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"Interrogações"
Ilda Figueiredo no "Comércio do Porto"
Quarta, 09 Fevereiro 2005

Estamos a viver um tempo particularmente importante, com muitas interrogações, grandes dúvidas, algumas esperanças, pouco entusiasmo, muito descrédito, sobretudo dos que sempre votaram nos partidos considerados do poder, devido à alternância de governos com políticas sem grandes diferenças práticas, embora com formas diversas de ligação ao social. A manutenção de preconceitos, as tentativas de bipolarização que debates a dois visam incentivar, quando colocam frente a frente apenas os responsáveis dos dois maiores partidos e excluem os restantes, sem que fiquem suficientemente claras as diferenças, apenas contribui para aumentar as dúvidas, o descrédito, a indiferença e a abstenção.

No entanto, quem anda no terreno sabe bem que a pouco mais de uma semana das eleições legislativas para a Assembleia da República, o desemprego continua a ser uma das maiores preocupações da população, acompanhada das dificuldades criadas com o agravamento do custo de vida, as preocupações com a saúde e as propostas de aumento da idade da reforma.

Com cerca de meio milhão de desempregados inscritos nos centros de emprego, dos quais mais de 115 mil no distrito do Porto e cerca de 31 mil no distrito de Aveiro, as consequências sociais e económicas são já particularmente graves, com o agravamento da exclusão social, o empobrecimento de zonas e regiões onde a desindustrialização avança, a perda de produção e o estrangulamento do desenvolvimento de zonas cada vez mais vastas do país. As novas ameaças de diminuição do emprego em empresas multinacionais da zona, a liberalização recente do comércio internacional do sector têxtil no âmbito da Organização Mundial do Comércio com as suas repercussões na indústria portuguesa, e o aumento das dificuldades do comércio tradicional deixam antever um futuro próximo de lutas duras na região.

Mesmo sem saber bem o que é a globalização de que tanto se fala, os trabalhadores portugueses estão a tomar contacto com as consequências da integração na reserva comunitária e internacional de mão-de-obra, em que os trabalhadores dos diferentes países se encontram em concorrência aberta entre si. É que, enquanto nos países desenvolvidos os salários dos trabalhadores representam aproximadamente cerca de 40% do valor acrescentado na manufactura, a percentagem correspondente na América Latina e no Sudeste Asiático é da ordem dos 15%.

Assim, ao desenvolvimento de unidades fabris no chamado Terceiro Mundo, com mão-de-obra barata e vocacionada para a exportação, corresponde o encerramento de fábricas nas cidades industriais de países avançados. Ora, se é verdade que a onda inicial de encerramentos afectou em grande medida os sectores de manufactura leve, de trabalho intensivo, com destaque para os sectores da têxtil, vestuário e calçado, a verdade é que numa segunda fase atingem cada vez mais outros sectores da indústria automóvel, metalurgia, etc.

Em Portugal, com a integração na União Europeia, viveram-se momentos de expansão das indústrias têxteis, de confecção e de calçado, das fábricas de cablagens e material eléctrico e electrónico, baseadas nos baixos salários, apoiadas com fundos comunitários para a instalação e reconversão, que agora estão a ser canalizados para outros países mais a leste, decorrentes do alargamento da União Europeia e da entrada de países onde os salários são mais baixos, os níveis de escolaridade mais elevados e os incentivos às deslocalizações de multinacionais ainda mais fortes.

Ora, com o aprofundamento do neoliberalismo no comércio internacional, como agora se verifica nos têxteis e vestuário, onde Portugal ainda mantém uma importante posição, sobretudo no norte e centro do País, vai ter graves repercussões na indústria e no agravamento do desemprego, sobretudo se o futuro governo português não se decidir por invocar a cláusula de salvaguarda da indústria portuguesa e não pugnar por uma alteração profunda na visão macro-económica da situação do País, estabelecendo como prioridade a defesa da produção, seja na indústria, seja na agricultura e nas pescas, com criação de empregos com direitos e salários e reformas dignas. Só assim, com o aumento do poder de compra da população, haverá uma aposta na dinamização do mercado interno, o que deverá ser reforçado com o abandono da prioridade ao equilíbrio das finanças, aumentando os investimentos públicos em áreas sociais fundamentais para o desenvolvimento, como a educação, a saúde e o saneamento básico.

 

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