectivo de imposição de um modelo de segurança social assente em três patamares, proposto em 1987 nas Grandes Opções do Plano pelo governo do PSD de Cavaco Silva e que a direita não tinha tido condições, até hoje, de retomar ou de concretizar.

Trata-se de uma das variantes avançadas há anos atrás pelo Banco Mundial de contra-reforma da Segurança Social na base da teoria dos “três pilares”, cujo objectivo é a privatização. É o modelo neoliberal que pretende liquidar os direitos sociais e a desresponsabilização do Estado em relação à protecção social dos trabalhadores e dos cidadãos.
De facto, por muito que digam o contrário a privatização da Segurança Social continua a ser o eixo central desta proposta do governo PS, com a entrega das áreas mais rentáveis aos privados. Não sendo no imediato a prioridade no estabelecimento obrigatório de um tecto contributivo, a verdade é que as propostas do PS coincidem objectivamente com as da direita quanto à fragilização do actual modelo de repartição em que assenta o sistema público de segurança social e a sua “espinha dorsal”, o sistema previdencial.
Não só coincide com a direita na rejeição da diversificação das fontes de financiamento proposto pelo PCP como continua a prever a possibilidade de serem estabelecidos tectos contributivos (artigo 58º.) mantendo o objectivo da introdução do sistema de capitalização.

A proposta de Lei de Bases é também uma peça de um processo legislativo mais vasto, visando novas matérias que vão ter em 2007 novos desenvolvimentos, tais como código contributivo, políticas de natalidade, alteração nos critérios de atribuição das pensões de invalidez, deficiência, sobrevivência.
O grau de êxito do PS e da direita na concretização plena das mudanças pretendidas depende do grau de denúncia e de resistência que seja dada no decurso deste processo de contra-reforma do sistema público de Segurança Social, que não terminará com o debate parlamentar de 23 de Novembro e a aprovação da Lei de Bases da Segurança Social.

Há outras soluções para garantir de forma séria e responsável a sustentabilidade da Segurança Social e ao mesmo tempo os direitos de protecção social dos portugueses.
São propostas que confrontam os grandes interesses e o grande capital com as suas responsabilidades sociais e as suas obrigações.
O projecto de Lei de Bases do PCP combate as inevitabilidades e assenta na valorização e consolidação do sistema público de Segurança Social edificado após o 25 Abril e no respeito pelos direitos constitucionalmente consagrados.
Proposta que visa o aprofundamento do regime previdencial dos trabalhadores e que representa a espinha dorsal do sistema público, assente no sistema de repartição e na ampliação dos direitos de segurança social dos trabalhadores e suas famílias.

A defesa da sustentabilidade financeira, presente e futura, da segurança social, pondo fim às políticas de subfinanciamento e à implementação de uma nova forma de contribuição anual para a Segurança Social com base no Valor Acrescentado Bruto (VAB) das empresas.
É hoje muito claro, para um cada vez maior número de portugueses, a duplicidade de critérios na exigência de sacrifícios deste governo do PS. Por isso que cresce no país a indignação e protesto e uma crescente força e vontade de resistir dos trabalhadores e do povo contra esta desastrosa e injusta política.
O Governo e os grupos económicos criaram a ilusão de que doses maciças de propaganda e demagogia, a par da chantagem e da ameaça, levariam os trabalhadores e o povo português a resignarem-se e a aceitar a política e as medidas de ataque aos seus direitos e à sua dignidade e o rumo de agravamento das injustiças sociais e de declínio nacional que determinam.

Enganaram-se. Defendendo os seus interesses e direitos, resistindo à ofensiva do governo e dos grupos económicos e financeiros, exigindo a ruptura com essa política, fazendo de cada processo de luta um acto de construção de um futuro de desenvolvimento e de justiça social a que aspiram para Portugal, trabalhadores dos mais diversos sectores, da Administração Pública, do Metro, dos CTT., da PT, da EMEF, mas também os estudantes e largas camadas do povo do nosso país, têm desenvolvido uma importante movimentação de massas mostrando, nas greves, nas manifestações, das mais diversas formas, o seu profundo descontentamento e protesto, a sua poderosa exigência de mudança. Como está demonstrado na luta e na história do movimento operário e sindical não se avançou só com lutas grandes!

A todos saudamos, dizendo-lhes que hoje como no futuro podem contar com o Partido Comunista Português e, daqui, apelamos para que continuem a usar os seus direitos constitucionais na luta pelas suas causas. Daqui nos associamos ao apelo aos trabalhadores e à população do distrito de Lisboa para que no próximo sábado, dia 25 de Novembro, se concentrem no Cais Sodré e desfilem até ao Rossio, dando mais força à manifestação nacional e geral de protesto pela mudança decidida pela CGTP-IN que decorrerá em cidades de todo o país.
É incontestável que, perante a ofensiva que está em curso pela mão do Governo do PS de José Sócrates, precisamos de um Partido com mais força e mais influência que dê resposta aos muitos dos problemas regionais e nacionais e conduza a luta em defesa dos interesses do nosso e para afirmar a luta por uma alternativa de esquerda e o nosso projecto alternativo.
As batalhas que temos pela frente, tal como muitos camaradas aqui o afirmaram e os documentos dão conta, exigem colocar como questão fundamental e prioritária a necessidade do reforço do nosso Partido, da sua acção, organização e intervenção.
Com a campanha de reforço do PCP que decidimos para o presente ano, novos e muito positivos avanços foram conseguidos no melhoria do trabalho do Partido e das suas organizações. Mas também, como afirma o relatório de balanço de actividades da nossa VI Assembleia, permanecem muitas insuficiências. 
Importantes avanços como os realizados na campanha de contactos com os militantes do Partido, embora muito haja ainda neste âmbito a fazer. No importante recrutamento realizado neste período, só este ano mais 429 novos camaradas do distrito de Lisboa vieram para o Partido, mas também todo o trabalho de realização de assembleias de organização e, particularmente, o esforço de ligação e organização do trabalho nas empresas e locais de trabalho.

A campanha de organização que decidimos está quase a terminar, mas nunca termina o trabalho de permanente reforço do Partido. Esse é um trabalho de todos os dias de fazer e refazer para tornar mais eficaz a nossa intervenção. Este é um trabalho que nunca está feito e por isso é muito justo que os camaradas tenham definidas novas linhas de trabalho e novos objectivos para a continuação do reforço do nosso Partido. 

Linhas de trabalho que passam por dar mais atenção à estruturação da organização partidária, visando o reforço do trabalho de direcção e a formação de colectivos partidários a todos os níveis com uma mais elevada participação dos militantes na vida do partido e na intervenção na sociedade.  
A organização partidária é um instrumento fundamental para a acção, o que exige a ligação do reforço orgânico à iniciativa política e à acção de massas, associando a organização do partido à intervenção quotidiana e à luta de todos os dias. 
É, por isso, que é vital a ligação e discussão dos problemas das diversas camadas da população, dos trabalhadores, dos pequenos e médios empresários, dos agricultores, dos reformados, das mulheres, da juventude e dos deficientes com a promoção de iniciativas e acções do próprio Partido.

Em síntese camaradas, mais força e mais influência do nosso Partido, significam mais capacidade de direcção, mais trabalho colectivo, mais organização, intervenção e enraizamento, mais camaradas com responsabilidades e tarefas regulares, mais estruturação, mais organismos, mais organização nas empresas e locais de trabalho, mais dinamismo e maior número de organizações de base, mais militância, mais difusão da imprensa partidária e mais meios financeiros, aspectos que são essenciais para que o Partido possa cumprir o seu papel.

Ao contrário do que afirma José Sócrates, a larga maioria do povo português não está com a sua política, nem com o seu governo.

A manifestação do passado dia 12 de Outubro e as lutas que se têm vindo a desenvolver são a expressão do crescente isolamento social do governo do PS, tal como são as crescentes manifestações de indignada estupefacção com que os portugueses recebem as constantes medidas de agravamento das suas condições de vida.
É possível outro caminho, são possíveis outras soluções com uma nova política democrática e de esquerda que tenha por objectivo central a elevação da qualidade de vida dos portugueses e o desenvolvimento sustentado e equilibrado do país.
Novo caminho que tem que contar com o indispensável e insubstituível contributo do PCP e da sua política de inquebrantável compromisso com o desenvolvimento do país e com os interesses dos trabalhadores e do povo.
Para essa construção precisamos de um Partido mais forte. Um Partido que de combate ao fatalismo e à descrença. Um Partido confiante que dê confiança aos trabalhadores e ao povo lembrando-lhes que se quiserem, e quando quiserem podem mudar isto para melhor e assumir serem protagonistas do seu porvir colectivo.