Intervenção de Jerónimo de Sousa,Candidato à Presidência da República
Coliseu do Porto
20 de Janeiro de 2006

 


Encerramos aqui, com este comício nesta cidade da liberdade e de grande calor humano que é o Porto, a campanha eleitoral para a Presidência da República.

Permitam-me, amigos e camaradas, em primeiro lugar, que daqui dirija o meu agradecimento a todos os homens, mulheres e jovens que por todo o país se envolveram com dedicação e trabalho para assegurar o êxito desta minha e vossa campanha eleitoral.

Agradecimento aos militantes comunistas, aos verdes, à intervenção democrática, aos muitos socialistas, às pessoas com outras opções partidárias ou sem opção definida que apoiam a minha candidatura pelos seus valores, pelo seu projecto e a todas aquelas que, por todo o país, pessoalmente me incentivaram e expressaram o seu apoio e a intenção do seu voto na minha candidatura.

Agradecer a confiança que depositaram na minha candidatura e o contributo inestimável que deram com o seu entusiasmo e participação para a transformar na grande candidatura de dimensão nacional que hoje é.

Foi com essa generosa e activa participação, foi com esse apoio e entusiasmo que conseguimos chegar aqui, ao Porto, depois de meses de trabalho eleitoral com uma candidatura que veio sempre em crescente afirmação e que reúne hoje por todo o país uma enorme onda de simpatia.

Tenho, por isso, fundadas razões para confiar num bom resultado da minha e vossa candidatura e que seremos capazes de ultrapassar com êxito esta batalha tão importante na evolução da situação do país e na vida dos portugueses nos próximos anos.

Tenho razões para confiar que mais uma vez vamos derrotar todas as sondagens, porque elas não reflectem o voto real dos portugueses.

Mas seja qual for o resultado do próximo dia 22, esta campanha, só por si, significa um passo em frente na batalha pela exigência de mudança e de uma ruptura democrática com as políticas de direita. Esta campanha e esta candidatura são já um grande contributo para o desenvolvimento futuro da luta por um Portugal de progresso e desenvolvimento.

Hoje estão mais evidentes não só as razões, mas também a justeza e necessidade da minha e vossa candidatura e do seu projecto para Portugal que nenhuma outra estava em condições de assumir e defender.

Ficou claro no decorrer desta campanha que também nenhuma outra candidatura foi capaz de se demarcar de forma tão nítida e frontal das políticas nacional e europeia dos últimos anos que são a causa da crise e das dificuldades que o país e os portugueses enfrentam.

Ficou muito evidente no decorrer desta campanha a natureza e singularidade desta candidatura, uma candidatura que se afirma dos trabalhadores e do povo que assume as suas mais profundas aspirações e legítimos interesses.

Ficou claro no decorrer desta campanha para muitos mais portugueses que o país não está condenado às mesmas e gastas soluções impostas pela política de direita e que há um outro caminho alternativo, respeitador de Abril e dos seus valores de democracia, liberdade, desenvolvimento, justiça social e independência nacional.

Que o imperativo constitucional de realizar em Portugal uma democracia política, económica, social e cultural não é essa espécie de utopia a concretizar num tempo longínquo, mas uma real possibilidade e uma necessidade para o desenvolvimento da sociedade portuguesa de hoje.
Que é possível e necessário aprofundar a democracia. Valorizar as suas diversas dimensões, em particular a dimensão participativa, numa clara e firme afirmação que não há espaço na intervenção política que seja monopólio e privilégio de uma minoria.
Que uma democracia representativa dos interesses dos portugueses, não pode ficar prisioneira dos grandes interesses económicos e financeiros e das clientelas que os servem, utilizando as mais promíscuas das relações entre interesse público e privado.

Que o caminho não é o das engenharias das leis eleitorais para perpetuar os mesmos de sempre no poder, nem o coarctar da liberdade de organização e associação políticas, mas a garantia de uma democracia fundada na efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na autenticidade da representação da pluralidade das opções políticas.

Que o caminho não é o da redução do Estado Democrático, que a constituição de Abril consagrou, a um Estado mínimo, liberto de tudo o que é compromisso social com o bem-estar dos trabalhadores e do povo, como defendem a direita e os neoliberais de todos os matizes, transformando as funções sociais do Estado de Abril num negócio e instrumento de exploração de uns poucos.

Que o que se impõe, em nome da justiça social e do desenvolvimento do país é defesa e realização de um Estado com preocupações e responsabilidades sociais que garanta aos portugueses, independentemente da sua condição social ou económica, o direito ao ensino, à saúde e à segurança e protecção social.

Estado que garanta o direito do acesso dos cidadãos, em condições de igualdade à Justiça e aos Tribunais promovendo a redução dos elevadíssimos custos judiciais que são um factor de descriminação que impede o acesso à justiça aos mais pobres.

Estado que deve garantir e assumir a defesa dos direitos individuais e colectivos dos trabalhadores, nomeadamente o direito ao emprego, a um salário e uma reforma dignas, à contratação colectiva e ao trabalho com direitos.

Estado que combata as discriminações e afirme os direitos das mulheres e sua participação em igualdade.

Estado que deve estar ao serviço do desenvolvimento harmonioso do país e de uma economia nacional virada para satisfação das necessidades do povo e na qual têm papel indispensável, os micros, pequenos e médios empresários.

Que o que se impõe com urgência implementar é uma política nacional de crescimento económico e de desenvolvimento sustentado, no respeito pelo ambiente e que ponha fim ao flagelo do desemprego que hoje atinge cerca de 500 mil trabalhadores.

Que o caminho para assegurar o presente e o futuro do país é uma firme política de defesa da produção nacional e de modernização das nossas capacidades produtivas há muito abandonadas e uma nova política de formação, educação, ciência e cultura, condição para garantir um mais elevado patamar de qualificação dos portugueses e o aproveitamento pleno das potencialidades nacionais.
Políticas que são uma componente essencial para afirmar Portugal, como um país soberano e independente, vectores essenciais para assegurar os interesses e a liberdade dos portugueses.
Que o que se impõe é o prosseguimento da luta por uma nova orientação na construção da integração europeia, baseada em países soberanos e iguais e a recusa de uma Europa ao serviço das grandes potências e das grandes multinacionais.
Que o que se impõe continuar é lutar para asseverar uma nova ordem mundial assente na paz e na cooperação entre os povos. Nova ordem mundial que recusa, tal como também a nossa Constituição consagra, a participação em operações de agressão contra países soberanos.
O que é necessário finalmente por em marcha é um grande projecto nacional e patriótico que inverta décadas de política de recuperação capitalista e de subordinação às estratégias e orientações do grande capital transnacional e uma suicida política de privatizações.
Um projecto que pense naqueles que há muito vêm a suportar o peso total das dificuldades e que o governo do PS/Sócrates teima em penalizar. Aqueles que sentem como ninguém o aumento dos preços do pão, da energia, dos transportes, dos combustiveis e de outros serviços e bens essenciais, a diminuição dos salários reais, a deterioração do poder de compra e o aumento do desemprego. Aqueles a quem querem também agora impor uma redução geral dos salários e das pensões e o aumento da idade da reforma.
Um projecto que assuma o combate à dura realidade da pobreza em Portugal que envolve cerca de 2 milhões de portugueses e que atinge um grande número dos nossos idosos com as suas baixas reformas. Dura realidade que se vem agravando cada ano.
Um projecto que contrarie e combata essa vergonhosa situação que coloca Portugal como o país mais desigual da União Europeia e com a maior taxa de pobreza relativa e persistente e que não peça mais sacrifícios e mais sofrimento para os mesmos de sempre.

Um projecto que ponha termo ao Portugal do “pára, arranca” da estagnação e da recessão. Um projecto que ponha fim à politica da ditadura do défice que sobrecarrega os trabalhadores e o povo com mais impostos. Ao Portugal das sistemáticas revisões em baixa do Banco de Portugal. Ao Portugal do falso sucesso que dos governos de Cavaco Silva a Sócrates vêm prometendo aos portugueses.

A direita e a sua candidatura anunciam agora resolver os problemas que nunca foram sua opção antes resolver.

Tenho confiança que os portugueses, depois de amanhã, não se deixarão iludir pelos falsos profetas que prometem trazer a salvação para o país, o mesmo país que eles próprios com a sua política condenaram ao atraso.

A direita e a sua candidatura não têm um projecto de desenvolvimento para Portugal, mas apenas o objectivo de conquistar o poder absoluto para prosseguirem e aprofundarem a sua política contra Abril e contra os trabalhadores e o povo.

Cavaco Silva não é, nem será a alternativa redentora que a sua propaganda quer fazer crer, mas a ajuda à mesma e desgraçada política que os grandes interesses económicos e financeiros apoiam sem reservas.

Cavaco Silva não é o candidato suave e cordato que a nova maquilhagem do marketing eleitoral se esforça por vender, mas o candidato da arrogância e da prepotência dissimulada.

Hoje, depois da empolgante campanha eleitoral que realizamos, da batalha que travamos como ninguém mais fez de denúncia da candidatura da direita, muitos mais portugueses reconhecem os perigos que arrastariam uma sua eventual vitória para o regime democrático tal como está consagrado na Constituição.

É por isso que aqueles que há meses cantam antecipadamente a sua vitória, estão nesta fase final da campanha, menos confiantes e mais reservados.

Estou esperançado que o nosso trabalho já deu e vai dar frutos. Estou confiante que o povo português, com o voto que decide, vai no dia 22 obrigar o candidato da direita à segunda volta.

Tenho razões para confiar que os portugueses vão apoiar com os seus votos esta que já é uma candidatura forte e de grande expressão nacional.

Este é um objectivo que precisamos de continuar a perseguir até à hora das eleições, fortalecendo-a ainda mais. Não desarmando, continuando no âmbito das nossa relações, a ganhar mais portugueses, a ganhar os democratas para o voto na minha e vossa candidatura. O voto que soma para derrotar Cavaco Silva.

O voto que conta e contará para a derrota do candidato da direita e para abrir uma nova perspectiva para um Portugal de progresso e desenvolvimento.

O voto que os portugueses sabem que, além de servir para derrotar Cavaco Silva, não se perde em nenhuma circunstância, porque se projectará no desenvolvimento da luta futura por um Portugal melhor, mais justo, mais solidário e mais fraterno.

Votos que são dados a uma candidatura e a um candidato que jamais se retirará do combate seja qual for o seu desfecho, mas que continuará em todas circunstâncias, na Presidência ou fora dela, a luta na defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores e do povo.

Aqui estamos neste comício preparados para as responsabilidades que os trabalhadores e o povo nos quiserem dar para a segunda volta.

Aqui estamos confiantes numa grande votação e na concretização dos nossos objectivos.

Aqui estamos com confiança e com convicção de que ainda muito podemos fazer nestas últimas horas de campanha.

Permitam-me que daqui do nosso comício do Porto dirija um último apelo aos portugueses.

Primeiro, aos homens e mulheres do campo democrático que estão desiludidos com anos consecutivos de política de direita e, por isso, indecisos quanto ao seu voto ou que pensam na abstenção.

Um apelo à sua reflexão nestas já poucas horas que faltam para o acto eleitoral acerca da utilidade e importância do seu do seu voto. Dizer-lhes que a hora não é de desistir. Que há saída para as suas inquietações. Que é possível construir um Portugal com futuro com outra política. Que há uma solução para o abrir da esperança e para a construção da mudança!

Que a grande batalha que se impõe travar é impedir que o candidato da direita obtenha uma maioria absoluta na primeira volta.

Impedir a dinâmica revanchista e retrógrada que a sua candidatura transporta.

É por isso que não se pode perder um só voto dos que aspiram uma ruptura democrática e de esquerda com as políticas que têm sido seguidas.

Que a solução não é a abstenção. Que os votos na minha candidatura são votos verdadeiramente úteis contra a política de direita e os objectivos da direita.

Que quantos mais votos tiver a minha candidatura, menos hipóteses tem Cavaco Silva de vencer.

Em segundo lugar, um apelo aos portugueses que pensam votar Cavaco Silva com o objectivo de penalizar José Sócrates.

Apelar à sua ponderada reflexão acerca de tal solução para o seu voto. Dizer-lhes que ponderem bem. Esse é o pior e o menos eficaz voto de protesto contra este governo pois, se porventura viesse e ser eleito, pelo menos neste mandato, aonde Sócrates gritar “mata!”, logo Cavaco Silva dirá “esfola!”.

Que esta é a solução da continuidade e de agravamento da situação. Cavaco Silva não é, nem será a viragem que se anuncia, mas sim a versão mais radical e desumana da mesma política que conduziu o país à crise e penaliza os trabalhadores e o povo.

Sabemos que é grande e justo o descontentamento com a política do Governo e que a cotação eleitoral de Cavaco Silva é inseparável desse descontentamento. Mas não se penaliza Sócrates apostando em quem na Presidência da República estimulará e acentuará o prosseguimento de uma política de ruína nacional e de agravamento da vida dos portugueses.

É por isso que nós dizemos que o voto na minha candidatura é o voto que, como nenhum outro, expressa o descontentamento e o protesto, mas também a exigência de mudança.

Porque na verdade é o voto mais consequente e mais verdadeiro que se assume em ruptura com as politicas de direita do passado e de Sócrates.

Agora que estamos a escassas horas do acto eleitoral quero daqui renovar a mensagem da minha primeira declaração aos portugueses.

Afirmei, então, que é possível viver melhor em Portugal, que é possível transformar Portugal e que tal como o poeta escreveu – Portugal é um “país possível”.

Hoje depois do que conseguimos nesta campanha, no que ela dinamizou, mobilizou e convenceu, graças ao esforço de todos, aos que me acompanham nas mais diversas acções de campanha, quero reforçar essa grande mensagem, dizendo-vos que não é só possível, como está nas nossas mãos alcançá-lo.

Afirmei no meu compromisso solene que dirigi aos portugueses que a Constituição precisa de ter na Presidência da República o que até hoje não tem tido – um Presidente que a defenda, cumpra e faça cumprir.

Aqui renovo neste comício de encerramento esse meu compromisso com os trabalhadores, o povo português, com os portugueses concretos que são e fazem Portugal.

Por fim, permitam-me que termine como comecei esta batalha eleitoral.

Há um direito à esperança. E há uma esperança que não fica à espera, antes se transforma em acção, em trabalho e em luta. Organizar para lutar, resistir para crescer, unir para vencer, transformar Portugal num país mais livre, mais justo e mais fraterno.

– Eis, os trabalhos da esperança para hoje e para o futuro.

VIVA PORTUGAL!