António José Martins, Membro do Comité Central do
PCP
Camaradas
Do ataque cerrado às várias componentes e sectores do Estado
Democrático é de salientar a área da Administração
Interna e Forças de Segurança onde o Governo PSD/CDS-PP,
a pretexto do «combate à droga e ao terrorismo», pretende
viabilizar a doutrina da segurança nacional e criar condições
para a materialização dos seus objectivos de impor às
Forças de Segurança e às próprias Forças
Armadas instrumentos e orientações de carácter repressivo
que lhe permita fazer face ao legítimo descontentamento e protestos
populares que a sua política antinacional e antipatriota tenderão
a provocar.
É um dado indiscutível, que a brutal ofensiva contra os
alicerces do regime democrático, o 25 de Abril e os direitos dos
trabalhadores tinha que ter consequências negativas e graves na
segurança interna e nas formas de organização, funcionamento
e actuação das forças policiais.
Efectivamente, na concretização destes objectivos e à
semelhança do que acontece em outros sectores do Estado, o Governo,
de forma autoritária e irresponsável, aliena responsabilidades
e privatiza áreas fundamentais da segurança e protecção
dos cidadãos, acentua os traços do militarismo desviando
as forças de segurança das suas missões constitucionais
e corta nos orçamentos e investimentos para a segurança
pública. Põe em marcha processos de reestruturação
assentes em determinado modelo policial que prevê o fecho de esquadras
e postos policiais.
Aposta em medidas de carácter securitário, de fichagem e
controlo dos cidadãos e limitativas das liberdades e dos direitos.
Paralelamente, no quadro da União Europeia e à boleia do
denominado «terrorismo» e do permanente agitar dos perigos
inerentes a uma maior insegurança na Europa e no mundo, são
aprovadas leis e criadas estruturas ao nível das informações
e de forças operacionais para actuarem em completa liberdade e
impunidade na vigilância e perseguição policiais contra
o chamado inimigo interno e particularmente preocupantes para a liberdade
dos cidadãos e para a própria soberania nacional.
Neste quadro gravoso, é visível que a política deste
Governo para a Segurança Interna de governamentalização
e instrumentalização das forças e serviços
que actuam nesta área – aliás como aconteceu em anteriores
Governos do PS e do PSD – prevalece sobre os objectivos e aspirações
de segurança dos cidadãos e de dignificação
das funções dos agentes, da eficácia da actuação
e qualidade do serviço policial prestado às comunidades.
São medidas políticas que visam criar nas sociedades e
nas pessoas sentimentos de insegurança e medo, estimulando a predisposição
para aceitarem o excesso de segurança como um mal menor e legitimar
o emprego das Forças Armadas no plano interno fora dos regimes
de excepção, previstos constitucionalmente, e as Forças
de Segurança no plano externo, em teatros de guerra, e em missões
de preponderância militar à margem da lei e da Constituição.
O que está em causa, é a subversão grave dos conceitos,
entre o que é segurança interna e o que é defesa
nacional e da perigosa adulteração das missões que
estão atribuídas constitucionalmente tanto às Forças
Armadas como às Forças de Segurança e que já
hoje configura o envolvimento de efectivos de uma força de segurança
de Portugal em missões externas de ocupação de um
país soberano (o Iraque) e à revelia das instâncias
internacionais. É este quadro, tendo por base a concepção
ideológica do «Estado policial» que este governo reserva
para as forças de segurança públicas e pretende impor
ao país e aos portugueses.
Camaradas
As forças de segurança públicas são do Estado
e dos cidadãos e não propriedade do Governo e não
podem estar ao serviço de interesses conjunturais ou estranhos
à democracia.
A Constituição garante a todos o direito à segurança
e tranquilidade públicas. Ao Governo compete cumprir a Constituição
e facultar os meios humanos e materiais para que as polícias possam
exercer com eficácia a missão, que lhes é atribuída
pela Lei Fundamental, de estarem ao serviço dos cidadãos
e do Estado democrático.
É, pois, para o PCP, indispensável alterar profundamente
as orientações fundamentais da política de segurança
interna que têm sido implementadas ao longo dos anos pela direita.
O PCP, na sua acção política e junto das instituições,
tem claramente assumido uma política de administração
interna em conformidade com a Constituição e de defesa do
regime democrático saído da Revolução do 25
de Abril, condenando o envolvimento da GNR em missão de ocupação
do Iraque e exigindo o seu regresso, pugnando pelo sindicalismo nas forças
e serviços de segurança e pela satisfação
de importantes reivindicações dos profissionais da polícia.
Infelizmente, os próximos tempos e a realidade acabarão
por dar razão ao PCP e confirmar as piores previsões em
relação à política deste Governo da direita
mais reaccionária.
Também nesta área, são tempos de resistir e de lutar.