Artigo de António Abreu «Capital»

«Guerra e terrorismo: duas faces da mesma moeda»

A saída do contingente da GNR do Iraque está na ordem do dia.

Reconhecendo tratar-se de uma força especialmente habilitada para se relacionar com as populações, e não encerrando isso qualquer falta de solidariedade co0m os portugueses que o integram, importa voltar a analisar o quadro em que a intervenção estrangeira no Iraque se deu, o seu carácter ilegal, as mentiras em que se baseou, a chantagem feita pelo eixo Bush-Blair-Aznar para não ficar isolado perante a opinião pública, a espiral de insegurança que essa intervenção desenvolveu, e regressar sempre aos verdadeiros motivos que, em última análise, sempre estiveram na base dessa intervenção: o domínio da região e do petróleo.

Não voltar a discutir toda a “lógica” desta intervenção, aceitando remeter-nos para a máxima maniqueísta de que “com o terrorismo não se dialoga nem se cede”, é aceitar o diktat falsamente paternalista e moralista de uma insinuação crescentemente securitária.

É tapar os olhos à realidade que tem sido a relação de novas e mais vastas agressões militares gerarem cada vez mais brutais actos de terrorismo, que por sua vez reclamam novas intervenções e assim sucessivamente. De, após cada novo passo de uma política de guerra, o mundo não estar mais seguro. Com a curiosidade de alguns dos protagonistas dum dos lados ter sido agente e formado pelo outro lado noutras circunstâncias seguramente percursoras do actual estado de coisas. E com a constatação que o terrorismo vai recolher, obviamente, simpatias nos orgulhos nacionais feridos, no subdesenvolvimento imposto, nas agressões generalizadas contra civis que o eixo, acolitado por Sharom, vai semeando. O terrorismo tem que ser denunciado e combatido sem equívocos. Mas não se combate matando inocentes, promovendo guerras “preventivas” e ilegítimas. Contrapondo-lhe o terrorismo de Estado. Mandando às malvas o direito internacional, progredindo na eliminação direitos, liberdades e garantias.

Na semana passada, em Espanha, depois dum brutal assassinato, Aznar procurou desajeitadamente dele tirar proveitos eleitorais e tirar o cavalinho da chuva sobre a sua responsabilidade política das consequências que poderiam decorrer para a Espanha do seu protagonismo na agressão contra o Iraque. Os espanhóis deram-lhe a resposta conhecida.

O governo português entrou de decúbito nas Lages e quer sair desta rastejando. Aceita prolongar a atitude indecorosa da disputa com Aznar da primazia na foto das Lages com o George e o Tony?

É conhecida a opinião dos portugueses sobre a guerra no Iraque. No sábado ficou uma vez mais expressa nas ruas de Lisboa e do Porto.

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