Partido Comunista Português
Reprodução medicamente assistida - Intervenção de Odete Santos na AR
Quinta, 25 Maio 2006
Regula as técnicas de reprodução medicamente assistida ( declaração de voto )

 

Sr. Presidente,
Srs. Deputados:

É claro que este processo legislativo me faz lembrar a anterior tentativa de fazer uma lei, contra a qual o PCP votou. É que o PSD votou a favor do anterior diploma, mas não houve audições, não se ouviram especialistas, não houve qualquer colóquio parlamentar e, no entanto, a actual lei, que surge depois de um amplo debate promovido pela Comissão de Saúde, é alvo das críticas que ouvimos e que são, obviamente, injustas!

Com efeito, o anterior diploma era completamente retrógrado, mas, ao gosto da direita, reflectia uma visão estática do mundo dificilmente conciliável com os nossos conhecimentos actuais sobre a dinâmica da vida e conduzia a um discurso que para a maior parte das pessoas era dificilmente compreensível e inaceitável — e estou a reproduzir exactamente uma declaração de alguns membros do Comité Nacional de Ética da Bélgica, de convicções religiosas, que assim criticaram as posições retrógradas sobre esta matéria, e que me parece muito correcta.

Independentemente de pensarmos que se poderia ter ido mais longe, nomeadamente em relação à possibilidade de as mulheres sós também terem direito à saúde reprodutiva e a ter filhos saudáveis, consideramos que esta lei é bastante positiva.

É uma lei que admite a inseminação e a fertilização in vitro heteróloga, que outras legislações também admitem; é uma lei que subtrai a mulher de sofrimentos grandes, quando exige e limita o número de ovócitos a estimular, como faz a lei italiana; é uma lei que torna possível ao ser humano ter crianças saudáveis; é uma lei que permite o diagnóstico genético pré-implantatório para esse fim; é uma lei que permite a escolha do embrião com grupo HLA compatível com o de um irmão ameaçado de morte, o que exprime dignamente a solidariedade; é uma lei que contém as bases de uma investigação científica que tem de ser desenvolvida; é uma lei que contém a possibilidade da clonagem terapêutica, que é absolutamente necessária (e até recordaria, aqui, as declarações de Nancy Reagan, depois de ter visto o seu marido afectado pela doença de Alzheimer, e ela não era propriamente uma progressista...); é uma lei que permite a constituição de bancos de células estaminais embrionárias tão necessários à investigação e à experimentação científicas; é uma lei de progresso; é uma lei que dá expressão a alguns direitos — estou a concluir, Sr. Presidente — que se encontram no Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Socais e Culturais: o direito à liberdade indispensável à investigação científica, o direito de cada um a beneficiar do melhor nível e qualidade de saúde física e mental, o direito do ser humano à dignidade!