Audição sobre “os
problemas centrais da economia portuguesa – estrangulamentos, défices,
saídas” |
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Estimados convidados, O que aqui nos trás e nos juntou num debate que consideramos muito frutuoso é a preocupante evolução da economia portuguesa, os seus problemas centrais - os seus estrangulamentos e os défices estruturais que apresenta, mas também o equacionar das saídas e das soluções alternativas que respeitem e potenciem a matriz constitucional e o seu grande desígnio de realização em Portugal de uma democracia também económica. Matriz que parte da consideração da coexistência de três sectores, público, privado e social para o desenvolvimento harmonioso do país e na base dos quais se deve realizar a democracia económica que promova o bem-estar e qualidade de vida do povo e a igualdade entre os portugueses. Dos contributos muito variados do conjunto de especialistas e de personalidades que nos quiseram honrar com a sua presença nesta Audição, aos quais muito agradeço, se confirma que se continuam a agudizar os problemas da economia portuguesa e a aprofundar a grave crise que país enfrenta. Crise que não é apenas conjuntural, mas estrutural e que põe em causa o desenvolvimento económico sustentado do país. Aqui estiveram presentes em diversas intervenções os problemas que o país enfrenta: manutenção de um fraco crescimento económico e de prática estagnação; contínuo crescimento do desemprego; aumento das desigualdades sociais e das assimetrias regionais; acentuação do carácter cada vez mais dependente e periférico de uma economia crescentemente debilitada, com evidência para os seus sectores produtivos. Problemas que a evolução mais recente da situação económica não desmentem, com a preocupante tendência para a continuação da sistemática revisão aquém das previsões de todos os indicadores potenciadores de crescimento, quer do Produto, com Banco de Portugal, mais uma vez, rever em baixa a taxa de crescimento que se prevê vá atingir, se atingir, 0,3% do PIB no corrente ano, quer do investimento outra vez com uma queda acentuada, bem como das exportações. Tendência com reflexos muito negativos e preocupantes na Balança Comercial e no desemprego. Esta, acabou de atingir a taxa mais alta dos últimos sete anos, 7,7%, segundo o recente boletim do INE, a balança comercial apresenta um novo salto no seu agravamento.
Cenário de crescimento também muito dependente do lançamento do novo automóvel Cabrio da VW/AutoEuropa, e por isso de muito problemática concretização, já que os prazos do inicio da construção e de comercialização estão atrasados e é já certo que não terão o impacto esperado nas exportações em 2006. Situação que revela a debilidade em que assenta o nosso crescimento cada vez mais afunilado e dependente num conjunto escasso de produtos.
Trata-se do o aumento das taxas de juro, cujo impacto no investimento, no endividamento das empresas e das famílias não pode ser subestimado e que acentuará o traço negro da crise. Crise que assume agora também uma nova expressão com a maior resistência da economia portuguesa no acompanhamento do ciclo de recuperação da economia europeia e mundial. Este elemento novo torna mais evidente e preocupante o carácter estrutural da crise, do nível de perdas de competitividade da economia portuguesa e da urgência de medidas para fazer frente à difícil situação do país. Este é o resultado da política de direita de sucessivos governos, caucionadas e enquadradas pelas políticas económicas e financeiras restritivas do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do “Banco Central Europeu”e dos seus dogmas neoliberais e monetaristas. Não é a Constituição da República
a responsável pela evolução negativa da economia
portuguesa, como agora alguns afirmam, mas sim esta política
que desperdiçou milhões de euros de fundos comunitários
e foi incapaz de promover qualquer alteração estrutural
no tecido produtivo português. Política que sendo incapaz de alterar o modelo económico
baseado nos baixos salários, baixas qualificações
e na fraca incorporação científica e tecnológica
no processo produtivo, condenou e condena Portugal ao atraso, quando
a produtividade do aparelho produtivo e a competitividade da economia
portuguesa exigem precisamente o contrário. Anos de ofensiva liberalizadora e privatizadora de sectores básicos,
de funções sociais do Estado e serviços públicos
sem quaisquer vantagens em termos de preços, qualidade do serviço
e de redução da despesa pública. Portugal precisa de inverter este caminho e assegurar uma politica alternativa. Não a que o actual Governo do PS define nos seus principais
instrumentos de política económica que mais uma vez se
revelam desajustados para combater a crise e promover o crescimento
económico. É por isso que nós defendemos que as despesas de investimento não deviam contar para o défice na revisão do PEC como forma de estimular a produção, o emprego e o desenvolvimento. Preso que está ao dogma do défice, o Orçamento para 2006 é mais um orçamento restritivo no que diz respeito ao investimento público e sem medidas potenciadoras e dinamizadoras do investimento em geral. Corremos o risco de chegar ao fim deste ciclo político numa
situação ainda mais frágil do que a que temos hoje Todos afirmamos e parece que reconhecemos que o défice é o resultado do nosso fraco crescimento e de uma crise estrutural que atinge a nossa economia. Todos os factos evidenciam que são a fragilidade do tecido produtivo nacional, a sua incapacidade para responder à procura do mercado interno e competir nos mercados externos o grande e grave problema do país. Todos o reconhecem, aliás, todos os candidatos às eleições presidenciais estão de acordo que são estes os problemas, mas nem do governo, nem da parte dos candidatos se vêm propostas e a indicação de uma estratégia de ataque a este problema central. Da parte da generalidades dos outros candidatos ou predomina o silêncio, ou se indicia por esse mesmo silencio consonância nas opções políticas de fundo que levaram à crise. Falam em superar a crise, mas apostam nas mesmas e gastas receitas que estão a afundar o país. O governo, tal como no passado outros, vem paradoxalmente, ao mesmo tempo que aprova medidas orçamentais restritivas e cortes no investimento, anunciar miríficos investimentos para legislatura e um plano tecnológico que não são mais que “cortina de fumo” para esconder os seus os reais propósitos de contenção expressos no seu Programa de Estabilidade e Crescimento 2006/09. Programas que deixa muitas reservas acerca do seu real contributo para ultrapassar o central e decisivo problema que é o da dinamização da estrutura produtiva nacional, em particular da nossa indústria. Temos afirmado e as intervenções aqui o confirmam que o problema do país não é o problema do défice público. Nós precisamos de uma política que defenda a produção nacional e que, recusando a continuação da privatização e liberalização de serviços, assegure a preservação pública de alavancas fundamentais da economia e serviços públicos de qualidade, e garanta a manutenção de centros de decisão e de soberania económica nacionais. Medidas urgentes de apoio e incentivo à inovação e modernização para as Micro, pequenas e Médias empresas, mas também medidas técnicas que defendam o nosso mercado nacional. Os fundos comunitários e os apoios públicos têm que estar ao serviço da valorização da produção nacional e do investimento directamente produtivo, em detrimento do investimento especulativo, melhorando a nossa especialização produtiva em sectores de maior conteúdo tecnológico, com produtos de maior valor acrescentado e dando um contributo ao combate aos nossos défices de bens alimentares, de consumo e equipamentos. Portugal tem que produzir mais e importar menos. Uma política que promova um crescimento económico acelerado e sustentado, liberto de submissão ao Pacto de Estabilidade e outras imposições externas, na base de um tecido económico de perfil produtivo valorizado, regionalmente equilibrado, e fazendo um uso racional da energia e dos recursos naturais. Face ao nosso estádio de desenvolvimento económico e social, a sustentabilidade das finanças públicas deve ser procurada no quadro da necessidade de um elevado esforço de investimento em infraestruturas físicas, em capital humano (educação e formação profissional) e em áreas sociais como a saúde e a protecção social. O equilíbrio orçamental não pode continuar a ser conseguido à custa da diminuição da prestação das funções sociais do Estado, da educação, da saúde, do apoio social e do investimento. A questão orçamental é mais uma questão de receitas, nomeadamente o grave problema da evasão fiscal, escândalo das baixas taxas de IRC que a Banca e os grandes grupos económicos pagam efectivamente, do que de despesas. Conseguir um crescimento económico sustentado e os ritmos relativamente elevados, que promova o desenvolvimento do país e potencie as receitas fiscais. Este é que é o grande problema da economia portuguesa! Não o do défice público. O que é necessário concretizar é uma política
de educação, cultura e ciência, uma política
ambiental como objectivos centrais da sociedade portuguesa. Uma politica com o aproveitamento pleno dos recursos e potencialidades nacionais e ao serviço de todos os portugueses.
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