Este ano assistimos a um novo patamar na operação em curso em torno do 25 de Novembro, com o alto patrocínio do Governo, do Presidente da Assembleia da República e do Presidente da República.
Depois da afronta no ano passado com a realização de uma sessão sobre o 25 de Novembro na Assembleia da República, no ano das comemorações dos 50 anos da Revolução de Abril, este ano não só pretendem equiparar o que não é equiparável com a realização de uma sessão idêntica ao 25 de Abril, como foi criada uma comissão para comemorar os 50 anos do 25 de Novembro no âmbito do Governo, desprezando a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril.
Há muito tempo, que alguns agem para ajustar contas com Abril, com tudo aquilo que representou de avanço e de progresso.
Estamos perante uma das maiores operações de mistificação, de deturpação e de reescrita da história, levada a cabo por quem nunca se conformou com o alcance das conquistas de Abril, que durante estes 50 anos sempre menorizou o 25 de Abril, e que conta com a promoção dos sectores nostálgicos do regime fascista. Uma operação assente na mentira, insistindo em falsas acusações ao PCP, para procurar esconder as suas motivações antidemocráticas e continuar a promover o aprofundamento da sua ofensiva contra Abril.
Falam da estabilização da democracia, mas ignoram propositadamente as primeiras eleições democráticas realizadas em Portugal no dia 25 de Abril de 1975 (em data anterior ao 25 de Novembro), para eleger a Assembleia Constituinte, e que contaram com a maior participação popular de sempre.
O 25 de Novembro foi o resultado de um longo processo de conspiração contra Abril, promovido por forças que queriam uns, o regresso ao passado da ditadura, outros travar as transformações democráticas em curso no plano político, económico, social e cultural, de resposta às aspirações populares.
Não é por acaso que os animadores da operação sobre o 25 de Novembro de hoje, são os mesmos que servem e defendem os interesses dos grupos económicos, grupos económicos que no período da ditadura fascista foram sistematicamente beneficiados. Esses mesmos que vendo derrotados os seus intentos golpistas, nunca aceitaram o que Abril representou de avanço e conquista. Esses mesmos que ao longo de décadas procuram desmantelar o SNS e favorecer o negocio privado da doença, os que passo após passo reduzem direitos dos trabalhadores e moldam a legislação laboral à medida da exploração, os que empurram quem trabalha e quem trabalhou uma vida inteira para a pobreza acentuando injustiças, os que venderam o país e os seus recursos com a criminosa política de privatizações, os que fizeram da especulação imobiliária a política do Estado para a Habitação, os que subordinam e submetem Portugal aos interesses estrangeiros. Esses mesmos que sendo responsáveis com a sua política pela degradação das condições de vida do povo e o empobrecimento da democracia aparecem agora a usar Novembro contra Abril.
Pretendem tornar o 25 de Novembro naquilo que não foi, mas que gostavam que tivesse sido, que tivesse colocado em causa o regime democrático, que tivesse amputado as liberdades e que tivesse ilegalizado o PCP. Apesar dos retrocessos, a verdade é que não conseguiram alcançar os seus objetivos. Não conseguiram impedir que as conquistas de Abril ficassem consagradas na Constituição da República Portuguesa, aprovada em 1976, e que 50 anos depois, não obstante as mutilações de que foi alvo, no essencial mantém os direitos políticos, económicos, sociais e culturais.
Apesar da pompa e circunstância que pretenderam atribuir a esta data, por mais que tenham procurando inundar o espaço mediático, houve uma coisa que não conseguiram, o que é verdadeiramente determinante, não conseguiram a presença do povo. É o 25 de Abril que o povo considera como o momento libertador das amarras do fascismo, que trouxe os direitos, a liberdade e a democracia, e é por isso, que a ampla participação popular, enchendo as ruas do País é nas comemorações do 25 de Abril, em defesa dos valores e das conquistas de Abril e exigindo a sua concretização na nossa vida coletiva.
O 25 de Abril foi um dos momentos maiores da nossa história. Foi a Revolução do 25 de Abril que derrubou a ditadura fascista, que pôs fim à guerra colonial, à opressão, à repressão e ao obscurantismo. Foi a Revolução do 25 de Abril que trouxe a esperança, a liberdade, a democracia, os direitos, uma vida melhor.
O PCP comemora o 25 de Abril, as suas conquistas e realizações e não compactua com a operação em curso de utilização do 25 de Novembro para pôr em causa o 25 de Abril, não alinha na reescrita da história, nem alinha com os saudosistas do passado fascista. A sessão desta manhã não passou de um desfile de mentiras, sistematicamente repetidas e já desmentidas e de um ataque às liberdades e direitos conquistados por Abril, confirmando as razões pelas quais o PCP, honrando o compromisso que assumiu com o povo português, decidiu não caucionar.
