Inicio
Intervenções e Artigos
Posições Políticas sobre IVG
PCP na AR sobre IVG
Tempos de Antena do PCP
Fotos da Campanha
Apelo do Comité Central do PCP
Questões Legais sobre Referendo
 Folheto IVG -2ª Fase
Folheto em PDF
Depoimentos em video



Início arrow PCP na AR sobre IVG
Abertura do Ano Escolar
Intervenção de Luísa Mesquita
Quinta, 02 Setembro 2004

Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Educação,

Não esperava que ocu-passe o seu tempo de Ministra para vir à Comissão Permanente reconhecer que o que acabou de aconte-cer relativamente à colocação dos docentes «é já um sucesso» – foi esta a expressão que usou. Ou seja, «é já um sucesso» o mais longo concurso de colocação de educadores e professores que se conhece nos últimos 30 anos;.«é já um sucesso» o pior concurso de sempre, que tem inscrito nas suas páginas de colocação as maiores incompetências e as maiores leviandades políticas!

Foi iniciada uma auditoria em Maio deste ano (que já é tão longa como o concurso) que, segundo a Sr.ª Ministra, vai estar pronta em Novembro de 2004.

Só que a Sr.ª Ministra já conhece o resultado provisório – Sr. Secretário de Estado Diogo Feio, ria-se e fique satisfeito, porque tem razão para isso!… –, já sabe que a empresa não vai ser processada, isto é, que a empresa Compta, responsável pela informatiza-ção deste modelo de concurso, a quem os portugueses pagaram 600 000€ e que, por mera coincidência, tem no seu conselho de administração um ex-ministro do tempo «cavaquista», naturalmente, não tem quaisquer culpas.

Mas se essa empresa não tem culpas, quem as tem é o Governo!

A Sr.ª Ministra tem de dizer hoje, na Comissão Permanente, se divide as culpas a meio: 50% para o ex-Ministro David Justino e 50% para si.

Ele já se foi… E a Sr.ª Ministra quando pensa ir?

Sr.ª Ministra, como é possível falar hoje aqui de sucesso quando, ainda esta manhã, estive em contac-to com professores de todos os locais do País e estruturas sindicais, entrei em sindicatos onde os profes-sores ocupam todos os pisos e estão na rua à espera que um advogado os atenda para contarem a desgraça que o seu Governo fez a cada um deles e à sua vida familiar?

Como é que a Sr.ª Ministra fala hoje em sucesso quando indicou centenas de sites de acolhimento pelo País e, inclusivamente, nomeou alguns que nem sequer têm computador? E isto em termos de acolhimento informático.

Há-de dizer-me qual é o instrumento que responde, em termos de acolhimento informático, se não há computador!? Deve haver um outro processo que os professores des-conhecem…

Como é que a Sr.ª Ministra fala em sucesso quando ontem, durante a tarde, os seus serviços, colocaram no site da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação a alteração de códigos, num concurso que está a meio – se considerarmos uma gestação de nove meses, já não será a meio mas mesmo na parte final: o «parto» deve estar quase… Ou seja, os professores que concorreram de manhã e apresentaram reclamações tiveram os velhos códigos; aqueles que descobrira a listagem depois de almoço já tinham novos códigos.

Sr.ª Ministra, não diga que não! Dou-lhe apenas um exemplo. Em Monção, há 20 escolas com códigos, a Sr.ª Ministra resolveu alterar 14 e eu pergunto: o que fazem os professores deste concelho?

Temos um projecto de resolução e medidas concretas para lhe apresentar mas, Sr.ª Ministra, não fale de sucesso, fale de insucesso, de fracasso, de leviandade e de incompetência do seu Governo.

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

Podemos afirmar com segurança que nenhum início de um ano lectivo esteve tão comprometido como aquele que aí vem de 2004-2005, num dia de Setembro na perspectiva do governo mas que aqueles que conhecem o sistema dizem impossível e irrealista.

Como se já não bastasse tudo aquilo que este governo fez desde Abril de 2002 para estrangular os estabelecimentos de ensino, promover a desigualdade de oportunidades, incentivar irregularidades nas escolas como aconteceu com a revisão curricular do Ensino Secundário que funcionou, ilegal e clandestinamente durante o anterior ano lectivo, hoje é o descalabro, a incompetência e a trapalhada nas colocações dos professores e educadores de infância.

Não há memória de uma situação similar relativamente à colocação de educadores de infância e professores dos ensinos básico e secundário.

A incompetência técnica e a irresponsabilidade estão a gerar o caos nas escolas e no seio dos milhares de professores. De lista provisória em lista provisória os erros mantêm-se e o governo parece brincar com a angústia e a preocupação dos professores e das famílias que não sabem qual a sua vida familiar e profissional nos próximos meses.

A incompetência manifestada e os custos inerentes a este processo não podem ser ignorados, nem silenciados.

Mas, entretanto o governo já veio dizer que a auditoria só para Novembro estará concluída, apesar de ter sido decidida em Maio.

E que independentemente das suas responsabilidades neste processo o governo não tenciona processar a empresa.

Porquê?

Já conhece o resultado provisório da auditoria?

Já sabe que a empresa não é a responsável?

Então quem é?

O Governo?

Então quais são as consequências políticas?

Dividem as responsabilidades com o ex-ministro David Justino?

Estamos em Setembro e desde o início de 2004 que esta telenovela de má qualidade – os concursos dos professore é imposta quase diariamente ao país.

Em Fevereiro publicava-se o aviso de abertura com um mês de atraso.

Encomendava-se à empresa Compta – a tal que entre vários administradores conta com um ex-ministro da educação da era cavaquista por 600.000 euros, a informatização deste modelo e assim estavam lançados os 1º s dados para a consagração da incompetência e da leviandade políticas.

Em Maio são divulgadas as primeiras listas provisórias.

A desgraça é total:

  • Candidatos excluídos por ausência de habilitação apesar de a possuírem e trabalharem há muitos anos.
  • Exclusão de todos os professores e educadores que concorreram a partir das Regiões Autónomas.
  • Professores e educadores com muitos anos de serviço, considerados com tempo zero.

E hoje?

Durante a manhã estivemos em contacto com muitos professores e educadores e com estruturas sindicais.

A informação que possuímos evidencia uma total irresponsabilidades do governo, que não aprendeu nada ao longo destes nove meses de gestação deste modelo de concurso.

Não sendo possível ainda apurar a totalidade dos dados, já se sabe que houve 36.000 reclamações apresentadas por 31.000 professores e educadores.

O Ministério aceitou 2/3.

Há cerca de 13.000 não aceites.

A grande maioria destes 13.000 deveria ter sido aceite e não o foi.

Já foram aceites 10 Providências cautelares nos tribunais cíveis e administrativos de Braga e Porto.

Foi dado ao Governo o prazo de 5 dias para INCLUIR ESTES DOCENTES. Não incluíu nenhum.

Nas reclamações aceites, o Ministério introduziu ainda mais erros e excluíu os docentes em vez de os incluir.

  • O Governo anunciou vários pontos de acesso ao atendimento informático aos docentes em concurso.
  • Sabe-se hoje que, na sua maioria, não existem em condições de funcionamento.
  • Os que existem não foram devidamente divulgados.
  • No Alentejo e no Norte não há postos de atendimento a funcionarem.
  • Na zona centro o Ministério decretou os espaços mas não informou os responsáveis que desconhecem que os espaços que gerem foram disponibilizados pelo governo.
  • Há indicação de espaços que nem sequer possuem computadores.
  • Ontem, durante a tarde, o Ministério cometeu mais uma ilegalidade, alterando códigos de escola que estavam a funcionar até ontem de manhã.

Agora os professores não sabem como codificar as escolas e os que concorreram ontem de manhã não sabem o que lhes vai acontecer.

Por exemplo, no Concelho de Monção, dos 20 códigos de escolas existentes o Ministério alterou 14.

Neste momento é impossível ainda quantificar os prejuízos que tamanha trapalhada do Governo irá ocasionar ao sistema educativo, às pessoas e ao orçamento do Estado.

No entanto há dados já inquestionáveis:

  • O ano lectivo de 2004/2005 está irremediavelmente prejudicado do ponto de vista organizacional, relativamente

    - à distribuição de serviço docente

- aos horários

- aos projectos educativos

  • A instabilidade e a preocupação estão instaladas nas escolas e nos docentes e naturalmente nas famílias que sabem que o ano lectivo não estão assegurado em condições de qualidade do processo de ensino‑aprendizagem.

Nestas circunstâncias o PCP entrega hoje um projecto de resolução que recomenda ao Governo um conjunto de medidas que possam não só minimizar o descalabro do início do ano lectivo mas também evitar que esta desgraça se registe para o próximo ano, o que acontecerá se não forem, concretizadas algumas acções.

Entre as medidas que propomos é indispensável alterar a data de início do ano lectivo, porque a data prevista é uma ficção.

É imprescindível aumentar o número de dias para entregar as reclamações porque dos 5 dias propostas pelo Governo, 2 são sábado e domingo.

É necessário garantir que as reclamações sejam aceites em suporte de papel, quando o sistema informático não funcionar, o que está a acontecer a todo o momento.

É uma exigência de bom senso que este modelo que foi experienciado à custa da angústia de muitos e do caos do sistema, seja reavaliado com rigor e competência, desde já, para garantir que, no próximo ano lectivo, o país não assista a tão tristes episódios de incompetência e leviandade.

Disse.

 

Jornal «Avante!»
«O Militante»
Edições «Avante!»
Comunic, a rádio do PCP na Internet