Intervenção de Jerónimo
de Sousa, candidato à Presidência da República |
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Há uma batalha a travar, muitos dias de luta eleitoral pela frente até ao próximo dia 22 de Janeiro, dia das eleições. Ninguém acredite nas sondagens que correm por aí que mais parecem encomendas para fazer esquecer a derrota que certas forças políticas tiveram nas últimas eleições autárquicas. A batalha pela afirmação de um projecto de ruptura democrático e de esquerda com as politicas de direita, exige que assumamos sem tibiezas, em primeiro lugar, um decidido combate à candidatura da direita, à candidatura de Cavaco Silva, clarificando a natureza da sua candidatura e os seus objectivos. Ao contrário de outros, não esquecemos o seu passado e não subestimamos as consequências para os trabalhadores e para o povo se viesse a ser eleito Presidente da República. (…) Cavaco Silva veio esta semana afirmar-se como um “agente de desenvolvimento” na Presidência da República e quase garante que se não for ele o presidente, Portugal está condenado a ficar na cauda da Europa nos próximos dez anos. Quem o ouviu, recitando, os males que se abateriam sobre o país, desgraças piores que “as sete pragas do Egipto” se não fosse ele o eleito, certamente se lembrou da sua promessa de colocar Portugal no “pelotão da frente” quando esteve no governo do país. Cavaco Silva pensa que os portugueses já se esqueceram em que situação deixou Portugal. Não foi no “ pelotão da frente”, mas a braços com uma profunda crise e à deriva em resultado das políticas desastrosas dos seus governos. Foi com as suas políticas suicidas para apanhar o “pelotão da frente”, como a da adesão à moeda única, sem que Portugal se tivesse minimamente preparado, e que conduziu à perda de mais de 20% da nossa competitividade em relação à média europeia. É este mesmo candidato “semeador de ilusões” que trocou o futuro e a defesa da nossa agricultura, das pescas e da nossa indústria por uma mão cheia de fundos comunitários que encheram os cofres dos poderosos, que agora se apresenta predestinado a “salvar a pátria”. Cavaco Silva diz que vai estar muito “atento ao governo”. Mas para quê? Para acentuar o pendor monetarista e neoliberal do governo de José Sócrates? Para forçar ainda mais o aperto da “tarraxa” que aperta, aperta, até esmagar quem vive do trabalho, os reformados e as nossas pequenas e médias empresas, em nome da ditadura do défice das contas públicas?
Portugal e os portugueses não precisam de especialistas em finanças públicas que fazem do combate ao défice o cerne das suas políticas e que apenas têm aprofundado a crise. Portugal precisa de uma nova política e de esquerda que tenha como primeira prioridade o crescimento económico e a satisfação das necessidades dos portugueses. Cavaco Silva seria, se fosse eleito, não, como diz, uma ajuda
à solução dos problemas dos portugueses, mas o
“ponta de lança” dos grandes interesses na Presidência.
Mas, se este é o candidato que é necessário derrotar nas eleições do próximo mês de Janeiro, também é preciso dizer em relação a outros candidatos que se dizem de esquerda que não chega afirmarem-se como tal é preciso que o assumam com coerência. Há quem se apresente agora muito preocupado com a crise e com a descrença dos portugueses como se não tivessem nada a ver com tal situação. Mas onde estavam aqueles que assim falam, quando o seu partido no governo executava as políticas que estão na origem da crise e da descrença dos portugueses? Não tinham o seu apoio público e no parlamento? Questionam-se agora sobre se a Constituição está a ser cumprida quando há em Portugal dois milhões de pobres. Mas não dizem que têm apoiado sempre as políticas que os produzem. Manuel Alegre vem agora falar da necessidade de um “pacto económico e social” com o governo, os partidos, os sindicatos, as associações patronais e os municípios para definir as diversas políticas para o país, mas não diz uma palavra acerca do que pensa em relação a essas mesmas políticas. Trata-se da criação de outra ilusão – a de que era possível com o beneplácito do grande patronato e dos partidos que até hoje têm governado o país com as políticas que conduziram à crise, encontrar uma solução que resolva finalmente os problemas dos portugueses. A ilusão de que é possível a mudança sem uma ruptura com as políticas de direita. Do que se trata na realidade é de uma “fuga para a frente”, para não tomar posição. Não há uma palavra sobre o passado, as causas e a origem da crise, nem sobre o presente, passaram apenas a falar na necessidade de garantir o futuro. A culpa “morre solteira” e não há responsáveis concretos pela situação do país, para que tudo fique sempre na mesma. É por isso que fogem a dizer o que pensam sobre o Orçamento de Estado e as políticas que estão a ser aplicadas pelo governo do PS. (…)
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