Um interessante livro recentemente publicado nos EUA, Gold, Dollars & Power _ The Politics of International Monetary Relations 1958-1971, de Francis J. Gavin (uma análise da política monetária internacional da guerra fria) recorda inevitavelmente um outro trabalho de 98, Cold War Culture _ Media and the Arts, 1945-1990, de Richard Schwartz.

Nos dois casos os autores tiveram acesso a documentação entretanto desclassificada e há abundantes revelações.

Mas o mais desconcertante é a sensação de dejá vu que ambos deixam: Gavin e Schwartz acabam em grande medida a simplesmente comprovar afirmações feitas ao longo de décadas pela opinião de esquerda, sistematicamente qualificadas pela produção política e propagandística dos EUA e seus aliados como «calúnicas ideológicas».

Protagonistas que há trinta anos negavam a pés juntos o seu envolvimento e objectivos, admitem-no hoje com uma imoral tranquilidade. Exactamente a mesma com que o número 2 de Carlucci na embaixada americana em Lisboa fala no último Expresso das suas conspiratas de então. Em 75 seria horrenda calúnia dizer que o chefe de gabinete de Mário Soares e Herbert Okum se confidenciavam regularmente. Okum dixit, afinal, é verdade.