Intervenção de Jerónimo de Sousa, Candidato à Presidência da República
Almada, em 3 de Novembro de 2005

 

(…)

Resultados confirmaram e reforçaram a CDU como uma grande força nacional no poder local e que mostram que é possível crescer e vencer, apesar da desproporção de meios de campanha, é possível crescer e vencer contando apenas com o esforço abnegado dos militantes e simpatizantes do PCP e dos activistas da CDU.

Uma grande vitória no distrito de Setúbal e no plano nacional com o aumento do número de maiorias CDU de 28 para 32 nas câmaras municipais e com a conquista de mais assembleias de freguesia, mais mandatos, mais votos e mais percentagem.

(…)
Estes resultados eleitorais abrem boas perspectivas que é necessário aproveitar para desde já lançar um forte movimento de apoio à nossa candidatura à Presidência da República.

(…)
Estamos aqui nesta campanha com as mesmas possibilidades e em igualdade de circunstâncias em relação a qualquer outra candidatura, com o objectivo de lutar pelo máximo de apoios e de votos que ninguém tem garantido à partida.

Ninguém acredite nas sondagens que correm por aí. Muitas são feitas por encomenda e com objectivos muito pouco sérios de promoção de certos candidatos.

Vejam o que aconteceu nas eleições autárquicas, por exemplo, em Lisboa com as duas últimas sondagens publicadas em cima do dia das eleições a indicarem a existência de um empate técnico entre PS e PSD, quando a diferença real foi de quase 16%. Para quê? Para pressionar o eleitorado e promover o voto útil num destes partidos.

Outro exemplo, nas últimas 18 sondagem realizadas antes das eleições em Lisboa, Oeiras, Sintra, Porto e Faro, um larguíssimo número, a grande maioria, colocaram-nos sempre abaixo dos nossos resultados reais, enquanto punham outros acima dos que realmente acabaram por ter.

Nem Cavaco Silva já ganhou como querem fazer crer, nem os votos que são atribuídos a cada um dos outros candidatos reflectem a realidade das opções eleitorais dos portugueses.

No que diz respeito ao candidato dos partidos da direita, Cavaco Silva e ao nosso objectivo de contribuir para a sua derrota muito há a fazer nos três meses que temos pela frente para esclarecer a natureza da sua candidatura e o que representaria a sua presença na Presidência da República.

Sabemos que há hoje uma muito bem planeada campanha com o objectivo de branquear o seu passado de governante ao serviço dos grandes interesses e do processo de recuperação capitalista contra Abril e cuja acção nos seus dez anos de governo está na origem dos atrasos estruturais e das actuais dificuldades que o país atravessa.

(…)

Mas, se este é o candidato que é necessário derrotar nas eleições do próximo mês de Janeiro, também é preciso dizer em relação a outros candidatos que se dizem de esquerda que não chega afirmarem-se como tal, é necessário que se assumam de facto. Particularmente é necessário que com clareza digam o que pensam acerca das políticas que do actual governo do PS, nomeadamente no momento em que é conhecida a sua proposta de Orçamento de Estado.

(…)

É um orçamento que vai continuar a penalizar os rendimentos dos trabalhadores e dos reformados.

No que diz respeito aos reformados e aos idosos o que aí vem no Orçamento é exactamente o contrário do que anunciou na campanha eleitoral. Diziam que iam valorizar as pensões, falaram até no direito a uma reforma de 300 euros para todos os reformados, mas no primeiro orçamento da sua inteira responsabilidade, o governo o que prepara é a penalização dos pensionistas com o pagamento de mais impostos já no próximo ano para quem tenha rendimentos anuais superiores a 7 500 euros. Mais um aumento da carga fiscal nas costas dos que sempre viveram dos rendimentos do seu trabalho.

Enquanto que à tão badalada reforma de 300 euros é limitada a pensionistas com mais de oitenta anos e que façam a prova de ausência de outros rendimentos, deixando afinal de fora outros milhares de pensionistas que continuarão em 2006 a ter pensões muito inferiores a este valor.

Não obstante o seu programa de governo destacar a necessidade de medidas para enfrentar a pobreza dos idosos com pensões abaixo dos 60 contos para falar na moeda antiga, mais um ano passa sem que nada se tenha feito para resolver esta situação. Não se teve em conta a reivindicação do movimento dos reformados dos necessários aumentos intercalares das pensões e reformas, tal como recusaram a proposta de aumento do salário mínimo nacional para 400 euros, apresentada pelo PCP e que iria permitir a revalorização das pensões e reformas mais degradadas que, como é sabido, estão indexadas ao salário mínimo nacional.

Em contrapartida assistimos nestes primeiros meses de governo do PS a medidas altamente lesivas para os reformados e idosos com a redução da comparticipação em medicamentos e ao aumento dos preços dos bens essenciais e dos transportes.

O governo recusa a valorização das pensões e das reformas dizendo que não há dinheiro para tudo. Mas a verdade é que este é também o orçamento em que, no plano fiscal, se mantêm os escandalosos benefícios fiscais à banca e ao sector financeiro e cada vez vemos a riqueza concentrada nas mãos de alguns.

Não há dinheiro para enfrentar a pobreza entre os idosos e para garantir uma pensão de reforma condigna para quem teve uma vida de trabalho, mas a riqueza nas mãos dos senhores do dinheiro não para de aumentar.

Na semana passa foram anunciados os resultados dos 4 maiores bancos portugueses que arrecadaram mais 1052 milhões de euros de lucro só neste último trimestre em cima dos fabulosos lucros dos últimos anos e dos 727 milhões de euros do primeiro semestre deste ano.

(…)
Esta é a realidade que o governo PS quer esconder quando pretende a aceitação social dos sacrifícios para a maioria dos portugueses.

O Orçamento de Estado para 2006 não é construído para alterar esta realidade, mas para transferir para as costas dos trabalhadores e do povo o peso das dificuldades e em relação ao qual também os outros candidatos à Presidência da República deviam ter uma palavra a dizer, mas estão calados.

É por isso também que a nossa candidatura é uma candidatura diferente que se assume com total transparência e consequentemente contra a política de direita dos sucessivos governos e do actual governo do PS.

(…)