Partido Comunista Portugu�s
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Orçamento do Estado para 2007 - Intervenção de Honório Novo na AR
Quinta, 09 Novembro 2006

Orçamento do Estado para 2007 (encerramento do debate na generalidade)

 

Senhor Presidente
Senhores Membros do Governo
Senhores Deputados

Ao contrário do que ontem afirmou o Primeiro Ministro, o Orçamento de Estado para 2007 não pode invocar boa execução, não se baseia em pressupostos de rigor, não se sustenta na economia para criar emprego e muito menos busca a modernização e a coesão social do País!

Vamos por partes.

Em 2006, o Governo vai de facto conseguir o seu único objectivo político, a sua principal prioridade governativa: reduzir o défice, cumprir o Pacto de Estabilidade.

Mesmo à custa de enormes e injustos sacrifícios dos trabalhadores e do País, o Governo deu seguimento à sua obsessão orçamental! Só que, para o conseguir, aumentou cativações em Fevereiro, cortou 4 meses ao ano, rompeu compromissos e vai chegar Dezembro com tantos cortes no investimento que a execução global do Capítulo 50 do PIDDAC, a dois meses do fim do ano, não passa dos 65%!

Pois é, Senhor Primeiro Ministro: mais valia ter optado pela verdade e pela transparência. Não apresentou Orçamento Rectificativo mas está a executar um orçamento que é um autêntico arremedo da proposta que aqui fez aprovar há um ano.

E isto não abona em favor da credibilidade do Governo nem do Orçamento para 2007.

Em segundo lugar, o Orçamento não é rigoroso nem é verdadeiro.

O debate confirmou o que o PCP afirmou logo que o Orçamento deu entrada no Parlamento: o Governo quer cortar quase 450 milhões de euros em remunerações o que significa uma de duas coisas: ou o despedimento de 30.000 funcionários ou a colocação de quase cem mil no quadro de supranumerários.

E a recusa recorrente, teimosa e obstinada do Governo em dizer quantas pessoas quer mandar "para a rua ou para a prateleira", mostram bem a falta de coragem política, a falta de ética política de um Governo que tenta esconder do País as suas verdadeiras intenções!

E será rigoroso um orçamento que está a preparar uma enorme operação de sub orçamentação nas Estradas de Portugal - com a reintrodução das portagens nas SCUTs e a quebra de mais um compromisso eleitoral - só comparável às trapalhadas do tempo do Dr. Santana Lopes que causaram a indignação dos portugueses e a condenação do Dr. Vítor Constâncio?

E que reformas são estas que comprometem o estatuto de Autonomia das Regiões Autónomas e que procuram aniquilar a autonomia do Poder Local, transformando as autarquias no bode expiatório das incapacidades e frustrações governamentais?

Que rigor pode ter um Orçamento e um Governo que apresenta um quadro macroeconómico com um erro flagrante e evidente no valor da inflação de 2006, dizendo que é 2,5% aquilo que o INE e o Eurostat afirmam ser de 3%? Que rigor pode ter um Orçamento que, contrariando todos os observadores (economistas ou engenheiros) insiste em prever para 2007 um valor fantasmagórico de 2,1% para a inflação só com um objectivo: esmagar ainda mais os salários e poder - através de actualizações inferiores das deduções e dos escalões do IRS - provocar um outro agravamento fiscal que se vai abater sobre os trabalhadores e os reformados.

Em terceiro lugar, Senhor Presidente, Senhores Deputados, este orçamento não defende a economia nem se preocupa com o emprego.

Antes do mais porque o Governo não dá o exemplo nem cumpre com as suas obrigações, antes promove cortes brutais do investimento público, cujos níveis só se podem comparar aos que o último Governo do Professor Cavaco Silva - há doze anos - apresentou.

Com este investimento público - que o Primeiro Ministro se recusou sistematicamente a comentar - é o desenvolvimento do País que pode estar comprometido, é a coesão nacional que vai ser de novo adiada, são as assimetrias regionais que vão ser agravadas.

Com este investimento público e com um crescimento de 1,8% - que deixa os membros do Governo num perfeito arraial - o País vai continuar - pelo sétimo ano consecutivo - a divergir da média comunitária.

Terá sido por vergonha que o Senhor Primeiro Ministro nem por uma vez, durante o seu longo discurso, abordou o tema da divergência com a União Europeia que o seu Orçamento vai continuar a permitir?

E não se iluda, Senhor Primeiro Ministro, com flutuações mais ou menos sazonais da taxa do desemprego! Mesmo depois da sua famigerada reforma da Segurança Social ter aumentado a idade da reforma - primeiro dos funcionários públicos, agora de todos os trabalhadores - e, por esta via, o Governo estar a impor um aumento muito significativo da população activa, a verdade é que o desemprego não irá diminuir em termos quantitativos. Aqui também todos os economistas - independentes ou não - são unânimes em reconhecer que só com crescimentos económicos superiores a 2% será possível em Portugal criar emprego líquido.

Em quarto lugar, este Orçamento não visa modernizar o País nem promover a coesão social.

José Sócrates imita Cavaco Silva e Durão Barroso e, pela terceira vez em quase vinte anos, provoca a diminuição do peso das funções sociais nas despesas do Estado. Ao contrário do que diz o Primeiro Ministro, este Orçamento não tem consciência social: corta 780 milhões de euros na Saúde, na Educação e na Segurança Social. Não combate as desigualdades nem promove a coesão social. Pelo contrário: agrava a carga fiscal para os reformados, corta benefícios a pessoas com deficiência, aumenta o IRS para os recibos verdes atingindo vastos sectores de trabalhadores precários, aumenta e cria taxas moderadoras para actos cirúrgicos e internamento e diminui a comparticipação do Estado em medicamentos atingindo desta forma injusta e arbitrária a generalidade da população e dando mais um golpe profundo no Sistema Nacional de Saúde.

Quem acusa o Dr. Correia de Campos e o seu Governo de insensibilidade social não é só e apenas o PCP. É também o Dr. Carlos César e não julgo que seja por causa do próximo Congresso do PS!

Mas quem se afirma absolutamente furioso com o Governo são os reitores da Universidade e os Directores dos Politécnicos. "Não há registo de redução tão drástica" no Orçamento do Ensino Superior em Portugal, caindo assim por terra o populismo e a demagogia do anunciado reforço das verbas para a Ciência e Tecnologia quando os cortes são feitos de forma cega, sem critério, desrespeitando as instituições e os professores, e reservando o "bolo" do orçamento para nichos de mercado e amigos escolhidos a dedo.

E é assim que o Governo quer modernizar o País e qualificar os portugueses?

Finalmente, importa abordar a operação de propaganda que o Governo preparou para distrair a atenção dos portugueses durante o debate orçamental.

Temendo escaldar-se com o escândalo dos lucros de milhares de milhões de euros do sector bancário, numa altura em que lança uma ofensiva generalizada contra os direitos e os salários de quem trabalha, o Governo fez constar que iam fazer a Bana pagar mais impostos e promover mais justiça fiscal!

Só não explicaram como é que então os benefícios fiscais vão aumentar 34% em 2007, como é que a Zona Franca da Madeira beneficia de mais 1.000 milhões de euros de privilégios, como é que, tudo somado, entre benefícios e engenharia ou planeamento fiscal, são mais de 3.500 milhões de euros o que fica por cobrar à Banca e aos grandes grupos económicos em Portugal.

Porque não tinham explicações, o Senhor Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças não conseguiram responder nem fazer a prova do algodão: conclui-se, afinal, que não querem tributar o património mobiliário; que não parecem disponíveis para pôr uma norma travão que coloque no mínimo de 20% (apesar de tudo abaixo da taxa real), a tributação de IRC da Banca e dos grandes grupos económicos! Afinal não querem aproximar de facto a taxa efectiva à taxa real de IRC.

E até o senhor Primeiro Ministro ficou com amnésia e já esqueceu como na campanha eleitoral de 2005 esconjurou o Decreto Lei 404/90 que tem permitido escandalosos benefícios fiscais para a fusão de empresas. E não só se esqueceu como agora lhe dá dignidade fiscal, conferindo-lhe o estatuto de Benefício Fiscal. Claro que esta perda de memória é sublinhada pela gratidão e o aplauso dos grandes grupos económicos e da Banca.

Senhor Presidente
Senhores Membros do Governo
Senhores Deputados

Este Orçamento não serve Portugal nem os portugueses.

E para bom entendedor meia palavra basta. É que no início do debate, o Primeiro Ministro disse ao Dr. Marques Mendes: Pois é! Os senhores dizem e propõem o que há a fazer! Nós fazemos e concretizamos.

A reprodução desta ideia mostra bem o que se passa para lá deste debate orçamental. É que em boa verdade, este é um Orçamento do PSD, um Orçamento da direita, um Orçamento tipo Compromisso Portugal que o PS adoptou e quer executar.

Mas contra este Orçamento e contra estas políticas o País real movimenta-se e luta. Hoje e amanhã a administração pública e milhares de outros trabalhadores mostram-no bem. Aqui, o Orçamento vai certamente passar. Mas lá fora será seguramente denunciado e contrariado! Até que sejam alteradas as suas políticas.

Disse.