Ilda Figueiredo, Deputada ao Parlamento Europeu, membro do Comité
Central do PCP
Queridos Camaradas
Prezados Convidados
Saúdo os nossos convidados, todos os delegados e delegadas a este
importante Congresso e, por vosso intermédio, todo o nosso Partido,
a que me orgulho de pertencer, por prosseguir, sem vacilações,
a luta indispensável contra a exploração capitalista,
na defesa das transformações sociais, visando uma sociedade
mais justa, na convicção de que um outro mundo é
possível e necessário, um mundo socialista.
É tendo por base estes princípios que desenvolvemos o nosso
trabalho no Parlamento Europeu, na luta contra o neoliberalismo cada vez
mais agressivo, contra o avanço do federalismo sob o domínio
das grandes potências e a sua acentuada militarização,
na defesa de uma outra Europa como livre união de Estados soberanos
e iguais em direitos, empenhados na convergência económica
e no progresso social, na promoção da paz e de uma cooperação
exemplar com os povos de todo o mundo. O que desde já coloca a
necessidade de mobilizar todo o nosso Partido contra o novo Tratado que
pretende aprovar uma Constituição para a Europa.
Damos particular atenção às implicações
das políticas comunitárias em Portugal e na vida quotidiana
das pessoas, procurando apresentar propostas alternativas, após
diálogo com os sectores interessados, na defesa da produção
portuguesa, da identidade cultural e da soberania de Portugal, dos direitos
de quem trabalha, de serviços públicos de qualidade, da
participação democrática e popular na construção
de uma Europa mais solidária, de paz, progresso e desenvolvimento.
Por isso, na recente campanha para o Parlamento Europeu, apesar de todos
os profetas da desgraça afirmarem que íamos perder um deputado,
procurando fazer crer que seria da CDU o deputado que Portugal, de facto,
perdeu, por causa das cedências inadmissíveis dos sucessivos
governos PS e PSD/CDS. Mas não foi. A CDU manteve os dois deputados.
E isso é muito importante para continuarmos a luta, cá e
lá.
É o nosso empenhamento que mantém a luta contra as deslocalizações
de multinacionais, pela defesa dos direitos dos trabalhadores e do desenvolvimento
das zonas atingidas pelo flagelo do desemprego, seja na têxtil,
vestuário e calçado, seja no material eléctrico,
na metalurgia ou nas componentes para a indústria automóvel,
como bem o sabem os trabalhadores da Alcoa, da ex-Brax, da Clarks, da
GM/Opel, da Bombardier/ex-Sorefame, e tantos outros com quem mantemos
contactos regulares.
É conhecida a ampla campanha internacional de solidariedade com
as mulheres acusadas da prática de aborto, a solidariedade com
Timor-Leste, a Venezuela e Cuba, a luta contra a guerra e a ocupação
do Iraque pelo imperialismo americano e seus apoiantes, a luta contra
o terrorismo de Estado do governo de Sharon, a solidariedade com o povo
martirizado da Palestina e a firme defesa da cooperação
com os países em desenvolvimento e os povos de todo o mundo, que
realizamos como membros do Grupo da Esquerda Unitária Europeia
no PE.
Foi a nossa firmeza na luta pelos dos direitos de pesca no Continente
e nas Regiões Autónomas, pelo apoio aos pescadores e pela
manutenção da nossa soberania na ZEE que mantém na
ordem do dia a revisão de medidas injustas de liberalização
do acesso às águas e aos recursos pesqueiros, depois da
brutal redução do esforço de pesca a que os pescadores
portugueses estiveram sujeitos.
Tal como é o nosso empenhamento que mantém na ordem do
dia a luta pela defesa do sector têxtil, da indústria naval,
do apoio aos produtores do leite, do vinho, do azeite, das frutas e legumes,
da promoção da agricultura familiar e do pequeno comércio.
Mas novas lutas se avizinham. E, desde já, queremos aqui deixar
alguns alertas:
1º O primeiro, sobre um conjunto de propostas de directivas que
visam um ataque frontal aos direitos sociais e aos direitos de quem trabalha.
Trata-se das propostas de aumento do tempo de trabalho e da criação
do mercado interno dos serviços, dando seguimento à chamada
estratégia de Lisboa, para prosseguir o processo de liberalizações
e de abertura dos mercados em diversos sectores, com o processo de privatizações,
despedimentos e degradação dos serviços que conhecemos,
conduzindo não só a um ataque feroz ao sector público,
como pondo em causa o próprio serviço público.
Daí a nossa insistência numa profunda revisão da
estratégia de Lisboa, numa moratória das liberalizações
e na valorização de quem trabalha, para conseguir o relançamento
económico, o que também exige a suspensão imediata
do Pacto de Estabilidade visando a sua substituição por
um Pacto de Progresso Social e de Emprego.
Aqui fica o apelo a que haja uma ampla mobilização dos
mais diversos sectores contra estes novos ataques aos serviços
públicos.
2º O segundo alerta é sobre a negociação das
perspectivas financeiras, ou seja, sobre o novo quadro financeiro de 2007
a 2013, situação particularmente importante após
a adesão de mais dez países, em Maio passado, mas a que
se sucederão a Bulgária e a Roménia talvez em 2007,
estando em cima da mesa a questão da Turquia e da Croácia.
Dada a posição intransigente dos países mais ricos,
que pretendem diminuir o seu contributo e deitar ao caixote do lixo um
dos princípios mais importantes dos Tratados, a solidariedade,
sem a qual não é possível coesão económica
e social, impõe-se uma especial atenção para que
o nosso País não seja marginalizado.
É provável que o processo de negociação do
novo quadro financeiro se venha a realizar num quadro de chantagem dos
países mais ricos para conseguirem a ratificação
do Tratado que pretende aprovar uma Constituição para a
Europa.
Ora, num quadro de uma economia cada vez mais aberta, com as crescentes
liberalizações e a conhecida fragilidade da nossa estrutura
produtiva, esta é uma das importantes lutas que vamos ter pela
frente.
3º O terceiro tema é decisivo para o futuro. Trata-se da
dita constituição europeia. Temos denunciado o projecto
de novo Tratado, por discordarmos do projecto de sociedade que ali se
defende, de aprofundamento do capitalismo cada vez mais agressivo, definindo
um ordenamento neoliberal da sociedade, mercantilizando tudo, desvalorizando
cada vez mais as pessoas, secundarizando os aspectos sociais que dizia
defender.
Em Portugal, estamos ainda longe do debate alargado e pluralista que
se impõe e que um referendo sobre o novo Tratado facilitaria.
Infelizmente, o que se está a preparar é, no mínimo,
uma farsa. A pergunta aprovada na Assembleia da República é
totalmente incompreensível para a esmagadora maioria dos portugueses,
deixa de fora questões essenciais.
Por exemplo:
Estão de acordo que Portugal perca definitivamente o seu direito
de gerir o nosso mar? Não!
Estão de acordo que o único caminho do futuro de Portugal
e da Europa sejam as privatizações de serviços essenciais,
saúde, educação e segurança social?
Estão de acordo que as imposições do Pacto de Estabilidade
continuem com o agravamento do desemprego, da pobreza e da exclusão
social?
Então, só podemos dizer NÃO à dita Constituição
Europeia.
Assim, resta saber o que pretendem o PSD, o PS, e o CDS com a tal pergunta.
Baralhar os portugueses? Desmobilizar as pessoas da participação
no referendo?
Por isso, a luta do esclarecimento sobre o que se está a passar
na União Europeia é da maior importância para impedir
que se subalternize ainda mais o nosso país, se percam mecanismos
fundamentais de defesa dos interesses do povo e do País.
Pela nossa parte, continuaremos a juntar a nossa voz, no Parlamento Europeu
e fora dele, para estimular e favorecer a intervenção popular,
a solidariedade internacionalista e a luta por uma alteração
profunda das orientações e das políticas comunitárias,
para dar prioridade absoluta ao emprego com direitos, à dinamização
da nossa produção, à defesa do aparelho produtivo
nacional, ao investimento e a serviços públicos de qualidade.
Assim, aqui fica o apelo para que nos envolvamos todos na denúncia
dos objectivos desta dita constituição europeia, exigindo
um verdadeiro referendo e não uma farsa.
Outra Europa é possível, com mais democracia, paz e desenvolvimento
para todos os países. Vamos à luta.
Viva o 17º Congresso do PCP!