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O Comité Central do PCP reunido no dia 18 de Dezembro procedeu a uma
avaliação dos resultados eleitorais para as autarquias e aos desenvolvimentos
que as consequências retiradas pelo partido do Governo da sua leitura
introduziram no quadro político actual. Considerando negativo o resultado
global obtido pela CDU e registando a necessidade de proceder a um debate alargado
sobre os resultados e as suas consequências, o Comité Central do
PCP chama a atenção para a necessária e pronta resposta
que a previsível evolução da situação política
conhecerá a curto prazo e para a importância de neste quadro afirmar
o PCP e o seu reforço como condição indispensável
para a construção de uma alternativa à política
de direita.
1. O Comité Central do PCP considera
que o resultado negativo obtido pela CDU nas eleições do passado
domingo não corresponde às aspirações e perspectivas
que o desenvolvimento do trabalho e da campanha deixavam prever nem ao esforço
e mérito da obra da CDU e das candidaturas por si apresentadas.
Com efeito, os resultados alcançados - 28 presidências de Câmara,
250 presidências de Junta de Freguesia, cerca de 580.000 votos (sem contar
com os votos da Coligação Amar Lisboa) e 10,6% para as Câmaras
Municipais - traduzem uma importante perda de posições da CDU,
designadamente ao nível de presidências de Câmara (menos
13 que em 1997), de mandatos (em Câmaras e Assembleias Municipais e em
Assembleias de Freguesia) e de percentagem de votos (cerca de menos 1,4 pontos).
O Comité Central do PCP saúda a importante e expressiva vitória
eleitoral que a conquista do Município de Setúbal significa e
sublinha, por antecipação, as tentativas de desvalorizar a nossa
influência e posições nas autarquias, que a CDU se confirma
também no Poder Local como a terceira força política nacional,
com mais de 3.300 eleitos directos e com responsabilidade na gestão de
numerosas e importantes autarquias. Uma presença que conheceu também
avanços traduzidos na conquista de posições e em progressos
eleitorais em municípios e freguesias de vários distritos do Centro
e Norte do País.
2. Sem diminuir em nada o compreensível
sentimento de decepção suscitado por estas derrotas concelhias,
importa igualmente ter em conta que, em alguns casos, a CDU perde Câmaras
com altas votações (algumas acima dos 40%) e por poucos votos
de diferença (por exemplo, Barreiro por 390 votos, Mértola por
57 e Barrancos por 12), sendo, em reverso, igualmente verdade que tanto agora
como no passado também ganhou algumas Câmaras por escassas margens
de voto e não recuperou agora a Marinha Grande por uma diferença
de 300 votos. Da mesma forma o Comité Central julga necessário
anotar que a margem que nos separou da manutenção das presidências
em 12 dos 14 municípios é pouco superior a 9 mil votos, o que
põe em evidência que estas perdas de presidências não
correspondem a uma drástica quebra de influência eleitoral.
3. Sem querer precipitar conclusões na
avaliação das razões e causas que estiveram na origem dos
resultados eleitorais, para o qual concorrem inegavelmente um conjunto de factores
mais complexos e contraditórios que em eleições anteriores,
o Comité Central do PCP regista que na perda de muitas das posições
designadamente de maioria terá tido origem, em conjunto ou em separado,
na perda de influência própria e nalguns casos na continuada erosão
das votações no PSD em claro benefício do PS.
Em termos nacionais, e comportando numerosas excepções em sentidos
variados, parece patente que o PSD capitaliza nos seus acréscimos de
votações e novas vitórias (algumas com dimensão
surpreendente) a expressão do descontentamento com o Governo do PS mas
que, por outro lado, o PCP e a CDU, também com numerosas excepções,
não conseguiram em regra defender a sua anterior votação
autárquica designadamente em situações de confronto directo
e competição com o PS que, nessas situações, consegue
escapar ao desgaste eleitoral que a sua política lhe provocou noutros
concelhos em que esteve em competição com o PSD.
Neste quadro, merece ponderação a possibilidade de a, pelo menos
parcial, transformação das autárquicas numa espécie
de legislativas antecipadas que foi induzida pela campanha do PSD e largamente
amplificada pela comunicação social (e que o PCP não acompanhou)
e certos elementos de dramatização terem pressionado e pesado
no sentido de uma maior aproximação da votação autárquica
da CDU à sua tradicionalmente menor votação em legislativas.
4. No quadro nacional dos resultados, é
também de referir como marca particularmente negativa a derrota, embora
tangencial, da Coligação Amar Lisboa, que põe termo a um
período que, após uma década de gestão desastrosa
da direita, representou uma grande e positiva mudança para a capital
de que o PCP como parte integrante da Coligação legitimamente
se continua a orgulhar.
5. Sendo iniludível que o PSD pelos resultados
que apresenta, designadamente em número de presidências de Câmara,
foi o principal beneficiário da expressão eleitoral do descontentamento
gerado pela política do Governo (que teve no PCP e na luta dos trabalhadores
os principais opositores), o Comité Central do PCP considera necessário
chamar a atenção para que se revela infundada e precipitada a
conclusão que procura apresentar como arrasador o avanço do PSD
num quadro em que o progresso da votação da direita em conjunto
(PSD, CDS-PP e suas coligações) se traduz em pouco mais que 3
pontos percentuais. A par das significativas perdas registadas pelo PS ao nível
de presidências de Câmara é ainda de registar que a votação
do Bloco de Esquerda desce significativamente quando comparado com os seus resultados
nos mesmos concelhos para as legislativas.
6. O PCP chama a atenção para
o peso que a continuada campanha de instrumentalização do aparelho
de Estado, de uso de cargos públicos, de mentira, populismo e demagogia
e de critérios discriminatórios de órgãos de comunicação
social, teve na expressão da vontade de muitos eleitores e no condicionamento
do seu voto.
7. O Comité Central do PCP saúda
todos os activistas e candidatos - membros do PCP, do Partido "Os Verdes"
e da ID e milhares de independentes - que ao longo da campanha contribuíram
com o seu trabalho para a divulgação das propostas e projecto
da CDU, numa acção marcada por uma grande generosidade, empenhamento
e dedicação e sublinha a importância de manter esta valiosa
agregação de vontades e energias no trabalho no Poder Local e
na acção política futura. A campanha realizada e a confiança
depositada por quase seiscentos mil portugueses na CDU encontrará prolongamento
em outros momentos de intervenção e de luta por uma vida melhor,
em defesa dos seus direitos e pela justiça social. Com as responsabilidades
que o valor do seu trabalho nas autarquias lhe confere, a CDU reafirma a sua
inteira disposição para prosseguir a sua acção em
defesa do Poder Local e para contribuir pelo seu trabalho nas autarquias, em
maioria ou em minoria, para a melhoria das condições de vida das
populações e o progresso e desenvolvimento local e regional.
O Comité Central anuncia o propósito de realizar em data a fixar
oportunamente uma iniciativa nacional sobre o Partido e o Poder Local.
8. No momento político actual, explorando
o inegável impacto do resultado negativo da CDU, procura-se incutir a
ideia de que, em consequência directa ou indirecta desse resultado, o
PCP e a CDU estariam inevitavelmente condenados a uma descida de votação
em próximas legislativas.
A este respeito, importa assinalar que não se pode sustentar qualquer
relação mecânica ou automática entre os resultados
de domingo passado e os de próximas legislativas, sendo de lembrar que
nas autárquicas de 1997 a CDU perdeu 8 Câmaras e 0,9 pontos percentuais
e entretanto, nas legislativas de 1999, obteve uma ligeira subida em percentagem,
chegando aos 9% e elegendo mais dois deputados que em 1995.
9. Na sequência dos resultados eleitorais
do passado domingo, e tendo presentes as novas e acrescidas exigências
que projectam sobre a situação política e sobre a acção
e intervenção do Partido, o Comité Central salienta a importância
das medidas a tomar para a intervenção em torno dos problemas
mais sentidos pelos trabalhadores e pelo povo português e para a concretização
das orientações definidas para o reforço da organização
do Partido. O Comité Central apela também a todas as organizações
e militantes para que, fortalecendo a vida democrática interna, animem
e participem na necessária reflexão colectiva e individual que
contribua para o apuramento de ideias, opiniões e orientações
de trabalho que, na concretização das orientações
fixadas pelo XVI Congresso, permitam reforçar a organização
e intervenção do PCP e a acção dos seus militantes
e enfrentar em melhores condições as batalhas sociais, políticas
e eleitorais que se perspectivam.
10. O momento político é marcado
pelo pedido de demissão apresentado pelo Primeiro Ministro António
Guterres na sequência da pesada derrota do partido do Governo. Nesta situação,
a realização de eleições legislativas antecipadas,
não sendo a única solução constitucionalmente possível,
aparece como a politicamente inevitável.
O CC do PCP considera que a derrota do PS é indissociável dos
efeitos da política de direita por si prosseguida, explorada pelo PSD
e pelo PP que embora identificados e concordantes com o essencial dessa política
dela se demarcaram demagógica e artificialmente a fim de capitalizar
o descontentamento de diversos sectores e camadas sociais.
O PCP recorda e sublinha que o PSD (sozinho ou acolitado pelo CDS-PP), em tudo
o que é mais estruturante da política económica e social
não constitui alternativa à política de direita do PS,
defendendo velhas e agravadas orientações e medidas já
antes derrotadas pelo povo português.
Sem ignorar os efeitos subjectivos do resultado destas eleições
autárquicas o PCP - pelos valores e ideais que defende, pela validade,
actualidade, autonomia e conteúdo transformador do seu projecto -, continua
a constituir uma força indispensável para romper com os ciclos
de alternância entre PS e PSD que mudam caras e etiquetas mas mantêm
o essencial de uma política errada e injusta e afirmar com determinação
a necessidade de uma política e uma alternativa genuinamente de esquerda
em Portugal.
Confiando e considerando indispensável o desenvolvimento das lutas e
dos movimentos sociais e de massas em torno de objectivos concretos em articulação
com a convergência na reclamação de uma nova política,
o PCP está em condições de travar com êxito as batalhas
que se aproximam, como é indispensável para a defesa dos direitos
dos trabalhadores, para o bem estar do povo, para a solução dos
problemas nacionais e para o progresso de Portugal.
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